Jornal da Praia | 0520 | 04.05.2018

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QUINZENA

04 A 17.05.2018 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 520 | Ano: XXXVI | 2018.05.04 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

www.jornaldapraia.com

GD DAS FONTINHAS

CARLOS COSTA DEIXA PRESIDÊNCIA NO CONCELHO | P. 3

LAR D. PEDRO V

COM CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE SOCIEDADE | P. 5

ENTREVISTA

FERNANDO MENDONÇA

Com a publicação aos 70 anos do livro “Pedaços de mim que recordo!”, Fernando Mendonça, realiza um sonho que por largos anos desconheceu ter sonhado.

CONSCIÊNCIA ALIMENTAR

ESTAR EM SÁUDE OU VIVER EM DOENÇA ?

DESTAQUE | P. 8, 9 E 10

SAÚDE | P. 7

AOS 96 ANOS

GONÇALO RIBEIRO TELLES CONTINUA A MARCAR PROFUNDAMENTE O NOSSO PAÍS

MONARQUIA | P. 14

INÉRCIA DA VIDA CITADINA Onde estão as medidas para mitigar a redução da Base das Lajes, dos militares americanos e a consequente redução dos trabalhadores portugueses? Basta de silêncios por parte dos partidos políticos que governam os órgãos do poder local do nosso concelho, e também dos partidos políticos da oposição…

EDITORIAL | P. 12 PUB

SEXTA-FEIRA, 13

DIA ESPECIAL PARA O SR. JOSÉ PACHECO SOLIDARIEDADE | P. 11


JP | CANTO DO TEREZINHA & OPINIÃO

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ARTE URBANA OU VANDALISMO?

CT Questiona: Que dirão os ex-alunos e professores da antiga escola primária da Rua Serpa Pinto?

DE FÉRIAS NA TERCEIRA: E O FUTURO? A sustentabilidade económica da Ilha estará assegurada com os supermercados (a distribuição) e as touradas (o lazer)? Não me parece. ro Martins Homem para a Praça Francisco Ornelas da Câmara em plenas Festas; ao olhar em redor, disse o meu compadre: “esta gente não vai à festa; faz a festa!”

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Silveira de Brito

omeço esta última crónica sobre as férias de 2017 citando uma frase que se ouvia muitas vezes, quando fui viver para o Porto, em 1966: “o Porto trabalha, Coimbra estuda e Lisboa diverte-se”. Estou convencido que hoje ninguém diz semelhante coisa; em todas as terras as pessoas trabalham, estudam e divertem-se. Fazendo lembrar a frase citada, relativamente à Terceira há um cliché muito repetido: “os Açores são oito ilhas e um parque de diversões: a Terceira”. Das duas vezes que fui aos Açores, em viagens organizadas por agências, os guias não se esqueceram daquele chavão, e ainda há poucos dias o li numa revista em que havia um texto de promoção turística. Que os terceirenses são festeiros, é uma evidência para os outros açorianos e para quem visita a Região; a prova provada do que acabo de dizer tive-a num comentário do meu compadre José Mariz, um minhoto de gema. Tínhamos acabado de chegar à Terceira e passeávamos na Praia da Vitória, subindo da Avenida Álva-

Para ficarmos com uma panorâmica, e seguindo o calendário anual, temos: logo no início do ano, os Reis, embora a preparação do Carnaval, que será celebrado exuberantemente em Fevereiro, já esteja em andamento. Ainda antes do Carnaval propriamente dito, temos, ao longo das quatro semanas que antecedem o Domingo Gordo, as quintas-feiras dos amigos e das amigas, dos compadres e das comadres que hoje enchem os restaurantes. Coisa curiosa: esta tradição, que eu saiba, é completamente desconhecida no Continente. Há já bastantes anos que nos juntamos, eu e a minha mulher, com um grupo de amigos no dia de São Valentim, embora a data não me diga nada. Num dos anos, disse a uma cunhada que o 14 de Fevereiro não tinha significado para mim, que se me falassem na Quinta-feira dos amigos ou dos compadres, estaríamos a celebrar alguma coisa bem nossa. Ela ficou a olhar para mim com uma cara que perguntava: “de que é que estás a falar?” Lá lhe expliquei; ela, e quem estava à volta, nunca tinham ouvido falar em semelhante coisa. No meu tempo, agora não sei, havia, nas sociedades recreativas, bailes todas as noites, desde o Sábado até à meia noi-

te da Terça-feira de Carnaval, hora a que, rigorosamente, os bailes terminavam; se alguma dança estava ainda em actuação, parava e o enredo não era levado até ao fim. Só me lembro de uma excepção. Estava a dançar na sede da Filarmónica União Praiense uma dança, quando bateu a meia-noite; tudo parou e as pessoas ficaram um pouco descoroçoadas, porque o enredo era interessante. Perante a situação, os directores da sociedade reuniram para deliberar o que fazer. Depois de breve troca de argumentos, foi decidido: era aceitável ir até ao fim porque “a dança contava a vida de Santa Genoveva!” Enfim, já se estava na Quaresma mas, como se diz numa espiritualidade que conheço bastante bem: “tudo deve ser feito para a salvação das almas!” Depois vem a Quaresma, tempo em que não há grandes festas mas, pelo menos no meu tempo era assim, ainda se ia pensando e ensaiando algumas danças que, tendo saído no Carnaval, voltavam à rua “no dia da Festa”, como muitas vezes se designava o Domingo de Páscoa. A partir deste dia, começam as festas do Senhor Espírito Santo, que vão até ao Domingo da Trindade. No entretanto, a 1 de Maio, começa a época taurina, normalmente logo com três touradas; em 2016: Ribeirinha, Santa Barbara e Fontinhas; em 2017: Ribeirinha, Fontinhas e São Pedro. É o arranque da temporada que só termi-

na no fim de Outubro. Em simultâneo, e muitas vezes integrando essas touradas, vão decorrendo as festas das diversas freguesias, sendo as Sanjoaninas, em Angra no mês de Junho, e as Festas da Praia, em Agosto, as de maior expressão, sem dúvida nenhuma; cada uma dura quase 15 dias. Mas quem for ao Youtube, verificará que as de muitos outros lugares têm uma dimensão muito significativa. O panorama brevemente traçado permite compreender a seguinte estória contada pelo Onésimo Teotónio Almeida a um grupo de amigos no Verão passado, que passo a transcrever. “Na viagem a atravessar o canal S. Jorge-Pico, dois terceirenses conversavam ao meu lado. Nem duvidei porque o sotaque desvendava-os por inteiro. Vinham do Pico e seguiam para a Terceira de regresso de umas férias e um deles queixava-se: Vem um homem passar umas férias a descansar um pouco e os raios dos dias passam num instante. Intrometi-me na conversa: Mas um terceirense precisa de descansar? O moço em directa: Pois claro! E acha que não se precisa de descansar das festas?” A partir de fins de Outubro, e até ao fim do ano, o ritmo abranda, embora ainda haja as ferras e o aproveitamento de algumas circunstâncias para dar largas ao espírito festeiro dos terceirenses, como por exemplo, o encontro de coros da ilha. (Continua na página 12)

FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914), Fundado em 26 de Março de 1982 REGISTO NO ICS: 108635 FUNDAÇÃO: 29 de Abríl de 1982 ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz, Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA, Ilha Terceira - Açores - Portugal TEL: 295 704 888 DIRETOR: Sebastião Lima (diretor@jornaldapraia.com) DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo; Paulina Oliveira; Cota Moniz CHEFE DE REDAÇÃO: Sebastião Lima COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares, CO-1656 (editor@jornaldapraia.com) REDAÇÃO/EDIÇÃO: Grupo de Amigos da Praia (noticias@jornaldapraia.com; desporto@jornaldapraia.com); Elvira Mendes; Rui Sousa JP - ONLINE: Francisco Soares (multimedia@jornaldapraia.com) COLABORADORES: António Neves Leal; Aurélio Pamplona; Emanuel Areias; Francisco Miguel Nogueira; Francisco Silveirinha; José H. S. Brito; José Ventura; Nuno Silveira; Rodrigo Pereira PAGINAÇÃO: Francisco Soares DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho ADMINISTRAÇÃO José Miguel Silva (administracao@jornaldapraia.com) SECRETARIADO E PUBLICIDADE: Eulália Leal (publicidade@jornaldapraia.com) LOGÍSTICA: Jorge Borba IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. - Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga - Praia da Vitória - Região Autónoma dos Açores TIRAGEM POR EDIÇÃO: 1 500 Exemplares DEPÓSITO LEGAL: DL N.º 403003/15 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível na internet em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória


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NO CONCELHO | JP

CARLOS COSTA DEIXA PRESIDÊNCIA DO GD DAS FONTINHAS

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próxima Assembleia Geral eletiva dos órgãos sociais do Grupo Desportiva das Fontinhas (GDF), não contará com o nome de Carlos Costa, como candidato à presidência do clube, ao contrário do que vem sucedendo nos últimos três anos. Ao JP, o ainda presidente, adiantou que se trata de uma decisão de natureza pessoal, reflexo do enorme desgaste das exigências do cargo e também pelo sentimento de “dever cumprido” que de alguma PUB

forma lhe esmorece a motivação. Carlos Costa, assumiu a presidência do GD das Fontinhas na época desportiva 2015/2016. Após um primeiro ano de implementação de uma estrutura organizacional e consolidação de contas, conduziu no segundo, o GDF ao mais alto patamar do futebol terceirense, vencendo todas as provas de futebol sénior em que participou, adquirindo por direito próprio, na qualidade de campeão

da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, um lugar no Campeonato de Futebol dos Açores, feito histórico para o emblema. Na presente época desportiva, aquela que marcou a estreia do clube entre os mais carismáticos emblemas destas ilhas de bruma, o GDF apresentava como objetivo primeiro, assegurar a permanência, mas a boa prestação dos comandados por Francisco Faria, colocou o GDF como a maior revelação da competição, onde lutou quase até ao final da prova pelo cetro de campeão açoriano. Como chave desta história de sucesso, Carlos Costa, aponta a competência do diretor desportivo, Fábio Valadão, a envolvência e trabalho de todo o elenco diretivo, corpo técnico, atletas e também o imprescindível apoio dos sócios e simpatizantes. Carlos Costa vai deixar a presidência, mas não cria um vazio de liderança, tendo contatado José Fernando

Pacheco, popular improvisador das cantigas ao desafio e grande adepto das Fontinha e amante do futebol, treinador de futebol jovem credenciado, com provas dadas em importantes emblemas do concelho, como o Sport Club Praiense e a Juventude Desportiva Lajense, para lhe suceder. Ao repto do atual presidente, José Fernando respondeu positivamente, estando o JP em condições de adiantar, que o futuro presidente já está no terreno preparando a equipa que lhe acompanhará em tão exigente missiva, na qual contará com elementos do atual corpo diretivo e outros novos, para que todos possam formar um grupo coeso, trabalhador, eficaz e competente. A Assembleia Geral que dará “sangue novo” aos órgãos sociais ao GDF decorrerá , segundo informou Carlos Costa ao JP, na primeira semana de julho. JP•

ESTUDO AO MAPA DOS TRIBUNAIS

CONFIRMA ESPECIALIZAÇÃO NO TRIBUNAL DE ANGRA DO HEROÍSMO

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jornal “Público” dá conta na sua edição online, de 18 de abril, num articulado da responsabilidade da jornalista Ana Henriques, que o Governo quer alterar o mapa dos tribunais. “O Ministério da Justiça está a reavaliar a forma como os tribunais estão organizados e produziu um estudo em que propõe alterações um pouco por todo o país”, lê-se.

