Jornal da Praia | 0510 | 08.12.2017

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QUINZENA

08 A 21.12.2017 Diretor: Sebastião Lima Diretor-Adjunto: Francisco Ferreira

Nº: 510 | Ano: XXXV | 2017.12.08 | € 1,00

QUINZENÁRIO ILHÉU - RUA CIDADE DE ARTESIA - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA - ILHA TERCEIRA - AÇORES

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ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA AMPV

PAULO MESSIAS “Dinamização da economia com a criação de emprego e a descontaminação dos solos do concelho”, são para o novo presidente da Assembleia Municipal, os grandes desafios do concelho praiense nos próximos anos. DESTAQUE | P. 9

RECORDANDO

MONSENHOR JÚLIO DA ROSA Por: Jácome de Bruges Bettencourt

EM PROL DO DESENVOLVIMENTO SC PRAIENSE

CÂMARA E JUNTAS SETE DÉCADAS UNIDAS DE GLÓRIA Novo executivo camarário da Praia da Vitória, reuniu com todas as juntas de freguesia do concelho e reiterou compromisso de parceiro leal na prossecução de políticas que respondam às especificidades próprias da cada uma das freguesias, num trabalho sério e comprometido com as necessidade e pretensões das populações.

EFEMÉRIDE | P. 5

CÂMARA DA PRAIA ACUSADA DE

AUTARQUIA | P. 8

RESPONSÁVEL PELO ATRASO NO REFORÇO DE VERBAS DO FUNDO MUNICIPAL SOCIAL O secretário de estado das Autarquias Locais, revelou desconhecer exigências de contrapartidas por parte do município praiense. Executivo camarário garante que as faz desde 2014. Os vereadores do PSD na Câmara Municipal, exigem posição firme e reivindicativa do executivo socialista, acusando-o de negligente na defesa dos interesses do concelho.. NO CONCELHO | P. 10 PUB

Em dia de festa, Marco Monteiro, alertou para a necessidade de refletir sobre o papel do clube na sociedade praiense, assumindo-se disponível e determinado para com todos fazer “cada vez mais e melhor” na longa e bela história dos “vermelhos” da Praia. DESPORTO E EDITORIAL | P. 11 E 12

PEDRO MERELIM:

UM GRANDE COMBATENTE PELA TERCEIRA Por: António Neves Leal

OPINIÃO | P. 13


JP | CANTO DO TEREZINHA

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UNCLE SAM JÁ NÃO É O QUE ERA Andamos muito pensativos e apreensivos a respeito da contaminação das águas em certa parte da nossa ilha. De momento, ainda estamos na bem lusitana fase de apontar os culpados, tanto da própria pecha como da falta de soluções para a sanar.

JORNAL DA PRAIA

Na capital da República ainda são, desgraçadamente, palpáveis as consequências do surto da temível ‘legionela’, registando-se vítimas mortais. No caso da contaminação, ainda não foi possível (?) estabelecer relação direta entre algum óbito estranho e aquela ‘peste’ silenciosa. Na presente situação, deveria haver exames que apurassem a causa da morte dos residentes falecidos na zona mais intensamente afetada pela contaminação. Estabelecida que viesse a ser alguma relação, então o caso mudaria de figura e teríamos que gerir as implicações de todo o género, com destaque para as do foro da justiça.

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FICHA TÉCNICA PROPRIETÁRIO: Grupo de Amigos da Praia da Vitória (Associação Cultural sem fins lucrativos NIF: 512014914) Fundado em 26 de Março de 1982

REGISTO NO ICS: 108635 JORNAL DA PRAIA Fundado em 29 de Abríl de 1982

ENDEREÇO POSTAL: Rua Cidade de Artesia, Santa Cruz Apartado 45 - 9760-586 PRAIA DA VITÓRIA Ilha Terceira - Açores - Portugal

DIRETOR: Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com

Seja como for, o mais importante é avançar o mais rapidamente para uma solução que impeça que os riscos para a saúde pública desapareçam definitivamente. Parecem já con-

DIRETOR ADJUNTO: Francisco Jorge Ferreira

ANTIGOS DIRETORES: João Ornelas do Rêgo Paulina Oliveira Cota Moniz

Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com

Este galo misterioso começa a fazer história. É o galo mais famoso desta Praia da Vitória.

COORDENADOR DE EDIÇÃO: Francisco Soares editor@jornaldapraia.com

REDAÇÃO / EDIÇÃO:

Este verão deu na vista, quando cantava contente, não houve nenhum turista que a ele ficasse indiferente.

Grupo de Amigos da Praia da Vitória noticias@jornaldapraia.com desporto@jornaldapraia.com

JP - ONLINE: Francisco Soares | online@jornaldapraia.com

Em vez da Câmara pagar para cantarem pelo caminho, se calhar poderia contratar os serviços do galinho.

PAGINAÇÃO: Francisco Soares paginacao@jornaldapraia.com

DESENHO NO CABEÇALHO: Ramiro Botelho

ADMINISTRAÇÃO

Pode ser um agente infiltrado, membro de alguma milícia, porque já foi avistado na esquadra da polícia.

José Miguel Silva | administracao@jornaldapraia.com

SECRETARIA E PUBLICIDADE: Eulália Leal - publicidade@jornaldapraia.com Jorge Borba

Não é um galo de Barcelos, esse tem o seu dote. Mas é um galo dos mais belos, tornado nossa mascote.

IMPRESSÃO: Funchalense - Empresa Gráfica, S.A. Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50 Morelena - 2715-029 PÊRO PINHEIRO

ASSINATURAS: 15,00 EUR / Ano - Taxa Paga Praia da Vitória Região Autónoma dos Açores

TIRAGEM POR EDIÇÃO: DEPÓSITO LEGAL:

Galinho põe-te a fugir para ver se não ficas mal, alguém pode-te confundir com um peru pro Natal.

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Disponível em www.jornaldapraia.com NOTA EDITORIAL: As opiniões expressas em artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal e do seu diretor.

Taxa Paga – AVENÇA Publicações periódicas Praia da Vitória

O velho amigo Uncle Sam já não é o que era. Temos que procurar outros amigos. •

MASCOTE TURÍSTICA

CHEFE DE REDAÇÃO:

LOGÍSTICA:

firmadas as vontades políticas estrangeiras, nacionais e regionais, que se entretêm a jogar uma prolongada partida de ping-pong a três. E já que veio à mente o nome deste desporto, muito popular na República Popular da China que detém o maior número de campeões mundiais da modalidade, não seria descabido que na Terceira se fundasse uma associação cívica de defesa dos interesses dos afetados pela peste subterrânea que grassa na Terceira e que viesse a contactar as altas autoridades chinesas, que nos visitaram há pouco tempo, no sentido de conhecer a disponibilidade do grande país asiático, detentor duma dinâmica economia, para dar uma ajudinha neste processo. Nem é preciso muita coisa: basta dizer que vão estudar uma resposta e com isso já os responsáveis primeiros pela contaminação haveriam de propor uma justa e rápida solução. E que não façam como tentaram fazer aquando do combate ao escaravelho japonês ao oferecer enorme quantidade de DDT, cujo uso era já condenado nos USA.

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LIVRO “POESIA.FILOMENA SERPA”

FILOMENA SERPA: UMA POETISA PRAIENSE Natural de São Jorge, a poetisa fixou-se na Praia da Vitória onde viveu por mais de três décadas. Livro apresentada no “Praia Outono Vivo”, num trabalho de recolha de Carlos Enes, apresenta poemas, dados biográficos e uma análise literária de Locádia Regalo.

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património cultural da Praia da Vitória ficou mais rico com a junção em livro da poesia de Filomena Serpa. A obra foi lançada durante o Outono Vivo, PUB

numa iniciativa do Instituto Açoriano de Cultura, com o apoio do Governo dos Açores e da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória.

O trabalho de recolha dos poemas dispersos pela imprensa coube ao historiador e investigador Carlos Enes que seguiu as pistas de um estudo feito por Raimundo Belo. Paralelamente, com diligências feitas por Francisco Jorge Ferreira da Silva, foi possível ter acesso a um caderno com originais na posse de uma bisneta, D. Gabriela Neves. Da conjugação destes fatores resultou um importante livro, enriquecido com uma análise literária da autoria da professora, poetisa e ensaísta Leocádia Regalo. descendência. Na introdução feita por Carlos Enes, revelam-se dados biográficos de Filomena e o ambiente sociocultural em que viveu, nos primeiros anos da sua vida. Nascida nas Velas no ano de 1861, no seio de uma família da pequena burguesia jorgense, desde cedo revelou tendência para a escrita e aos 15 anos de idade começou a publicar os seus poemas num jornal da vila. Não era a primeira e única mulher a fazê-lo na época, mas sofreu críticas pela sua audácia. Numa fase posterior, atreveu-se a enviar, sob pseudónimo, os seus poemas para uma revista do Continente, recebendo elogios rasgados. Contudo, Filomena Serpa recolheu-se no seu cantinho, continuando a escrever, mas guardando os poemas na gaveta. Por esse facto, o livro acaba por publicar mais de 30 originais. Casada com um poeta, José de Matos da Silveira, conviveu com o melhor ambiente cultural da vila jorgense, onde o teatro era uma realidade ao lado de outras atividades culturais ligadas aos vários jornais que ali se publicavam. Em 1890, com 29 anos, abandona a ilha de São Jorge, dado que o marido havia sido colocado em São Miguel, como escrivão. Ali viveu 7 anos, onde nasceram os filhos Maria Evangelina e César de Matos Serpa. Na imprensa micaelense, continuou a publicar os seus poemas. Em 1897, vamos encontrá-la na Praia da Vitória, onde passou a residir até à sua morte, em 1930. A filha, Maria Evangelina, também poetisa e artista de teatro amador, casou, em 1909, com Eugénio Neves, comerciante, advogado e chefe da secretaria da Câmara Municipal. Do seu casamento nasceram 4 rapazes: o conhecido médico, Eugénio Neves, Jr., Alberto de Matos Serpa Neves, Mário de Serpa Neves e Jorge de Matos Serpa Neves, todos eles com

O outro filho, César de Matos Serpa, ourives e fotógrafo, também casou na Praia mas não deixou descendência. Filomena Serpa, com uma vasta cultura, falava e escrevia em 4 línguas, dedicou poesias a algumas personalidades ligadas à Praia e também às nobres tradições históricas da vila. Leocádia Regalo considera-a uma mulher corajosa que “arrostou com os preconceitos da época, pelo facto de querer impor-se na Poesia, como escritora de pleno direito, entre os seus pares masculinos”. Na sua análise literária, Leocádia Regalo esclarece: “Se uma palavra fosse pedida para definir a sua poesia, ela seria musicalidade. (…) A arquitectura apurada do verso e a exploração sugestiva da prosódia parecem beber no Almeida Garrett das Folhas Caídas os cambiantes indispensáveis à metamorfose da matéria sensível do mundo em poesia”. E conclui: “Poesia de expressão pessoal, confidência lírica de vivências, a par com a poesia de circunstância, a reflectir a vida social e em que sobressai o discurso da mundanidade ou da homenagem, convivem na sua obra como resultado de um interesse pelo quotidiano, captado em instantes e cenas íntimas ou em momentos de celebração. Sobretudo nos poemas que ficaram inéditos, observa-se a necessidade de experimentação de várias tendências estético-literárias que passam pelo Ultra-Romantismo e até por uma poesia de Romantismo social, ao gosto de Antero.” Com mais este livro, o património cultural da Praia ficou mais rico, ao dar-se a conhecer uma poetisa de reconhecido mérito que andava pelas ruas do esquecimento. •


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SIDÓNIO PAIS – PRESIDENTE-REI HISTORIADOR: FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

Sidónio Pais tornou-se Presidente da Junta Militar Revolucionária, a qual desencadeou uma insurreição que, em dezembro de 1917, terminou com a chegada ao poder de Sidónio, primeiro como Presidente do Ministério, e depois acumulando as funções de Presidente da República. Nos meses seguintes, tornou-se um ditador com plenos poderes, promulgando um conjunto de decretos ditatoriais, sobre os quais nem consulta o Congresso da República...

