FOCA#02 2019

#02 EDIÇÃO

AN0 20

A ‘PORTA DA RUA’ NÃO É A SERVENTIA DA CASA

Como a solidariedade pode mudar a vida de moradores de rua PÁGINAS 16 A 19

N E S TA E D I Ç ÃO

DINHEIRO COMO FERRAMENTA DE CIDADANIA PÁGINAS 10 E 11 VOLUNTÁRIOS EM PROL DOS ANIMAIS DE RUA PÁGINAS12 E 13 SÃO JOSÉ QUE GERA VERSOS PÁGINAS 22 E 23 VINGADORES, AVANTE! PÁGINAS 26 E 27 A UNE NOS TEMPOS DE CHUMBO PÁGINAS 32 E 33 IMPACTOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO PÁGINAS 34 E 35

EDITORIA

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ÍN DICE

AÇÃO DE VOLUNTÁRIOS BUSCA AMENIZAR O SOFRIMENTO DOS ANIMAIS DE RUA SOLIDARIEDADE

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NA PALMA DA MÃO TECNOLOGIA

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CAOS NA SAÚDE CAOS NA SAÚDE

A ODISSEIA DE VIVER SOZINHO COMPORTAMENTO

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SÃO JOSÉ QUE GERA VERSOS LITERATURA

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A UNE NOS TEMPOS DE CHUMBO HISTÓRIA

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O AMBIENTE DE TRABALHO PODE CAUSAR IMPACTOS PSICOLÓGICOS SAÚDE

VINGADORES, AVANTE! ENTRETENIMENTO

CONEXÃO JUVENTUDE SERVIÇO PÚBLICO

ANDAR POR AÍ SOCIEDADE

COLABO RADORES

FILHAS DAS ESTRELAS CIÊNCIA

CENA TEATRAL EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS CULTURA

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ALÉM DAS RUAS SOCIAL

DINHEIRO COMO FERRAMENTA DE CIDADANIA ECONOMIA

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1 - Alessa Ribeiro 2 - Alexia Silva 3 - Amanda Kassis 4 - Beatriz Plaça 5 - Catherine Paixão 6 - Claudineia Rodrigues 7 - Cristina Basílio 8 - Cristina Mariano 9 - Daniela Bueno 10 - Danilo Costa 11 - Fernanda Geovana 12 - Gabriel Graciano 13 - Gabriela Barreto 14 - Giovana Colela 15 - Giovana Loureiro 16 - Gustavo Ferreira 17 - Heitor Oliveira 18 - Júlia Santos 19 - Lavinia Faria 20 - Leonardo Fernandes 21 - Leticia Keller 22 - Maria Clara Rolin 23 - Marjorie Silva 24 - Matheus Andrade 25 - Micaela Gianello 26 - Natasha Freitas 27 - Nelson Freitas 28 - Paulo Ricardo 29 - Rafael Costa 30 - Sofia Capellari 31 - Thamires Trindade 32 - Vanessa Trois 33 - Victor Barreto 34 - Vittoria Lima 35 - Wanderson Luiz 36 - Yasmin Ferreira 37 - Prof. Fredy Cunha 38 - Prof. Lucaz Mathias 39 - Profª. Dra. Elizabeth Kobayashi

EXPEDIENTE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO (FCSAC) – TURMA 2019 REITOR Prof. Dr. Jair Cândido de Melo DIRETOR DA FCSAC Prof. Msc. Celso Meneguetti COORD. DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira EDITOR-CHEFE Prof. Esp. Fredy Cunha (Mtb 47292) PROJETO GRÁFICO Prof. Esp. Lucaz Mathias e Alunos do 6º período de Jornalismo CONSELHO EDITORIAL Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira, Prof. Esp. Fredy Cunha e Profa. Profª. Dra. Elizabeth Kobayashi Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP Av. Shishima Hifumi, 2.911, Urbanova, São José dos Campos – SP 12.244-000 / Tel.: (12) 3947-1083, www.univap.br Dúvidas e sugestões pelo e-mail: fredy.cunha@univap.br.

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REVISTA LABORATÓRIO FCSAC/UNIVAP - S. J. CAMPOS - ANO 20, EDIÇÃO 2 - 2019

EDITORIAL

O PODER DA INFORMAÇÃO POR PROF. FREDY CUNHA

Serviços, entretenimento, arte, terceiro setor, comportamento, economia, saúde, história, mercado de trabalho... Os temas são variados e as abordagens sempre diversas. O que não difere é o desejo de reportar boas informações. E, neste caso, independentemente do assunto escolhido, este desejo é um dos ‘nortes’ de qualquer jornalista.

O cuidado com a informação é e sempre deve ser muito criterioso. Desde a escolha do assunto a ser reportado, passando pelas entrevistas com aqueles que darão vida ao nosso conteúdo, até a chegada da fase de escrita da reportagem, tudo deve ser feito com muito cuidado. Afinal, a informação que estamos processando e passando adiante é a ‘pedra preciosa’ do nosso trabalho. Cabe a nós, jornalistas, passá-la às outras pessoas com a maior responsabi-

lidade que for possível ter.

E é isso que este jovem grupo de aspirantes a jornalistas vem realizando quando se dedica a aprender teoria e prática desta nobre profissão, o Jornalismo.

Assim como em outras áreas, o estudante pode levar este processo de qualquer jeito, sem muito interesse. Mas não é o comportamento que devemos (ou podemos) ter. Isso não cabe para quem escolheu o Jornalismo como caminhada profissional.

Zelo, dedicação, cuidado e carinho (muito carinho!) pelo que faz devem ser algo presente no passo a passo do jornalista.

Afinal, lidamos com algo sério e bastante poderoso: a informação!

E, assim, entregamos uma nova edição de nossa revista a você, leitor. Sempre com o desejo de que você tenha uma excelente leitura!

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TECNOLOGIA

NA PALMA DA MÃO HÁ TEMPOS AS NOVAS TECNOLOGIAS PROCURAM RECURSOS PARA MELHORAR A EXPERIÊNCIA DOS USUÁRIOS NAS REDES, trazendo mais agilidade e comodidade, agilidade essa que faz com que o consumidor tenha todos os meios necessários na palma da mão na hora de pedir uma refeição. Os aplicativos de delivery oferecem variados tipos de comidas dos mais diversos restaurantes, sendo possível fazer o pagamento no ato da compra pelo próprio app. O serviço de delivery vem crescendo cada vez mais no país.

POR DANIELA BUENO E YASMIN FERREIRA

Vivemos em tempos em que a paciência é uma dádiva, as pessoas desejam as coisas de imediato e isso vale, também, para os serviços de delivery. Antigamente, os pedidos eram feitos por telefone e era necessário ter o contato do restaurante em questão ou procurá-lo na lista telefônica. Sem

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controle sobre o pedido, todos precisavam esperar pela estimativa informada pela telefonista e aguardar que o entregador chegasse no destino final – a casa do consumidor. Hoje, com a chegada dos aplicativos de delivery, desenvolvidos especialmente para esse fim, é possível escolher o restaurante e sua refeição na palma da mão.

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A diferença é que os preços estão atualizados, existem cupons de desconto, a produção e a entrega são monitoradas e todas as transações são feitas online, até mesmo o pagamento – para a felicidade dos usuários.

O iFood, criado em 2011, é um dos exemplos de aplicativos que trazem mais comodidade ao consumidor. A empresa é brasileira e ainda não deslanchou para o mundo, mas o destaque colaborou com o surgimento de concorrentes para esse negócio no Brasil. A Rappi, de origem colombiana, promete entregar qualquer pedido em até uma hora, seja comida ou qualquer necessidade do usuário.

E o Uber aproveitou o sucesso do seu aplicativo de locomoção e lançou, em 2015, o Uber Eats, um apli-

cativo autônomo e o primeiro da empresa após o sucesso do de mobilidade. O serviço chegou na cidade de São Paulo em dezembro de 2016, antes de se expandir para outras cidades do Brasil.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Qualibest, realizada em outubro de 2018, apontou o iFood como o aplicativo preferido dos fregueses.

A pesqu i s a

aponta que um dos diferenciais da empresa é o investimento no marketing da marca. Cerca de 80% dos participantes da pesquisa, que somam 2.011 homens e mulheres, afirmam ter visto ou ouvido algum comercial. O aplicativo que aparece em segundo lugar é o Uber Eats, citado por 32% dos respondentes.

Raphaela Hulack, por exemplo, disse à Revista Foca que tem preferência pelo uso do aplicativo.

A estudante de Direito, 22 anos, que é de Jacareí e, atualmente, mora em Belo Horizonte, está longe da família e não cozinha. O iFood e o Uber Eats são seus principais meios para pedir comida ao longo da semana. A professora Tathiana Mariano, 22 anos, de Jacareí, também é adepta dos apps, mas por outro motivo. Segundo ela, falar no telefone nunca foi algo

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* preferiu não se identificar

A tecnologia está em constante evolução, facilitando cada vez mais a vida dos consumidores. Essa mudança também trouxe comodidade na hora de pedir uma refeição.