02 de março, também o Público que consultou o documento, revela a intenção do Ministério de Justiça, de criar um novo Juízo Especializado Misto de Família, Menores e Trabalho, em Angra do Heroísmo. Com a especialização em Angra do Heroísmo, o Tribunal da Praia da Vitória perde competência naquela área de litigância, o que motivará a diminuição de um lugar no quadro de juízes.

Segundo avança o diário, o Ministério da Justiça terá efetuado um estudo, compilado num documento de 400 páginas, em que propõe alterações diversas, algumas de menor monta e outras de maior vulto.

De uma forma geral o estudo dá conta de uma redução da carga processual em geral e da criminal em particular, sendo que a litigância ao nível da família, menores e trabalho é no todo nacional, aquela que apresenta maior número de processos.

Tal como avançou o “Jornal da Praia” na sua edição quinzenal de

JP•

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GRANDIOSA TOURADA À CORDA FESTAS DO IMPÉRIO DO ROSSIO RUA SANTO ANTÓNIO DO ROSSIO

26 MAIO | 18H30 GANADARIA HERD. EZEQUIEL RODRIGUES TOUROS

283; 239; 348*; PURO (*) - TOURO MAIS REGULAR DA ÉPOCA DE TOURADAS À CORDA DE 2017


JP | EFEMÉRIDE

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SIR FRANCISCO DE MENESES MEIRELES DO CANTO E CASTO 1.º VISCONDE DE MEIRELES HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

Francisco de Meneses Meireles do Canto e Castro, nasceu em Angra do Heroísmo e marcou o seu tempo pelo meritório trabalho enquanto diplomata, político e jornalista. cola de Ofícios, tendo ajudar socialmente aqueles que mais precisavam.

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á exatos 116 anos, a 9 de maio de 1902, o terceirense Sir Francisco de Meneses Meireles do Canto e Castro era elevado por Decreto do Rei D. Carlos a Visconde de Meireles por todo o seu meritório trabalho enquanto diplomata, político, jornalista com reconhecimento público e crítico literário no periódico lisboeta Jornal da Noite. Francisco de Meneses Meireles do Canto e Castro nasceu a 21 de novembro de 1850, em Angra do Heroísmo. Filho de Ana de Meneses de Lemos e Carvalho e de André Francisco Meireles de Távora do Canto e Castro, um político e funcionário das alfândegas, ambos de famílias proeminentes da História da Terceira. Meireles do Canto e Castro fez os seus estudos preparatórios em Angra do Heroísmo, tendo depois se matriculado na Escola Politécnica de Lisboa, preparando-se para seguir uma carreira de funcionário alfandegário, assim como o seu pai. Enquanto estudante na capital portuguesa, Meireles do Canto e Castro começou a trabalhar como jornalista no Jornal da Noite, entrando em contacto com um mundo que o ajudou a desenvolver-se politicamente. Casou-se, a 3 de março de 1875, em Lisboa, com Maria Carlota da Costa Freitas com quem teria cinco filhos. Partindo logo depois do casamento para Moçambique, em específico, para a Ilha de Moçambique, onde trabalhou como técnico superior da Fazenda. Nomeado, pouco depois, como Diretor da Alfândega de Moçambique. Foi ainda escolhido como membro da Junta de Justiça e vogal do Conselho de Província de Moçambique. Tornou-se um funcionário reconhecido, sendo elogiado pelas altas entidades públicas com quem trabalhou. Ainda durante a sua estadia na Ilha de Moçambique, Meireles do Canto e Castro fundou uma EsPUB

Em 1878, Meireles do Canto e Castro mudou-se para a capital da província moçambicana, Lourenço Marques. O reconhecimento pelo seu trabalho, valeu a sua escolha para acompanhar o plenipotenciário conselheiro António Augusto de Aguiar na assinatura de um importante tratado aduaneiro entre os Reinos de Portugal e do Reino Unido sobre o funcionamento das alfândegas na Índia Portuguesa. Depois acabou por ir para Goa, onde exerceu as funções de ligação entre as alfândegas da Índia portuguesa e da britânica. Foi elogiado pelas suas capacidades diplomáticas na difícil tarefa de manter as boas relações entre os multiseculares aliados. Exerceu ainda a função de administrador-geral das alfândegas do Estado Português da Índia, tendo também a seu cargo a alfândega macaense. Meireles do Canto e Castro foi nomeado, a 2 de outubro de 1882, cônsul-geral de Portugal em Bombaim, na Índia britânica, tendo de lidar com a contestação de Londres ao Padroado do Oriente (ligado ao Patriarcado das Índias Orientais). A sua capacidade de resolver a situação com sensibilidade política, certificou ainda mais o seu reconhecimento em Lisboa. Em 1891, Meireles do Canto e Castro em plena ascensão político-diplomática, foi nomeado para liderar o consulado-geral de Portugal em Bremen e Stettin, na Alemanha do Kaiser Guilherme II, além de exercer as funções de cônsul de 1.ª classe e agente comercial português junto da embaixada portuguesa na capital do Império Alemão, em Berlim. Em maio de 1892, Meireles do Canto e Castro regressou a Portugal para exercer o cargo de secretário-geral da recém-criada Companhia de Moçambique, em Lisboa. Voltando a Moçambique, dois anos depois, em 1894, já como Governador dos territórios de Manica e Sofala, sob administração da Companhia de Moçambique. Instalado na cidade da Beira, em Sofala, desenvolveu aí uma forte política de desenvolvimento da região. Em 1895, Meireles do Canto e Castro visitou Umtali, Salisbúria e

Bulawayo, territórios pertencentes às colónias britânicas sob administração da British South Africa Company (Companhia Britânica da África do Sul). Meireles do Canto e Castro regressou a Lisboa em 1895, onde esteve cerca de ano e meio. Durante este período, em 1896, como recompensa pelo seu trabalho, D. Carlos fê-lo fidalgo do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima. Regressou a Moçambique após a sua renomeação, a 15 de janeiro de 1897, para Governador de Manica e Sofala, devido, sobretudo, às crescentes tensões internacionais que se vivia na região entre Londres e os independentistas bóeres (descendentes de colonos calvinistas dos Países Baixos, da Alemanha, da Dinamarca e de França, que se estabeleceram na África do Sul nos séculos XVII e XVIII), no nordeste da África do Sul. Portugal encontrava-se perante uma situação complicada, pois a população portuguesa estava contra qualquer apoio ao Reino Unido após o Ultimatum britânico de 11 de janeiro de 1890, mas em termos políticos Portugal ainda mantinha uma aliança multissecular com o Reino Unido. Meireles do Canto e Castro sobre driblar a situação, como sempre, mantendo a sua boa relação com os britânicos, como havia feito na Índia portuguesa, mas sem criar mais tensões na metrópole, permitindo que os britânicos usassem o porto da cidade da Beira para o desembarque de material e homens para aquela que seria a Segunda Guerra dos Bóeres. A guerra entre britânicos e boéres terminaria em finais de maio de 1902 e, até ao fim do conflito, Meireles do Canto e Castro ocupou o seu cargo de Governador. A sua ação política foi muito elogiada pelo Reino Unido, chegando a seu incluído na menção honrosa na ordem-do-dia do Exército Britânico e foi-lhe concedido, pelo rei Eduardo VII, a 10 de novembro de 1902, o grau de cavaleiro comendador da Ordem de São Miguel e São Jorge do Reino Unido, com o tratamento de Sir. Além disso, foi nomeado, por D. Carlos, fidalgo cavaleiro da Casa Real por sucessão, a 9 de maio de 1900, e elevado a Visconde de Meireles, dois anos depois, a 9 de maio de

1902, por Decreto do rei português. De volta a Lisboa, Meireles do Canto e Castro Meireles do Canto e Castro fez renascer, devido à sua ligação com as colónias, o antigo jornal do seu pai, o Jornal das Colónias. Foi também vice-presidente da Comissão Africana da Sociedade de Geografia de Lisboa. Voltou ao serviço diplomático quando foi nomeado, a 10 de maio de 1902, para o lugar de adido comercial especial na Legação de Portugal em Berlim, onde já trabalhara. Logo de seguida, em 1903, foi nomeado ministro plenipotenciário em Buenos Aires, na Argentina e, em Montevideu, no Uruguai. Foi agraciado pelo Kaiser Guilherme II, a 8 de novembro de 1907, com a comenda da Ordem da Coroa da Prússia (Kronenorden Preußen). Depois foi nomeado diplomata para os Balcãs, onde exerceu a função de ministro acreditado junto das três cortes balcânicas: Bucareste, Sófia e Belgrado, lugar onde terminou a sua carreira diplomática, em 1908, em um momento em que a região se encontrava em plena tensão política, social, cultural e das nacionalidades, que desembocaria na I Guerra Mundial, em julho de 1914. Em Portugal, Sir Francisco de Meneses Meireles do Canto e Castro foi ainda, desde 1883, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, sendo que, onze anos depois, em 1894, foi elevado a oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada. Morreu a 7 de março de 1915, no Dafundo, em Lisboa. Foi sucedido como 2º Visconde de Meireles pelo seu filho, Francisco de Freitas de Meirelles do Canto e Castro. É importante relembrar estes grandes terceirenses, esquecidos pelo tempo, e que desempenharam papéis essenciais na História de Portugal. Devemos incentivar o estudo, a pesquisa e a investigação pelo conhecimento de lugares, acontecimentos e pessoas da nossa terra. A memória de um povo é essencial para a sua Cultura, mas sobretudo para a sua Identidade, para a sua História, não nos esqueçamos: quem fomos, quem somos e quem seremos.


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SOCIEDADE | JP

LAR D. PEDRO V

SERVIÇO DE EXCELÊNCIA COM CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE DO SGQ Consciente da importância da qualidade no bem-estar dos utentes, Lar D. Pedro V, enceta processo de certificação de qualidade.