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á exatos 99 anos, a 14 de dezembro de 1918, Sidónio Pais, o nosso “Presidente-Rei” da I República, era assassinado a tiro na Estação do Rossio, em Lisboa, por José Júlio da Costa, um militante republicano. Foi um dos mais importantes Presidentes da República de Portugal da I República. Líder carismático, em apenas um ano de presidência, protagonizou o primeiro momento de ditadura no republicanismo português e marcou de forma indelével o século XX.

Manuel de Arriaga (açoriano, nascido na Horta), o primeiro Presidente da República de Portugal. Sidónio Pais entrou, então, na vida política ativa, ao eleger-se como deputado à Assembleia Nacional Constituinte. Em 1911, Sidónio Pais foi nomeado Ministro do Fomento, representando o Governo nas manifestações que assinalaram o primeiro aniversá-

Sidónio Pais nasceu a 1 de maio de 1872, em Caminha. Frequentou o Liceu de Viana do Castelo e depois Coimbra, onde fez o preparatório de Matemática e Filosofia. Optando por uma vida militar, entrou em 1888 para a Escola do Exército, onde frequentou o curso da arma de Artilharia. Em 1892 foi promovido a alferes e em 1895 a tenente. Entretanto casou-se com Maria dos Prazeres Martins Bessa, em Amarante, com quem teve cinco filhos. Em 1898, Sidónio Pais doutorou-se em Matemática pela Universidade de Coimbra. Foi neste período que entrou em contato com os ideais republicanos, aderindo à causa. Em 1906, foi elevado a Capitão e, em 1916, já em pleno regime republicano, a major. Considerado um distinto matemático, permaneceu em Coimbra, onde foi nomeado professor da cadeira de Cálculo Diferencial e Integral da Universidade, chegando a professor catedrático e vice-reitor a 23 de outubro de 1910, sendo reitor PUB

SIDÓNIO PAIS Retrato oficial (1937) de Henrique Medina

rio da implantação da República, na cidade do Porto. Passou depois para a pasta das Finanças e, em agosto de 1912, partiu para Berlim, onde assumiu o cargo de Embaixador. Permaneceu na cidade alemã durante o período crítico que levou à deflagração da Grande Guerra. Quando regressou a Portugal, após a declaração de guerra à Alemanha, foi um dos mais

entusiastas defensores do não envolvimento português na Guerra. Rapidamente se afirmou como o principal líder da contestação ao Governo e à participação na Guerra. Sidónio Pais tornou-se Presidente da Junta Militar Revolucionária, a qual desencadeou uma insurreição que, em dezembro de 1917, terminou com a chegada ao poder de Sidónio, primeiro como Presidente do Ministério, e depois acumulando as funções de Presidente da República. Nos meses seguintes, tornou-se um ditador com plenos poderes, promulgando um conjunto de decretos ditatoriais, sobre os quais nem consulta o Congresso da República, suspendendo partes importantes da Constituição de 1911, dando ao regime um cunho marcadamente presidencialista. Tornou-se, então, o Presidente-Rei da República Nova. Os novos decretos exerciam o papel de lei e de constituição, levando a que muitos falem da Constituição de 1918, mas que nunca existiu de facto. Os primeiros tempos do Governo sidonista tiveram o apoio da população. Houve uma aproximação entre o novo governo e a Igreja, que permitiu uma certa acalmia social. Portugal manteve-se na Grande Guerra, contudo a grande derrota do Corpo Expedicionário Português (CEP), em 9 de abril de 1918, em La Lys, marcou o fim da estabilidade governativa. Com o fim da Guerra, a ineficácia de Portugal em trazer o que restava do CEP e em fazer-se ouvir no pós-guerra, pois embora derrotado em

França, Portugal pertencia aos aliados vencedores da Guerra. No final de 1918, a contestação era forte e dinâmica, apesar da ditadura, Portugal mantinha-se sublevado. As greves e as conspirações sucediam-se, Sidónio era contestado e posto em causa. Embora tenha exercido uma repressão profunda, não conseguiu desfazer o movimento de contestação nacional. A 5 de dezembro, Sidónio Pais foi alvo de uma tentativa de atentado, saindo ileso, mas a 14 de dezembro, na Estação do Rossio, em Lisboa, era assassinado a tiro por José Júlio da Costa, um militante republicano. Em apenas um ano de governação, Sidónio Pais marcou profundamente o país, criando uma República Nova e influenciando os seus contemporâneos, como Salazar, com uma política forte e ditatorial. Muitas vezes esquecido, foi, sem dúvida, um dos políticos mais importantes de Portugal. É o momento de recolher forças e unir os terceirenses no objetivo de ajudar a nossa terra a crescer e a evoluir. Precisamos de mais pontes de ligação entre os governantes e a população para que se encontre soluções que beneficiam a Terceira. É necessário que se escute os problemas do povo, pois só assim se pode compreender os problemas da Ilha e mostrar que todos juntos podemos fazer a diferença. Por uma Terceira melhor, mais forte e unida.


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MONSENHOR JÚLIO DA ROSA (1924-2015) Por: Jácome de Bruges Bettencourt

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ompletaram-se, há poucos dias, dois anos da morte de Monsenhor Júlio da Rosa, ficando incumbido de escrever um texto sobre este ilustre consócio do Instituto Histórico da Ilha Terceira, para o Boletim de 2017. Porém, como ele se formou no Seminário Diocesano d’Angra e visitava frequentemente a Terceira, durante a sua vida, para participar em reuniões da Igreja ou de Museus, contando localmente, colegas e amigos, decidi alinhavar outro texto para o Jornal da Praia, lembrando esta figura que tanto engrandeceu a Igreja Católica Açoriana e não só. Sempre conheci o Padre Júlio da Rosa. Ele e meu pai eram grandes Amigos, com interesses comuns, como o colecionismo de antiguidades, pelo que ele frequentava a nossa casa do Faial, onde, às vezes, se socorria de livros de arte que meu pai ia adquirindo. Era visita obrigatória pelo Natal e Ano Novo, para provar o bolo de Natal ou o plum pudding, entre doces em que minha mãe era exímia, acompanhado por um Moët & Chandon, Brut Imperial - dos anos cinquenta, que meu pai, comprava uma vez por ano, na célebre Famous Shop dos Bensaúde, talvez o único ponto dos Açores de que se dispunha na época para venda de champagne verdadeiro, isto na década de 50, para abastecimento dos estrangeiros das companhias dos cabos submarinos. Recordo também que foi com ele e meu pai que visitei, pela primeira vez, em outubro de 1957, já lá vão 60 anos, os principais museus de Lisboa, isto na estada de 15 dias, de um vapor ao outro. Estávamos hospedados na Pensão Universal, na Avenida Duque de Loulé, da D. Alda Valadão, cuja sala de refeições repleta, era animada pela alegria contagiante que o Sacerdote emanava, reforçada pelas suas estridentes gargalhadas, não obstante a grande preocupação com a crise sísmica do vulcão dos Capelinhos, que começara havia poucos dias. D. Alda Gaspar Valadão do Vale, além da Pensão Universal, possuía a Residencial Vila Nova (esquina da Av. Duque de Loulé com a Rua Camilo Castelo Branco), próxima da primeira. Os seus estabelecimentos hoteleiros eram frequentados por centenas de açorianos, especialmente terceirenses, sendo entre os anos

quarenta e os setenta, um verdadeiro ponto de encontro de ilhéus. Esta senhora pertencia a uma conhecida família oriunda da Vila Nova, Praia da Vitória. Vi aí hospedados, Manuel Nunes Flores Brasil (enquanto presidente do município angrense), António de Freitas Pimentel e Teotónio Machado Pires (no exercício de governadores civis da Horta e Angra), Agnelo Ornelas do Rego (como presidente da Junta Geral d’Angra) e muitas outras figuras públicas açorianas, quando se deslocavam à capital do país. Apesar de eu ter deixado de viver no Faial, era raro o ano em que não nos encontrássemos aí, ou na Terceira, para um jantar que tinha como sobremesa o célebre pudim de batata do Conde da Praia da Vitória. Júlio da Rosa era um homem de bom gosto, apreciando certos requintes. Conhecido apenas como Júlio da Rosa, os irmãos todos usavam da Silveira, nasceu na freguesia dos Flamengos a 24 de maio de 1924, na ilha do Faial, e foi batizado a 21 de junho de 1924, na igreja paroquial de Nª Sª da Luz (Flamengos), pelo vigário João Goulart Cardoso. Seus pais foram José da Rosa da Silveira e Maria Emília do Coração de Jesus (nome do registo de nascimento), mas que figura sempre como Maria da Rosa Silveira. Toda a família era natural da freguesia da Praia do Norte (Faial). Um dos avós foi auxiliar do feitor na Cerca da Fajã da Praia do Norte, importante propriedade que foi da família Rocha, meus antepassados. A oferta de trabalho na cidade é que fez com que o casal se radicasse nos Flamengos. No entanto, o falecimento da progenitora quando Júlio da Rosa ainda não tinha um ano de idade, fez com que ele e alguns dos irmãos fossem acolhidos por vários familiares residentes na Praia do Norte. Aí, fez os estudos primários e a sua Primeira Comunhão, e aos doze anos recebeu o sacramento do Crisma na Matriz, tendo por padrinho o reverendo ouvidor José Pereira da Silva, futuro Monsenhor e Vigário-Geral da Diocese. Nesta freguesia, viveu até aos treze anos, onde concluiu com brilho os estudos primários, como aluno do professor Raúl Goulart. Ingressou, em 1938, no Seminário Diocesano de Angra, sendo ordenado sacerdo-