TECNOLOGIA

que gostou de fazer e a praticidade de pedir o que quiser comer, sem sair de casa, é um motivo crucial para usar os deliveries pelo menos quatro vezes no mês.

Mas isso não quer dizer que os adeptos à moda antiga desapareceram. Mesmo com uma grande porcentagem de pessoas consumindo esse tipo de produto, boa parte dos brasileiros não utiliza nenhum dos aplicativos, preferindo retirar produtos no balcão e/ou sair para comer fora. Em média, 20% dos consumidores - segundo a Qualibest - ainda consideram a ligação direta como o seu modo preferido de fazer pedidos. Apesar de muitos considerarem usar o iFood, reafirmando o quanto o aplicativo é um dos preferidos, muitos ainda consideram utilizar o Uber Eats e a Rappi, que perde até mesmo para as ligações diretas, com 11% dos intuitos de uso.

Segundo dados da Associação

Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), os aplicativos de delivery movimentam cerca de 1 bilhão de reais a cada ano e têm se tornado a maior fonte de renda de 4 milhões de trabalhadores autônomos.

O aumento do consumo nesse segmento gerou a necessidade de mais entregadores para cobrir um perímetro. Os aplicativos possuem seus próprios motoboys e também costumam lucrar nesse quesito. As porcentagens cobradas para o uso de funcionários do próprio iFood para entrega é maior do que a cobrada quando os restaurantes usam seus próprios entregadores.

Josué Emílio de Souza, de 52 anos, conhecido como Ganso, é proprietário de uma lanchonete no bairro Urbanova, em São José dos Campos, que leva o seu apelido. Em entrevista à Foca,

contou que o Ganso Lanches usa dois aplicativos de delivery, mas as ligações pelo telefone fixo continuam as mesmas e a quantidade dos pedidos é a mesma para as duas plataformas. A preferência é pelos motoboys da própria lanchonete, confirmando que o custo para usar entregadores próprios é menor do que quando se utiliza os do aplicativo.

A preferência dos motoboys é clara: trabalhar com os aplicativos. De acordo com Fábio Carvalho, de 32 anos, e Anderson* utilizar o software de delivery é um benefício. Além de concordarem que os apps geraram emprego para diversos tipos de entregadores – os que utilizam bicicleta ou fazem o serviço a pé –, a possibilidade de organizar a própria rotina de trabalho é o que os influencia a não serem terceirizados.

PESQUISA PERFIL DOS USUÁRIOS DE DELIVERIES Fonte: Instituto Qualibest – outubro/2018

Ocasiões mais utilizadas

67% 46% Fim de Semana e Feriados

Quando não têm tempo para preparar algo em casa

Reuniões em casa (happy hour)

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Jantar comum durante a semana

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Comer alguma coisa diferente

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Quando não dá pra sair pra comer

Lanches entre as refeições

COMPORTAMENTO

AODISSEIA DE VIVER

SOZINHO POR CLAUDINEIA RODRIGUES, DANILO PEREIRA E GABRIEL GRACIANO

Maria Rosária sente na pele a dificuldade de morar sozinha. Aos 21 anos, experimentou pela primeira vez viver em um lugar com diversas pessoas e longe da família, em Ubatuba.

“A casa que eu ia alugar já estava ocupada, então tive que procurar outro lugar em três dias. Achei a república e não gostei da ideia de ser tudo compartilhado, mas era o que tinha no momento.”

A falta de escolhas foi o seu primeiro desafio. Ela passou por duas casas até encontrar o lugar em que vive hoje. Rotina à que não estava acostumada. Nos primeiros dias não se sentia à vontade, parecia que faltava ‘um pouco de lar’ na nova residência. Encontrou uma forma de tentar diminuir os impactos e a solidão. Para fugir da rotina, buscou outras distrações. A universitária contou à revista que, assim que se mudou, começou a

fazer ballet e jazz perto de onde morava. Mas precisou parar por conta dos estudos. Um empecilho que se repete na vida de muitos estudantes que também moram sozinhos.

Mark Armah tem algumas dificuldades ainda maiores, pois veio de longe. Um africano, nascido em Gana, que se dispôs a estudar Astrofísica, algo muito distante da realidade do seu povo (é ao mesmo tempo uma ousadia e um desafio). Como você já deve ter percebido, ele também vive sozinho, em São José dos Campos.

Pelo menos mora em uma república próxima da faculdade, o que facilita bastante o trajeto

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COMPORTAMENTO

QUANDO MOR CURSAR A FA NO AUTO DES que faz a pé todos os dias, bem cedinho. Antes de todos levantarem, ele já está preparado para enfrentar o dia. Passa boa parte dele montando uma tese de mestrado sobre Astrofísica. Existe uma lacuna grande entre a maioria dos jovens e Mark. Além de não dominar o Português, encontra poucas pessoas interessadas em assuntos como supernovas, buraco negro e partículas espaciais que são incógnitas para a NASA. Ele diz que a experiência, mesmo que difícil, não é ruim de nenhuma maneira.

Muitas pessoas estão tentando ajudá-lo a entender a língua. “É uma característica dos brasileiros serem muito receptivos”, diz o estudante.

Muitos fatores são importantes na hora de tomar a decisão de morar sozinho.

Segundo o IBGE, o número tem aumentado. São 15% das residências

nesse modelo, um acréscimo de 40% nos últimos dez anos. Fatores como longevidade, independência e renda estão no topo da pesquisa, mas estudar também está incluso nessas estatísticas.

OBJETIVOS Para Maria Rosária, foi a distância que falou mais alto. Todos os dias, ela percorre 33 quilômetros de casa até o trabalho. E ainda precisa acordar mais cedo para ter tempo hábil de chegar no horário de bater o ponto. Tudo isso mudou o rumo da estudante. É preciso abrir mão de horas de sono para alcançar o objetivo.

Marcos Vinícius tem 20 anos e é estudante de fisioterapia na UNESP de Marília. A universidade fica no interior do estado de São Paulo. E, por isso, teve que deixar o conforto da casa dos pais e encarar os compromissos da vida adulta.

Conseguiu passar em uma faculdade que é cobiçada e concorrida entre os estudantes. Apesar de depender financeiramente dos pais, a cada dia conquista mais autonomia. O fator independência foi muito positivo para ele.

Morar sozinho e estudar todos os dias em uma universidade pública proporcionam ao Marcos a

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ORAR SOZINHO E ACULDADE AJUDA ESENVOLVIMENTO vantagem de passar por experiências e aprendizados que, provavelmente, estando na casa da família, não seriam possíveis. Hoje, considera-se mais maduro por viver de uma maneira que jamais imaginou. Orgulha-se de dar conta de tudo, apesar dos tropeços no meio do caminho. Já são dois anos nessa jornada, conciliando as obrigações de ser um ‘dono de casa’, com a vida de estudante. “Foi um pouco difícil, demorei para pegar o ritmo do curso que faço e para fazer amizades. Pensando hoje, percebo que o desafio me incentivou a ser uma pessoa mais comunicativa e empática. Quando se tem pais por perto e eles te apoiam, parece que fica tudo mais confortável também”.

JORNADA Todas essas histórias têm uma relação com uma palavra do título desta reportagem. A Odisseia, além de ser sinônimo de jornada, caminho longo, é um conjunto de poemas escritos por Homero, anos antes do nascimento de Cristo.

Ulisses, o personagem principal, sempre foi cercado pelo amor de sua família, tinha um filho (Telêmaco) de pouca idade e uma esposa, quando precisou ir para a histórica guerra de Troia, na Gré-

cia. Passou por muitas dificuldades, promoveu artimanhas e até desenvolveu um cavalo gigante para esconder seus comparsas até chegar a hora de retornar para casa.

Esse retorno não foi nada fácil também. Ele enfrentou a fúria dos deuses, tempestades fortes, tentações para mudanças de caminhos, feiticeiras e cantos de sereia. Toda essa aventura durou 17 anos. No âmbito dos estudantes, as jornadas e odisseias são outras e duram menos tempo. Apesar disso, ainda assim constroem. Fazer trabalhos dentro do prazo, enfrentar a faculdade e o estágio, aprender a lidar com pessoas diferentes das que estão dentro do costume, passar dias doente sem a presença da mãe e não ter o famoso ‘chazinho milagroso’, sempre acompanhado de um remédio.

Para a psicóloga Lauren Menocchi, de São José, essa fase vale muito a pena, pois o mundo é muito amplo e com diversas oportunidades. Ela mesma estudou em Minas Gerais e precisou morar sozinha. Lembra que teve que aprender a se organizar, economizar dinheiro, pagar contas, cozinhar, lavar roupas...

Mas ‘sobreviveu’. Hoje, dá aulas em universidades e até dá entrevistas sobre como lidar com os desafios de morar sozinho, se planejar e programar as atividades para conseguir dar conta de tudo no final.

Ela diz que é um processo importante para conhecer as dificuldades e os talentos. Dá para perceber muito sobre si, exercitando a tarefa de fazer uma lista de compras, enfrentando uma fila em um banco, tendo a rotina de pensar no quanto vai gastar para comer a semana toda, lembrar que terá que cozinhar e achar uma maneira produtiva de armazenar tudo na geladeira.