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Lar D. Pedro V, Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), completou em agosto último, 155 anos de existência. O seu percurso evolutivo ao longo de todos estes anos baseou-se em dois conceitos fundamentais: inovação e empreendedorismo. A instituição procurou crescer, antevendo e respondendo de forma efetiva às necessidades da comunidade que a envolve. O Lar D. Pedro V tem como missão proporcionar níveis de conforto e autonomia que conduzam a um bem-estar físico, mental e social dos seus utentes, contribuindo para a sua qualidade de vida e da comunidade. Preside ainda os objetivos da instituição constituir-se como um modelo de referência na ilha, no que se refere ao desenvolvimento humano e à qualidade dos serviços prestados. Os colaboradores do Lar D. Pedro V atuam, respeitando os valores da humanização dos serviços, a integridade e o profissionalismo. Neste sentido, em 2011, a instituição candidatou-se a uma ação de formação sobre a implementação de Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) ISO 9001:2008, onde participaram colaboradores de todos os setores de atividade, tendo em vista a implementação de um sistema de gestão de qualidade que lhe atribuísPUB

CERTIFICAÇÃO atribuida pela SGQ coloca o Lar D. Pedro V como instituição de referência no panorama açoriano das IPSS. se a certificação pela referida norma. Apesar do processo de implementação do SGQ ter sido moroso, uma vez que simultaneamente foram realizadas obras de ampliação das instalações, das quais resultaram a inauguração a 10 de agosto de 2012, de uma nova unidade residencial, que representou um aumento da capacidade resposta aos utentes, e com obras de remodelação do edifício sede, finalizadas a 10 de agosto de 2015, o Lar D. Pedro V viu reconhecido todo o seu trabalho e esforço qualitativo em dezembro de 2016, com a emissão pela SGQ da certificação ISO 9001:2008. Apesar do elevado patamar atingido, a instituição não se deu por satisfeita e em 2017 resolve elevar ain-

da mais a fasquia, elegendo-o como o ano de formação por excelência quer numa perspetiva interna como externa. Para a formação interna, cada responsável de setor ou de valência, preparou uma pequena sessão, em que explicou os detalhes do seu trabalho aos restantes colaboradores, com o objetivo de promover um conhecimento interdisciplinar na instituição. Na formação externa, privilegiou-se a formação na ISO 9001:2015, com o propósito de fazer a transição da norma, onde compareceram as chefias intermédias, de modo a que toda a equipa ganhasse a noção de unidade, para a execução eficaz e qualitativa das suas funções. Já durante o processo de transição

da norma e na análise de riscos, foi detetada uma situação de risco, no que concerne à comunicação interna. Com o objetivo de ultrapassar esta situação a instituição recorreu a um formador que depois de analisar o problema, aconselhou formações individuais e de grupo a todos os níveis da instituição. No final, a comunicação tornou-se mais eficaz, os diversos profissionais começaram a conhecer-se melhor e as equipas e grupos de trabalho ficaram mais próximos. Em maio surgiu a pós-graduação em Gestão de Equipas de Cuidadores de Idosos, ministrada pela Associação Conversas de Psicologia em parceira com a AEDL, em que mais uma vez esteve presente um elemento da gestão de topo e toda a equipa técnica do lar. Questionado sobre os custos de todo este processo de certificação, João Canedo, presidente da Direção do Lar D. Pedro V, afirma: “Muitos questionam o custo elevado da qualidade e a insustentabilidade das IPSS, mas a qualidade custa dinheiro e os serviços prestados por estas instituições são essenciais para a comunidade. As vantagens da certificação superaram todas as despesas que possamos ter, uma vez que a nossa missão deve ser cumprida com afinco e qualidade”. E remata: “Numa década, passámos do Asilo da Praia a um Lar de referência. Em janeiro de 2018, vimos a qualidade do nosso trabalho ser premiada e reconhecida novamente com a renovação da Certificação da ISO 9001, com a transição para a nova versão de 2015. O tratamento humanizado faz com os utentes se sintam bem integrados e em família, o que se pode verificar no vídeo realizado pelo repórter Rui Caria, aquando da comemoração dos 155 anos da nossa instituição, a 10 de agosto de 2017 – ‘Um dia seremos idosos’”. JP/Foto: www.lardpedrov.com•


JP | SAÚDE

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o Cantinho do Psicólogo 186

Preservação do Ambiente

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is um pequeno exemplo duma imagem da natureza, cheia de beleza, respeitante a uma fotografia tirada no interior da Ilha Terceira Aurélio Pamplona que, à semelhança (a.pamplona@sapo.pt) de muitas outras que existem, facilmente nos leva a pensar na importância do muito que precisamos de fazer para garantir o equilíbrio e a preservação da natureza. Mas isto só é possível se as medidas a tomar abrangerem também os meios urbanos, o que é colectivo, o que construímos e modificamos, e se ainda cada um de nós for capaz de tratar de si e garantir o seu próprio equilíbrio. Este aspecto leva-nos a Matisse (1908), um dos artistas mais influentes do século XX, que declarou sonhar com «uma arte de equilíbrio, de pureza e serenidade desprovida de matéria preocupante ou deprimente...uma influência tranquilizante e calmante da mente, em vez de uma boa poltrona que proporciona relaxamento à fadiga física». Se quisermos seguir o seu exemplo, ou sermos realizadores de sucesso apela-se para o estabelecimento de mais um equilíbrio, o quinto, a concretizar-se entre o aborrecimento, por não ter ou não querer fazer nada, e dispor de muitos projectos para se empenhar, o que se pode traduzir em sobrecarga de trabalho. No seu humorístico dicionário, Bierce (2013), define a sobrecarga como «a desordem perigosa que afecta altos funcionários públicos que querem ir PUB

à pesca». Mas neste caso hilariante, não é a sobrecarga que derrota a pessoa, mas as escolhas desajustadas que imprimem à vida. Entretanto os casos que nos interessam dizem respeito ao que pode acontecer quando a pessoa, por sua livre vontade ou não, se esforça demasiado no trabalho, ou excede em muitas horas e dias o tempo razoável a que se devia dedicar às tarefas. Embora se acredite que o trabalho é fundamental para a existência

e desenvolvimento humano, todos já ouvimos falar da síndrome do esgotamento profissional (conhecida por burnout), correspondente ao depauperamento físico e mental. Este pode ocorrer em todos aqueles que exageram a afirmação e a realização profissional, ao ponto de a transformarem em obstinação e compulsão, que se traduz em efeitos negativos para a organização, para o indivíduo e para a profissão. Mas este exagero

ainda pode ser mais grave, como se passou a verificar desde algum tempo no Japão, com extensão a outros países, em que morrem pessoas por excesso de trabalho. Acredita-se que estas mortes, conhecidas por “karoshi” apareceram como resultado da existência de uma norma social que privilegia o trabalho acima da família, o que leva algumas pessoas a excesso de horas de esforço diário, sem dias de descanso, como se fossem abelhas.

Numa altura em que algumas pessoas estão extraordinariamente sobrecarregadas profissionalmente, ao ponto de sentirem a necessidade de fazerem um esforço para não perderem terreno, se superarem, e não perderem a carreira, importa a consciencialização de que «a vida não é uma maratona», mas sim «uma série de corridas de velocidade» (Mckenna, 2009). Ou seja, só se consegue desenvolver a força e energia neces-

sária para tirar o máximo partido das capacidades, se formos capazes de alternar os períodos de actividade intensa com períodos de tarefas ligeiras e descanso. E o mesmo autor recomenda que se acrescente tempo de qualidade para recuperação a uma agenda muito preenchida, e se tire partido de um fenómeno natural, o período de descanso ultradiano, que complementa o ritmo circadiano. Ou seja, em cada 90 a 120 minutos passamos de um tempo de elevada energia, em que o nosso corpo se reestrutura, se regenera e se equilibra, para um período de descanso, em que a energia é fraca. E o que precisamos nos últimos 10 a 20 minutos é reforçar esse descanso, o nosso restabelecimento, descontraindo, repousando, relaxando, fazendo uma pausa nas tarefas que estamos executando. Não podemos trabalhar e empenharmos nas tarefas de cada dia contínua e compulsivamente, antes necessitamos de aproveitar os ciclos naturais de actividade e de descanso, intrínsecos ao nosso corpo e mente. Enfim, os sistemas de energia do nosso corpo estão melhores «se os ligarmos quando estão completamente carregados e depois os desligarmos novamente». Referências: Matisse, H. (1908). Notes d´un paintre. La Grande Revue, Paris, 25. Bierce, A. (2003). The Devil’s Dictionary: Overwork. London: The Folio Society McKenna, Paulo (2009). Controle o stress: Deixe-se de preocupar e sinta-se bem agora! Alfragide: Lua de Papel. Foto: L. Pamplona•


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SAÚDE | JP

CURSO DE CONSCIÊNCIA ALIMENTAR, SUGERE

“A CURA PELA ALIMENTAÇÃO ALCALINA” Durante dois dias, na Praia da Vitória, 23 formandos aprofundaram de forma teórica e prática a sua consciência alimentar, numa sugestão de um novo paradigma alimentar, que lhes permite optar entre estar em saúde ou viver em doença.

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or iniciativa da empresa de alojamento local “Vilar dos Carvalhinhos” com o apoio da Escola Profissional da Praia da Vitória (EPPV), do projeto “As Nossas Quintas” da Caritas da ilha Terceira, da BioSamara Iberia, da Chanson Portugal - Água alcalina e da Bioforma Açores, realizou-se no passado mês de abril, durante dois dias (sábado, 14 e domingo, 15) nas instalações da EPPV o primeiro curso de “Consciência Alimentar” nos Açores, ministrado pelo nutrichef Duarte Alves, coautor do livro “A Cura pela Alimentação Alcalina”, apresentado na véspera e que serviu de manual ao mesmo. Nesta apresentação que decorreu no Auditório da EPPV, intervieram Ana Rita Martins, em representação da Vilar dos Carvalhinhos, Rui Drumonde, da Cáritas da Ilha Terceira, responsável pelo projeto “As Nossas Quintas” e por fim, para uma plateia de aproximadamente 3 dezenas de pessoas, palestrou o nutrichef Duarte Alves. Segundo Duarte Alves, “a consciência alimentar é uma consciência maior” que leva a pessoa a ser chamada à razão e a perceber que têm que operar uma mudança profunda “no seu estilo de vida, nos alimentos que escolhe para a sua vida” e com essa escolha optar por estar em saúde ou viver em doença. “Para que servem os alimentos?”, interroga Duarte Alves, para de ime-

diato responder: “Servem essencialmente para nos nutrir e alimentar, porque são eles a nossa fonte primordial de energia. Nós como seres humanos, precisamos da ajuda dos nutrientes que estão dentro dos alimentos, porque eles são fonte energética e se nós não percebermos isto, nós vamos estar profundamente a quê? – A acelerar o nosso processo de morte e porquê? – Porque não percebemos que os alimentos têm a função de nos trazer a saúde”, concretiza. Nesta lógica, é primordial operar uma mudança nos hábitos alimentares, “cuidar do corpo ao invés de saciar o ego, por uma experiência olfativa ou degustativa de alguns segundos ou minutos, mas que depois traz amargura, pela simples razão que o corpo não está preparado para fazer faces a estas agressões”, adverte, para logo sintetizar, “somos seres vivos e precisamos de alimento vivo e de uma água viva”. Neste âmbito, o continental, considera que a ilha e os Açores no seu todo, são “uma bênção porque tem um ambiente mágico, propício à fertilidade dos solos, possibilitando que cada um possa ter o seu ‘terrenozinho’ e produzir alimentos biológicos fantásticos para a nossa alimentação, numa lógica de saúde e sustentabilidade ecológica. É necessário sair da nossa zona de conforto, que nos leva a viver das prateleiras dos hipermercados e nos leva a encher os carrinhos de autêntico lixo. Isto

