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Bem-vindos ao futuro
DESDE 16.800 EUROS
A Harley-Davidson reinventou a sua reputada Sportster, tendo lançado agora uma moto completamente nova que se demarca claramente do passado. A maior novidade é o Revolution Max 1250T, um motor inédito com refrigeração líquida e admissão variável. Quem disse que a Sportster iria apenas passar por um restyling, uma lavagem de cara, enganou-se redondamente. É muito mais do que isso. É a nova corrente Harley-Davidson: o futuro.
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Depois de desfrutar de uns bons anos a testar diferentes representantes da linhagem Sportster, como companheiras de viagem e com elas convivendo em tantas outras jornadas de estrada, é com estranheza que monto esta Sporstster S. De início, porque não tem rigorosamente nada a ver com as suas ancestrais antecessoras e, tendo já espreitado a sua ficha técnica, é igualmente chocante saber que rende nada menos do que 122 cv, dispondo o seu motor de refrigeração líquida e de cabeças com admissão variável. Afinal, o que é isto? É, precisamente, o que pôde ler na entrada deste artigo: a Sportster S representa o futuro da Harley-Davidson. Aqueles que levavam as mãos à cabeça sempre que se ouviam vozes de alerta sobre a chegada da norma Euro 5, e o que isso iria afetar a marca da águia, aqui têm a reação vinda diretamente dos “States”. Será que alguém realmente acreditou que iriam ficar de braços cruzados à espera do fim dos seus dias?
A toda-poderosa Pan America e a nova Sportster S são dois exemplos claros de “ação-reação”. Não se poderia pedir mais a uma marca tão lendária quanto imprescindível no panorama motociclístico internacional. Chapeau.
CORRENTE “FLAT”
A anterior fórmula “long & low” surge aqui interpretada no sentido mais estrito do termo… Pelo menos, na aparência. Esta H-D é muito baixinha e tem um ar denso, mas é tão comprida quanto a anterior Sportster 1200, com os 1520 mm de distância entre eixos a enfatizarem a presença alongada. Felizmente, o aspeto encorpado não se reflete no peso, o anterior modelo acusava 247 kg na balança, agora ficase pelos 228 kg – por algum motivo a Harley-Davidson apresenta a sua nova protagonista na categoria “Sport”. É o resultado de uma tendência mais atual, fresca e divertida, inspirada nas motos flat-track e que assenta como uma luva na Sportster S. Repare na sua estrutura, nas formas compactas e minimalistas, desde o grupo ótico dianteiro ao farolim, passando pelo reduzido guarda-lamas traseiro ou
A opinião do jornalista
Tão longe que estão as anteriores Sportster. A nova S é toda uma declaração de intenções sobre como a Harley-Davidson encara o futuro. Um sucesso absoluto.









Os pousa-pés estão um pouco avançados demais, caso se pretenda uma postura desportiva aos comandos. Em opção, há outros mais recuados recuados a pela dupla de ponteiras sobrepostas na lateral direita… E não poderiam faltar os pneus gordos, com assinatura Dunlop e desempenho dinâmico realmente surpreendente.
Na verdade, todos os componentes da Sportster S têm uma razão de ser, um nexo de união com o conjunto que não passa despercebido. Até mesmo as fixações que “mordem” o guiador negro têm aprumo estilístico.
A propósito: parabéns à amplitude de movimentos permitida pelos batentes da direção. Já não há razões para reclamar do que custa manobrar uma Sportster. A colocação dos retrovisores nas extremidades do guiador é outro detalhe estilístico interessante, mas que obriga a cuidados sempre que passamos entre filas de trânsito, para não ter um desfecho indesejado. Não se preocupe, porque esta Harley -Davidson tem argumentos de sobra para compensar eventuais “contras”. Há muitos exemplos. Podemos escolher um ao acaso, como o bocal do depósito de combustível agora (finalmente) fixo à estrutura do tanque. Para aqueles que gostam de acelerar e de tirar proveito da dinâmica apurada, só há aqui um pequeno “mas”: a Sportster S não leva mais do que 12 litros de gasolina 95. Isto quer dizer que, se subir consideravelmente o ritmo, não conseguirá ultrapassar a barreira psicológica dos 150 km entre abastecimentos. É um facto que a autonomia é algo limitada, um dano colateral derivado da filosofia “flat”. No entanto, é tão atraente e dinamicamente convincente que, em pouco tempo, qualquer inconveniente cai no esquecimento.