Todos deviam passar por isso.

Independentemente da condição financeira, se é antes ou depois de Cristo, da distância de casa ou do curso que o estudante escolheu, a experiência de se soltar dos laços familiares e sair pelo mundo faz parte da vida. O importante é abrir-se e permitir-se vivenciar, aceitar e se esforçar para ultrapassar os obstáculos.

No fim, a odisseia termina com uma porção de histórias para contar e, até quem sabe, virar texto ou um livro best-seller.

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ECONOMIA

DINHEIRO COMO F

CIDAD POR BEATRIZ PLAÇA, NATASHA FREITAS E WANDERSON LUIZ

Pesquisa feita com jovens e adultos aponta que 91% nunca leram ou ouviram falar em Cidadania Financeira

Dinheiro é uma responsabilidade do cidadão e poupar as finanças durante o mês não é tarefa fácil, ainda mais quando existem diferentes modos de facilitar as compras, como parcelar no cartão de crédito. De acordo com o Banco Central do Brasil, a cidadania financeira abrange todos os direitos e deveres que permitem à população gerenciar de forma correta os recursos financeiros. Um jovem que aprende sobre finanças tem mais chances de se tornar um adulto mais estável.

Em uma pesquisa com 68 pessoas, a partir de 18 anos, identificou-se que 91,2% nunca ouviram

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falar sobre cidadania financeira, porém 65,7% já foram orientados sobre educação financeira em casa, pelos amigos ou até mesmo por meio de livros e revistas.

A Prefeitura de São José dos Campos, por exemplo, busca começar a criação de uma geração de pessoas independentes financeiramente, a partir dos mais novos. Segundo a Secretaria de Educação e Cidadania do município, o objetivo é que as crianças aprendam desde cedo a utilizar o dinheiro de maneira saudável e consciente para a realização de seus sonhos. Os alunos do sexto ao nono ano da rede de Ensino Municipal participam duas vezes por semana de aulas de enriquecimento curricular, em que são trabalhados os temas: consumo sustentável, educação fiscal, educação financeira e educação empreendedora.

Ainda assim, mesmo com o apoio do governo, existem muitas pessoas que não conseguem administrar a vida financeira. A economista Quésia Postigo, de

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São José, diz que os jovens devem sempre buscar gastar somente o que têm e fugir das inúmeras formas de parcelamento.

A pesquisa apontou que quase 73,5% possuem ao menos um cartão de crédito e aproximadamente 10% não possuem, além de 77,9% têm o costume de parcelar suas compras, o que pode ser arriscado se o uso não for devidamente planejado. “É importante saber administrar o uso do cartão de crédito. Ele possibilita planejar os pagamentos em uma única data que deve ser próxima ao recebimento do salário, facilita também as compras não planejadas que levam o jovem a exceder os gastos, sendo eles maiores que o recebimento.

Desse modo, as consequências são as dívidas”, afirma a economista.

Tainá Luz, 22 anos, estudante na grande São Paulo, e ela conta a sua dificuldade em fechar o mês no azul com o uso do cartão de crédito, já que vive com duas amigas e precisa ter esta responsabilidade financeira. “Eu já me endividei mais de uma vez, nunca tive nada de educação financei-

FERRAMENTA DE

DANIA ra. Para mim, a maior roubada é fazer milhões de parcelamentos, que quando somados podem virar uma fatura de mil reais facilmente. Ultimamente, eu ando me preocupando mais com o assunto e comecei a guardar dinheiro”.

Todos os fatores que geram conhecimento e aproximação com o dinheiro, como a inclusão financeira, a proteção ao consumi-

dor, além da educação em relação às finanças, geram uma sociedade mais preparada para o futuro e engajada na cidadania. “A educação financeira e cidadania financeira são importantes em todas as idades. Aos jovens, as boas escolhas das finanças valorizam os planejamentos para a realização dos projetos tanto atuais quanto futuros”, finaliza Quésia.

“Aos jovens, as boas escolhas das finanças valorizam os planejamentos para a realização dos projetos tanto atuais quanto futuros” Quésia Postigo

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SOLIDARIEDADE

AÇÃO DE VO busca amenizar o sofrim

A luta de instituições sem fins lucrativos que acolhe POR FERNANDA NIQUIRILO E GIOVANA COLELA

Cães e gatos são os pets mais queridos da população, mas você sabia que ainda assim existem muitos deles abandonados e sem um lar? Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2016, só no Brasil 30 milhões de animais viviam nas ruas. Destes, 20 milhões são cachorros, enquanto 10 milhões são gatos.

Em algumas cidades, o Poder Público tem atuado para proteger esses bichinhos, mas esses esforços não são suficientes e as ONG’s, os protetores independentes e instituições acabam fazendo um papel importante de auxílio nesse trabalho. Os animais que são acolhidos por essas instituições exigem cuidados especiais, como castração, aplicação de vacinas, vermífugos e controle da alimentação.

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Vale ressaltar que as instituições ou ONGs não resgatam os animais da rua. As pessoas os levam para a organização para serem cuidados, aí sim a instituição pode acolher, como também pode auxiliar a pessoa a cuidar desse bichinho, indicando veterinários, dando remédios e comida.

Entre as entidades que ajudam todos os dias a salvar animais, está a Instituição Marilu Godói, que atua em São José dos Campos e realiza ações preventivas por meio de projetos educativos em escolas e feiras de adoções.

Ao conversar com a fundadora da instituição que leva seu nome, a protetora Marilu Godói diz que já nasceu com a missão de ajudar os animais e,

há quase 30 anos, os abriga em sua casa, cuida e promove as feiras de adoção todos os fins de semana em São José.

A instituição realiza palestras em escolas para explicar e conscientizar as crianças sobre a importância da guarda responsável. Segundo a protetora, educar ainda na infância é mais fácil do que reeducar um adulto, pois no futuro saberão como tratar bem os animais. Só com educação é possível mudar o país.

Marilu explica que nas feiras, ao adotar um animal, existe um termo a ser assinado no qual o adotante coloca os seus dados e recebe os dados do animal. Após o termo assinado, a pessoa tem direito de sete dias de adaptação do animal dentro de casa e, se por algum motivo dentro desse prazo, não for possível essa adequação, o adotante pode entrar em contato com a instituição, que aceita o animal de volta até que ele encontre um novo lar.

OLUNTÁRIOS mento dos animais de rua

em bichos abandonados, movidas pelo amor à causa AJUDAS Algumas pessoas não têm condições de adotar um animal por motivos de doença, alergia ao pelo, ou até mesmo por falta de tempo para cuidar, mas mesmo sem ter um pet em casa, pode-se ajudar as instituições e ONG’s de animais com ração, jornais, remédios, produtos de higiene, brinquedos e roupinhas.

A protetora enfatiza que além de todo carinho e cuidado com os animais, é de extrema importância sua castração. Castrando a fêmea antes do primeiro cio, a tendência de que seja gerado um câncer na mama é quase zero. Evita gravidez psicológica e o animal fica mais tranquilo. Castrando o macho, evita-se câncer de próstata, briga e fuga.

EXPERIÊNCIA DE AMOR Alessandra Dalmati, de São José dos Campos, adotou o “Angel”, um cachorrinho lindo que tem uma grande história de superação. No começo de 2015, a protetora Marilu Godói recebeu uma ligação relatando que havia nascido um cachorrinho ‘dife-

rente’ em São José e as pessoas estavam querendo sacrificar o animal.

Ela foi atrás dos donos do cachorro para ver se realmente era necessário tal ato. A mamãe do Angel era muito novinha, não tinha estruturas para procriar, então acabou rejeitando-o, porque ele não tinha as patinhas da frente e tinha dificuldade para mamar.

Angel, então, foi acolhido pela instituição, levado ao veterinário, tratado na mamadeira, fez todos os exames e entrou para a fila de adoção. A protetora postou em suas redes sociais que Angel precisava de um lar e foi aí que a Alessandra se apaixonou. Ela conta que tinha acabado de perder um cachorrinho com cinomose (doença infectocontagiosa que costuma acometer cães que ainda não terminaram o esquema vacinal, ainda ‘filhotes’, ou que não costumam receber o reforço anual da vacina múltipla V8, V10 ou V11).

No começo não foi tão fácil, Alessandra não poderia levá-lo para casa para não correr risco de pegar alguma doença. A protetora Marilu combinou que

enquanto a adotante ‘descontaminava’ sua casa, Angel terminaria de tomar todas as vacinas. Durante esse processo, todos os fins de semana, Angel recebia visitas de sua futura dona, que brincava com ele.

Até o dia que, finalmente, fosse para casa.

Angel começou a se erguer sozinho e pular só com as duas patinhas traseiras. Preocupadas com a coluna do animal, decidiram colocar um carrinho para facilitar sua locomoção, mas ele levantava com o carrinho e continuava pulando.

Hoje, sem carrinho e sem pular, ele anda de pé normalmente.