“A CURA PELA ALIMENTAÇÃO ALCALINA” leva-nos a refletir e optar, entre estar em saúde ou viver em doença. é tudo, menos sustentável, isto é tudo, menos ecológico, isto é tudo, menos saudável”. A água como uma das principais componentes do corpo humano não pode nem deve ser descuidada e é essencial a uma alimentação que nos dê saúde. Escusando-se pronunciar-se sobre a eventual contaminação dos aquíferos da ilha Terceira, por desconhecimento da problemática, Duarte Alves, alerta, “toda e qualquer água homologada para consumo humano não é saudável e precisa de ser filtrada competentemente”. E acrescenta, é “necessário dotar a água de um poder antioxidante, dar-lhe uma carga negativa em termos iónicos, para que haja uma permuta iónica com as nossas células, hidratando-as profundamente, desinto-

xicando os nossos órgãos e o nosso sangue”. Seguiu-se à palestra a “Alimentação Alcalina e Consciência Alimentar”, uma sessão de autógrafos do livro “A Cura Pela Alimentação Alcalina”, editado pela “Lua de Papel” e da autoria do nutricionista, Alexandre Fernandes e do nutrichef, Duarte Alves, com fotografias de Mário Ambrózio, a qual constituiu o mote teórico para a formação dos dois dias seguintes, que contou com a participação de 23 formandos entres os quais 5 alunos da EPPV. No horizonte da “Vilar dos Carvalhinhos” está a realização em data a anunciar, de novo curso, desta feita, em horário pós-laboral e com a duração de 4 dias. JP •

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TALHO BORBA & MENDES


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FERNANDO MENDONÇA, POETA POPULAR

SOU UM POUCO DO PESSOA Inspirado pelos “Lusíadas” de Luís de Camões, Fernando Mendonça, desperta para a poesia aos 17 anos, mas só aos 63, inflama a chama dos versos que lhe faz aos 70 concretizar o sonho de uma vida que julgou não ter sonhado.

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ernando Mendonça é natural de Santa Cruz da Praia da Vitória, onde nasceu, faz a 14 deste mês 71 anos. Apaixonou-se pela poesia nos bancos da escola, onde estudou como externo dos 17 aos 19 anos, e no 5.º ano foi chamado a interpretar, como todos os restantes alunos do antigo curso do liceu, os “Lusíadas” de Luís Vaz de Camões. E assim como o poeta diz que o amor é “fogo que arde sem se ver”, Fernando apaixona-se pela poesia sem se aperceber. Acrescenta Camões nesse mesmo poema, é “dor que desatina sem doer”, e sem dor, dizemos nós, é maleita que não se trata e para todo o sempre lá ficará. Um dia manifestar-se-á! Para o Fernando veio o emprego, o casamento, os filhos e por fim a aposentação… E esta dor que é chama de paixão, acende-se! Incendeia-se em versos que alimentam poemas, poemas que alentam páginas, páginas de um sonho que se realiza aos 70 anos. Jornal da Praia (JP) – A sua paixão pela poesia remonta aos bancos de escola, quando nas aulas de Português se estudava os “Lusíadas” de Luís de Camões. Como nasceu essa paixão? Fernando Mendonça (FM) – Eu só fui estudar com os meus 16, 17 anos como externo. Depois de concluir o 2.º ano, no 5.º ano, – como deve saber – na parte de leituras nós estudávamos os Lusíadas. E realmente, fiquei surpreendido comigo próprio. PUB

Enquanto a maior parte dos meus colegas achavam aquilo um bocado maçador e difícil interpretar aquelas frases na forma como Camões escrevia, o engraçado é que eu gostava daquilo. Tanto que ainda hoje guardo religiosamente o livro com que estudei, com as notas e sublinhados feitos na altura. Quanto à paixão! – As paixões nascem muitas vezes sem darmos conta e durante vários anos, realmente, nunca me tinha apercebido que esta paixão pela poesia tinha começado por ali. Só mais tarde, quando escrevi um poema que intitulei de “Meu Primeiro Poema” é que me apercebi, de facto, desta relação. JP – Quando escreveu o primeiro poema? FM – Escrevi precisamente na altura em que, como externo, estudava os Lusíadas no 5.º ano. Naquela turma havia alunos com a minha idade, outros mais novos e até mais velhos. Havia uma colega mais velha que, se bem me lembro, tinha quase idade para ser minha mãe, mas nós criamos uma certa empatia um pelo outro e… eu dedico-lhe o poema. Tinha os meus 17 anos, estou com 70, portanto, foi há 53 anos. JP – Quais as recordações que guarda desse poema? FM – Muitas! É curioso, escrevo um poema hoje e amanhã já não sou capaz de o recitar, e tenho pena disso. Lembro-me sobre o tema, esta ou aquela frase, mas não consigo recitar o poema do princípio ao fim. Mas este, 53 anos depois, ainda está na

FERNANDO MENDONÇA lançou a 09 de agosto de 2017, por ocasião materializando aos 70 anos um talento que esquecido no tempo na minha memória, e vai reparar, que tem um bocadinho a ver com a linguagem de Camões nos Lusíadas. Versa assim: Ao alma gentil e pura / Soberbo adorno da nossa idade / És a mais nobre e sublime criatura / Que existe entre toda a humanidade!; Tens beleza, tens valor e tens cultura / Tens um nome que recorda a mãe divina / O remédio, que à doença me dá cura / E a luz que a escuridão ilumina!; Tens no entanto, em ti uma

tristeza / Que te dói, te consome e te tortura / É julgares ser idosa e sem beleza / Grande engano esse teu, grande loucura! – Muito mais tarde, volto a este poema para escrever outro poema, que intitulei “Meu primeiro poema” onde retrato a forma como ela leu e reagiu. Este vou socorrer-me dos meus apontamentos (risos): Primeiro poema que escrevi / Quão bem lembro aquele dia! / E do que no momento senti... / Enquanto


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A, DA ESPANCA E DO ALEIXO das Forças Armadas Americanas na Base das Lajes – e muito naturalmente fui afastando-me da poesia… Houve uma altura em que participei no Carnaval numa comédia chamada “A Velha do Juncal”. O assunto era encomendado, mas o responsável pela comédia nunca se satisfazia com o resultado final e tinha as suas próprias ideias, porém não sabia rimar… então pedia-me para fazer as quadras, pelo que muitas daquelas rimas eram feitas por mim...

o das Festas da Praia 2017, o livro “Pedaços de mim que recordo!”, asceu na alvorada dos 17. ela o poema lia!; Lendo tudo até ao fim... / Sem pestanejar, nem riso / Me olhando, disse pra mim: / Meu rapaz, toma juízo!...; Tinha eu dezassete anos / Inspirava-me em Camões.../ Não acreditava em enganos / Só das várias ilusões!...; Foram coisas da juventude / Nem sabia o que fazia!... / Mas já possuía a virtude / Do AMOR e da Poesia... JP – Embora tenha despertado para a poesia muito cedo, esta paixão esteve de certo modo “adormecida” por um longo período. O que motiPUB

vou essa situação? FM – Vou começar por confessar algo que muita gente não sabe! Eu andava constantemente a compor poemas no meu pensamento, andava digamos assim a “poetizar” pelas ruas da Praia, a toda a hora, em toda a ocasião e… a determinada altura cheguei à conclusão que teria que terminar com isso senão daria em louco. Depois, casei, nasceram os meus filhos e tinha a minha atividade profissional na qual exercia funções de enorme responsabilidade – fui chefe do serviço de contabilidade

JP – Diga-nos a sua opinião. Fazer um poema, escrever uma quadra para o Carnaval, cantar ao desafio, é a mesma coisa ou são registos diferentes? FM – Na minha opinião são coisas diferentes... No caso do improviso e com isso não quero de forma alguma o desvalorizar – até porque é uma manifestação poética que dou muito valor e pessoalmente não seria capaz de a fazer – mas há uma coisa, é que são duas ou mais pessoas, em que uma lança o assunto e as outras vão na sequência e ao encontro deste assunto, ao passo que por exemplo ao fazer um soneto, aquilo tem que ter peso e medida, tem que ter princípio e fim e nós não vamos atrás de ninguém, apenas somo guiados pelo nosso pensamento, imaginação e mensagem que pretendemos transmitir… Embora os meus poemas sejam muito pessoais e íntimos, já me apercebi que eles acabam também por dizer algo aos outros. JP – Voltando ao interregno. Quando retorna à poesia mais a sério?? FM – Só muito mais tarde, através do Facebook, é que eu entro mais a sério na poesia, começando por ler poemas dos poetas que mais admiro e me inspiram como Fernando Pessoa, Florbela Espanca e António Aleixo. Já escrevi inclusivamente um poema em que refiro que acabo por

ser um pouco de todos eles. No pensamento, gosto muito de Fernando Pessoa, a Florbela foi uma pessoa sofrida, quando me sinto mais triste acho que vou buscar a Florbela Espanca e na crítica, puxo o António Aleixo. E depois, o que é que aconteceu? – Um dia, quase na brincadeira, começo a fazer quadras com a Rosa Silva. Quadra para cá quadra para lá, no fim ela faz um resumo e manda-me dizendo “eh pá, eu acho que tu tens jeito para isso”, então comecei a escrever, com as pessoas a dizerem que tinha jeito e que deveria continuar e foi assim… JP – A sua primeira “publicação”, digamos assim, ocorre aos 63 anos com a impressão de um compilação de poemas que oferece à sua neta e intitula “Páginas de minha infância!”. O que versa este trabalho? FM – Esta publicação vêm na sequência da aproximação à poesia iniciada com o Facebook e foi talvez, o trabalho que mais gosto me deu fazer, e foi também, um trabalho muito interessante. Comecei com este trabalho quando a minha neta tinha, talvez, 4 anos. A partir dos 4 meses a minha neta foi viver para minha casa durante o dia enquanto os pais trabalhavam e por isso teve uma vivência muito grande connosco. Então o que é que eu fazia? – Aquelas brincadeiras dela, as nossas saídas, como por exemplo ao Porto de Martins para ver os maios, eu tirava uma fotografia com ela e colocava no computador onde descrevia ou em prosa ou em verso aquele momento. Há uma que eu gostava de recordar e que é das primeiras quadras que fiz. Ela estava nas suas brincadeiras na sala, e de repente, ela sem querer partiu o centro de mesa da sala e começou a chorar, então escrevi: (Continua na página seguinte)


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ENTREVISTA A FERNANDO MENDONÇA (Continuação da página anterior)