te na Sé Catedral de Angra, a 12 de junho de 1949, pelo Bispo D. Guilherme Augusto da Cunha Guimarães. A Missa Nova foi celebrada na Catedral, no dia seguinte, de Santo António, tendo como padrinhos os colegas de curso, Cândido Botelho Falcão e Emanuel Falcão Diniz, ambos terceirenses. Formou-se com 16 valores no Curso de Teologia, e pouco depois, ainda em 1949, inicia o seu serviço na Paróquia de Nª Sª das Angústias, cidade da Horta, que se prolongou por sessenta e dois anos de intenso e profícuo labor. Na estruturação da sua paróquia, fundou associações e movimentos de natureza vária, a “Casa dos Rapazes” – centro de convívio para formação de jovens (1955) e a “Capela” – Grupo Coral (1956), “Conferência Vicentina”, “Secção Feminina” para os pobres da freguesia (1960), “Corpo Nacional de Escutas” – Agrupamento 171, como assistente e educador (maio de 1963), a “Cozinha Paroquial”, que começou a fornecer almoço diário a 120 crianças até ao verão de 1974 (1966), a “Escola Paroquial”, que lecionava até ao 2ª Ciclo Liceal, com horário pós-laboral, destinada a alunos externos com mais de 18 anos, que permitiu a formação de várias pessoas com cursos médios, como professores primários, regentes agrícolas, etc. (1966 até 1972). Dotado de queda especial para o jornalismo, ainda aluno do Seminário Diocesano começou uma colaboração intensa em “A União”, no “Diário Insular”, no “Correio da Horta” e “O Telégrafo”, entre outros títulos, e criou com os colegas Manuel Coelho de Sousa e Francisco Carmo, entre outros, uma página de Juventude no órgão oficial da Diocese. Ainda em apoio à divulgação e dinamização da vida pastoral, fundou em 1959 o boletim paroquial “A Vida”, bem assim “Florinhas de S. Francisco” e “Monte Carmelo”, para as Ordens Terceira de S. Francisco, entre 1963 e 1993, e do Carmo, entre 1973 e 2005, enquanto Comissário de ambas. Relativamente a obras realizadas na Igreja Paroquial, foram profundas e o enriquecimento patrimonial está bem patente na herança aí deixada.

No campo cultural, foi cofundador do Núcleo Cultural da Horta, em 1955, logo integrando a sua primeira direção como Vice-Presidente e depois seu Presidente de 1968 a 1988. Acompanha ainda o surto da criação de instituições de caráter cultural nos Açores, ligando o seu nome como cofundador do Instituto Açoriano de Cultura, sócio da Sociedade Afonso Chaves, Instituto Cultural de Ponta Delgada e Instituto Histórico da Ilha Terceira (sócio correspondente desde 10 de setembro de 1985). Paralelamente, foi sócio da sociedade da Sociedade Histórica da Independência de Portugal e sócio Honorário do Instituto de Estudios Geneológicos del Uruguay, Montevideo, desde 1979. Fez mais de uma dúzia de conferências sobre História Açoriana em Universidades como a dos Açores, a Brown University, Providence, R.I., E.U.A. e outras estrangeiras, do Brasil e Canadá. Participou em diversos congressos e colóquios, apresentando comunicações cuja publicação se encontra dispersa por várias publicações inerentes. Foi orador sacro de amplos recursos e prefaciou algumas obras. Entre 1957 e 1977, foi Professor do Liceu Nacional da Horta, onde lecionou História, Português, Organização Política e Administrativa da Nação, Filosofia e Latim. Foi membro do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (1981). Nunca escondeu a sua simpatia por um regime monárquico, que sempre defendeu e que congregava vários sacerdotes açorianos da época, como Mateus das Neves, António Joaquim Inácio de Freitas, Isaías da Rosa Pereira, António Cardoso, António da Rosa Pinheiro, Henrique Pinheiro de Escobar, Hermínio da Silveira Amorim, Cândido Botelho Falcão e Luís Cota Vieira, que me lembre agora. Aliás, por duas vezes, obsequiou no Faial o Duque de Bragança, D. Duarte Pio João, uma delas com seus irmãos, Duques de Viseu e de Coimbra, na sua casinha de veraneio da Fajã da Praia do Norte, juntando aí os monárquicos faialenses, isto nos anos setenta e oitenta. (Continua na página seguinte)

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MONSENHOR JÚLIO DA ROSA (1924-2015) (Continuação da página anterior)

Segundo penso, uma das atividades mais relevantes que realizou foi a recolha sistemática e criteriosa de peças de arte religiosa e não só, que se encontravam abandonadas ao desprezo e em péssimas condições, em arrecadações de igrejas e passais, sobretudo do Faial e Pico, e que lhes deitou a mão, com a anuência do Prelado Diocesano, o que, por vezes, causou incompatibilidades e incompreensões. Essas recolhas começaram antes de 1960 e deram origem ao Museu de Arte Sacra e Etnografia Religiosa, instalado em dependências da Igreja de São Francisco da Horta, aberto ao público em 1965, com um excecional e valioso acervo, que incluía esculturas flamengas. Afirmo, sem dúvidas, que não fosse a intervenção atempada de Júlio da Rosa, os Museus existentes no Faial, não teriam um terço sequer, dos acervos reunidos. Mesmo assim, o património existente no ex-distrito da Horta, sofreu bastante nos anos sessenta a oitenta, com as “investidas” de negociantes de antiguidades da Madeira e Continente, que se deslocavam aos Açores e tinham, inclusivamente, agentes locais, como já referi num escrito publicado pelo Núcleo Cultural da Horta, mencionando inclusivamente, nomes de intervenientes. Tanto que, em 1977, reconhecendo o Governo Regional dos Açores a sua meritória ação neste domínio, o S.R.E.C. convida-o para Diretor do Museu da Horta, acabado de criar. E não podemos olvidar o ter com a sua obstinação e perseverança conseguido para este museu a coleção de miniaturas em miolo de figueira, então no Brasil, da autoria de Euclides Rosa PUB

(faialense), bem assim a interessante mostra de objetos relacionados com os Cabos Submarinos, assuntos que se prendem, também, com um dos mais importantes e significativos períodos da vida económica da gente do Faial. De referir a integração do pequeno Museu Municipal, formado pelo professor Manuel Dionísio, etnógrafo e etnólogo.

MOSENHOR JÚLIO ROCHA Registamos também o grande incremento que deu às Festas da área da sua paróquia, como, naturalmente, a Festa da Nossa Senhora das Angústias e a Festa da Senhora da Guia, padroeira dos pescadores. Mencionamos, igualmente, a reabilitação da igreja da Nossa Senhora do Carmo e sua festa, enquanto comissário da Ordem do Carmo. A Fundação “Mater Dei” e a “Academia Mariana” constituíram um le-

gado à paróquia, freguesia, cidade, ilha e Região Autónoma dos Açores. O Estado Português condecorou-o com os graus de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (1962) e da Ordem de Mérito (1994). A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores atribuiu-lhe a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico. A C.M. da Horta agraciou-o com a Medalha de Mérito Municipal Dourada e foram dezenas as homenagens que recebeu ao longo da sua vida, que havia de terminar aos 91 anos de idade e 66 anos de sacerdócio, no dia 13 de novembro de 2015, ficando, sem dúvida, uma das maiores referências da igreja açoriana, particularmente do grupo central. A A.L.R.A.A. em 12 de janeiro de 2016 aprovou, por unanimidade, um Voto de Pesar pelo seu falecimento. O Município faialense e a Junta de Freguesia das Angústias deram o seu nome a um jardim, sito na zona do Bairro do Hospital da cidade da Horta, figurando, igualmente, na toponímia da freguesia da Praia do Norte, com uma rua. Durante a Festa de Nª Sª das Angústias de 2017, foi colocado no adro da sua igreja, um busto em bronze de Monsenhor Júlio da Rosa, escultura da autoria de Rui Goulart. A iniciativa deste monumento deveu-se ao atual Pároco, à Junta de Freguesia das Angústias, Fundação “Mater Dei” e população da Paróquia. Foi contemplado com o título de Monsenhor pelo Papa Bento XVI, em 2006, a pedido do Bispo da Diocese, D. António de Sousa Braga.

OBRAS PUBLICADAS Visita da Imagem Peregrina de Nos-

sa Senhora de Fátima ao Faial, 1949; A Assunção de Nossa Senhora na Tradição Açoriana, Ponta Delgada, 1950; A Família Garrett na Ilha do Faial, Horta, 1956. (Separata do vol. 1 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta); Infante D. Henrique e a Sua Devoção a Nossa Senhora, Horta, 1960. (Separata do vol. 2 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta); A Consciência de Comunidade na Vida e História do Povo Açoriano, Ponta Delgada, 1965. (Separata da III Semana de Estudos dos Açores, realizada na cidade da Horta, Faial, em Março de 1964); Em louvor do V Centenário do Povoamento da Ilha do Faial – 1468-69 e 1468-69, Horta, 1969. (Separata do vol. 5 – nº 1 e 2 de 1968-69 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta); O Culto Eucarístico na Iniciação do Povoamento das Ilhas do Atlântico e suas constantes no Arquipélago das Ilhas dos Açores, Angra do Heroísmo, 1976; Nossa Senhora das Angústias, Senhora Povoadora, Padroeira da Ilha do Faial: Origens e constantes do seu culto ao longo dos cinco séculos da história faialense, Angra do Heroísmo, 1976; Nossa Senhora das Angústias na Ermidinha de Santa Cruz, Paróquia na Ilha 1468, freguesia na Vila e Cidade da Horta, 1984, Horta; A Cidade da Horta – Cinquenta anos da sua vida cultural, religiosa e artística nas décadas de 40 a 80, Horta, 1989, I Tomo; O Porto da Horta na História da aviação, Horta, 1990; Estrela da Manhã: Academia Mariana dos Açores, Horta, 1992. (Autores: Pe. Júlio et all); À Procura de Raízes: Aculturação e criatividade na Arte Religiosa, como mensagem e vida da cultura dos Açores (Ensaio), Ponta Delgada, 1994; A colónia flamenga na constante açoriana das navegações para o Oriente, Angra do Heroísmo, 1998. (Separata do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira); Ribeira Funda, povo sem história: com tradição, habitat, religião, arte e cultura, Horta, 2005; Santíssimo Salvador: titular da Sé Catedral de Angra do Heroísmo e da Igreja Matriz da cidade da Horta, Horta, 2007; Senhor Bom Jesus de São Mateus, 2012, para assinalar os 150 Anos de Culto.