Com essa história de superação, percebe-se que não é porque o animal está doente ou tem alguma deficiência que precisa ser sacrificado. Os animais se superam e se reerguem.Hoje, Angel tem quatro anos, recebe carinho, cuidados, tem um lar onde todos o amam, já foi castrado e o melhor... está vivo!

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NEGÓCIOS

CAOS NA

SAÚDE

POR GUSTAVO FERREIRA E PAULO RICARDO

Como o sistema brasileiro explora o paciente, é insustentável.

Quais são as perspectivas?

Um homem de 33 anos estava com sintomas de acidente vascular cerebral (AVC), que incluem dificuldades para compreender, caminhar e falar. Após ser atendido em um hospital privado, foi decidido que o melhor tratamento seria por meio da telemedicina. O recurso permite a troca de informações médicas, monitoramento e análise de resultados – entregues digitalmente –, e a aproximação entre usuário e médico.

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Depois de quatro dias no hospital, auxiliado por medicação correta, ele retornou saudável e acolhido para casa, com os sintomas de AVC revertidos.

O resultado positivo e o acolhimento sentido pelo paciente poderiam ser meta do sistema, composto por prestadores – hospitais, consultórios e laboratórios –, operadoras de planos de saúde, empresas pagadoras e usuários.

Afinal, um ciclo sem solicitações de exames em excesso, com o paciente próximo ao médico e informado dos procedimentos, é interessante ao cliente. Mas não é bem assim que o sistema de saúde brasileiro funciona.

No país, as redes privada e pública usam, em maioria, o modelo de remuneração de pagamento por procedimento (Fee For Service – FFS). A operadora de saúde

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remunera os profissionais e cada serviço executado pelos prestadores, independentemente da qualidade dos atendimentos.

Clemente Nóbrega, consultor em estratégia empresarial e escritor com mais de 300 mil exemplares vendidos, comenta, em entrevista à revista Foca em Foco, que o modelo é injusto com o usuário.

“Quanto mais a prestadora faz [atendimentos/procedimentos], mais ganha. Isso é uma coisa quase criminosa”.

Para tentar corrigir falhas e debater soluções para o FFS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2013, incentivou a criação de grupos entre prestadores e pagadores. Resultado: o movimento foi descontinuado por falta de participantes.

“Todas as iniciativas que visam avançar nesse ponto, trazendo para a mesa todos que participam do sistema e propondo

O QUE SIGNIFICA “GERAR VALOR”?

COMO AVALIO O VALOR DE ALGO?

“É produzir no consumidor a percepção se o que ele está pagando, está lhe trazendo um benefício correspondente.”

“Você não pode escolher sem informação. É a informação que permite construir a sua avaliação de valor.”

Fonte: Clemente Nóbrega

que eles se entendam, têm fracassado”, analisa Clemente, que também atuou por 14 anos como diretor de marketing da operadora de saúde Amil. “A razão é a falta de confiança absoluta que existe entre todos”, conclui.

REFÉM DA AUTORIDADE E SEM INFORMAÇÃO Imagine que você deseja comprar um veículo. É natural checar os diferentes vendedores, a documentação e o estado do automóvel, cuidadosamente. Ao se referir à própria saúde, no momento da escolha de um prestador para consulta ou tratamento, o esperado seria o fornecimento e o acesso ainda mais amplo de dados, para aumentar possibilidades de decisão. No sistema brasileiro, porém, as informações são ocultadas. “O médico é autoridade suprema: ‘faça isso’, ‘faça aquilo’. Ele [paciente] vai lá e faz. Só que essa maneira de passar informação, centralizada em um especialista somente, é extremamente falha”, ressalta Clemente.

Sem leis que obrigam a divulgação de informações para o cliente, cabe ao usuário confiar no médico e na boa fé dos prestadores. Segundo José Luciano, diretor corporativo de telemedicina da operadora e prestadora Hapvida, a relevância do paciente precisa ser repensada. “Em outras in-

dústrias, o cliente está como foco principal, na saúde isso parece que está meio pulverizado ainda”.

Exemplo: o processo de abertura de informação de atendimentos e procedimentos do setor, combinado à centralização do usuário, traria valor ao consumidor. Algo semelhante a serviços que usam dados gerados pelos usuários para fornecer melhores experiências, como Netflix e Amazon.

MODELOS E MUDANÇAS Enquanto falta transparência ao sistema, cabe ressaltar formas de gestão sustentáveis já aplicadas. Moldes regionalizados privados são reconhecidos no setor, como a Kaiser Permanente, fundada em 1945 no estado da Califórnia, nos Estados Unidos.

No Brasil, a Prevent Senior e a Hapvida seguem o exemplo de redes locais, respectivamente em São Paulo e norte/ nordeste.

Diferença: as três se diferem das prestadoras tradicionais pela estrutura verticalizada – sem terceirizar plano de saúde, médicos e hospitais, por exemplo – e no

atendimento primário. Buscam o menor custo possível por usuário, sejam em serviços, equipamentos, medicamentos ou profissionais. Para isso, priorizam a manutenção da saúde ao oferecerem e incentivarem o consumo de programas dedicados à prevenção.

Em contrapartida, ser ‘dona de tudo’ demanda poder financeiro, o que impede a expansão dessas prestadoras para atuarem além de certas localidades do país.

E quem mudará o sistema por completo? Historicamente, a tendência de mudança começa por agentes externos, sem os vícios de negócio de cada área.

Uber (transformação na mobilidade urbana), Airbnb (‘revolução’ da hospedagem) e Spotify (‘salvador’ da indústria fonográfica) são exemplos recentes de formas alternativas de ponte do serviço ao consumidor. A principal vantagem para business do tipo, é o ciclo sustentável: experiência maior e preços acessíveis para o consumidor, e baixo custo de manutenção para empresas – algo que poderá ocorrer com a assistência da saúde.

“Em outras indústrias, o cliente está como foco principal, na saúde isso parece que está meio pulverizado ainda.”

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MATÉRIA DE CAPA

SOLIDAR como uma via POR ALESSA RIBEIRO, CRISTINA BASÍLIO E MARJORIE SILVA

José Gerônimo, 57 anos, há 30 morador de rua em São José dos Campos. Mudou-se para o município para trabalhar, mas perdeu o emprego. Hoje, ele é catador de latinha e faz reciclagens. Vê suas três filhas sempre que possível. “Eu as vejo, são três meninas, elas falam 'pai, volta para casa', mas eu quero voltar com dinheiro, não quero voltar de mãos vazias”, conta José.

Seu sonho é retornar para Chapada Diamantina com suas três filhas, que também moram em São

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José, com dinheiro para ajudar sua família.

Casos como de José são comuns. De acordo com uma pesquisa feita pela Abordagem Social – programa da Prefeitura de São José, que busca a resolução de necessidades imediatas, e promove a inserção da pessoa em situação de rua na rede de serviços socioassistenciais –, 70% são moradores de São José e 30% de outras cidades.

Ao andar pelas ruas do município é possível encontrar desde

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viciados em drogas a pessoas que foram expulsas de suas casas ou que possuem vínculos fragilizados com seus familiares. Paulo Vinício, 33 anos, de Taubaté, mais conhecido como Palhaço, saiu de casa por ser dependente químico. Há dois anos não encontra sua família por vergonha. Tinha esposa e salário, mas hoje, dorme nas calçadas.

“Nesse horário (começo da noite), eu estava em casa, tinha tomado banho, estava com a minha família. Hoje, estou no farol pedindo cinco centavos. É humilhante”,

Foto Alessa Ribeiro

“Julgar o livro pela capa é muito fácil, difícil é saber o que passamos de verdade.”

Marcos Yamamoto

RIEDADE a de mão dupla conta Paulo. Além de não ver sua família, Paulo tem um filho de um ano e meio que nunca conheceu.

“Se fosse para agradar alguém, iria agradar o meu pequeno Henrique.

Não consegui agradá-lo até hoje, mas tenho fé. Eu deixei claro em casa, eu só volto para lá melhor do que saí”.

De acordo com um levantamento feito em 2015, pela Prefeitura de São José dos Campos, havia 355 pessoas vivendo nas ruas da cidade. Já no último censo municipal, realizado em 2018,

identificaram 816 pessoas nessas condições. Esse aumento mostra a necessidade a população de questionar o porquê as pessoas estão em situação de rua.

SOLIDARIEDADE Mobilizado pela solidariedade, um grupo de amigos do município decidiu criar uma organização não governamental (ONG) para apoiar essas pessoas. A ‘Ação Solidária SJC’ busca doações de alimentos, cobertores, roupas e outros itens básicos, como sabo-

nete, escova de dente, creme dental e desodorante. O projeto possui parceria com algumas clínicas de reabilitação, que possibilita a internação gratuita dos moradores de rua com dependência química.

Fábio Cleiton Gonçalo, 40 anos, de São José dos Campos, fundou com um amigo a Ação Solidária SJC há quatro anos. A primeira ação foi entregar sopa, pois era inverno e os moradores de rua não tinham com o que se aquecer. “É tanta gente que está na rua, a gente passa pelos moradores de

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MATÉRIA DE CAPA

rua e fica com dó. A gente pode pé. Nós não tínhamos a meia, enfazer mais, está no nosso alcance, tão esse amigo tirou o tênis e deu não é uma coisa difícil. É muito sua meia para o moço que, imediafácil estender a mão para alguém”, tamente, começou a chorar”. comenta Fábio.