Não vale a pena chorar / Na Praia, há outras iguais / Tua avó leva a cramar / Que tem tarecos a mais. JP – Esta “publicação” retrata então o crescimento da sua neta e a forma como acompanhou/viveu este mesmo crescimento… FM – Exatamente, durante quatro anos! Quando ela já sabia ler, no dia do seu aniversário, fui a Angra do Heroísmo a uma empresa chamada “Copy Print” e mandei imprimir este livro que ofereci como prenda de aniversário. JP – E ela, como reagiu? FM – Gostou muito e sei que já houve uma altura em que ela estava mais triste e refugiou-se no seu quarto a folhear este livro... (voz e expressão emotiva). A ideia deste livro é recordar-lhe a infância. Hoje se calhar ela ainda se lembra do que fez aos 5 anos, mas mais tarde, quando estiver nos seus 30 ou 40 anos poderá não se lembrar e folheando este livro poderá recordar estes momentos e de certa forma fazer um regresso à sua infância. JP – Mais recentemente, precisamente a 09 de agosto de 2017, por ocasião das Festas da Praia, lança o seu primeiro livro que intitulou “Pedaços de mim que recordo!”. Este é um trabalho completamente novo? FM – Sim! Trata-se de um trabalho completamente novo e que não foi premeditado. Ou seja, comecei a escrever, escrever, escrever e à medida que ia escrevendo imprimia e colocava as folhas numa pasta, comprei inclusivamente uma impressora para o efeito e, aos poucos, fui acumulando centenas de poemas. Depois, com o perfil do Facebook e a entrada em grupos de poesia comecei a contatar com vários poetas e poetisas que começaram a incentivar-me para publicar um livro face ao número de poemas existentes nesta tal pasta. A minha ideia inicial era para mais tarde – como já vi em algumas situações – as minhas netas procederem à publicação. Tenho duas netas, e a que mais se interessasse ficava com aquilo e procederia à sua publicação. Entretanto, em conversa com um amigo sobre o assunto ele diz-me: “Ó Fernando, eu acho que estás a pensar mal, deverias publicar isso é em vida, sabes lá qual é o destino que as tuas netas irão dar aquilo”. E eu fiquei a pensar naquilo. Nisto, a

Rosa Silva, oferece-se para organizar aquilo, uma vez que tem mais conhecimentos de computadores do que eu. Peguei naquilo tudo e fui para casa da Rosa e durante alguns dias estivemos a organizar o material que por fim colocámos numa pen-drive, e foi assim que o livro foi em frente. Devo confessar que andei um bocadinho indeciso quanto à publicação, porque publicar um livro é complicado, mas chegou uma altura que já me tinha comprometido tanto com os meus leitores como com a minha amiga Rosa que já não havia forma de voltar atrás… JP – Como viveu este lançamento? FM – Vivi este lançamento com muita emoção e regado com algumas lágrimas. Lançar um livro é algo muito mas mesmo muito emotivo. Antes de lançar o livro eu fiz na “Copy Print” dois volumes digamos assim de rascunho, um para mim e outro para a Rosa Silva... E depois eu fui encontrar-me com a Rosa e demos um abraço e choramos juntos (voz rouca de emoção). JP – Em termos gerais como caracteriza os seus trabalhos? FM – Em termos gerais diria que a minha poesia é como se fosse o “meu eu”... Na perspetiva que ela reflete o que realmente penso e sinto. É uma poesia simples, despretensiosa, sem qualquer outra intenção que não seja a expressão do meu enorme amor pela escrita e pela poesia e funciona também como um exercício mental, já que sempre que se escreve um poema somos chamados a articular as palavras com os pensamentos, com as emoções e até com a alma, e isto faz-nos desenvolver a mente da mesma forma que o exercício físico – do qual sou um grande apologista – faz desenvolver os músculos... JP – Quem pretenda conhecer os seus escritos, como poderá fazê-lo? FM – Olha! Basta ser meu amigo no Facebook. Não tenho página de Facebook, não tenho blog, não colabore com jornais nem revistas, mas ainda me restam alguns – poucos – exemplares do livro que lancei que tem um custo de 15 euros. Não escondo nada do que escrevo e até certo ponto sinto-me completamente realizado por ter concretizado este sonho... Não tenho pretensões de ir mais longe do que isso, embora esteja sempre disponível, tanto que aqui estou a dar esta entrevista para participar e colaborar com todos

aqueles que me convidarem… JP – Como vê a literatura em geral e a poesia em particular na ilha Terceira e na Praia da Vitória? FM – Até entrar nesse mundo pensava diferente, mas neste momento vejo com bons olhos e com muito agrado. Sinceramente não imaginava que houvesse tantos poetas no anonimato como tenho descoberto desde que comecei a escrever… JP – Estes talentos no anonimato, são predominantemente jovens ou pessoas com mais uns anitos como o Fernando? FM – Que eu conheça e com as que tenho participado ultimamente em eventos de poesia, são pessoas mais novas, acho até que sou o mais velho. Tenho esta facilidade – gosto meu – de realmente conseguir relacionar-me muito bem com as pessoas novas. Escrevi em certa altura que aquilo que os velhos sabem eu já sei, quero é conviver com os novos porque é com os novos que aprendo qualquer coisa (risos). JP – Entende que deveria fazer-se alguma coisa no sentido de dar mais visibilidade a estes poetas e poetisas no anonimato? FM – Sim, eu acho que sim! Acho que se deveria fazer alguma coisa e alguma coisa está a ser feito.... Saliento o caso do Rádio Club de Angra que já me convidou para uma entrevista, a Rádio dos Açores e agora o Jornal da Praia. JP – E as entidades governamentais e municipais apoiam suficientemente os escritores/poetas populares desconhecidos ou há muito a fazer neste sentido? FM – A entidades governamentais na minha opinião fazem pouco e deveriam fazer mais… Primeiro deveriam apoiar economicamente, sobretudo todos aqueles que tem projetos de lançamento de livros. No meu caso particular o único apoio que me concederam foi a compra de 30 exemplares do livro e o espaço para o evento de lançamento... JP – Para além do apoio financeiro que outras iniciativas deveriam ser desenvolvidas no sentido de dar espaço e visibilidades aos poetas e poetisas no anonimato? FM – Olha! Vamos por exemplo à edição de um livro. No meu caso concreto, eu é que tive que ser o editor... acho que eles deveriam cola-

borar na edição, deveriam colaborar até na preparação do próprio livro se fosse preciso. Eu tenho dúvidas... vamos lá... que a Câmara tenha alguém para fazer um trabalho desses e se não têm, na minha opinião deveria ter... Penso que este tipo de apoio seria muito importante e importante porquê? Antes de proceder à publicação do meu livro eu pedi um orçamento a uma editora local e o custo para publicar era brutal. No fim gastei 1/3 desse valor, e isto porque o trabalho de edição foi feito por mim com imprescindível ajuda da minha amiga Rosa Silva. O nosso trabalho fez com que poupasse 2/3 do valor inicialmente apresentado. No meu caso não foi preciso, como acabei de referir, a Rosa colaborou comigo e o editor fui eu... na altura o antigo presidente até disse-me: “Já muita gente apareceu aqui, mas nunca ninguém veio com um trabalho tão preparado para a publicação”, porque eu levei já um rascunho do livro, a única coisa que eles me fizeram foi comprar 30 livros e disponibilizaram o espaço… JP – Mas para além deste apoio de natureza logística, entende que deveriam haver iniciativas de promoção da poesia e dos poetas anónimos, tais como recitais de poesia, encontros de poetas populares, etc? FM – Sim, penso que seria algo de muito interessante. Há tempos um colega meu falava que chegaram a ter na pintura um espaço onde se reuniam e inclusivamente desenhavam trocando experiências entre si. Entendo que neste género poderia haver alguma coisa interessante, no sentido de ser criado um espaço onde os poetas ou as pessoas com pretensões a escrever se juntassem para trocar experiências, saberes e até conviverem. JP – Para finalizar, existe algo que gostasse de sublinhar? FM – Gostaria de salientar o empenho do Rádio Clube de Angra, da Rádio Voz dos Açores de Santa Bárbara, através do Sr. Norberto Messias que convido a mim e a outros poetas para o programa “A Beleza da Ilha”, que passa semanalmente às quartas-feiras e por fim ao Jornal da Praia por esta entrevista e pelo seu empenho demonstrado na edição anterior na divulgação dos poetas e poetisas desconhecidos da nossa Praia.

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SOLIDARIEDADE | JP

SEXTA-FEIRA, 13

DIA DE SORTE PARA O SR. JOSÉ PACHECO Sempre que o dia 01 de cada mês ocorre num domingo, há uma sexta-feira 13. Dia de azar, sustentam os mais supersticiosos, mas o Sr. José Pacheco nada se importa, antes pelo contrário.

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exta-feira, 13, é para os mais supersticiosos sinónimo de azar, mas para o utente do Lar D. Pedro V, Sr. José Pacheco, a do passado mês de abril foi memorável, proporcionando-lhe enorme alegria e revelando-se verdadeiramente especial. José Pacheco apresenta grandes dificuldades de mobilidade, o que dificulta em muito a sua rotina diária. Conscientes dessas limitações, a direção da instituição, os seus colaboradores e restantes utentes presentearam José Pacheco com uma cadeira de rodas automática, prePUB

cisamente a 13 de abril, uma sexta-feira. Esta significativa melhoria na mobilidade deste utente, salienta a direção do Lar D. Pedro V, só foi possível graças a um donativo de um membro da comunidade, o qual foi convertido na melhoria e adaptação de uma cadeira de rodas elétrica, especificamente de acordo com as necessidades e características do idoso. E assim, naquela sexta-feira, 13, José Pacheco passou a realizar a sua rotina diária com muito menor esforço e maior mobilidade. JP•


JP | EDITORIAL & OPINIÃO

E DITORIAL

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“VOLTANDO À VACA FRIA” (IV)

PREPOTÊNCIA E SUBMISSÃO “Salvo se formos cretinos, morremos sempre na incerteza do nosso próprio valor e do da nossa obra.” Gustave Flaubert Reunião “histórica” em Bruxelas assume compromisso com as RUP dava-nos, pois, o mote para o subtítulo.