BIBLIOGRAFIA • Bettencourt, Jácome de Bruges – A Ermida do Varadouro. Subsídios para a sua história. Separata do Boletim do I.H.I.T., 2000. • Costa, Ricardo M. Madruga da – «Rosa (Monsenhor), Júlio da». Enciclopédia Açoriana. D.R.C. http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Deufault. aspx?id=9802 • Lobão, Carlos – Fundação “Mater Dei”, in Boletim Núcleo Cultural da Horta, 2016. • Silveira, Cristina – Vida e Obra de Monsenhor Júlio da Rosa. Memórias pessoais e coletivas. Roma Editora, 2014.


JP | SAÚDE

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o Cantinho do Psicólogo 176

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ser capaz de se aceitar tal como é, naturalmente para o melhor, mas também pelo pior, corresponde à quarta medida que ajuda a Aurélio Pamplona enfrentar o stress. (a.pamplona@sapo.pt) E embora tenhamos apresentado no último Cantinho alguns elementos sobre a auto-aceitação, convém esclarecer um pouco mais como a conseguir, para se poder atingir a felicidade que desejamos, e alinhar com o estado menos bom que se possa estar a passar. De acordo com Lucas (2017), a auto - aceitação não tem só a ver com a aceitação dos factos e acontecimentos que deram certo, mas também com a assunção dos erros, fracassos e incapacidades, sem se sentir, por isso, a pior pessoa. E implica também anuir ao que precisa de ser mudado para melhor, e até ir mais longe, sem ressentimentos, mágoas ou rancor. O ir mais longe, de acordo com aquele autor, é abandonar a preocupação e passar à acção, tanto mais que é impossível controlar muitas das coisas que nos acontecem na vida. As pessoas não se podem sentir mal e culpadas por tudo e por nada. Antes carecem de (1) aceitar que a vida é um desafio incerto, com acontecimentos fora do seu controlo, que podem afligir e trazer consequências; (2) reconhecer que o corpo e a mente estão preparados para fazer sentir sensações e pensamentos negativos ou positivos, e que portanto não podemos confundir ou fundir só com um lado da barricada, tanto mais que o sentir mal não é o fim do

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Aceite-se… mundo; (3) compartilhar e exprimir os seus sentimentos, o que se está experienciando, preferencialmente com alguém de confiança, para aliviar as emoções. Auto-aceitar-se é pois assumir as nossas facetas. E não sendo razoável ficar-se à espera que a vontade apareça para se fazer algo, importa planear a acção, e agir com consciência e propósito. Lembremo-nos do que disse Einstein (1930): «a vida é como uma bicicleta. Para manter o equilíbrio devemos continuar a movimentarmo-nos».

Somos como somos. Por isso, nos diálogos internos que estabelecemos connosco não vale fazer comparações com os outros, antes situarmos em nós próprios, para vermos até onde podemos ir. Naturalmente é difícil fugir às críticas e sugestões, embora seja possível a interrogação do para quê, dado que, habitualmente, são subjectivas, baseadas nos interesses, até no egoísmo. Não se estranhe pois que Costa (2017) aconselhe a: (a) trocar sentir-se vítima pela responsabilização, na medida em nos pertence as princi-

Quando nos aceitamos, somos competentes para abraçar todas as facetas de nós mesmos, inclusive as menos positivas. Naturalmente que convém possuir a consciência das nossas limitações e fraquezas, mas isto não deve impedir a nossa auto-aceitação em pleno, até porque possivelmente não há ninguém neste mundo que não tenha imperfeições. Talvez se esteja na altura de entrar na quinta medida de ajuda que convém lançar mão para afastar o stress, e que tem a ver com a melhoria da auto-estima. Ou seja: os nossos actos valem por si, e não estão sujeitos ao sabor dos olhos das outras pessoas. Aliás quem não for capaz de se amar a si próprio dificilmente terá o amor dos outros, e isso complica, ou mesmo impede o bom viver. Enfim, tudo isto será melhor esclarecido nos próximos Cantinhos.

Referências:

E independentemente do que podemos fazer, uma coisa é certa: não é possível mudar frequentemente o que nos está a ocorrer, mas está na nossa mão mudar, não só a forma como sentimos, mas também como reagimos, por mais que isso nos custe. O reconhecimento das nossas fraquezas, limitações e pontos fracos, não exige que anulemos a capacidade de nos aceitarmos plenamente.

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pais responsabilidades pelas escolhas que fazemos; (b) praticar o auto conhecimento, analisando em cada tipo de situação, e ao longo do tempo, as nossas atitudes, a rotina, as escolhas em que nos sentimos melhor, prestando atenção aos pensamentos e até à nossa imagem corporal, no sentido da sua direcção e controlo; (c) manter em relação a nós atitudes positivas, renegando as negativas e valorizando o amor-próprio.

Costa, (2017). Cinco dicas inteligentes para aprender a se aceitar. Salvado em 18 Mai. de Fonte: O Psicólogo Online. Tema: Auto-aceitação. Website: http://opsicologo online.com.br/autoaceitacao/. Einstein, E. (1930). Letter to Eduard Einstein. Salvado em 09 Mai. de Fonte: Einstein Archives 75-990. Tema: Footnote 39, February 5, 1930; Website: http://quote investigator.com/2015/06/28/bicycle/. Lucas, M. (2017). Permissão para ser humano. Salvado em 12 Mai. de Fonte: Saúde e Bem-estar. Tema: Enfrentar problemas não é um defeito pessoal. Website: http://www.escolapsicologia.com/007-permissao-para-ser-humano/.

Foto: A. Pamplona•


JP | AUTARQUIA

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CÂMARA E JUNTAS DE FREGUESIA

UNEM ESFORÇOS EM PROL DO DESENVOLVIMENTO DO CONCELHO Novo elenco camarário reuniu com os 11 executivos das Juntas de Freguesia do Concelho. Definiram-se estratégias de cooperação e lealdade tendo em vista o bem de todos.

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pós um mês de mandato, o novo executivo da Câmara Municipal da Praia da Vitória completou o périplo de audiências com os membros do executivo de todas as juntas de freguesia do Concelho da Praia da Vitória. As reuniões que decorreram na penúltima semana de novembro, além de uma apresentação de cumprimentos aos novos membros dos órgãos autárquicos locais, serviram para conhecimento das linhas estratégicas de ação de cada um dos 11 executivos. Nas reuniões, Tibério Dinis, o novo presidente da autarquia praiense, reafirmou o compromisso expresso aquando da tomada de posse, quando afirmou que “o executivo camarário pretende ser um parceiro ativo, constante e leal no relacionamento com todas as juntas de freguesia e esperamos a correspondente pró-atividade, perseverança e lealdade de todas as Juntas de Freguesia”.

forçou o compromisso de igualdade e transparência do executivo para com todos os praienses, “a união de esforços entre todos será extremamente benéfica para alcançarmos os objetivos definidos”, destacou.

Segundo o autarca praiense, o novo executivo camarário “pretende construir um novo projeto centrado na proximidade às pessoas e instituições, no qual as Juntas de Freguesia são parceiros indissociáveis”, salientou. Num apelo ao diálogo institucional, Tibério Dinis, re-

Nas reuniões entre os executivos camarário e das Juntas de Freguesia foram analisados aspetos importantes para o desenvolvimento do Concelho como a cooperação institucional, o turismo, o emprego sustentável e os investimentos estruturantes para as respetivas freguesias

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EXECUTIVO CAMARÁRIO reiterou compromisso de ser um parceiro ativo, constante e leal no relacionamento com todas as juntas de freguesia. e vila. “Cada freguesia e vila tem as suas próprias especificidades, enfrentando desafios diferentes, contudo, trabalharemos em conjunto em prol das populações tentando dar a melhor resposta às suas necessidades e pretensões”, concluiu.

MAPA AUTÁRQUICO O novo mapa autárquico resultante das eleições do pretérito dia 01 de outubro, apresenta-se significativamente diferente do anterior, no que diz respeito à correlação de

forças partidárias entre os dois partidos tradicionalmente com maior representação autárquica no concelho (PS e PSD). Depois de presidir a todos as juntas de freguesia do concelho no quadriénio 2009-2013, no último mandato, o PS viu fugir a Junta de Freguesia da Vila das Lajes para o PSD. Neste mandato juntou-se a esta, as juntas de freguesia da Agualva, Biscoitos e Fontinhas, nas quais o PS candidatava o edil anterior. GP-MPV/JP•


JP | DESTAQUE

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ENTREVISTA:

PAULO MESSIAS, PRESIDENTE DA AMPV Paulo Messias tem vindo a servir o seu concelho desde 1983, exercendo os mais diversos cargos, no próximo quadriénio, servi-lo-á como presidente do órgão máximo da autarquia.

