Revista Corifeu N. 05

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NÚMERO 5 – MAIO DE 2015

Revista

CORIFEU

CORIFEU:

Uma Perspectiva do Direito Núcleo de Ética Jurídica José Sacadura (NEJ) revistacorifeu.nej@gmail.com

Distribuição gratuita

Arché A Luta pelo Amor - Parte 2 A Emancipação Sexual das Atenienses Aristófanes (447 a.C. – 385 a. C.), ao usar o teatro de comédia enalteceu a mulher como a que pode, pelos seus atrativos

sexuais,

contribuir

para

a

sustentabilidade

econômica de Atenas e evitar mais guerras retendo os maridos em casa (além das esposas, as cortesãs, convivas, concubinas). Nestes casos, a mulher que outrora era manifestamente um objeto de procriação a serviço do homem, agora se liberta, e sua sexualidade pode ajudar ao interesse público; seja liberando a physis ao coletivo, seja guardando seus melhores atributos sexuais aos maridos

eloquente, afirma: “Foi então que, certamente ecoando teorias em

como forma de manter a paz do nomos. como

voga entre os filósofos e intelectuais da época,

amorais e subversivas, atribuídas e autorizadas apenas às

Aristófanes instalou numa Atenas utópica um

escravas e cortesãs, e rapazinhos, agora são funções políticas

regime comunista de bens e de mulheres. Em vez

importantes das esposas e filhas da cidade, que de um lado

de um programa de regresso a uma normalidade

preferem se libertar desta forma a padecer de fome, e de

conhecida,

outro, provavelmente, como forma de extravasarem de

sexualidade conjugal, como aquele que lisístrata

alguma forma sua submissão patriarcal. De certa forma foi

defendia, o projeto era desta vez de ruptura com a

isto que Sólon (640 a. C. – 558 a. C.) procurou resolver com

ordem estabelecida: que as paredes da casa

as reformas jurídicas com relação à família, e ao codificar que

desabassem para dar lugar a uma única família,

“a mulher que anda na rua, subindo e descendo, de lá para

dentro da qual o sexo fosse livre e democrático.

cá, é apenas uma mulher andando na rua”!

Como regra de ouro a orientar o comportamento

Estas

atividades

consideradas

até

então

através

da

reinvindicação

da

Lembremo-nos que a primeira submissão da mulher

masculino, o princípio fundamental traduz-se numa

ao homem sempre esteve relacionada à sua castidade. Se os

fórmula simples, ‘se não fazes amor não comes’,

códigos mais arcaicos submetem a mulher a penas mais

como suspeitam, em conversa visada, Bléfiro e

severas que aos homens, por exemplo, a mulher estéril

Cremes. Na lógica feminina, para as mulheres é

autorizava o divórcio, mas o mesmo não acontecia com o

chegada a hora de darem desafogo pleno, e

marido fosse estéril, por outro lado, de certa forma, a mulher

legitimado pela lei, ao seu eterno erotismo: amor

estava algo protegida: a viúva que não podia ficar sozinha

livre para todas, com a única restrição de uma

(casar com o irmão do falecido – levirato), pois precisava criar

prioridade

os filhos; a mulher que devido à esterilidade do marido não

caquéticas. A vantagem antes detida pelas escravas,

podia cumprir a procriação (se a esterilidade fosse do

por via da prostituição e do adultério, perde agora

homem, a mulher poderia receber em seu quarto um irmão

terreno perante a igualdade democrática que se

ou parente do marido: em Atenas possivelmente algum outro

instala. O tempo pertence às mulheres livres,

homem até engravidar). Só quando a “prostituição” foi extinta

desvinculadas de todos os bloqueios impostos pelo

e aceita pela monogamia patriarcal e o problema da

nomos tradicional. É esta a resposta que a fantasia

sobrevivência da cidade-estado está em cheque, e só então, a

encontra para opor ao desmoronamento de uma

mulher

estrutura política em crise. À ruptura do coletivo,

pode

se

libertar

do

jugo

maior

do

homem

revolucionando as normas morais e legais restritivas. Maria de Fátima SILVA (2005:53-54), de forma

devida

às

velhas,

deterioradas

e

responde-se com a ruptura completa do privado.”* *SILVA, Maria de Fátima. Nomos e Sexo na Comédia de Aristófanes. Rev. Humanitas, vol. LVII. Universidade de Coimbra: Faculdade de Letras, 2005. Págs.39 – 55.