Fábio deseja conseguir parceOs voluntários da rias para meONG saem pelas ruas lhorar o proda cidade durante a jeto e a vida semana, no período de mais pesda noite, para entregar soas nas ruas. as arrecadações. As “Queremos ações são feitas uma ter parcerias vez por mês, mas o com barbeidesejo do grupo é que ros e cabeleiaconteçam toda semareiros para na. “Nem que seja de 15 nos acomem 15 dias. Imagina fapanhar uma zer todo fim de semavez por mês na? Meu Deus, seria nas ações. uma glória”, diz Fábio. Fábio Cleiton Gonçalo Para fazer o Qualquer pessoa pode cabelo, barba participar e fazer doações. Por e unhas dessas pessoas”. A ONG meio da página do Facebook ‘Ação espera possuir uma sede na qual Solidária SJC’ é possível ter acesas pessoas em situação de rua poso aos locais de coleta. “Quando derão ter acompanhamento psicoalguén em contato com a página, lógico. Além disso, o projeto busca nós sempre damos um jeito. Ou parceria com dentistas da cidade. vamos à casa da pessoa buscar “Muitas vezes, eles chegam com ou, se for mais fácil, a pessoa pode dor no dente e não vão para o Sistrazer até nós”. tema Único de Saúde (SUS). Eles se A voluntária Franciane Arnosentem desprezados, sabe?”. ni, 37 anos, de São José, conta que muita coisa mudou em sua vida ATO DE FÉ depois de participar das ações da Outro lugar de acolhimento ONG. “Eu passei a enxergar quem para pessoas em situação de rua está na rua e isso foi essencial. Nós em São José dos Campos é a Casa passamos a olhar os moradores de Assis, fundada há 20 anos pelo de rua com os mesmos olhos que advogado Reinaldo Fernandes Leiolhamos as pessoas do nosso coti- te, em um ato de fé. Com quatro diano”. Franciane guarda muitas casas na diocese, a fraternidade histórias das ações que participresta socorro imediato a depenpou. “Na nossa primeira ação, dentes químicos. O morador de estávamos fazendo as abordagens rua passa por uma avaliação e é dos moradores de rua. Nesse dia, direcionado para uma das casas havia chovido muito, um morador de moradia da fraternidade. Gede rua falou para o nosso amigo ralmente, as pessoas que contique estava servindo a sopa, que só nuam na Casa acabam ajudando queria uma meia para esquentar o a cuidar de outros moradores, da

“Os mais beneficiados nisso somos nós mesmos.

Abraçar, dar o nosso apoio e chorar junto com eles. A gente volta para casa mais grato”

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limpeza, comida e organização.

“Nós que administramos a Casa de Assis buscamos que eles tenham mais providência para continuar conosco”, diz Cláudio Elias de Oliveira, 32 anos, auxiliar na Casa de Assis.

Além de receber os moradores de rua nas casas, a fraternidade também sai aos domingos entregando, em média, 280 marmitas com a ajuda de voluntários.

Cláudio comenta que qualquer pessoa pode participar dessas ações nas ruas e também ajudar com doações. “Todo tipo de doação é bem-vinda. Recebemos roupas, produtos de higiene pessoal, alimentos e até verba para ajudar a pagar as contas”.

Nelson Eduardo Silva, 47 anos, era alcoólatra. Viveu dois anos nas ruas. Afastou-se da sua família, pois não queria ‘dar trabalho’ para eles. “Minha família me ajudou no tempo que pôde. Chegou uma época que eu pensei: ‘Ah... não é legal eu ficar dando trabalho para eles’”. Por meio de um homem que conheceu na cidade de Jacareí, ele descobriu a Casa de Assis. Atual-

cial entre os anos de 2007 e 2008, os maiores motivos que levam as pessoas a morar nas ruas são: alcoolismo e/ou uso de drogas (35,5%).

Aos 14 anos, Leonardo se envolveu com o uso e tráfico de drogas. Aos 19, já tinha passado por algumas internações em clínicas de reabilitação, mas não conseguiu se recuperar, então resolveu sair de casa.

foto alessa ribeiro

mente, faz oito meses que ele reside na casa. “Vim para cá, conversei com o irmão Reinaldo e expliquei a minha situação. Eles me deram esse apoio. Eles estão me ajudando muito”.

ESPERANÇA O desejo de superação é muito forte entre as pessoas que estão ou estavam vulneráveis nas ruas.

Muitas querem voltar para suas casas ou reconstruir suas vidas.

Leonardo da Silva Santos, 27 anos, de São José, saiu das ruas há 6 anos. Hoje, ele tem casa, comida e um casamento marcado. “Viver na rua me ensinou a ver as coisas de formas diferentes, de valorizar comida, cama e chuveiro quente.

Alimentos que eu não comia, mas agora eu como, porque cheguei quase a não ter o que comer. São experiências que mudam a gente”, conta Leonardo.

O que levou Leonardo a morar na rua é um dos motivos mais comuns. De acordo com a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento So-

gar com sua ex-mulher. “Eu vim para a rua de vez, porque não ia expulsá-la e correr o risco de ela levar meu filho. Não posso deixar meu filho na rua”, diz Marcos. Ele já havia conseguido sair das ruas algumas vezes, mas por conta do uso de drogas não quis continuar na casa da mãe. Com isso, foi tentar o benefício do Instituto Nacio-

No começo, ele ficou em pounal do Seguro Social (INSS), mas sadas, pensões e albergues, até por causa de exames de raio-X que chegar realmente às ruas. “Não foi não fez – a máquina do hospital esnenhuma surpresa. Eu já estava tava quebrada –, não passou na pefamiliarizado com a rua, por sair rícia e o benefício foi cortado. Há e ficar dias e dias fora, usando droum mês voltou para as ruas, pois gas, sem voltar para casa”, comennão tinha condição de manter um ta Leonardo. Quando era mais lugar para morar. novo, importava-se com a vaidade, Felizmente, a família consese estava bem vestido, com rou- guiu uma casa para ele ficar. “Grapas de marca e cabelo arrumado. ças a Deus eu saio da rua em breve.

“Depois de passar pela rua, eu Minha mãe está comprando uma vi como o ser humano é tratado casa para mim. Aquele ditado quando está desque ‘Deus tarda, pido de tudo isso. mas não falha’, Foi a partir desse eu não acredito. momento que coPorque Ele não mecei a enxergar falha e faz tudo o mundo como na hora certa. enxergo hoje. A Eu acredito em rua me mostrou Deus e sei que ele o que realmente é não dá um fardo maldade, por meio que a gente não de pessoas e de enpossa carregar”. tidades que fazem Marcos espera este tipo de trabaque mais pessoas lho por fazer. Mas, pratiquem a sotambém o que é re- Leonardo da Silva lidariedade com almente bom, por Santos quem está momeio de senhoras rando nas ruas. que se preocupam “As pessoas pree acordam de madrugada para le- cisam aprender a ajudar. Isso não var uma marmita”. significa dar dinheiro, mas é dar Entre as pessoas que estão um bom dia, uma alimentação, conseguindo sair da situação de uma conversa, uma palavra amirua está Marcos dos Santos Yamaga, um abraço ou falar de Deus. moto, 33 anos. Ele morava nas ruas Isso que os moradores de rua prede São José. Saiu de casa por bri- cisam”.

“Descobri o que é ser uma pessoa invisível, uma pessoa desprezada.

Envelheci alguns anos nesses meses que fiquei na rua.”

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SOCIEDADE

ANDAR POR LEONARDO LENZI E RAFAEL COSTA

A felicidade e os desafios por trás da profissão do carteiro Hoje, no Brasil, existem mais de 57 mil carteiros, que entregam, por ano, cerca de 6 bilhões de objetos postais em todos os cantos do país. Esses números enfatizam a relevância dessa profissão em nossa sociedade. Por mais que a tecnologia tenha trazido novidades na forma de se comunicar, e agências bancárias estejam se

COMO É O PREPARO PARA SER CARTEIRO? O carteiro do quadro efetivo próprio dos Correios ingressa na empresa por meio de concurso público. Ao ingressar nos Correios, ele passa por treinamentos relacionados à entrega nos setores de distribuição (distritos) e acompanha carteiros mais experientes no distrito, e relacionados, também, à conduta ética/profissional.

O carteiro deve mostrar aptidão

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na profissão. Desempenho profissional com qualidade e conhecimento da importância do cliente para a empresa.

PAPAI NOEL DOS CORREIOS O objetivo principal da ação é responder às cartas das crianças que escrevem ao Papai Noel e, sempre que possível, atender aos pedidos de presentes daquelas que se encontram em situação de vul-

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modernizando, o serviço postal e aqueles que realizam a entrega das cartas – os carteiros – permanecem firmes e fortes.