Brembo A Resposta
Se à primeira vista ficar surpreendido com a montagem de apenas um disco naquele poderoso trem dianteiro, com bainhas de 43 mm de diâmetro e ajustes de compressão e retorno em ambos os lados da forquilha, não deixe que o ceticismo o leve a desesperar. A razão é simples: se foi a Brembo a encarregar-se do desenvolvimento, pode ficar descansado quanto à capacidade de travagem da Sportster S. O tato da manete é direto e preciso a alta velocidade, notando-se apenas a ação algo conservadora quando se conduz a ritmos mais moderados, possivelmente para estabelecer um compromisso entre utilizadores mais aguerridos e aqueles que simplesmente desejam passear tranquilamente com esta Harley. Objetivo cumprido. O mais certo é ficar convencido logo na primeira sessão de condução, poucos quilómetros bastam para ganhar habituação. quer problema, a Sportster S acaba por obedecer às nossas ordens com imediatismo e de forma nobre.

As óticas LED estão integradas num farol que se adapta perfeitamente ao estilo da Sportster S .




Os módulos de comandos são idênticos aos da Pan America. Os botões são numerosos, mas são bem definidos e fáceis de alcançar.
Como já o disse, depois de muitos anos de convívio com velhas Sportster, é revelador estar agora montado nesta S. O assento monolugar deste modelo é cómodo e está bem próximo do solo, notando-se apenas que o seu formato obriga a ficar de pernas mais abertas ao pararmos. A maior leveza e a postura correta dos comandos tornam as manobras muito fáceis de realizar, nem sequer aquela grossa “borracha” dianteira torna direção mais pesada. Somente em curvas rápidas ou mudanças de direção mais pronunciadas fica a impressão inicial de que a moto tende a empurrar-nos para fora, um jogo de forças que é facilmente contrariado com um toque de guiador no sentido oposto ou puxando-a novamente para o interior com a colocação do corpo. Sem qual-
Se falamos de nobreza, não há melhor exemplo do que o tato e comportamento da sua caixa de seis velocidades, assistida por uma embraiagem que é tudo menos dura. Mais um feito a somar à longa lista de melhorias. Na realidade, quase dispensa a sua atuação quando se passa à mudança seguinte em médios regimes e, embora o seletor tenha um curso generoso, o engreno é conciso, positivo e não gera esticões.

Mais A O
Por se tratar de uma Sportster, suponho que o seu âmbito primordial seja a cidade e os trajetos interurbanos, está incutido no seu caráter. Porém, esta nova faceta “flat-tracker” alargalhe o raio de ação. Os 122 cv buscam traçados onde possam ser soltos e testar as qualidades dos Dunlop, os quais foram especialmente desenvolvidos para esta moto. Não há que temer a capacidade de travagem, mas sim a possibilidade de acumular pontos na carta de condução, porque esta Harley-Davidson é mesmo rápida. Dito de outra forma e já no terreno, passa facilmente pela marca dos 200 km/h se for esse o propósito, bastando selecionar o modo Sport no mostrador
UMA DAS MOTOS MAIS REBELDES E DIVERTIDAS, NÃO SÓ DA H-D COMO DE TODO O MERCADO


digital e ir esticando mudanças até à 6ª relação de caixa. É aqui que surgem alguns problemas de suspensão, em grande parte devido ao reduzido curso do amortecedor traseiro. Embora tenha afinação remota da pré-carga, o que é de agradecer, a diferença entre “máximo” e “mínimo” não oferece muita margem para uma correta absorção. Esta é mais uma contingência por conta do conceito “Flat”, muito atrativo à vista, mas limitativo quando
Indian Ftr
A única rival direta também vem dos EUA, propondo igualmente a estética “flat-track” com motor V-twin de refrigeração líquida. O preço da Indian é mais atrativo.

se trata de enrolar punho. Em todo o caso, mesmo que a unidade testada não tenha avisadores nos pousa-pés, não é difícil raspá-los pelo asfalto à medida que a estrada se torna mais serpeante. É tal a confiança transmitida pela ciclística que o mais certo é atingir-se primeiro o limite humano, numa máquina que pede bom asfalto para dela se tirar o melhor proveito. O poderio mecânico, bem moderado pelo controlo de tração, e a natureza dura do amortecimento formam um cenário muito mais divertido do que seria de imaginar. Seja bem-vindo ao futuro Sportster… S.


Conclus O
É apenas por meros detalhes que esta americana não alcança a pontuação máxima e, com o passar o tempo, é possível que venham a ser corrigidos. Por ora, esta é a Sportster mais atrevida e divertida da história, com um motor suave a baixos regimes e “infinito” em altas rotações, uma ciclística firme na qual se pode confiar e um visual que, tanto pela novidade como por mérito próprio, faz girar cabeças à sua passagem. Pode dizer-se que é uma beleza inata.