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a esteira do que tem sido tradição do Jornal da Praia, depois de na edição anterior termos entrevistado o novo presidente da Câmara Municipal, nesta edição, apresentamos a entrevista ao novo presidente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, Paulo Messias. Jornal da Praia (JP) – Começou por ser anunciado como mandatário da lista do Partido Socialista aos órgãos autárquicos da Praia da Vitória e acabou como candidato à presidência da Assembleia Municipal. Como passou de mandatário a candidato? Paulo Messias (PM) – Tenho servido politicamente o meu concelho desde 1983, sempre ao serviço do Partido Socialista, em vários cargos para os quais fui convidado. Desta vez, fui convidado para encabeçar a lista do Partido Socialista à Assembleia Municipal, convite que aceitei com muito gosto e disposto a continuar a servir o meu concelho. JP – A Assembleia Municipal é legal e constitucionalmente o órgão fiscalizador da ação do executivo camarário. Como pretende desenvolver este papel de escrutínio da ação executiva? Paulo Messias (PM) – Tal como prometi durante a campanha. Com rigor, transparência e respeito pela opinião de todos. JP – Entende que as Assembleias Municipais deveriam dispor de autonomia administrativa e financeira para melhor desempenharem as PUB

PAULO MESSIAS apresenta-se determinado a exercer mandato “com rigor, transparência e respeito pela opinião de todos”. suas funções de órgãos fiscalizadores? Faz sentido que o órgão fiscalizador só se reúna se o órgão fiscalizado autorizar o pagamento das senhas de presença? Paulo Messias (PM) – A Assembleia reúne sempre que é necessário. Tem as reuniões ordinárias previstas na lei e reúne extraordinariamente sempre que é convocada como é previsto na lei. Quem autoriza a realização de despesas orçamentadas da assembleia municipal é o seu presidente. JP – A Assembleia Municipal que preside é do ponto de vista da diversidade representativa, mais equilibrada do que a anterior. Como vê este equilíbrio no normal funcionamento da Assembleia e no cumprimento das funções que legalmente

lhe estão atribuídas? Paulo Messias (PM) – Com normalidade e com respeito pela decisão dos eleitores. JP – A questão da contaminação dos solos e aquíferos da ilha Terceira em geral, e da Praia da Vitória em particular, é um assunto que se arrasta no tempo sem que tenha havido para já grandes desenvolvimentos. O Regimento da AMPV prevê a criação de comissões. Não acha que este assunto, pela sua relevância, justifica a existência de uma comissão na AM que tratando-o, cooperasse com a CM na solução deste problema? Paulo Messias (PM) – É competência da assembleia municipal deliberar sobre a constituição de comissões ou grupos de trabalho para o estudo de matérias relacionadas com as atri-

buições do município. Se a Assembleia entender criar essa comissão, ela será bem-vinda. JP – Para o presidente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, quais são os grandes desafios futuros do Concelho? Paulo Messias (PM) – Dinamização da economia com a criação de emprego e a descontaminação dos solos do concelho. JP – Para finalizar, que mensagem gostaria de transmitir aos praienses, relativamente ao mandato de 4 anos que agora inicia? Paulo Messias (PM) – Que a tudo faremos para que a Assembleia Municipal desempenhe com dignidade as suas funções. JP•


JP | NO CONCELHO

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FUNDO SOCIAL MUNICPAL: CÂMARA DA PRAIA ACUSADA DE

RESPONSÁVEL PELO ATRASO NO REFORÇO DE VERBAS Carlos Miguel, secretário de estado das Autarquias Locais, diz não ter recebido indicações da necessidade de refazer medidas. Tibério Dinis, refuta responsabilidades e afirma revindicações nesse sentido desde 2014. Vereadores do PSD, acusam executivo de negligência na defesa dos interesses do Concelho.

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m resposta a uma questão relativa ao atraso no reforço de verbas para o Fundo Municipal Social (FMS) do concelho da Praia da Vitória, levantada pelo deputado social-democrata eleito pelo círculo eleitoral dos Açores, António Ventura, no debate, na especialidade das propostas de orçamento do Estado e Grandes Opções do Plano para 2018, na Assembleia da República, a 16 de novembro, Carlos Miguel, secretário de estado das Autarquias Locais, atribui responsabilidades ao município praiense. “Efetivamente, não recebemos da Praia da Vitória qualquer referência a contrapartidas que fossem necessárias refazer, que fosse necessário contribuir”, respondeu o responsável. O PREIT – Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira, criado na sequência da redução da presença do contingente militar norte-americano nas Lajes e destinado a mitigar os efeitos económicos desta mesma PUB

CARLOS MIGUEL secretário de estado das Autarquias Locais, atribuiu responsabilidade ao município praiense pelo atraso no reforço de verbas do Fundo Municipal Social. redução atribui ao Governo de Portugal a responsabilidade no reforço das transferências de Estado para o FSM, da Praia da Vitória. No dia seguinte, em comunicado dirigido às redações, o executivo camarário presidido pelo socialista Tibério Dinis, refuta veemente tais acusações. Relembra que a 28 de outubro de 2014 aquando da visita de Pedro Passos Coelho, então Primeiro-Ministro, à ilha Terceira, foi-lhe entregue por Roberto Monteiro, então presidente, um memorando

que entre outros assuntos estratégicos reclamava, “um reforço nas transferências do Fundo Social Municipal para o Município da Praia da Vitória, sendo as verbas aplicadas em programas e políticas de apoio ao emprego e ao empreendedorismo”. Adianta ainda o mesmo comunicado, que a 08 de abril de 2016, em reunião mantida entre o Presidente da Câmara Municipal e o então Ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, foi entregue novo memorando onde se lia também entre outras medidas, “reforçar as transferências do Fundo

Social Municipal para o Município da Praia da Vitória, a serem direcionadas para programas de apoio social, formação profissional e promoção do emprego”. O comunicado termina informando que “a Câmara Municipal da Praia da Vitória remeteu hoje [17/11/2017], uma vez mais, por ofício dirigido ao Primeiro-Ministro, ambos os memorandos – de 28 de outubro de 2014 e de 8 de abril de 2016, reforçando e reafirmando uma vez mais as reivindicações da Praia da Vitória”. Na reunião de câmara de 20 de novembro, os vereadores do PSD, manifestaram a necessidade do executivo camarário tomar uma posição firme e reivindicativa junto do Governo da República no que respeita ao FSM, no sentido de ver inscrito o reforço do referido fundo tal como previsto no PREIT. “Ficámos verdadeiramente estupefactos com as declarações do Sr. Secretário de Estado, que atribui as responsabilidades nos atrasos do reforço das transferências da República para o Fundo Social Municipal ao Município da Praia da Vitória. E repudiamos, mais uma vez, o desrespeito pelo PREIT, com a cobertura do atual executivo camarário socialista, que voltou a demonstrar uma negligência atroz face aos interesses dos praienses”, afirmou Rui Espínola. A rematar, Rui Espínola exorta o novo executivo camarário “a ser mais diligente e competente na defesa dos interesses do concelho, esquecendo os interesses político-partidários e sendo firme na exigência do cumprimento dos compromissos que o Governo da República assumiu”. JP•


JP | DESPORTO

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EM DISCURSO DO 70.º ANIVERSÁRIO DO SCP, MARCO MONTEIRO PEDE

REFLEXÃO SOBRE VIDA DO CLUBE NA COMUNIDADE E NO FUTURO Na comemoração de sete décadas de gloriosa história, o presidente do SCP, Marco Monteiro, propõe reflexão sobre futuro, assumindo-se determinado a fazer “cada vez mais e melhor”.

O

Sport Club Praiense (SCP) comemorou a 14 de novembro, 70 anos de existência. As celebrações iniciaram-se na Igreja Matriz de Santa Cruz com Missa Solene por alma dos dirigentes, atletas e sócios falecidos, prosseguindo na sua sede social, sita à Ladeira de São Francisco, com Sessão Solene e Jantar de Gala. Com a participação de cerca de oito dezenas de pessoas, entre atletas, corpo técnico, sócios e convidados, a mesa de honra, presidida pelo presidente da Assembleia Geral do clube, Tiago Ormonde, contou com representantes do Governo Regional, da autarquia e junta local e um representante da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, na qual é filiado. Marco Monteiro, presidente da direção, recordou a tradição formativa do clube que desde há 70 anos a esta parte, tem vindo a formar jovens dando-lhes não só competências desportivas como humanas e PUB

sociais. Homenageou também todos aqueles que ao longo desta longínquo percurso de sete décadas contribuíram com o seu trabalho, esforço e dedicação, para a dimensão que hoje o clube apresenta, afirmando-se como um dos clubes mais prestigiados, não só da ilha como da região, sendo reconhecido a nível nacional, desde dos sócios fundadores, a todos os que lhes sucedendo continuaram a sua desafiante aventura. Na componente desportiva e em tom de esperança, o líder encarnado enalteceu a forma dedicada com que a equipa se bate para atingir os objetivos que prossegue e que se consubstanciam na melhor classificação possível que lhe permita chegar aos lugares de subida. Acrescentou ainda, que o dia de aniversário de uma instituição deve ser também encarado como um dia de reflexão. “Mais do que um dia de alegria pelos objetivos alcançados, esta data deve servir para refletirmos acerca do papel do nosso

clube na vida da comunidade, dos sucessos e insucessos que tivemos e sobretudo do que queremos para o futuro. Pretendemos fazer cada vez mais e melhor, com humildade e determinação e com o apoio das diversas entidades e pessoas que cooperam connosco, formando atletas e pessoas de caráter”, apelou. Nas restantes intervenções, Tiago Ormonde, salientou a dimensão formativa do clube, Abílio Gomes, representante da AFAH, manifestou-se honrado por poder homenagear um dos melhores clubes dos Açores,

João Pedro Mont’Alverne, diretor do Serviço de Desporto da Ilha Terceira, alertou para a necessidade de se continuar a chamar os jovens para integrarem os clubes, Tibério Dinis, presidente da edilidade praiense, exortou a dinâmica cultural e social do clube que apontou como referência do associativismo na região, e por fim, Berto Messias, representante do Governo Regional, anunciou que o governo continuará a apoiar e pretende reforçar o seu apoio a todas as iniciativas de âmbito desportivo que fomentem a formação das camadas mais jovens. JP/Foto: MPV •


JP | EDITORIAL & OPINIÃO

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INDEPENDÊNCIAS

E DITORIAL

Catalunha – Açores e, por aí fora… – Sequência II (Conclusão)

“O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã.” Vinci , Leonardo da.

70.º Aniversário do SCP

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o mês de Novembro de 2017, não podemos deixar de destacar uma importante notícia para a nossa terra, o 70º. Aniversário do Sport Clube Praiense, acontecimento excepcional na cidade da Praia da Vitória, que orgulha todos os praienses de gema. O Sport Clube Praiense, Associação Desportiva e Recreativa, foi fundado no dia 14 de Novembro de 1947, e desde cedo se tornou um clube desportivo com grande impacto no desporto, não só desta ilha, mas também dos Açores, nomeadamente na modalidade de futebol. Na idade média já os italianos praticavam um desporto “cálcio”, muito parecido com o actual futebol, mas foi na Inglaterra, no século XVII, que os Ingleses adaptaram o cálcio originando o futebol moderno que se espalhou pelo mundo com a rapidez alucinante, tornando-se facilmente na grande paixão das populações, contagiando-as de forma impressionante e por vezes carregada de um misticismo inexplicável, electrizando e unindo as pessoas à volta dos seus grémios desportivos, e assim também aconteceu na Praia da Vitória com o surgimento do glorioso Sport Clube Praiense, vulgarmente conhecido pelos Vermelhos da Praia. Os Vermelhos da Praia, apesar das suas vicissitudes ao longo dos tempos, na defesa e promoção do desporto nestas paragens, não só para com os seus associados, mas para com todas as pessoas que queiram praticar desporto, teve o mérito e a excelência de se destacar de forma positiva entre os demais clubes desportivos, incluindo os seus mais directos rivais, o que é demonstrado de forma inegável através do seu invejável palmarés desportivo de grande vulto. Na verdade, as importantes vitórias alcançadas de forma impar por este clube, por muitas vezes não se repetiram, não porque na altura não existia um apito dourado ou encarnado, mas imperava o lobby lusitanista, sedeado em Angra do Heroísmo, tendo assim o apito verde vergonhosamente contribuído para falsear a verdade dos resultados, influenciando por vezes as arbitragens, e numa época em que não se faziam registos de imagens televisivas dos jogos, prejudicando o Sport Clube Praiense e os seus associados, recorde-se que estas injustiças desportivas ainda perduram na memória dos associados mais idosos deste grande clube desportivo. O Sport Clube Praiense é, foi, e será sempre um glorioso clube, com uma massa associativa muito fiel, que sempre apoiou o clube não só nos momentos gloriosos, mas também nas situações difíceis que por vezes surgem, tornando-se um farol do desporto na nossa região. Aos órgãos directivos, aos atletas e à massa associativa, o Jornal da Praia dá sinceros parabéns por este aniversário, e deseja os maiores sucessos desportivos e felicidades incalculáveis no trabalho a desenvolver em prol do desporto da nossa terra. O Diretor, Sebastião Lima diretor@jornaldapraia.com