O início dessa profissão no Brasil data a 7 de setembro de 1822, quando Paulo Bregaro entregou a D. Pedro I a correspondência da Imperatriz Leopoldina, informando sobre as novas exigências de Portugal com relação ao Brasil.

Ao recebê-la, às margens do Riacho do Ipiranga, D. Pedro reagiu às imposições da Corte e declarou no ato a Independência do Brasil.

Paulo Bregaro passou a ser considerado desde então o “Patrono

nerabilidade social. Disseminar o encantamento do Natal por meio da campanha só é possível com a ajuda dos empregados dos Correios e da sociedade brasileira.

QUEM NÃO RECEBE O SERVIÇO DOS CORREIOS? Não recebe o serviço dos Correios quem não atende à Portaria 4474/2018. Conforme previsto na Portaria, para que

R POR AÍ dos Correios” e ligou a profissão a um dos momentos mais importantes da história do país.

Os anos se passaram e, hoje, os carteiros permanecem na ativa. Júlio César Sousa, de 46 anos, é um entre vários outros carteiros que percorrem longos caminhos para que as cartas cheguem ao destinatário. “Para nos tornarmos carteiros, passamos por treinamento teórico constante, mas a prática do dia a dia é o que nos qualifica e nos prepara para a ‘labuta’. Tem que gostar de andar.

Andamos muito, falamos muito”.

Conhecido como “carteiro amigo dos animais”, Ângelo Cristiano da Silva, 32 anos, de

Guaratinguetá, reforça o que o companheiro de profissão diz.

Há 5 anos nos Correios, Ângelo é ciente de que percorre cerca de 7 quilômetros por dia e, por isso, ele se prepara constantemente. “Quando saio do meu trabalho, já vou para a academia fortalecer a musculatura, porque é preciso para exercer essa função, que é bem desgastante. Tem rota que é só morros, descidas, então tem que ter um preparo bem legal”.

Ele relembra sua relação com os carteiros na infância e vê que os tempos mudaram.

“Quando eu era mais criança para a adolescência, via que os

carteiros eram mais respeitados, a gente dava presente para eles no Natal. Hoje não. Às vezes você cumprimenta uma pessoa e ela nem olha na sua cara”.

Apesar das dificuldades do dia a dia e do distanciamento nas relações interpessoais para cumprimentar e conversar com as pessoas, Ângelo faz questão de ressaltar a felicidade e o amor que tem pela profissão: “Não tem muito segredo não. É levantar, agradecer a Deus, colocar o seu uniforme, pedir a proteção de Deus no dia e fazer o seu melhor. Tem que trabalhar por amor. Exercer uma profissão que não faça por amor não vale a pena”.

conte com a distribuição domiciliária, é necessário que o bairro possua requisitos básicos como residências numeradas de forma ordenada, individualizada e única, caixa receptora de correspondências instaladas e ruas sinalizadas com placas denominativas, o que deve ser regularizado pelo Município.

Quando o bairro é regularizado, os Correios realizam estudos técnicos para contabilizar os

recursos humanos e materiais necessários para implantar a entrega de correspondências.

Finalizados os estudos e após receber esses recursos, é iniciada a distribuição domiciliária no local.

os cães fiquem soltos nas ruas, os Correios orientam a instalação da caixa de correspondências fora do alcance do cachorro e acessível ao carteiro, usar guias e coleiras quando for passear com o cachorro, corrigir possíveis aberturas na grade ou portão e mantê-lo sempre fechado, conferir se a altura do muro é suficiente para que o cão não consiga pular e colocar um aviso na casa do tipo “cuidado com o cão”.

LIDANDO COM OS ANIMAIS Como medidas para evitar possíveis ataques aos carteiros, além de não permitir que

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LITERATURA

SÃO JOSÉ QUE

Autores contemporâneos falam sobre o cenári FERNANDO PESSOA, CLARICE LISPECTOR E MARIO QUINTANA foram apenas três dos inúmeros poetas que fizeram história na literatura nacional. Em São José dos Campos, Cassiano Ricardo também deixou sua marca. Porém, décadas depois, os jovens têm lido poesia contemporânea feita na cidade?

POR AMANDA KASSIS E MATHEUS ANDRADE

A observação do cotidiano é o que motivou Paulo Barja, ainda aos 12 anos, a rabiscar seus primeiros versos. Hoje, aos 47, o morador da cidade conta com 13 publicações. “Sinto que, na correria diária do joseense, há quem deixe de observar o que está acontecendo ao seu redor.

A poesia pode ser uma forma de chamar a atenção para o que nem sempre é percebido”.

Para ele, o segredo para cativar leitores é caracterizar a leitura como uma atividade necessária. “Não acredito em falta de interesse e tempo. Jovens e crianças demonstram interesse sim! Só precisa ser alimentado, fomentado pelos autores”.

Outra poetisa que começou a escrever ainda na adolescência é Luana Helena, de São José dos Campos, 27 anos. “Escrevo porque não consigo sufocar

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tudo que tenho dentro da minha cabeça. Acho que escrever vem de um impulso vital, um movimento de auto-salvação, sabe? ”, conta a escritora, que tem cinco obras publicadas.

veem como algo não tão moderno. “Poderia haver um maior envolvimento das crianças com as poesias ainda nas escolas primárias, com professores as auxiliando e incentivando na área”, sugere um dos entrevistados.

“As pessoas ficam presas àquelas poesias complicadas lidas na aula de português. Se houver divulgação de outros tipos de poesia, junto à boa vontade de quem está lendo, a popularidade aumentaria”, conta outro entrevistado.

APROXIMAÇÃO COM OS JOVENS A pouca divulgação das poPRESENTE POÉTICO esias locais é a principal causa No mercado editorial atual, de sua baixa popularidade entre todos os gêneros sofrem. É o que os jovens de até 30 pensa o novato anos, segundo pespoeta Danyel quisa realizada por Rezende, de 23 esta reportagem. anos, também do Das 35 pessoas ouVale do Paraíba. vidas, apenas cerca “Com tudo o que de 23% disseram vem acontecenler poesia feita na do no país e tamregião. bém no mundo, Para a maio- Paulo Barja, poeta as pessoas acaria delas, torná-la bam escolhendo mais próxima e atual é o granoutras prioridades. Mas poesia de segredo, pois muitas ainda a tem seu próprio público”.

“A poesia pode ser uma forma de chamar a atenção para o que nem sempre é percebido”

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GERA VERSOS

io literário da cidade, expectativas e desafios

“O doido da poesia é que ela nasce como a flor do Drummond.

Fura o asfalto, o tédio, o nojo e brota na calçada”

terísticas dos nossos autores, tão diversificadas em nosso país”.

O veterano Paulo Barja acredita que o futuro da poesia na cidade é de luta. “A dificuldade é abrir espaço na agenda de um lugar que se diz tão tecnológico, mas onde existe tanta desigualdade social. Junto com as demais artes, ela [poesia] precisa entrar de vez no embate sociopolítico, no combate a desumanização, injustiça, opressão e preconceito”.

Desta maneira, sempre haverá espaço e sempre haverá poetas, comemora Luana Helena.

“Resistiremos à falta de incentivo, como sempre fizemos. O doido da poesia é que ela nasce como a flor do Drummond. Fura o asfalto, o tédio, o nojo e brota na calçada”.

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foto luiz miquel lopes

Mesmo assim, Danyel in- sua cidade natal quando nela há siste em sua paixão por versos. uma grande necessidade desse “Desistir disso seria desistir da trabalho? Acho que é uma forma minha vida. Minha motivação é de devolver tudo que a educação poder criar histórias e, embora e a cultura me proporcionaram eu não dependa disso, a ativinesta cidade”. dade principal da minha vida continua sendo O FUTURO escrever”.

NA CIDADE Quem comPedro Gabriel, partilha do estudante de São José mesmo pensados Campos, 15 anos, mento é Luana começou a escrever Helena.

“São seus versos recenJosé dos Campos temente. Otimista, precisa muito de ele ainda acredita no gente que faz, que poder da poesia, apecolabora, que inssar da atual desvalopira. Qual é o senrização da cultura. tido de fazer um “Precisamos mostrar trabalho fora da Luana Helena, poetisa nossas raízes e carac-

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CULTURA

CENA T

EM SÃO JOSÉ

Visto apenas como entretenimento, o teatro na cidade ainda precisa de mais incentivo POR JÚLIA SANTOS, THAMIRES TRINDADE E VANESSA TROIS

“Fazer teatro ajuda a mover as montanhas da ignorância e do medo de se expor”.

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O teatro é uma das manifestações culturais mais antigas da humanidade. Ele surgiu na Grécia Antiga, no século IV a.C. com as celebrações feitas para Dionísio, deus da alegria, do vinho, do entusiasmo e da fertilidade. As peças eram encenadas com máscaras, pois somente os homens podiam atuar.

Hoje, o teatro tornou-se abrangente e é uma arte que possibilita a interpretação de questões da sociedade por meio da atuação em cena. No entanto, ele está muito afastado da população brasileira. Segundo dados de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 23,4% dos municípios brasileiros possuem teatros ou salas de espetáculos.