Inércia da vida citadina

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ecentemente têm sido publicados na imprensa local vários artigos onde se aborda de forma estarrecedora o movimento das pessoas na cidade da Praia da Vitória, “um local onde a vida parou, onde as pessoas desistiram de sair à rua e os comerciantes de vender… Visitei as outras ruas da cidade, ainda mais desertas, onde abundam espaços para venda ou para arrendar e todos os comerciantes se queixavam da falta de pessoas”. Esta transformação na vida citadina não é recente, como sabemos, isto já vem agudizando há vários anos por diversas razões, sendo certo que as soluções encontradas para ultrapassar este quadro negro não tem tido a eficácia que à partida se pretendia. O Professor Vitorino Nemésio nos seus escritos retrata-nos a vida da Vila da Praia da Vitória, onde realça o povo das freguesias do nosso concelho descendo à Vila da Praia da Vitória para resolverem as suas demandas judiciais no Tribunal, dando vida às ruas da urbe, animando o seu comércio, e realçando o orgulho que o povo sentia na restauração do Tribunal Judicial, na justiça de proximidade. A anunciada próxima redução de trabalhadores na Base das Lajes (122), e a redução funcional do Tribunal da Praia da Vitória, tirando-lhe os Processos de Família, Menores e de Trabalho e a instalar na vizinha cidade de Angra do Heroísmo um Tribunal de Família, Menores e de Trabalho, certamente que irá contribuir ainda mais para letargia que reina na cidade da Praia da Vitória. Onde estão as medidas para mitigar a redução da Base das Lajes, dos militares americanos e a consequente redução dos trabalhadores portugueses? Os voos da Delta Airlines foram desviados para Ponta Delgada, o super computador doado pelos Americanos foi enviado para a Universidade do Minho, a Base de Lançamento de Satélites ficou na Ilha de Santa Maria e parte do Tribunal da Praia da Vitória vai ser transferido para Angra do Heroísmo. A liberalização do espaço aéreo, a generalização do comércio online, em nada contribui para a prosperidade do comércio da capital do Ramo Grande, naturalmente que depende dos praienses e dos seus governantes assegurar e aplicar medidas e estratégias que põe cobro a esta nefasta situação, transformando e beneficiando particularmente a capacidade de inovação e adaptação aos novos tempos, aprendendo a agir e a preservar o valor do trabalho e o futuro do emprego, que se traduz na criação de mais riqueza para que possam beneficiar todos praienses, porque “quem não evita males, podendo e devendo, vem a ser causa de muitos males”. Relativamente à redução funcional do Tribunal da Praia está ainda em tempo de a travar, pois em democracia as más decisões são sempre revogáveis e alteráveis, o que não sucede quase sempre em ditadura. Basta de silêncios por parte dos partidos políticos que governam os órgãos do poder local do nosso concelho, e também dos partidos políticos da oposição acerca da desvalorização do Tribunal da Praia, porque o povo tem direito a ser informado, esclarecido das políticas que se irão tomar para resolver este assunto tão importante, e esta realidade a nosso ver é incontornável e sobre ela o Jornal da Praia sempre pretendeu chamar a atenção dos nossos leitores para os desafios e mudanças que lhe estão subjacentes. O Diretor Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com •

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José Ventura*

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á aqui nos referimos a episódios políticos que demonstraram quanto o governo português através dos seus quadros ministeriais bem assim diversas outras instituições, de cariz governamental, mas também, de outras organizações de ordem económica, financeira e associativa se comportam de uma forma prepotente usando de um paternalismo, pelo qual exercem o poder sobre um combinando de decisões arbitrárias e inquestionáveis, prevalecendo o chamado paternalismo autoritário. Baseiam eles essa invasão, na incapacidade ou idoneidade dos seus colaborantes no respeitante às últimas, ou aos cidadãos (Povo) em relação ao estado. Justificando a abertura do nosso IV episódio de “Voltando à Vaca Fria”, e o tema de PREPOTÊNCIA e a submissão” vem a notícia que, não afirmando mundial, mas, europeia e nacional quando em relação a Portugal, Espanha e França bem assim, nas ainda possessões de além-mar (agora chamadas de RUP’s) que, ainda esses países fazem gala de exibir, quais troféus de um antigo colonialismo ainda teimosamente fazendo “jus” dos seus estados, ditos de democráticos. Das fotos publicadas na comunicação social jornais e canais de TV e texto noticioso, publicitando

Há quem diga que daquele encontro dos membros da Conferência dos Presidentes das Regiões Ultraperiféricas com os representantes dos seus mentores, os estados, português, espanhol e francês, Sr. Costa, Señor Rajoy e Monsieur Macron, a Ultraperiferia saiu fortalecida. Será? Vamos e só, “matutar”., Pensar apenas, no que diz respeito a nós Açores, não esquecendo o provérbio que “de promessas está o inferno cheio”. António Costa destacando-se como porta-voz dos três estados envolvidos, na citada reunião, afirmou o “compromisso claro” formalizado pelos chefes de Estado e de Governo de França, Espanha e Portugal, em defesa dos interesses das suas regiões ultraperiféricas no quadro do futuro orçamento da União Europeia. (propositadamente sublinhamos o que se entende pela afirmativa das suas). Sabemos que, a saída do Reino Unido da EU, já começou a mexer seriamente com o quadro financeiro da comunidade, obrigando a considerandos sobre o futuro da europa futura dos 28-1=27 que exigirão reformas em diversas políticas de cariz económico especialmente nas áreas da agricultura e das pescas. Por tabela passe a expressão, à exploração do nosso Mar objecto da pirataria de hoje e que, para além de ser um dos últimos activos de Portugal como dono dos Açores (atentemos o significado do termo usado pelo primeiro ministro António Costa “suas regiões” e, está visto a novela que aí vem).

De 23 de Março de 2018 até ao final da viagem por todas as capelinhas e oratórios, na sensibilização dos centros decisórios que compõem, a Comissão Europeia, Conselho de Ministros e do Supremo Conselho Europeu, “muita água correrá por debaixo da ponte”. Prepotência e submissão aparenta, repetimos, as imagens onde se vê Rajoy de dedo em riste como quem alguém que dá instruções de democracia aos seus acompanhantes, ambos de acordo com a sua actuação sobre a Independência da Catalunha e, da afronta ao Povo Catalão. A falta dos símbolos (Bandeiras) representativos das ditas Regiões Periféricas que penso, todas os terem a exemple dos Açores, é inadmissível e, sinónimo de prepotência de despotismo, levando os Presidentes das RUP a uma posição de sujeição, de rejeição no que representam pela vontade dos seus Povos. Estejamos, pois, atentos ao que lá em Bruxelas e, nos gabinetes dos Estados interessados o que se vai urdindo para o melhor das suas conveniências em detrimento dos verdadeiros interessados. E sobretudo não esquecemos a vontade política da Coesão açoriana tal como nos interessamos pela Coesão das RUP. Para todos os que passaram um olhar pela presente redacção, os Votos de umas Feliz Páscoa e, se por acaso, o que é o mais certo, tiverem acesso a este artigo depois da Festa Pascal que a mesma tivesse servida de um milagroso balsamo para o seu espirito. (*) Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. •

DE FÉRIAS NA TERCEIRA: E O FUTURO? (Continuação da página 2)

imprescindível.

Pode, pois, perguntar-se, se o cliché “a Terceira é um parque de diversões” não terá alguma razão de ser.

Além disso, a riqueza cultural que encontramos nas festas da Ilha é enorme. Sobre esta riqueza tenho uma estória que nunca mais esquecerei. Há uns anos, em conversa com o Prof. Manuel Braga da Cruz, sociólogo, na altura Reitor da Universidade Católica, sabendo ele que sou terceirense, dizia-me: “os ministros da Cultura do Governo da República deviam visitar obrigatoriamente a Terceira no Carnaval, para verem o que é cultura popular”. O Professor conhecia o nosso Carnaval porque, a convite do Prof. Mário Pinto, então Ministro da República na Região, tinha estado na Ilha na quadra e ficou impressionadíssimo com o que viu.

Pela minha parte, nada tenho contra as festas, como terceirense que sou até gosto. Como o nosso povo costuma dizer: “tristezas não pagam dívidas!”, ou “um santo triste é um triste santo!”; ou, ainda, “esta vida são dois dias, e este já vai no fim!” Há, contudo, todo o resto da vida a ter em conta e que não pode ser esquecido. Quem olha com atenção para as festas da Terceira, não pode deixar de reconhecer que elas contêm elementos válidos que se não podem perder. Em primeiro lugar as festas patenteiam o carácter divertido do povo terceirense, cuja valorização não pode ser posta em causa. A capacidade de diversão é uma qualidade humana que constitui uma mais valia e é absolutamente necessária ao equilíbrio das pessoas; é a melhor prevenção das depressões! E, neste capítulo, não nos esqueçamos que viver numa ilha, com o clima dos Açores, não é fácil. A Festa é, pois,

Continuando a ter em atenção o Carnaval, para além das muitas pessoas que participam dançando e representando, é impressionante o número de instrumentistas mobilizado para acompanhar os grupos, ainda este ano reparei nisso. São numerosos os rapazes e raparigas, novos e menos novos, que tocam instrumentos de cordas e de sopro. Sobre este tema, em 2010, quando fui participar na sessão solene do aniversário da Filarmó-

nica União Praiense, o Carlos Cabral, na altura presidente da direcção, contou-me que todos os anos, nos dias seguintes ao Carnaval, apareciam vários miúdos que queriam aprender música, motivados por terem visto os músicos que acompanhavam as danças. Aliás, os Açores é a região do país que mais filarmónicas tem em actividade. Para se ficar com uma ideia, basta ver os desfiles das bandas nas Sanjoaninas e nas Festas da Praia da Vitória. Os agrupamentos são muitos e, não nos podemos esquecer, segundo a Pordata, a Ilha tem apenas 56254 pessoas (número de 2015). Sem esquecer o que acabo de valorizar, não nos podemos esquecer que nem só de festas vive o homem. Em 2017, e se virmos os números dos anos anteriores verificamos que a média é essa, as touradas à corda na Terceira foram à volta de 260. Há uns anos alguém me dizia que, do ponto de vista económico, só havia na Ilha um sector mais importante que as touradas: os supermercados. Hoje na Terceira correm-se toiros em qualquer sítio, mesmo que as condições não sejam apropriadas. Há uns tempos, num vídeo disponível na (Continua na página seguinte)


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OPINIÃO | JP

CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XXVII)

A GRANDE IMPORTÂNCIA DO JORNAL A Terceira, neste momento, está cingida a um diário e a este quinzenário que, além do trabalho de qualquer órgão de informação, é um exemplo de completa dedicação e acrisolado amor à nossa terra…

