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Odisseia americana

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Viagem no tempo

Viagem no tempo

Hoje em dia o segmento trail está na moda, mas poucos se lembram que a marca americana fabricou um dos primeiros modelos asfálticos deste século. A Ulysses apareceu no catálogo em 2006, herdando toda a desportividade de uma Harley-Davidson V-Twin retocada, juntamente com as soluções técnicas inovadoras, que tornaram a Buell célebre. A junção dos termos moto e aventura tem uma longa história.

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12.000 EUROS

Ficha T Cnica Buell Ulysses Xb12x

Pontua O

Aestrada pode acabar, mas a condução continua”. Este foi o slogan da Ulysses há 17 anos, um produto muito específico, orientado para a aventura que representava perfeitamente esta visão tão ousada e inovadora de que sempre fizeram gala as motos de Erik Buell. “Em estradas secundárias, temos a sensação de que há uma nova aventura à espera em cada curva, para além da serpente asfaltada”; palavras sábias do técnico americano.

Hoje, esta XB12X, com um design discutível, seria colocada dentro das trail asfálticas desportivas, por integrar umas jante dianteira de 17”, mas, naquela época, a Ulysses foi mal compreendida, porque teve pouco impacto nas vendas, talvez porque estava já muito à frente daquilo que era a “moda” na época.

O que teria acontecido se tivesse sido lançada 10 anos mais tarde? Provavelmente, teria tido uma história diferente.

Em 2009, o seu último ano no mercado, sofreu uma atualização, baixando a potência para 94 cv, ganhando rpm, aumentando o diâmetro das barras da forquilha a 47 mm para ganhar rigidez e 20º de ângulo de direção.

Um Vision Rio

Quando, nos finais dos anos 70, Erik Buell correu as míticas 200 milhas de Daytona como um simples aficionado, não imaginava o que o futuro das duas rodas lhe reservava.

Alguns anos mais tarde, deixou o seu trabalho como engenheiro da HarleyDavidson para construir a sua primeira moto, a Buell RW (Road Warrior) 750. Em 1983, iniciou a sua carreira, até 1998, quando a mesma HarleyDavidson comprou a sua empresa, para tentar esculpir um nicho no já saturado mercado naked sport, com um produto autêntico e pessoal. Na sua última fase, Buell apresentou um catálogo de seis variantes: naked de média cilindrada, naked de grande cilindrada, naked de baixa cilindrada, supermotard, trail asfáltica e trail mista.

Em 2009 essa fase terminou e, atualmente, estas motos são admiradas e galardoadas pelos curiosos e colecionadores.

Todos os modelos da Buell Motorcycle Company baseavam-se em três conceitos que foram defendidos até à morte: centralização de massas, rigidez do chassis e peso mínimo não suspenso.

A Buell XB12X não foi exceção e incorporou esta lista de especificações que só os americanos levaram à sua máxima expressão. Escape debaixo do motor, disco de travão dianteiro perimetral, chassis de alumínio com depósito de combustível integrado,

TEMOS DE CONHECER AS MOTOS “DO ANTIGAMENTE”, E VALORIZÁ-LAS MAIS DO QUE NUNCA

braço oscilante com depósito de óleo do motor e pouca distância entre eixos, foram as caraterísticas identitárias que marcaram esta “fornada” de motos fun bike. A isto, há que acrescentar à Ulysses uma outra lista de referências, relativamente ao equipamento de série, como o grande motor VTwin Thunderstorm 1.203 cc, de ar-óleo com 100 cv, para-brisas baixo, guarda-lamas alto tipo “bico de pato”, protetor de manetes e um assento de dois lugares de uma única peça com um bom espaço de armazenamento em baixo.

Além disso, incluía suspensão Showa, amortecedor com botão de pré-carga, protetor de farol dianteiro, transmissão secundária por correia dentada, pneus Dunlop mistos exclusivos, entradas duplas de energia (10A no painel de instrumentos e 12V debaixo do assento) e um encosto, prático e inclinável, para o passageiro, denominado “Triple Tail”. Caso conduzíssemos sozinhos, este servia como porta-bagagens mas, se fossemos com um pendura, havia o espaço de armazenamento “tradicional”. Malas laterais, punhos aquecidos e sistema de navegação eram opcionais. Estava disponível em duas cores: laranja ou preto, ambas com o chassis em cinzento.

Mitologia Pura

Nos poemas homéricos da mitologia grega, Ulisses (também chamado de Odisseu) era caracterizado pelo seu brilhantismo, astúcia e versatilidade, e a revisão posterior ganhou um pouco mais: 7.100 rpm. As rotações ótimas situavam-se entre 4.000 e 6.000 rpm. Os argumentos eram: conduzir em plano “on-off” a todo o gás e deixá-la correr em curva; aproveitar bem a travagem do motor em redução e o seu chassis desportivo.

A curta distância entre eixos fez o milagre da agilidade extrema, e assim o nosso corpo ia muito relaxado e não tão “ao ataque”, como acontecia com o resto das suas irmãs do catálogo na altura. Isto significava que, além de ser um verdadeiro brinquedo em curvas lentas e apertadas, onde se podia exprimir toda a força bruta do motor e fazer mudanças de direção muito rápidas, admitia bem um uso modera- do em estradas rápidas, até que nos cansar da pouca proteção existente, devido ao seu para-brisas baixo.

O guiador largo também ajudava, algo essencial para podermos desfrutar a 100%. É importante ressalvar o seu baixo centro de gravidade, o que facilitava todos os movimentos.

Com Muito Tacto

Em estradas de terra ou gravilha, era preciso ter tacto e não nos deixarmos levar porque, sem ajudas eletrónicas ou diferentes modos de condução, era fácil que a XB12X ficasse fora de controlo e pudesse haver algum contratempo, quando menos esperássemos.

A progressividade e a suavidade dos modelos atuais era utópica para a época em que esta V-Twin nasceu; a correia dentada oferecia um tacto muito direto, uma conexão instantânea entre o acelerador e a roda e, por isso, bastava brincarmos um pouco com o motor e voltarmos para o asfalto, onde era o seu verdadeiro “parque infantil”.

Se tivesse sido equipada com jantes dianteiras de 19”, mas ainda assim... Os seus duzentos e poucos quilos de peso eram um recorde de leveza na altura para esta categoria, algo que refundia a desportividade que esta marca emanava. Iremos sentir sempre saudades dela...

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