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CORIFEU

Ágora Ana Cristina César (1952-1983): Poetisa e Tradutora Houve um tempo, logo ali, naquela curva da estrada,

Aforismo:

Logo depois daquele cotovelo, no caminho,

“Vão, partam, disse o pássaro, o gênero

Que o caminho era o mimeógrafo a álcool.

humano não pode suportar tanto a realidade.”

Uma arma pode ser até uma rosa, um cravo, um raminho de oliveira. Uma arma é a palavra!, no ar, no papel, no álcool. Ana Cristina César, com um Cruz no meio que ninguém lembra, nem ela gostava, ‘A Teus Pés’, uma Florbela que viu demais, dilacerou demais, e quando tudo parecia acabado, se acabou no ar, como um pássaro que ama além do êxtase e depois não pode esquecer (ou voar). Poeta maldita, que também não calou! A propósito, só se faz ‘lavagem cerebral’ em quem tem cérebro! Os minimamente dotados a sentir estão sujeitos! Os outros se entupiam da porcalhada nas beneficies dos torturadores e assassinos.

Areópago Ânimo, Des-Ânimo e Imortalidade

criança aprende a ser rato antes de ser camelo (Kafka), e daí não sai!

Já se disse que o oposto de Crença, não é a

Existem muitos tipos de racionalidade, aliás,

Descrença, é a Dúvida (Salman Rushdie). Tenho a impressão

muitos tipos de tudo. A de Kant, segundo Foucault,

que o oposto de Ânimo não é Desânimo, é o Niilismo.

fugindo de Frankfurt pode ser instrumental ou objetiva.

“Deixe-me ir, tenho medo que o homem me desumanize”,

Qual a objetividade do “eterno retorno”? 1. Não haveria

diz o pobre pastor de ovelhas (Nathan) ao rei.

coerência no “não ânimo” se fosse o fim; 2. Não haveria

O desânimo pode ser, afinal, a dúvida, ou o não

“sentido” no niilismo se o “não-fim” fosse igual, a mesma

acreditar. Mas, por sua vez, o não acreditar, o niilismo, pode

miséria, a mesma estupidez, a mesma repressão, a

ser uma poderosa ferramenta a renovar a abjeta crença na

mesma necessidade e indigência. EU SOU O NÃO-FIM, O

ideologia de massa. Duvidar, Criar, Fazer, Ser: a fórmula dos

QUE SEM FIM É SUPERIOR, O IMORTAL MELHOR!

deuses negada aos homens pelo medo, pelo ascetismo sem

O pseudônimo perde a imortalidade quando o autor morre. O autor era o único que o conhecia. A

ação, pela vergonha, pelo remorso sem justificativa. Não querer ir, não estar dentro, pode ser tudo,

imortalidade

está

na

persona

(na

personagem,

na

preencher tudo. O poeta dizia: “Faça do silêncio a melhor

criatura) ou no sujeito (o autor)? Borges disse que os

forma de dizer” (Pessoa). Não querer fazer não significa

homens morriam e as coisas permaneciam. Swift gritava

necessariamente indiferença, mas também “ultrapassagem”,

no leito derradeiro que aquele que ali estava não era ele.

desvio estratégico para a coerência e racionalidade. Pode até

Kierkegaard vociferou quando lhe davam a extrema

ser, simplesmente, a situação de “superioridade”: enquanto

unção que deus não precisa de prepostos. Lá trás, aquele

Hannah Arendt quer preencher o vazio no espaço público

mendigo que começou tudo isso, sabendo de sua

com pena, diz-nos, da instauração do arbítrio, Nietzsche já

condenação iminente, afirmava com gozo para seus

havia se distanciado há muito da “má-consciência” coletiva.

algozes que iria para junto daqueles que eram melhores

Não se está a fugir, mas a “retornar”. Faça-se da ausência a

do que ele, e que voltaria. Mas nunca foi! O “animado” não era - apenas - o que “vive”. Mas

melhor forma de estar presente (Crepúsculo dos ídolos). Existe um momento em que uma pessoa, despida de

sim o que goza a vida, ou se se quiser, o que aproveita a

sua(s) persona(s), precisa se afastar da indulgência que

vida como “potência”, não as “coisas” da vida, porque

deriva da indigência: superar a necessidade começa por

nelas não têm potência alguma, mas as coisas que

superar o medo, desapegar pode ser renascer em outro

potencializam o nosso gozo em viver. Chegamos aqui – e

patamar,

do

esse é o ponto! – sem gozo algum, chafurdando na

pensamento iluminista e burguês. O camelo que vira leão que

mesquinharia e barbárie, engolidos, afogados, só, e sós

vira criança (Assim falava Zaratustra). No meio do turbilhão a

pelo “ânimus”.