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José Ventura*

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a Depois de discorrer no primeiro texto, do Tema (10.11.2017), sobre a Victória do Sim no referendo à Independência da Catalunha a analogia dos Artigo 151º. da Constituição Espanhola e, o aborto do Artigo 51º da Constituição Portuguesa. Países subscritores da Convenção Europeia dos Direitos do Homem” como e, (deixai-me dizer), cosmética da Democracia que dizem defender e, cujas presidências, governos e apêndices fazem à sua leitura, “olhos cegos” e às vozes do povo, “ouvidos moucos”, passemos ao segundo (sequência I – 24.11.2017), referi a actuação dos responsáveis da ONU de que pouco se ouviu do seu Secretário Geral, o português António Guterres que, candidamente apelou a todas as partes” para procurarem soluções no quadro da Constituição espanhola e estabelecerem canais políticos e legais” e, aos alertas e as recomendações dos seus relatores para a promoção do direito à liberdade de opinião e expressão e, da ordem internacional democrática e equitativa. Com referência às instituições políticas euro-

peias, contestei as afirmações do Secretário Geral do Conselho Europeu e, porque não poderia deixar de o fazer, as declarações do Presidente da Comissão Europeia Mr. Juncker. Em especial no Parlamento Europeu e, por acompanhar de perto a posição politica do grupo de Os Verdes/ Aliança Livre Europeia que conta com, (e repito), 20 formações independentistas da Europa atestei a seu precioso empenho no apoio à Catalunha e ao seu povo.

Por cá, fala-se timidamente e à boca pequena, escreve-se escondendo o texto com a mão em concha “uma no cravo outra na ferradura”, tenham em atenção os sépticos: - A Catalunha vai ser Independente”. Desculpem mas só mais um parágrafo, faltou-me referir à posição do senhor professor Marcelo Rebelo de Sousa mui digno presidente da República Portuguesa.

Não gostaria de entrar na conclusão do tema em redacção sem louvar, sem demonstrar, a minha admiração no entusiasmo, na coragem demonstrada pelos cidadãos em geral e, em particular pela juventude presente que, unidos na sua certeza, no seu ideal, não têm medo de exigir ao estado o cumprimento do desejo dos seu ancestrais. “Liberdade” direito à gestão do seu futuro. Bem hajam catalãs pelo exemplo que dais à Europa, ao Mundo.

O presidente português ainda durante a visita aos Açores, declarou que tinha falado com o rei de Espanha, transmitindo-lhe que “Portugal não reconhece a declaração unilateral de independência da Catalunha e defende o respeito pela unidade de Espanha” mais acrescentando que, “essa tem sido a posição do senhor primeiro-ministro, a posição do Governo português, que conduz a política externa, mas também a posição do Presidente da República”.

De Portugal, o que era de esperar. Oficialmente a “subserviência” politica carregada de uma apocrisia total. Uma anuência descarada à forma antidemocrática e politicamente incorrecta do poder espanhol, salientando em comunicado que “não reconhece a declaração unilateral de independência” anunciada no parlamento regional da Catalunha e, condena a “quebra da ordem constitucional e o ataque ao estado de direito em Espanha”.

Não esqueçamos que por lá (Portugal), existe um Art.º constitucional que ´surge como um empata (qualquer coisa). Da visita presidencial tomaremos a liberdade de a fazer matéria, da nossa próxima redacção. Por opção, o autor não respeita o acordo ortográfico. (*)

O FADO TEM CULTORES Muito bem estava o pitoresco ar castiço da sala decorada a gosto, com mobiliário a apontar a originalidade das casas de fado. Tem mão de poeta que dão caracter a determinados ambientes. poeta que dão caracter a determinados ambientes.

Silveirinha

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oi auspiciosa a abertura da “taberna do fado”, em novembro de 2017, na Rua do Rego em Angra do Heroísmo, Cidade património mundial. Veio dar valor ao fado que também é património. Proporcionaram este espaço ao público, um trio competente que já alguns anos anda a divulgar a mais típica canção portuguesa em eventos de grande nível. Fábio Ourique, fadista de re-

nome muito proficiente e os músicos Tiago Lima, guitarrista experimentado e consagrado pelos fadistas nacionais que já acompanhou e, o Emanuel Coelho, uma viola de Fado, um professor de numeroso grupo de alunos no campo musical. Muito bem estava o pitoresco ar castiço da sala decorada a gosto, com mobiliário a apontar a originalidade das casas de fado. Tem mão de

O caldo verde entremeado de rodelas de chouriço estava saborosíssimo, mais tarde os pitéus de bons queijos, de apreciado presunto, fatias de bolo de torresmo acompanhadas com as azeitonas de sabor agridoce da Terceira. Bons vinhos e outras bebidas a alegrar o serão, e a finalizar o bolo da inauguração, ornamentado com as cores azul e branco da cidade. Tudo entremeado com a sessão de fados de encanto, preenchida por um conjunto de fadistas de relevo, coordenados pelo fadista ora empresário, e seus companheiros, a quem daqui lhes desejamos, os maiores sucessos em prol da canção nacional.

informação atualizada diariamente em www.jornaldapraia.com


JP | OPINIÃO

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CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA (XVII)

PEDRO MERELIM: UM GRANDE COMBATENTE PELA TERCEIRA Nos últimos anos da sua vida árdua e trabalhosa de investigador excepcional das nossas realidades e vivências históricas, tive o ensejo de privar com Joaquim Gomes da Cunha e incrementar os laços da antiga amizade. lago dos Açores. E no meu caso pessoal, roubar o direito a nascer na recém-construída casa de meus pais ( 1941), da qual foram escorraçados para que ela servisse de residência ao comandante do destacamento das tropas estacionadas.

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António Neves Leal

edro de Merelim, o mais terceirense dos continentais que viveram entre nós, fez parte de uma das duas companhias militares sediadas na Vila de S. Sebastião a partir de 1943, ano do meu nascimento, em casa dos meus avós maternos, e da vinda de reforços aeronáuticos para o aeródromo das Lajes. Estava-se, então, a viver a malfadada Segunda Guerra Mundial e a Terceira era uma grande e afanosa caserna de soldados um pouco por todo o lado, não apenas nas redondezas do Ramo Grande, onde estava situado o gigantesco porta-aviões do Atlântico, que viera destruir a nossa mais fértil planície de trigo existente no centro do arquipé-

Nos últimos anos da sua vida árdua e trabalhosa de investigador excepcional das nossas realidades e vivências históricas, tive o ensejo de privar com Joaquim Gomes da Cunha e incrementar os laços da antiga amizade. Ele, na fase terminal da existência, estava hospedado na Residencial da Sé. Lá falámos muito e trocámos várias impressões sobre o que ia acontecendo nos Açores e na Ilha de Jesus, em particular, das agruras da vida, das incómodas doenças, da ingratidão e do esquecimento de amigos e, sobretudo, do rumo que ia seguindo a ilha que ele tanto amou e onde deixou descendência, livros escritos e outros inacabados, devido às cataratas que não lhe davam tréguas, dificultavando-lhe, tremendamente, a visão e o trabalho.

Foi nesta fase da sua vida que prefaciei dois dos seus livros: em 1997, o seu saboroso livro Justiça da Noite, que seria motivo de aceso e alargado debate público na Escola Secundária Pe. Jerónimo Emiliano de Andrade, com a presença do comandante da PSP, juristas, professores, representantes dos comerciantes e de cidadãos lesados nos seus bens, alguns deles fazendo mesmo parte de milícias clandestinas nocturnas. E na qualidade de prefaciador do supracitado livro, não tive mãos a medir nas críticas feitas à insegurança e aos roubos que se observavam em espiral, na cidade de Angra, na década de noventa, dos quais também eu já havia sido uma das vítimas. Também tive a honra de prefaciar, o seu último livro «Três Varões (figuras nacionais) que Angra esqueceu...», publicado em 2001, à beira dos seus 90 anos, onde eu apelava à necessidade da reedição de As 18 Paróquias de Angra, obra a merecer figurar nos escaparates

das livrarias. Era a sua obra mais conhecida e consultada pelos investigadores e estava já esgotada, havia muito. Outro livro, este inacabado, lhe salvei e que estivera perdido, durante muito tempo, no seu quarto atulhado de papéis, As Festas Sanjoaninas na Ilha de Jesus (2000). Encontrei-o em estado caótico, não tinha nem numeração de páginas, nem capítulos. Uma autêntica babel. No agradecimento que me fez, na página 137, indica as peripécias por que passou o manuscrito. Por isso, o manuscrito estava condenado ao infortúnio do caixote do lixo. Era uma perda para a história das maiores festas profanas dos Açores, hoje tão esperadas, concorridas e elogiadas. Das suas muitas obras, a mais lida pelo público e investigadores é, sem dúvida, As 18 Paróquias de Angra, editada, em 1974, pela Edilidade Angrense, reeditada muito recentemente, graças à parceria entre a Câmara Municipal de Angra (Continua na página n.º 14)

DE FÉRIAS NOS AÇORES: NUM RESTAURANTE DE SÃO MIGUEL Uma cerveja de São Miguel, uma das nove ilhas dos Açores, ia chegar a Vila do Conde, no Continente, mas não chegava à Terceira, uma outra ilha da Região Autónoma… serviria de referência.