António Neves Leal

N

este número que assinala a mudança de mais uma folha no calendário da vida deste quinzenário, entrado no 36º ano de publicação, gostaria de formular os mais sinceros e cordiais votos de um promissor e longo futuro. A Terceira, neste momento, está cingida a um diário e a este quinzenário que, além do trabalho de qualquer orgão de informação, é um exemplo de completa dedicação e acrisolado amor à nossa terra, desde a sua fundação. Ele tem cumprido uma nobre missão de entrega abnegada, o que nos dias de hoje é caso muito raro. Refira-se que aqueles que o editam, fazem-no sem qualquer remuneração ou avença, nem estão dependentes de grupos económicos como sucede noutros órgãos de informação. Todos os seus colaboradores, desde o mais jovem ao mais avançado nos anos, vivem uma experiência única, maravilhosa. Cada edição é um parto muito desejado, com um ritual que se renova, empolga e preenche cada um dos obreiros deste projecto. Para muitos, o jornal saíu dos hábitos de leitura, devido à parafernália de aplicações e aos modismos e exibicionismos, não dando tempo ao leitor de poder respirar ou ter alguns momentos de encontro consi-

go ou com os outros seres humanos, ávidos de diálogo e de intercâmbio. O homem é um animal social e não pode prescindir de viver em convívio com os seus semelhantes, a menos que pretenda ser misantropo. Para isso o jornal é o meio ideal para veícular e gravar as mensagens, os acontecimentos, os desígnios, emoções e aspirações das nossas vidas. A todas as pessoas que gostam de guardar memórias pessoais, genealogias, biografias, monografias, trabalhos científicos ou literários, etc, aconselha-se a que não incorram em promessas de vendedores de sonhos audiovisuais fáceis, com períodos de validade curtos e sujeitos a mutações tecnológicas, avessas à conservação de coisas perduráveis ou resistentes. A filosofia hodierna dos mercados e da mundialização neoliberal é produzir sempre, mais e mais, coisas novas e diferentes, necessárias ou supérfluas. Não interessa a qualidade nem a durabilidade, nem a insegurança ou perigo para a saúde do cliente do que é produzido, durante a excessiva exposição em frente de monitores. Por seu turno, o jornal em suporte de papel, tal como as revistas, os livros, e os diferentes documentos escritos, resistem à corrosão do tempo, ao invés, os meios de gravação e reprodução, que, não dão as mesmas garantias de sobrevivência, nem permitem certas possibilidades de utilização. Onde páram as nossas antigas gravações em disquetes, video-cassetes, CDs, pens? No nosso clima tão húmido, mais difícil será, ainda, a sua conservação e a inevitável perda. Ler o jornal é, pois, indispensável porque com a sua leitura nós aumentamos os conhecimentos. Ele é tam-

bém uma forma de desenvolver as faculdades de análise, de crítica e de síntese, partindo da reflexão quotidiana para o que se passa na actualidade. Nesta, o jornal torna-nos aptos a uma eventual reciclagem ou possívcel reconversão. É uma ferramenta fundamental para nos situarmos na sociedade e sermos capazes de rápida actualização de conhecimentos, de forma mais viva e agradável. Naturalmente, o jornal não trata sistematicamente a história, geografia, instrução cívica, a não ser por ocasião duma viagem presidencial ou ministerial, dum conflito social, duma eleição ou guerra. Neste caso, os quotidianos, semanários e quinzenários publicam grande número de artigos e de fotos, que dizem respeito, ao mesmo tempo, à história, à vida económica de um ou vários países. O jornal é um reflexo da vida e a própria vida de uma região como se pode ver através dos 520 números do Jornal da Praia. Daí a importância que a preservação dos nossos semanários e quinzenários assume para que se não perca esse legado precioso da nossa memória colectiva e pessoal e fundamental, no futuro, para os investigadores. Pela experiência, que tenho de algumas das nossas bibliotecas, recomendaria que esses jornais fossem bem guardados, e remetida uma colecção completa deste nosso periódico à BPARLSR, de Angra do Heroísmo, por falta de vários números. O mesmo se observa em relação ao jornal Directo e à antiga Revista Prelúdios, editada pelo Seminário Episcopal de Angra, como em devido tempo dei conhecimento ao anterior director da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do He-

roísmo. Esta, como alguns sabem, é a única biblioteca detentora do depósito legal nos Açores. Uma boa reportagem jornalística sobre uma região, país ou instituição fará alusão, frequentemente, tanto à política e economia como à história, às ciências ou às técnicas. Isto terá grande interesse para o estudo das várias áreas do saber, não em compartimentos estanques, mas em termos de interdisciplinaridade, como preconiza o ensino moderno. E como os jornais utilizam a língua escrita, eles são um precioso auxiliar dos educadores e professores para o desenvolvimento linguístico da criança e da educação dos adultos. O apetite pela leitura e pela escrita, ou o consequente interesse pela vida, muito vezes, nascem do gosto de folhear as notícias do jornal, como foi o meu caso. A escola, se quiser assumir cabalmente a sua função educativa, terá de abrir-se à vida exterior e ter em atenção a informação difundida pelos” mass-media”. O jornal deve entrar nas escolas, como eu defendi em 1984, numa acção de formação para os docentes açorianos do Ensino Básico e, posteriormente, num grande congresso em Lisboa com 1200 participantes, sobre o ensino e investigação da língua portuguesa. Entrar e não desaparecer, como sucede hoje, nas nossas escolas. Afinal de contas, os jovens de hoje não serão os homens-cidadãos de amanhã? E que cidadania terão eles no futuro, se ninguém os preparar para receber, comprender, criticar e seleccionar o que interessa retirar da informação superabundante que, às toneladas, jorra do jornal, da rádio, da televisão, do cinema, da internet e das numerosas aplicações do digital? •

DE FÉRIAS NA TERCEIRA: E O FUTURO? (Continuação da página anterior)

Net, ouvi um capinha dizer que ele e os PUB

colegas “eram semiprofissionais”. Achei um exagero, mas se formos ao Youtube e fizermos uma busca em “Touradas na Terceira”, aparecem centenas de vídeos; se olharmos para quem anda à frente dos toiros, veremos nos últimos 10 ou 15 anos quase sempre as mesmas caras, o que nos leva a pensar que há pessoas para quem “capiar toiros” parece ser a ocupação principal. A sustentabilidade económica da Ilha estará assegurada com os supermercados (a distribuição) e as touradas (o lazer)? Não me parece. Se alargarmos o horizonte a toda a Região Autónoma, a preocupação aumenta. Infelizmente, o que se vai lendo sobre a situação económico da Região não é muito entusiasmante; antes pelo contrário. Para além de outros, basta ter lido o texto de Osvaldo Cabral “O NOVO CICLO:

MAIS ENDIVIDADOS E BEM COMIDOS...”, publicado no Diário dos Açores a dia 6 de Dezembro (p. 7), em que o jornalista faz uma apresentação comentada do parecer do Tribunal de Contas sobre a conta da Região de 2016. Ao chegar ao fim do texto, o leitor é levado a perguntar: quando vai rebentar a bomba? O panorama é preocupante: a administração pública regional é muito pesada (há quem a considere sobredimensionada, embora se deva ter em conta para esta avaliação os condicionalismos impostos pela descontinuidade territorial que caracteriza da Região) e as empresas públicas, pelo menos algumas delas, estão falidas. Por outro lado, a sociedade civil, pouco robusta, está imensamente dependente do poder político. Bem sei que neste momento se vive a euforia do turismo. É uma aposta boa, mas o sector é muito sensível. Para além de uma sazonalidade

muito acentuada, é uma indústria muito exposta aos ciclos económicos; como alguém dizia: “uma pequena constipação” na actividade económica causa imediatamente “uma pneumonia no sector do turismo”. Mas há outros dados que são imensamente preocupantes. A Região dos Açores tem taxas de retensão e de abandono escolar muito altas; os últimos rankings das escolas apresentavam os estabelecimentos de ensino açorianos em posições pouco animadores; em termos de pobreza, a percentagem de açorianos que recebe o rendimento social de inserção é das mais altas do país. Perante tudo isto, não será de seguir a recomendação com que Osvaldo Cabral titulou o Editorial de 9 de Fevereiro do Diário dos Açores: “Parar para Pensar” antes que seja tarde? •


JP | MONARQUIA

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NO 96.º ANIVERSÁRIO

GONÇALO RIBEIRO TELLES CONTINUA A MARCAR, PROFUNDAMENTE O NOSSO PAÍS Por: Jácome de Bruges Bettencourt

Sempre fiel às suas convicções nunca deixou de lutar pela reinstauração duma Chefia de Estado Real para o seu muito amado Portugal.

O

Professor Arquiteto Gonçalo Pereira Ribeiro Telles (G.R.T.), nasceu em Lisboa a 25 de maio de 1922, filho do Dr. Joaquim Ribeiro Telles Júnior, médico veterinário e oficial do exército, e de D. Gertrudes Guilhermina Gonçalves Pereira Ribeiro Telles (sobrinha de Joaquim Cardoso Gonçalves). A família paterna é ribatejana, de Coruche, aí tendo casa e propriedades, onde se dedicam, há séculos, à lavoura, como criadores de gado, sempre com grande fascínio pela trilogia cão (galgos)-cavalo-toiro, tal como a maior parte dos seus familiares, com destaque para o cavaleiro tauromáquico Mestre David Ribeiro Telles, filhos e netos. Casou em 1953 com D. Maria da Conceição de Calazans de Sousa (falecida há poucos anos), de quem teve cinco filhos. G.R.T. militou na Juventude Agrária e Rural Católica (J.A.C.), do padre Diamantino Gomes, e trabalhou em ligação com a Juventude Operária Católica (J.O.C.), do padre Abel Varzim, envolvendo-se assim, sempre, em atividades cívicas, uma constante na sua longa vida. Cumpriu serviço militar em Vendas Novas (artilharia) – 1943. Foi membro fundador do Centro Nacional de Cultura – 1945 (sócio n.º 1). Engenheiro agrónomo e arquiteto paisagista (I.S.A.) – 1950. Em 1957, fundou o Movimento dos Monárquicos Independentes, com Francisco de Sousa Tavares, ao que se seguiu o Movimento dos Monárquicos Populares, de oposição ao Estado Novo. Candidato à Assembleia Nacional pelos Monárquicos Independentes – 1957 e 1961 e para as eleições à Assembleia Nacional de 1969, integra a Comissão Eleitoral Monárquica, na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (C.E.U.D.). Em 1971, funda a Convergência Monárquica, que reunia os militantes dos vários grupos de monárquicos existentes, contando logo com a aderência nos Açores, de Jácome de Bruges Bettencourt (J.B.B.), que ele conhecia bem, desde 1964, dos tempos em que este açoriano fora vice-presidente da Junta Escolar PUB

Liceal de Lisboa da Comissão de Juventude da Causa Monárquica, que contava então jovens dinâmicos, como António Pardete da Fonseca e João Fernando de Mattos e Silva de Almeida (já falecidos), e no seu Boletim “A Folha”, apareciam artigos algo contundentes, como os de Miguel Serras Pereira. Lembro que nessa altura, aos sábados à tarde, eram convidados para participar com alocuções, nas instalações da Causa, conhecidas figuras monárquicas de relevo, como o capitão Júlio da Costa Pinto, Pedro Homem de Melo, Gonçalo Ribeiro Telles, Francisco de Sousa Tavares, Fernando Amado, Henrique Barrilaro Ruas, Jacinto Ferreira, Álvaro Dentinho, João Camossa de Saldanha e Gastão da Cunha Ferreira entre outros nomes menos sonantes. Foi um período de excecional atividade, o que incomodava, sobremaneira a PIDE/DGS e fez redobrar a sua vigilância, com a colocação de um vendedor de gravatas (disfarçado), à porta do n.º 46 do Largo de Camões...

nas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as Bases do Plano Diretor Municipal. Não era maleável em termos políticos. Helena Roseta, sobre catástrofe ocorrida, recorda que G.R.T. foi … “uma das poucas vozes que me recordo de ter ouvido, que com grande destemor punha o dedo na ferida: a tragédia tinha causas naturais, por certo. Não se podia ignorar a degradação física e biológica da região, por motivos que são da inteira responsabilidade do homem.”. A Fotobiografia, publicada pela Argumentum – 2011, insere depoimentos a atestar o mérito que todos lhe reconhecem, aí deixados por Emílio Rui Vilar, Alexandre Cancela d’Abreu, António Ramalho Eanes, Ário de Azevedo, Aurora Carapinha, Diogo Freitas de Amaral, Dom Duarte de Bragança, Francisco Pinto Balsemão, Jorge Paiva, Manuela Raposo de Magalhães, Mário Soares, Guilherme d’Oliveira Martins, Fernando Santos Pessoa e Margarida Cancela d’Abreu.