para

uma

vida,

política

também,

longe


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Podemos tentar a imortalidade superando o medo da

CORIFEU Vingança e Violência no Direito Penal

morte, ou, na forma mais banal (mas, contudo, não menos importante para nosso gozo e infelicidade!), tendo filhos. Existem seres vivos que não perdem tempo nesse esforço “quase” inútil: assexuada uma ameba não “morre”. Os filhos são o sexo a materializar nosso apego à “vida”. A procriação sexuada no ilude quanto à imortalidade, logo, nos rebaixa para o apego ao mundo e, fatalmente, às coisas do mundo (Schopenhauer). Iluminado Machado de Assis: “ao fim e ao cabo levei vantagem sobre a vida, não tive filhos” (Memórias Póstumas de Brás Cubas). O postulado lacaniano é que queremos ser o “falo” de nossos filhos, o macho que interdita e que preenche, e assim sucessivamente. Efetivamente a imortalidade não está nos outros – deveras, o que é uma imortalidade nos outros, além de um absurdo? Daí que seria uma desumanidade, além de mais completo desatino e fracasso querer-se-ver ou querercontinuar nos filhos. Além disso, eles terão sofrimento e distanciamento suficiente a superar, não precisam do dos pais! Devemos gostar de ter filhos, devemos gostar de os fazer: eles fazem parte da “elevação”. Sós, não solitários, des-animados, não desanimados. Acreditar, sonhar, fazer-se-a-si, gozar a des-gozar a política - simples, simplesmente estar sem povoar, existir sem estar, como a nuvem, como a lágrima, como o rio, como a chuva, como o sal!

EXPLICAÇÃO: Com relação ao direito nas sociedades antigas e antigas civilizações, a tese é que uma das características mais importantes foi a passagem da vendeta (vingança pessoal) ou justiça pelas próprias mãos, da esfera do direito privado para o direito público, onde a punição passa a ser exercida pelo soberano, como no Código de Hamurabi ou na Lei Mosaica dos Hebreus. TESE: Esta transferência do direito de punir ou retaliar o delito, geralmente crimes contra a vida, é consequência da necessidade de o soberano laico que habita o palácio rebelar-se e elevar-se além do poder do templo e dos sacerdotes. O medo que o soberano precisa exercer para ser obedecido e dominar o poder religioso obriga-o a escrever o direito

de

forma

a

desproporcionalidade,

punir de

com forma

violência

e

bárbara

e

desmedida, os delitos, principalmente os contra vida, mas também os contra o próprio palácio e templo - furtos e roubos, contra os costumes e a propriedade das classes mais abastadas. Em tempo: a assim chamada Lei de Talião, que por analogia

do

desproporcional

texto na

hebraico-judeu-cristão, sua

é

"proporcionalidade"

semântica: "olho por olho, dente por dente, mão por mão" etc., não é de fato nem menos violenta e nem menos desmedida, pois vários delitos que constam na lei de Moisés, como da prostituição, adultério, homoafetividade, roubo, são cruelmente punidos com a pena de morte por apedrejamento. O Egito, a Babilônia, entre os Persas, delitos de menor grau ofensivo são punidos com a morte de formas absolutamente horrendas. Em tese, como se disse, isso se deve à disputa pelo poder entre os sacerdotes e os reis, e ambos veem nas punições bárbaras e nos ordálios uma forma de afirmarem seu poder. Neste sentido, pode-se dizer que o direito nasce violento, draconiano e como estratégia de dominação do "Estado" sobre os indivíduos. A QUESTÃO: nos direito moderno acredita-se que o direito de punir é substância e é legítimo por parte

Sobre mim pairam as horas, os minutos, os segundos. O tempo o que é? Para o doente interminável, para o néscio despercebido. Dizem-me o que tem que ser feito... Controlam o tempo, e ele cai sobre mim como uma abdução maligna. Sejamos doentes então!

do Estado, quer dizer, o cidadão acredita que o Estado hoje quando pune, portanto, no âmbito da esfera pública, nunca na esfera privada, não exerce violência, haja vista que não nos parece que o Estado seja vingativo.


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CORIFEU

(cont.) PERGUNTA: o que faz com que a retaliação ao delito e a punição em termos atuais (1) não seja violenta e (2) não seja vingativa? De outra forma: se a punição no direito penal moderno não é violenta, não pressupõe o medo e não é desproporcional, como pode ela prevenir ou coibir delitos futuros? E se a punição continua sendo violenta, portanto, pressupõe o medo e a desmedida punitiva, seria uma "violência legítima", como se pode dizer que a mesma não é vingativa? O que fez com que, na passagem da vingança de sangue para a punição do soberano, a violência do direito e do Estado deixasse de ser vingativa? Podese falar de violência não vingativa? E ao contrário, pode-se falar de vingança não violenta?