Silveira de Brito

H

á três anos fiz um passeio aos Açores com os meus compadres e mais uns amigos. Porque eramos um grupo grande, integrámo-nos num programa proposto pela Nortravel que permite visitar 4 ilhas: São Miguel, Terceira, Faial e Pico. Logo que chegámos à Praia da Vitória, que celebrava o 11 de Agosto, e começámos a atravessar a Avenida, a caminho da Praça Francisco Ornelas da Câmara, o meu compadre José Mariz, um minhoto atento e perspicaz, comentou: “Esta gente não espera pela festa; faz a festa!” E mais uma vez verifiquei isso mesmo, quando cheguei à minha terra no dia 8 de Agosto deste ano de 2017, para passar uma semana de férias com a minha mulher, filhos, noras e netos. Estávamos em plenas festas da Praia da Vitória, que tinham começado a 4; as ruas do Centro da cidade estavam cheias de gente. Tínhamos acabado de chegar e havia que procurar um restaurante para jantar, com mesa para a família toda: oito adultos, três crianças e dois bebés, que também precisavam de lugar. Como os meus filhos tinham estado nas Festas da Praia em 2000, sabiam orientar-se, pelo que sugeri para ponto de encontro a Feira Gastronómica, à entrada, o balão que fazia publicidade à cerveja Sagres

Enquanto aguardávamos que todos chegassem, o meu mais velho resolveu entrar com a mulher e os miúdos, para ir vendo o que havia. Logo no primeiro espaço a minha nora deu de caras com um amigo de Bragança, colega de escola primária, que estava lá com um stand promovendo produtos transmontanos: alheias, presuntos, vinhos, etc.; imediatamente lhes ofereceu um prato com presunto fatiado e abriu uma garrafa de Valle Pradinhos para comemorar o encontro tão inesperado. São surpresas destas que nos levam a cair na conta que o mundo é mais pequeno do que parece. Quando chegaram todos, entrámos na parte dos restaurantes. O primeiro da fila era minhoto; passámos à frente, porque no Minho vivemos nós. Logo a seguir encontrámos o Restaurante José do Rego, da Atalhada, Lagoa, São Miguel, e, como era já um pouco tarde, tinha mesa que dava para a família toda, entrámos. Atendeu-nos o senhor Victor Campos, que se revelou um excelente anfitrião. Deu as informações e explicações pedidas, sugeriu pratos, tudo isto com um humor excelente, sempre com uma piada ou comentário a propósito e bem medido, que pôs toda a gente bem-disposta. Como o restaurante era micaelense, perguntei se tinham Cerveja Melo Abreu. Que não, mas imediatamente perguntou: onde vive no Continente? Quando lhe disse: em Braga, informou-me que o restaurante estaria na Feira Gastronómica de Vila do Conde a partir do dia 18, que aparecesse, porque teriam a cerveja de São Miguel, e deu-me um cartão. Prometi-lhe uma visita.

Chegado a casa, rememorei o dia e o jantar. Estava tudo a correr bem, como eu esperava. Havia uma coisa, contudo, que eu não era capaz de perceber: a razão pela qual o restaurante micaelense não tinha cerveja Melo Abreu. Mais: na Terceira o restaurante não tinha a cerveja que iria servir em Vila do Conde. Isto é, uma cerveja de São Miguel, uma das nove ilhas dos Açores, ia chegar a Vila do Conde, no Continente, mas não chegava à Terceira, uma outra ilha da Região Autónoma… Quando redigi esta crónica, portanto já no Continente, tirei-me dos meus cuidados e telefonei para vários restaurantes de Terceira a perguntar pela cerveja. Descobri que, em muitos deles, quem tendia nem dava sinal de a conhecer; nos supermercados, levavam uma eternidade a ver se tinham e a resposta era quase sempre negativa. Ora, se bem me lembro, tem-se falado muito da necessidade de fomentar o mercado interno na Região Autónoma dos Açores… Vamos nós procurar a lógica destas coisas! Razão tem um amigo meu jesuíta quando diz “os reais são mais que os possíveis!” De regresso ao Continente, não me esqueci da Feira Gastronómica de Vila de Conde. Um belo dia lá fui com a minha mulher ao Restaurante José do Rego. Chegámos, demos uma volta pela Feira para nos localizarmos. Entrámos num stand com produtos açorianos e não resistimos: comprámos queijos e chá. Dirigimo-nos depois ao restaurante José do Rego e abancámos. Fomos recebidos com a simpatia que tínhamos encontrado na Praia da Vitória, o que nos serviram estava uma delicia e bebemos a Melo Abreu. Ao chegar a casa, telefonei ao meu filho Carlos a contar-lhe

a nossa ida ao restaurante e disse-lhe que havia cracas. Ele, que tinha adorado este marisco quando o provou na Terceira, disse imediatamente: Pai, reserva mesa para Sexta-feira; vamos lá jantar com os meus sogros e cunhados. E foi o que fizemos. Entrámos na feira e fomos direitinhos ao restaurante. Sobrava apenas uma mesa livre, felizmente com espaço para nós; eramos oito. Para entrada, pedimos umas cracas e umas lapas e, para beber, Melo Abreu. Fez-se uma escolha de pratos para podermos provar a maior variedade possível. O empregado, com a simpatia que eu já esperada, aconselhou-nos quanto aos pratos e quanto a quantidades, tema sempre difícil. Estava tudo uma delícia. O meu compadre José Maris lembrou-se de pedir uma sangria de ananás que estava no cardápio e para nós completamente desconhecida. Saiu tão boa que parámos com a cerveja. Terminado o jantar, demos uma pequena volta pela feira. Antes de partirmos, regressei ao restaurante; já estava quase vazio. Dirigi-me ao dono, que estava rodeado de vários empregados e disse-lhe que o vinha felicitar; que do meu grupo, eu era o único açoriano e que tinha estado no restaurante na Praia da Vitória; agora tinha vinda de propósito com familiares meus, que tinham ficados satisfeitíssimos. O restaurante estava cheio, mas a simpatia tinha sido a marca do serviço e tinham servido pratos excelentes; que lhes agradecia e os felicitava porque eram uns excelentes embaixadores da Região. Vi que ficaram sensibilizados com as minhas palavras que, indiscutivelmente, mereciam. •


JP | OPINIÃO

2017.12.08

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NOTAS SOBRE O RAMO GRANDE Depois de ter definido o que hoje é visto como o Ramo Grande, importa prosseguir para compreensão desta expressão e o facto de esta ter dado nome a uma espécie de arquitetura.

Emanuel Areias

A

região do Ramo Grande é considerada, de acordo com Avelino de Freitas de Meneses, “porventura a faixa plana mais extensa e fértil de todo o arquipélago dos Açores”. Esta zona, de grande pujança no que à área agrícola diz respeito, era reconhecida pela tradicional expressão de “celeiro da ilha”, até ao momento em que houve a construção da base militar. Com a construção do aeroporto, toda essa zona sofreu uma mutação severa, no que concerne aos recursos disponíveis e à população local. Importa, no entanto, dar duas notas de particular relevância. Depois de ter definido o que hoje é visto como o Ramo Grande, importa prosseguir para compreensão desta expressão e o facto de esta ter dado nome a uma espécie de arquitetura. A primeira nota vai para o conceito. Tal como diz José Manuel Fernandes, no artigo “Da Praia às Lajes – Reflexão sobre as estruturas urbanas do concelho”, Ramo Grande é uma “palavra misteriosa mas que todos os habitantes locais se identificam, dando para a sua origem as mais diversas explicações”. A variedade de teorias para a existência do nome dado a esta sub-região é imensa. Mais à frente, este autor, recorre ao professor

Pereira da Costa, que deu uma explicação para origem do nome, em 1999. Cito a explicação: “na tradição medieval, nas feiras agrícolas, quando se arrematavam os géneros “verdes”, punha-se um ramo na mesa aquando da licitação; talvez o “Ramo Grande” seja um indicador do poder da referida classe agrícola local, expressa nessa prática realizada nos mercados rurais.” Já me deram várias explicações, e reitero uma, sem base científica, mas com tradição na via oral: Ramo Grande seria o oposto do Raminho dos Folhadais, pela pequenez e exiguidade do território do Raminho face à área ampla e extensa do Ramo Grande. A segunda nota, sobre a “Arquitetura do Ramo Grande”, prende-se, precisamente, com a dúvida acerca do momento em que se pode falar nas casas do Ramo Grande. De salientar que Vitorino Nemésio deu um contributo essencial para a divulgação deste tipo de arquitetura, que ele define como “um tipo de habitat rural tão nobremente urbano”, que correspondem não só as “casas mais afazendadas” mas também às dos lavradores de meias posses”. No artigo “A arquitetura do Ramo Grande”, João Vieira Caldas discute as correntes interpretativas acerca de quando é que podemos falar da arquitetura do Ramo Grande. Tradicionalmente, como aponta o autor, entende-se que esta arquitetura corresponde às “casas resultantes da reconstrução que se seguiu ao sismo de 1841”. A intenção de José Silvestre Ribeiro, administrador-geral do distrito de Angra do Heroísmo, seria, como indicou, após a catástrofe, “que tanto os edifícios que de todo fossem reedificados, como os que apenas demandassem concertos e reparos vies-

sem a ficar muito mais solidos, elegantes, commodos e perfeitos do que erão antes de tal fatal desastre”. Conforme esta afirmação, será que é Silvestre Ribeiro o principal impulsionador da arquitetura do Ramo Grande? Se é certo que no pós-1841, as casas sofreram melhoramentos e foram reconstruídas, não há nada que associe a reconstrução levada a cabo com a arquitetura característica do Ramo Grande. Reforço a ideia de que essa reconstrução pode não ter nada a ver com a construção de casas típicas do Ramo Grande por uma razão em particular: “segundo os relatórios finais das “Commissões de soccorros”, a reconstrução nas freguesias rurais estava praticamente terminada no final de 1842, enquanto a construção das casas representativas da arquitetura do Ramo Grande, em grande parte datadas, estende-se por um período que vai de 1866 ao início do século XX, com especial intensidade nos anos setenta e oitenta do século XIX.” (Caldas, pág. 44). Assim, e olhando para o período nos seus limites, da reconstrução pós-sismo (1842) à datação das primeiras casas do Ramo Grande (1866), vão 24 anos. Faz mais sentido, a meu ver, a teoria explicativa de Reis Leite que considera que a arquitetura do Ramo Grande deve estar ligada “às transformações sociais e económicas que se seguiram ao fim dos morgadios, pela lei de 1864, e a consolidação de uma classe de lavradores proprietários que construíram nas suas terras residências familiares de apoio a uma exploração reorganizada das ricas planícies cerealíferas, agora transformadas em unidades familiares de produção de propriedade

plena.” (Leite, pág. 30). Assim sendo, a habitação edificada seria uma demonstração de “afirmação social”. Apesar de tudo, Avelino de Freitas de Meneses, no seu livro “As Lajes da ilha Terceira – aspetos da sua História”, diz nas páginas 130 e 131, que em virtude da Queda da Praia em 1841, o terramoto suscitou o “aparecimento de um parque habitacional renovado, de onde sobressai um conjunto de moradias com solidez e asseio, fruto das exigências técnicas do promotor da reconstrução, o administrador José Silvestre Ribeiro (…) Este núcleo patrimonial, que acresce e até se aperfeiçoa na sucessão do tempo, constitui atualmente a denominada arquitetura do Ramo Grande (…)”. Este historiador perceciona que há uma continuação ou ligação entre o que se passou em 1841 e as casas do Ramo Grande, como se fosse uma evolução, e não fenómenos separados. Bibliografia: • José Guilherme Reis Leite, “Breve esboço sobre a História da Praia”, in “Praia da Vitória Terceira – Inventário do Património Imóvel dos Açores”; • José Manuel Fernandes, “Da Praia às Lajes – reflexão sobre as estruturas urbanas do concelho”, in “Praia da Vitória Terceira – Inventário do Património Imóvel dos Açores”; • João Vieira Caldas, “A arquitetura do Ramo Grande”, in “Praia da Vitória Terceira – Inventário do Património Imóvel dos Açores”; • Avelino de Freitas de Meneses, “As Lajes da ilha Terceira – aspetos da sua História”, Angra do Heroísmo, 20001