Após o 25 de abril foi cofundador do Partido Popular Monárquico – 1974-1993, de cuja ação política resultou a sua participação como Subsecretário de Estado do Ambiente, nos I e II Governos Provisórios (de Adelino Palma Carlos e Vasco Gonçalves), (em que visitou a Terceira, nessa qualidade, sendo recebido e acompanhado por J.B.B., que exercia em regime de substituição as funções de Presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo) e como Secretário de Estado do Ambiente, nos III, IV e VI Governos Provisórios e mais tarde Ministro de Estado e Ministro da Qualidade de Vida no VIII Governo Constitucional, AD de Francisco Pinto Balsemão – 1981-1983. Deputado pelo P.P.M. – 1979 e independente pelo P.S. – 1985. Integra a AD com Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, os três liderando os respetivos partidos 1979-1983. Vereador da Câmara Municipal de Lisboa pelo Movimento Alfacinha – 1984. Cofundador do M.P.T. – Movimento Partido da Terra – 1993-2007.

Foi aluno dileto do Professor Francisco Caldeira Cabral no I.S.A., uma das mais notáveis personalidades do meio académico português do século XX que o haveria de influenciar notoriamente pela vida fora. Doutor Honoris Causa pela Universidade de Évora – 1994 e Professor Emérito da mesma Universidade – 2008, onde foi Professor Catedrático entre 1976 e 1992, tendo aí fundado o Curso de Planeamento Biofísico – 1975 que é transformado em Licenciatura em Arquitetura Paisagística – 1981. Membro Honorário da Ordem dos Arquitetos – 2002.

Como o mais reputado e conhecido arquiteto paisagista português, bem como corajoso ecologista defendeu, como ninguém o fizera até aqui, o ambiente e ordenamento do território, a humanização do habitat, a conservação da natureza e a preservação da paisagem. Luta que desenvolveu ao longo de décadas de atividade profissional e sobretudo no empenho por causas, representando a sua obra um incontornável legado de experiência e sabedoria.

Recebeu inúmeras veneras com destaque para: Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada – 1969, Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo – 1988. Grã-Cruz da Ordem da Liberdade – 1990, Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, Comendador da Ordem da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa – 2001, Cavaleiro da Ordem de Mérito da República Italiana – 2011, Ordem da Bandeira com Rubis da República Popular da Hungria, Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique – 2017, Medalha de Mérito Municipal de Lisboa (grau ouro – 2013), entre outras. Foi investido como Confrade Honorário em várias Confrarias Báquicas e Gastronómicas de Por-

A sua obra, no âmbito de planos do ordenamento do território e da paisagem, de projetos de espaços verdes públicos e privados e das referências escritas, é vastíssima. Criou as zo-

Recebeu vários prémios, com realce para o Prémio Valmor – 1975, com o colega António Viana Barreto. Projeto dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, apresentado em 1967, que constituiu a melhor e bem conseguida obra de arte paisagista do século XX. Prémio da Latinidade. Troféu Latino “João Neves da Fontoura” – 2010. Prémio máximo e honroso IFLA Sir Geoffrey Jellicoe – 2013.

tugal, como na Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, cujo grau de Mérito, respetiva insígnia e diploma, lhe foi entregue pelo então Grão-Mestre Jácome de Bruges Bettencourt – 2007, que contemplou simultaneamente S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança, José Meneres Pimentel e Casa Agrícola Brum Lda., cuja cerimónia decorreu na Igreja da Lapa, seguida de um almoço na Casa dos Açores, à Rua dos Navegantes, na Lapa, Lisboa. G.R.T., além da já aludida visita de 1975, deslocou-se aos Açores pelo P.P.M. em 1979 e 1984, partido que apresentou candidaturas à Assembleia da República, Assembleia Legislativa Regional dos Açores e Autárquicas. Com a saída de G.R.T. em 1993, a maior parte dos militantes nos Açores acompanharam-no. No entanto, visitou a Região Autónoma dos Açores, e mormente a Terceira, mais algumas vezes, ora a convite da C.V.V. dos Biscoitos, para palestras, em defesa das especificidades relativas à conservação da natureza e preservação da paisagem local, bem assim a convite do Presidente do Município da Praia da Vitória, Carlos Lima – 1991, para o lançamento do livro de Francisco Ernesto de Oliveira Martins “Arquitectura Popular do Ramo Grande” (1991) e dissertar sobre o Património Imóvel do Ramo Grande- Concelho da Praia da Vitória, Ilha Terceira. Sempre fiel às suas convicções nunca deixou de lutar pela reinstauração duma Chefia de Estado Real para o seu muito amado Portugal. G.R.T. é monárquico porque: “Por este caráter perene, a Monarquia assume a história na sua inteireza, ultrapassando os estreitos limites de um mandato eleitoral. […] É uma instituição que se insere no ciclo da própria natureza humana: o reinado termina na morte do rei, mas perpetua-se e renova-se pelo nascimento do herdeiro (ou herdeira). Assim, a instituição monárquica consegue representar de modo muito natural e espontâneo a história, a cultura, os anseios e as inquietações das pessoas e das sociedades que serve. De igual modo, a Monarquia reflete o sentir de cada época, sofrendo, inclusivo no seu intimo, as fraturas que as crises de pensamento provocam nas sociedades em período de mudança. Nesse sentido, a Monarquia é intrinsecamente contemporânea. Por isso, não é legitimo projetar nos tempos de hoje as formas que a Monarquia assumiu no passado, nem transpor para um dado país o estilo de funcionamento de uma Monarquia inserida numa sociedade culturalmente distinta.”. Sem dúvida um Grande Homem, com um extraordinário exemplo de vida.


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INFORMAÇÃO | JP MISSAS DOMINICAIS NO CONCELHO

SÁBADOS

FUTSAL

CNACIONAL DA II DIVISÃO - II FASE APURAMENTO PARA III FASE

10.ª JORNADA | 05.05.2018 Portimonense

-

F. Zêzere

Farense

-

Eléctrico

SC Lusitânia

-

Olho Marinho

HOJE (04/05)

- Lajes - Fontinhas (1) - Casa da Ribeira - Cabo da Praia - Matriz Sta. Cruz - Vila Nova - Fontinhas (2) - São Brás - Porto Martins - Sta Luzia, BNS Fátima - Quatro Ribeiras - Lajes - Agualva - Santa Rita - Fonte do Bastardo - Biscoitos, IC Maria (3) - Biscoitos - São Pedro (4) (1) Enquanto há catequese (2) Quando não há catequese (3) 1.º e 2.º sábados (4) 3.º e 4.º sábados 15:30 16:00 16:30 17:00 17:30 17:30 18:00 18:00 18:00 18:00 18:00 19:00 19:00 19:00 19:00 19:30 19:30

SÁBADO (05/05)

05 MAI Terreiro São Mateus Tourada Não Tradicional Humberto Filipe, Ezequiel Rodrigues e João Gaspar 18:30 - 21:00 07 MAI Canada de Belém Terra Chã Tourada Tradicional Ezequiel Rodrigues e Casa Agrícola José Albino Fernandes 18:30 - 21:00 12 MAI Rua Dr Francisco A Rodrigues da Silva Santa Cruz Bezerrada à Corda Herd Ezequiel Rodrigues 17:00 - 19:30 Ladeira Branca Santa Luzia Tourada Tradicional Casa Agrícola José Albino Fernandes, Rego Botelho, Ezequiel Rodrigues e Manuel João Rocha 18:30 - 21:00

SÁBADO (05/05)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

DOMINGO (06/05)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

SEGUNDA (07/05)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

TERÇA (08/05)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

QUARTA (09/05)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGOS

- São Brás - Vila Nova, ENS Ajuda - Lajes, Ermida Cabouco - Cabo da Praia (1) - Biscoitos, S Pedro - Agualva - Casa Ribeira (1) - Santa Rita - Lajes - São Brás - Cabo da Praia (2) - Porto Martins - Casa da Ribeira (2) - Biscoitos, IC Maria - Vila Nova - Fontinhas - Matriz Sta. Cruz (1) - Quatro Ribeiras - Sta Luzia - Fonte Bastardo - Matriz Sta. Cruz (2) - Lajes, ES Santiago - Lajes - Matriz Sta. Cruz (3) - Matriz Sta. Cruz (4)) (1) Missas com coroação (2) Missas sem coroação (3) De outubro a junho (4) De julho a setembro

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

08:30 09:00 10:00 10:00 10:00 10:30 10:30 10:30 11:00 11:00 11:00 11:00 11:00 11:00 12:00 12:00 12:00 12:00 12:00 12:15 12:30 13:00 19:00 19:00 20:00

QUINTA (10/05) CINEMA PETER RABBIT Local: Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo Hora: 15H00 Classificação: M/6

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

TEATRO O GEBO E A SOMBRA (Peça de Raul Brandão) Local: Sociedade Altarense do Sagrado Coração de Jesus - Altares Hora: 21H30 M/6 Entrada Livre

SÁBADO (12/05)

CONCERTO XXX ENCONTRO DE COROS DA ILHA TERCEIRA Local: Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo Hora: 20H30 Entrada Livre - No dia seguinte, às 16:00, Coros Infantis

SEGUNDA (14/05)

SÁBADO (12/04)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEXTA (11/05)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290 Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGO (13/05)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905 Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

TERÇA (15/05)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

QUARTA (16/05)

QUINTA (17/05)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

ASSINE

BISCOITOS

13 MAI Canada Nova Tourada Não Tradicional Agrícola José Albino Fernandes 18:30 - 21:00

Posto da Misericórdia ( 295 908 315 SEG a SEX: 09:00-13:00 / 13:00-18:00 SÁB: 09:00-12:00 / 13:00-17:00

VILA DAS LAJES

14 MAI Pico da Urze São Pedro Tourada Tradicional João Gaspar Pai, Eliseu Gomes, Humberto Filipe e António Lúcio 18:30 - 21:00 Fontes: CMAH e CMPV NE: Anuncio a sua tourada no Jornal da Praia geral@jornaldapraia.com

Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-18:30 SÁB: 09:00-12:30

VILA NOVA

ASSINATURA ANUAL 15,00 EUR assinaturas@jornaldapraia.com

FEIRA DA FAMÍLIA - V EDIÇÃO Local: ATenda junto ao Parque Infantil da Praia da Vitória Hora: 14H00 às 18:00 Nota Editorial Esteja na nossa “Agenda Cultural”, envie toda a informação para: noticias@jornaldapraia.com. •

Farmácia Andrade Caminho Abrigada ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-12:00 / 16:00-18:00 Farmácias de serviço na cidade da Praia da Vitória, atualizadas diáriamente, em: www.jornaldapraia.com


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