A educação grega é aquela que traz a virtude (areté) como referência.

Dessa maneira, todo o modo de

vida normativo, não condizia tanto com a busca da “verdade absoluta”, mas com a boa condução, a condução ética no processo diante do tribunal, pelas virtudes, onde, por decorrência, se encontraria a justiça. A realização do homem grego como indivíduo e, em seguida, como cidadão, exigia para além de tantas atividades, a reflexão, a prática de esportes, o gozo com a música, a dança, o uso dos prazeres, dedicação às coisas da cidade e um cuidado contínuo com as normas. Ocupar-se do

conhecimento,

da

elaboração,

da

existência,

do

conteúdo, dos limites, da realização das normas significava muito mais do que um mero desempenho, mas é um exercício prático que leva à efetiva realização da virtude, à plenitude de sua vida moral. É uma forma do indivíduo se constituir sujeito ético. A educação político-jurídica do homem, enquanto cidadão, é uma forma de conduzi-lo a exercitar a virtude, a dominar a si mesmo, por isso o homem livre encontra nela um papel importante para leválo à maximização de sua ascese virtuosa (não moralista!), plenamente livre, sendo para si próprio, e depois se desempenhando na cidade e na fraterna relação com os outros.

Areópago visto da Acrópole nos dias Atuais

É através da virtude, o ponto de referência da educação, cujo termo hoje, certamente não corresponde à mesma tradução que tentamos encontrar nos gregos, que

EDUCAÇÃO E EXPERIÊNCIA NORMATIVA CRIMINAL DOS GREGOS NA ÉPOCA CLÁSSICA – Parte I

irá constituir o homem como excelência virtuosa. Assim, educar

nesse

liame

que a virtude

costura,

significa

constituir o homem como excelência virtuosa. Foi assim A sociedade grega teve uma vivência jurídica vigorosa,

com Aristóteles, ao ensinar seu filho Nicômaco, que a ética

que se difundiu universalmente, tanto na filosofia, quanto nas

tem como valor fundamental o bem e que o maior de todos

artes, na política, na história, em todas as manifestações de

os bens é a felicidade, quando o homem pode ser aquilo

cunho cultural e, principalmente, na educação. Por toda a

que é na constituição natural de suas virtudes. O vasto

compreensão do espírito democrático ateniense, a aplicação das

estudo foi para expandir no jovem as virtudes do corpo e da

penas dependeria não apenas da espécie do ilícito, mas,

alma, a temperança (como estado a ser buscado pelo

sobretudo, da maneira como este foi perpetrado, se de modo

“domínio de si” para alcançar a liberdade), para que

voluntário ou involuntário. Disso, resulta na questão ligada à

obtivesse um completo domínio de si, além de um modo de

noção de responsabilidade, na própria compreensão moral do

vida normativo e de sabedoria, para que exercesse a prática

homem na cidade. Dessa forma, questionava-se: qual a finalidade

na polis. Trata-se de constituir um homem equilibrado,

da

de

harmônico, com justa medida, dominador de si e cuidador

voluntariedade e involuntariedade, pois estão intrinsecamente

de si mesmo. Trata-se de constituir um homem equilibrado,

ligadas à noção de responsabilidade, consequentemente na

harmônico, com justa medida, dominador de si e cuidador

própria compreensão ética do homem na cidade grega. Ao

de si mesmo. Deve-se entender com isso uma maneira de

ensinar-lhe desde cedo as virtudes para que pudesse não apenas

viver cujo valor moral não está em sua conformidade a um

viver, mas viver bem, viver com justiça e virtude, viver com

código de comportamento, na busca da “verdade absoluta”,

retidão, o que pretendiam os gregos era transformar o jovem

na desmedida punição, nem a um trabalho de purificação,

num cidadão para que bem tivesse o ‘modo de vida normativo’ e

mas depende de certas formas, ou melhor, certos princípios

pudesse fortificar a sua essência política. Nesse sentido, o pior

gerais no uso dos prazeres, na distribuição que deles se faz,

não era o agir e produzir algum mal, mas o fazer entendendo que

nos limites que se observa uma preocupação com a

desconstituiria o outro enquanto ser constitutivo de virtudes.

estilização

A nossa chamada ‘prevenção’, para aos gregos, seria o propósito

existência.

punição?