A atriz Adriana Marques, de 49 anos, é dona do Teatro D´Aldeia e trabalha há três décadas

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com essa arte. Ela revela os desafios de manter um teatro em São José dos Campos.

“A abertura do espaço na cidade surgiu da minha vontade e de mais três amigos. Sentíamos a necessidade de um local para trabalhar nossas pesquisas e criar peças e, por conta disso, nasceu o ‘Teatro D’Aldeia’”, conta Adriana.

Para ela, é difícil viver da arte na cidade e no país. “De uma forma geral, a arte é considerada como entretenimento e não como um alimento para a alma, e a maioria das pessoas estão batalhando pelo sustento do dia a dia. Infelizmente, a arte acaba ficando em segundo lugar”, complementa.

Mesmo considerando a dificuldade de viver do teatro, Adriana relata que a cidade joseense tem buscado incentivar a manifestação teatral por meio de editais de fomento à cultura e, dessa forma, abrem-se algumas possibilidades para essas manifestações. “Acredito que faltem talvez mais programas de incentivo ao povo, algo que mostrasse a importância da arte nas vidas de

TEATRAL

É DOS CAMPOS mos por um processo de aprendizado por meio de exercícios que trabalham o desbloqueio, a expressão corporal e a comunicação aberta. Lidamos, necessariamente, com temas sobre a alma humana, que ampliam nosso olhar diante da vida”, conclui a proprietária do teatro D’Aldeia.

DESAFIOS O diretor, produtor e professor do ‘Teatro Sergio Mamberti’, Erik Eliudes Garcia, 35 anos, afirma também que é um desafio viver da arte em São José dos Campos. Mas discorda de Adriana no que diz respeito ao incentivo municipal. Ele acredita que não está sendo suficiente para as manifestações culturais. O produtor conta que cada espetáculo possui um nicho específico, mas as peças com atores globais tendem a atrair um grande público.

Como a cidade ainda carece de verbas voltadas para as peças teatrais, Erik, como produtor, tenta focar nos patrocínios públicos e privados. “Porém, muitas vezes, não é possível conseguir o patrocínio e tudo é feito por conta própria”, diz ele. Isso porque a capta-

ção de verba se restringe a edital como o Programa de Ação Cultural o (PROAC), que é uma legislação de incentivo à cultura do Estado de São Paulo, criada em 2006. É um programa que proporciona mais visibilidade e muitas empresas acabam se interessando em patrocinar alguns projetos, porém isso ocorre em projetos com um alcance maior e com a participação de atores renomados. Luta que produtores enfrentam para conseguir verba ou financiamento para o seu espetáculo...

O que os dois esperam e buscam é despertar na população uma vontade de frequentar o teatro. Buscam, também, que as pessoas o enxerguem como uma profissão, e que os artistas regionais possam crescer, desenvolver o seu trabalho e serem reconhecidos pelo lugar onde criaram raízes.

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foto kathleen garcia

cada um, com um forte trabalho de divulgação nesse sentido, a fim de que mais e mais pessoas buscassem a arte para as suas vidas.

Teria que haver projetos interdisciplinares junto ao Poder Público, com o intuito de criar um grande projeto em prol da arte e cultura para o povo, que fizesse o próprio povo ver a importância disso”, ressalva a atriz.

Instabilidade financeira, excesso de trabalho, ensaios que duram 12 horas, incluindo fins de semana e feriados, com processos de montagem que chegam a quase dois anos (geralmente sem remuneração); batalha pela venda e circulação dos trabalhos após estarem prontos; gastos enormes para a produção com figurinos, cenários e equipe contratada; grandes desafios artísticos para a criação do espetáculo, individual e coletivamente... Para quem acredita que viver do teatro é glamoroso e chique, esses são os desafios enfrentados, contados por Adriana.

E, para ela, o teatro é uma ferramenta capaz de ampliar o olhar do ser humano diante da vida, tornando as pessoas mais sensíveis e críticas. No ‘fazer teatral’, passa-

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ENTRETENIMENTO

VINGADORE 11 anos, 22 filmes. Uma legião de fanáticos não só POR HEITOR OLIVEIRA E VICTOR EDUARDO

Desde o seu primeiro grande lançamento, em 2008, a Marvel tem feito muito sucesso. Fama essa que a fez ser comprada pela Disney, em agosto de 2009, que enxergou um grande potencial, não só visando a parte de quadrinhos, mas também a de cinema.

Haja visto, o sucesso do filme Homem de Ferro, que teve uma bilheteria mundial de U$ 585 milhões – para a época um número impensável para um filme de herói. A partir daí um novo universo nos cinemas foi criado, o MCU, (em Português, Universo Cinematográfico da Marvel).

Os sucessos dos quadrinhos foram divididos em fases no cinema, para novos personagens serem apresentados com filmes solos, como Capitão América e Thor, formando-se no final da primeira fase os Vingadores. O sucesso da junção dos heróis no universo dos cinemas foi de uma ‘química’ tão grande, que o retorno veio em números, sendo o primeiro filme da Marvel a ultrapassar a marca de um bilhão de dólares arrecadados em bilheterias no mundo.

Mas como a Marvel conseguiu atingir tantos fãs e valores tão altos nas bilheterias? O youtuber Rodolfo Castrezana, 48 anos, de Guararema, mais conhecido como Nerd Rabugento,

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que fala sobre assuntos nerd (sinônimo de pessoas que gostam de quadrinhos, filmes de heróis, jogos e etc) comentou como eles chegaram nessa fórmula e o que ajudou a Marvel a ter tamanho sucesso. “Falta de concorrência.

Mesmo que a Fox e a Sony tenham lançado filmes antes, o mercado foi estabelecido pelo produto da Marvel, os outros tiveram que correr atrás depois”. Ele também comenta quais foram os desafios com que a Marvel teve que lidar.

“Os principais desafios foram entender o formato que agrada o público, conseguir imprimir nas telas o que os leitores de quadrinhos gostariam de ver e também agradar quem nunca leu as HQs (Histórias em Quadrinhos). A Marvel conseguiu chegar nessa fórmula e, por isso, conquistou público diversificado: dos nerds a quem nunca tinha ouvido falar em super-heróis”.

Essa fórmula comentada por Rodolfo culminou em dois filmes que foram aclamados pelo público. O primeiro, Vingadores: Guerra Infinita, lançado em 26 de abril de 2018, como a primeira parte de dois filmes, apresenta o vilão mais poderoso da Marvel nos cinemas, Thanos, um titã que tem seu foco em extinguir metade da vida no universo para que tudo fique em perfeito equi-

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líbrio. Guerra Infinita teve sua estreia e quebrou diversos recordes como o filme mais rápido a atingir o bilhão. Eles precisaram apenas de 12 dias. Mas esse não foi o filme que “quebrou o cinema”. Vingadores: Ultimato estreou no último dia 25 de abril, e já chegou com os “dois pés no peito” do público. Ele venceu seu antecessor e precisou apenas de quatro dias para quebrar a marca do bilhão, e já é o primeiro filme com a maior arrecadação da história, ultrapassando Avatar, de James Cameron (longa que estava em primeiro desde 2010).

ANSIEDADE E EMOÇÃO Este fato fica mais claro quando olhamos que só em vendas para a pré-estreia renderam cerca de U$ 120 milhões em todo o mundo. Alguns fãs fanáticos dos filmes da Marvel, como Maria Luiza Gonçalves, de 21 anos, e Marco Galvão, de 30, ambos de São José, foram na pré-estreia.

“Em primeiro lugar, a ansiedade.

A minha expectativa para o filme estava imensa, eu queria poder assistir na primeira oportunidade. Em segundo, pela emoção da pré-estreia. Ver um filme tão esperado junto com tanta gente, tão ansiosa quanto você, é ainda mais emocionante”, falou Maria. “Vim para a pré-estreia por não querer ver nenhum tipo de spoiler e as expectativas estão

ES, AVANTE!

por quadrinhos, mas agora também pelo cinema bem altas com base em algumas críticas que li na internet”, contou Marco, antes de assistir ao filme.

Outro ponto que mostra a procura do público pelo filme é a quantidade de salas de cinema disponíveis para sua projeção do mesmo. São mais de 700 sessões das salas que estão sendo ocupadas pelos Vingadores, cerca de 80% de toda grade dos cinemas, mais de 200 milhões de reais arrecadados e um público que

conta com mais de 12 milhões de espectadores, somente no Brasil.

Foram 22 filmes. E nessa longa jornada os contratos foram sendo encerrados e os fãs, agora, teorizam o que acontecerá no futuro. Como é o caso do editor Lucas Brito, 20 anos, também de São José, que comenta sobre o que espera dos futuros filmes de heróis no cinema. “Com o Disney+ (novo sistema de streaming da Disney), podemos esperar novas séries de heróis. E espero

que nos próximos anos os filmes não mudem muito”. Maria Luiza também comentou: “acho que temos uma legião jovem de heróis muito boa, que promete muito.