PEDRO MERELIM: UM GRANDE COMBATENTE PELA TERCEIRA (Continuação da página n.º 13)

do Heroísmo e do Instituto Histórico da Ilha Terceira, com uma bonita sessão de lançamento no Salão Nobre do Município, a que assistiu muita gente. Não tendo sido, em vida, distinguido, como sucedeu por duas vezes, pela Edilidade Angrense, na qualidade de cidadão honorário, Junta de Freguesia da Sé e outras associações citadinas, lamentamos que o IHIT, não lhe tenha alterado, tal como fez à capa da 2ª edição, o seu estatuto de sócio correspondente a sócio permanente ou honorário, já que o volume e relevância da sua obra o justificam. Esperamos que, a título póstumo, ou por honoris causa, um dia, ele seja reconhecido como tal, pela fértil sementeira que nos legou e de que muitos se serviram, alguns PUB

deles mesmo com abuso ou excessiva utilização, sem lhe fazerem a devida citação de autoria, imposta pela deontologia e pelos direitos consignados em lei. Esta reedição é de louvar, porque a obra, ainda que constituindo uma ferramenta de trabalho indispensável para o conhecimento das freguesias do concelho angrense, estava esgotada há bastante tempo. O mesmo sucedendo, pelo que me consta, às Freguesias da Praia (entenda-se do concelho praiense), a necessitar, igualmente, de uma 2ª edição dos dois volumes, vindos a lume, em 1983, pela Direcção Regional de Orientação Pedagógica. Gostaria de sublinhar para os nossos leitores que Pedro de Merelim registou, no Jornal da Praia, vários trabalhos de pendor histórico, e uma série de artigos sobre os hebraicos, no começo dos anos noven-

ta, que vieram actualizar os que estavam insertos na Revista Atântida, do Instituto Açoriano de Cultura (1968), e que viriam a aparecer, depois, no livro Os Hebraicos na Ilha Terceira, publicado a expensas suas, em 1995. Em cartas que me remeteu de Braga, mostrava especial simpatia pelo JP, quinzenário do Ramo Grande, entre outros periódicos em que colaborava. Mas isto será assunto para uma outra crónica. Por hoje, por imperativos de espaço, termino enfatizando o exemplo deste cidadão prestimoso, lutador pertinaz e persistente pelo futuro da Ilha Terceira. Nos últimos anos de vida, já previa e se condoía com os rumos que o nefando centralismo regional estava a seguir, e que, hoje, deve fazer pensar sobretudo as jovens gerações e toda a sociedade civil, acerca desta

anémica autonomia que temos, ou não temos, e foi prometida aos açorianos de todas as ilhas do arquipélago, com vista ao seu imprescindível desenvolvimento harmónico e à almejada descentralização, um e outra, pouco visíveis nos tempos que correm. Será, que vamos deixar, insensatamente, atirar tudo isto para baú das velharias, ou vamos exigir a resolução dos nossos problemas mais candentes, obras concretas e não palavreado inútil, adoçando as promessas raramente cumpridas pelos eleitos, que escolhemos e aos quais pouquíssimas vezes pedimos contas. Cidadania actuante e permanente precisa-se, e não só em tempo de eleições, de quatro em quatro anos.


JP | INFORMAÇÃO

2017.12.08

| 15

AGENDA DESPORTIVA MISSAS DOMINICAIS NO CONCELHO

FUTSAL II DIVISÃO - SENIORES MASCULINOS SÉRIE AÇORES

7.ª JORNADA | 09.12.2017 Minhocas

-

SC Barbarense

GD Fazendense

-

SC Lusitânia

Achada FC

-

Matraquilhos FC

Norte Crescente

-

Casa da Ribeira

FUTEBOL CAMPEONATO DE PORTUGAL SÉRIE “D”

13.ª JORNADA | 10.12.2017 Alcanenense

-

Caldas

SC Praiense

-

1º Dezembro

Loures

-

Vilafranquense

Pêro Pinheiro

-

Torreense

Guadalupe

-

Lusitânia

Sintrense

-

Eléctrico

Coruchense

-

Mafra

Sacavenense

-

Fátima

13.ª JORNADA | 10.12.2017 -

CD Rabo Peixe

FC Vale Formoso

-

GD Fontinhas

Marítimo Gra.

-

SC Vilanovense

SC Angrense

-

Prainha FC

CU Micaelense

-

São Roque

CAMPEONATO ILHA TERCEIRA

8.ª JORNADA | 10.12.2017 Marítimos

-

São Mateus

Lajense

-

NSIT

Barreiro

-

Boavista

CAMPEONATO DE PORTUGAL SÉRIE “D”

14.ª JORNADA | 17.12.2017 Caldas

-

Pêro Pinheiro

1º Dezembro

-

Alcanenense

Vilafranquense

-

SC Praiense

Torreense

-

Guadalupe

Lusitânia

-

Coruchense

Eléctrico

-

Sacavenense

Mafra

-

Sintrense

Loures

-

Fátima

CAMPEONATO FUTEBOL AÇORES

14.ª JORNADA | 17.12.2017 -

FC Vale Formoso

SC Vilanovense

-

FC Flamengos

GD Fontinhas

-

SC Angrense

São Roque

-

Marítimo Gra.

Prainha FC

-

CU Micaelense

CD Rabo Peixe

HOJE (08/12)

15:30 16:00 16:30 17:00 17:30 17:30 18:00 18:00 18:00 18:00 18:00 19:00 19:00 19:00 19:00 19:30 19:30

HOJE (08/12)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

CELEBRAÇÃO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM MARIA Local: Igreja da Sé - Angra do Heroísmo Hora: 11H00 às 12H00

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

- Lajes - Fontinhas (1) - Casa da Ribeira - Cabo da Praia - Matriz Sta. Cruz - Vila Nova - Fontinhas (2) - São Brás - Porto Martins - Sta Luzia, BNS Fátima - Quatro Ribeiras - Lajes - Agualva - Santa Rita - Fonte do Bastardo - Biscoitos, IC Maria (3) - Biscoitos - São Pedro (4) (1) Enquanto há catequese (2) Quando não há catequese (3) 1.º e 2.º sábados (4) 3.º e 4.º sábados - São Brás - Vila Nova, ENS Ajuda - Lajes, Ermida Cabouco - Cabo da Praia (1) - Biscoitos, S Pedro - Agualva - Casa Ribeira (1) - Santa Rita - Lajes - São Brás - Cabo da Praia (2) - Porto Martins - Casa da Ribeira (2) - Biscoitos, IC Maria - Vila Nova - Fontinhas - Matriz Sta. Cruz (1) - Quatro Ribeiras - Sta Luzia - Fonte Bastardo - Matriz Sta. Cruz (2) - Lajes, ES Santiago - Lajes - Matriz Sta. Cruz (3) - Matriz Sta. Cruz (4)) (1) Missas com coroação (2) Missas sem coroação (3) De outubro a junho (4) De julho a setembro

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

TERÇA (13/12)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

QUARTA (14/12)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

08:30 09:00 10:00 10:00 10:00 10:30 10:30 10:30 11:00 11:00 11:00 11:00 11:00 11:00 12:00 12:00 12:00 12:00 12:00 12:15 12:30 13:00 19:00 19:00 20:00

QUINTA (15/12)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEXTA (16/12) CONCURSO DE MONTRAS Local: Angra do Heroísmo Hora: 14H00 às 18H30

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

SÁBADO (17/12)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGO (18/13)

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

SEGUNDA (19/12)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

TERÇA (20/12)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

QUARTA (21/12)

ASSINE

Farmácia Silva Largo Conde da Praia da Vitória, 26 ( 295 512 905

IV PROVA E CONCURSO DE BOLOS E LICORES Local: Praça Velha - Angra do Heroísmo Hora: 16H00 às 19H00

QUINTA (22/12)

Farmácia da Misericórdia Avenida Paço do Milhafre, 18 ( 295 540 290

BISCOITOS Posto da Misericórdia ( 295 908 315 SEG a SEX: 09:00-13:00 / 13:00-18:00 SÁB: 09:00-12:00 / 13:00-17:00

VILA DAS LAJES Farmácia Andrade Rua Dr. Adriano Paim, 142-A ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-18:30 SÁB: 09:00-12:30

9.ª JORNADA | 17.12.2017 Barreiro

-

Marítimos

-

Lajense

Boavista

-

NSIT

DOMINGO (10/12)

SEGUNDA (11/12)

CAMPEONATO ILHA TERCEIRA

São Mateus

SÁBADO (09/12)

Farmácia Cabral Praça Francisco Ornelas da Camâra ( 295 512 814

DOMINGOS

CAMPEONATO FUTEBOL AÇORES

FC Flamengos

SÁBADOS

VILA NOVA Farmácia Andrade

NOTA: Esteja na nossa agenda desportiva, envie toda a informação para desporto@jornaldapraia.com

ASSINATURA ANUAL 15,00 EUR assinaturas@jornaldapraia.com

Nota Editorial Esteja na nossa “Agenda Cultural”, envie toda a informação para: noticias@jornaldapraia.com.

Caminho Abrigada ( 295 902 201 SEG a SEX: 09:00-12:00 / 16:00-18:00 Farmácias de serviço na cidade da Praia da Vitória, atualizadas diáriamente, em: www.jornaldapraia.com


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