Sem

dúvida,

a

punição

está,

no

caso

de preparar bons cidadãos e converter aquele que se ‘desviara’

A

da

atitude

educação

numa

espécie

flexionada

para

de o

estética eixo

da

mais

num homem virtuoso. A virtude é quase sinônima da ‘educação’,

antropocêntrico impunha ao espaço criminal grego um

mas é maior. Esse sentido é muito mais vivo e forte do que a

papel singular de constituir virtudes, dando ao homem

atual concepção de ressocialização, muito marcada pelos traços

grego, além da lógica, da retórica, da música, gramática,

do capitalismo, na leitura dos corpos dóceis foucaultianos pela

oratória, também o saber das normas e a filosofia!

normalização penal.


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CORIFEU

Poiesis José Luís Peixoto tempo e previne discussões’. ‘Mas eu gosto de discussões’, disse o Foguete. ‘Não

creio’,

respondeu

o

Sapo,

com

complacência.

‘Discussões são extremamente grosseiras, pois todos os que pertencem à sociedade têm as mesmas opiniões.

Explicação da Eternidade devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se

Adeus, mais uma vez. Estou vendo minhas filhas ali adiante’, e nadou para longe. ‘Você é uma pessoa muito irritante’, disse o Foguete, ‘e muito mal educada. Odeio pessoas que falam sobre si mesmas, como você, quando outras querem falar sobre si

em tempo.

mesmas, como eu. É a isso que chamo de egoísmo, e

os assuntos que julgamos mais profundos,

alguém com o meu temperamento, pois sou conhecido por

mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,

minha índole solidária. Na verdade, você deveria me tomar

transformam-se devagar em tempo.

como exemplo, pois não poderia encontrar exemplo

por si só, o tempo não é nada.

melhor. Agora que tem a chance, deveria tirar o melhor

egoísmo é o que há de mais detestável, especialmente para

a idade de nada é nada. a eternidade não existe. no entanto, a eternidade existe.

proveito disso, pois estou prestes a voltar à Corte. (...)’ ‘Não há vantagem em repreendê-lo’, disse a Libélula, que estava sentada no topo de um grande junco marrom, ‘nenhuma vantagem mesmo, pois ele já foi embora’.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram

‘Bem, o prejuízo é dele, não meu’, respondeu o Foguete.

eternos.

‘Eu não vou parar de falar com ele simplesmente porque ele

os instantes do teu sorriso eram eternos.

não presta atenção. Gosto de me ouvir falando. Esse é um

os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

dos meus grandes prazeres. Costumo ter longas conversas

foste eterno até ao fim... sempre! Capturado em http://www.citador.pt/poemas/explicacao-daeternidade-jose-luis-peixoto

comigo mesmo e sou tão esperto que às vezes não entendo o que estou dizendo’. ‘Então você certamente deveria dar aulas de Filosofia’, disse a Libélula e, abrindo as adoráveis asas transparentes, elevou-se nos céus. ‘Que estupidez da parte dele não estar aqui!’, disse o

Oscar Wilde

Foguete. ‘Estou certo de que não é com frequência que tem a chance de aprimorar a mente. Não me importo nem um pouco. Gênios como eu com certeza serão apreciados um dia’, e afundou um pouco mais na lama.’” In: Contos Completos, Landmark, 2006.

O Foguete Notável

CORIFEU

“ (...) ‘Uma voz deliciosa, certamente!’, continuou o Sapo.

Revista

‘Espero que você venha ao tanque dos patos. Vou sair para

São Paulo – Capital

procurar por minhas filhas. Tenho seis belas filhas e estou

– Uma Perspectiva do Direito

revistacorifeu.nej@gmail.com

muito apreensivo de que o Lúcio possa encontrá-las. Ele é

Produção editorial voluntária

um perfeito monstro e não hesitaria em comê-las no café

Editoração:

da manhã. Bom adeus. Apreciei muito nosso diálogo, isso eu garanto a você’. ‘Nosso diálogo, deveras!’, disse o Foguete. ‘Apenas você falou o tempo todo, e sobre si mesmo. Isso não é um diálogo’. ‘Alguém precisa escutar’, respondeu o Sapo, ‘e eu gosto de falar o tempo todo sobre mim mesmo. Isso economiza

José Sacadura Eneida Cabrera Distribuição Interna Firmes nos propósitos e ideários educacionais, somos a favor do humanismo em todas as suas formas e temos como objetivo existencial maior resgatar a dignidade, o comportamento ético e a cidadania de nosso povo, e de todos os povos dominados e explorados, sem, contudo, descorar da sublime liberdade de cada um para se encontrar a si mesmo.


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