O legado que os seis vingadores originais deixaram é eterno e acho que alguns deles ainda não encerraram seu arco. Mas agora temos heróis novos, como a Wanda, Pantera e Capitã que têm muito a ser explorados. Espero ver muito deles nos próximos filmes”.

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SERVIÇO PÚBLICO

CONEXÃO J

Projeto Social leva lazer, cultura e

POR CRISTINA MARIANO, LETÍCIA KELLER E MICAELA GIANELLO

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O Conexão Juventude é um mações sobre o programa Casa projeto organizado pela PrefeiJoseense, informações sobre setura de São José dos Campos, guro desemprego, cadastro para por meio da Secretaria de Esvagas de emprego, confecção de porte e Qualidade de Vida, que carteiras de trabalho, divulgação leva para a população diverdos processos seletivos, entre ousas atividades de esporte, tros serviços. cultura, lazer e serviços.

Para a criançada também Os eventos são realizados não podem faltar as atividades quatro vezes ao ano. Leva, que já são um sucesso do Conetambém, prestação de serviço xão: brinquedos infláveis, jogos a todas as regiões da cidade. de realidade virtual, cabine de “Eu participei de diferentes fotos, pipoca, algodão doce, caformatos do Conexão. Foram poeira, entre outras. edições com “Este proprestação de jeto é imporserviços, edições tante porque especiais, nas traz serviços de quais grandes qualidade que, artistas da mún o r m a l m e nte, sica brasileira se não temos no apresentaram, dia a dia, e nos foram muitas sicoloca em outuações bonitas, tra realidade. muitas vivências Geralmente as que geraram senpessoas que sibilidade”, relata participam não Patrícia Alves, têm condições Gabriel Galvão assessora de difinanceiras retoria de Polítipara usufruir cas Públicas voltada aos jovens. da tecnologia, como por exemPara atender a todos os púplo, a realidade virtual, que no blicos e gostos, o evento conta shopping o valor é exorbitante. com muitas atrações regionais, Outra ação que acho muito lecomo duplas sertanejas, grupos gal é a maquiagem e o corte de de pagode e axé, grupos de dança cabelo, porque aumenta nossa e DJ’s. autoestima”, afirma Gabriel Além disso, a população conGalvão, de 26 anos, participanta com diversas atividades como te do Conexão Juventude da corte de cabelo gratuito, inforregião sul.

“Este projeto é importante porque traz serviços de qualidade que, normalmente, não temos no dia a dia, e nos coloca em outra realidade”

foto por micaelagianello

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JUVENTUDE

e muito mais para as comunidades

foto por cristina mariano

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belos. A atmosfera de felicidade que aquela família gerou não me sai da memória”, completa a assessora Patrícia Alves.

O “Conexão Juventude SJC” está embasado no Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/2013), que define direitos e garantias aos jovens, como o acesso à cultura, ao desporto e ao lazer, exercido em condições de liberdade, equidade, segurança e com proteção social.

Além da divulgação no site da Prefeitura, o Conexão chega ao Instagram e Facebook por meio da página São José Jovem.

Mais informações sobre o evento podem ser obtidas via whatsapp (12) 99618-2941 e pelo telefone 3932-8693.

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ATLETA CIDADÃO E OUTROS Além do evento em um dia específico, o jovem pode participar de projetos como o ‘Atleta Cidadão’, que oferece treinamento desportivo a crianças e jovens de 7 a 20 anos, ‘City Tour’, passeio pelo centro histórico da cidade, e o ‘Nadando Primeiro’, que dá aulas de natação para crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos.

“A Administração Municipal realizou mais de 273 mil atendimentos no ano de 2018 por meio de 43 programas, ações e projetos de iniciativas municipal, estadual e federal, voltados aos jovens da cidade. Possuímos um espaço destinado à Juventude para as atividades de esporte, lazer, educação, cultura, entretenimento e integração de PCDs (pessoas com deficiência), onde ocorrem diversas atividades diariamente”, explica Bruno Henrique, Diretor de Políticas Públicas para a juventude.

O programa foi lançado no dia 27 de maio de 2017 com o nome de Vitrine Jovem. Já no dia 29 de julho, foi batizado com o título que mantém até hoje. Em 2017 foram realizadas 11 edições, 22 em 2018 e, neste ano a programação é de 17 eventos.

“Eu sempre me lembro de uma edição em que uma família saiu do evento extremamente satisfeita e feliz, pois todos tiveram a oportunidade de cortar os ca-

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CIÊNCIA

Filhas das

A busca das mulheres pelo reconhec

POR ALEXIA SILVA, LAVÍNIA FARIA, SOFIA CAPELLARI

Há séculos, mulheres ao redor do mundo vêm contribuindo com o avanço da ciência. No setor aeroespacial, foram pioneiras em projetos que possibilitaram conquistas extraordinárias, como a que levou o homem à lua, em 1969. Na corrida espacial, disputada entre União Soviética e Estados Unidos (durante os anos 50 e 70), grande parte das pesquisas de operações tecnológicas foram realizadas por mulheres. A cientista Margaret Heafield Hamilton foi a responsável por desenvolver o conceito moderno de software e criar o programa de voo utilizado na Apollo 11. Em 2019, uma mulher foi, novamente, protagonista de uma descoberta científica extraordinária: Katie Bouman foi responsável por desenvolver o algoritmo que gerou a primeira imagem de um

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buraco negro.

Ainda que sejam qualificadas para trabalhar na área da pesquisa, muitas vezes, até mesmo ultrapassando os homens, há mulheres que, ainda hoje, são desencorajadas a estudar assuntos técnicos ou de computação. De acordo com dados da Sociedade de Engenheiras Mulheres do Brasil, mais da metade das mulheres que ingressam nesses cursos desistem de suas carreiras em até uma década. Entre os motivos de desistência estão: assédio sexual, humilhação, menosprezo ou rejeição de ideias manifestadas por mulheres em cursos compostos, majoritariamente, por homens, que geram um clima hostil.

“As mulheres ainda são consideradas desprovidas das habilidades tidas como necessárias para a produção de conhe-

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cimento científico”, diz Marcia Barbosa, professora titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF-UFRGS), em entrevista à Revista Pesquisa, da Fapesp.

INCLUSÃO Alguns países estão investindo em estratégias de inclusão. O Ministério da Ciência do Canadá, por exemplo, lançou em fevereiro de 2017 a campanha Choose Science, cujo objetivo é incentivar as mulheres a conhecer melhor e optar por áreas Stem (sigla que em português significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Na Austrália, a Academia Australiana de Ciências começou a desenvolver um plano para, em uma década, aumentar o engajamento e a participação

s estrelas

cimento no campo astronômico e científico do público feminino.

Já no Brasil, o projeto Meninas na Ciência (ação de extensão do IF-UFRGS, lançado há cinco anos) vem atraindo jovens para as carreiras em Stem e estimulando mulheres a se tornarem agentes no desenvolvimento científico e tecnológico do país. Na região de São José dos Campos, o projeto Mulheres em STEM²d (sigla para Ciências, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Manufatura e Design) é oferecido pelas alunas do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e realiza um trabalho para desenvolver o interesse pelas áreas de Ciências Exatas.

Ana Denise Ferraz, 20 anos, de São José dos Campos, afirma o porquê desistiu de ingressar no curso de Astronomia: “A principal questão foi que poucas instituições de Ensino Superior oferecem esse curso, todas

são longe da região de São José e tem a questão da dificuldade de trabalhar com isso no Brasil. O número de pessoas formadas nessa área é um tanto quanto reduzido.

Não há investimento”.

A falta de mulheres na ciência é algo ainda presente no Brasil e no mundo. Estudos relatam que apenas 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres. Natalia del Loco, 24 anos, de São Paulo, está terminando o mestrado em Astronomia e faz parte desse dado.

Desde criança, a astrônoma relata que já se interessava pelo céu, porém, não imaginava que

podia estudar aquilo. Tendo um pai químico, que a incentivava a fazer experimentos, e com a vontade de fugir do comum, optou pela graduação em Astronomia.

No começo, não recebeu apoio de muitos de seus familiares, chegou, até mesmo, a ouvir que passaria fome e não teria onde trabalhar.

Por outro lado, recebia incentivo de seus amigos e pessoas que tinham relação com as ciências.

Atualmente, Natalia diz que: “todo mundo acha super legal e bate no peito para falar: ‘ela é astrônoma!’. Falam com muito orgulho”.

você sabia?

Em março de 2019, a NASA cancelou a primeira caminhada espacial realizada com uma equipe formada por mulheres pela falta de trajes apropriados para o corpo de uma das astronautas, a qual utilizava um traje menor do que o preparado. Por esta razão, Anne McClain foi substituída por seu colega Nick Hague.

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HISTÓRIA

A UNE NOS TEM

POR GABRIELA BARRETO, MARIA CLARA ROLIM, NELSON MACHADO E VITTORIA LIMA

A democracia nem sempre foi algo presente no Brasil. Os atos de estudantes que mudaram o rumo da história do país No dia 31 de março de 1964, o regime militar derruba o então Presidente da República, João Goulart, começando um período de 21 anos de repressão e pouca – ou quase nenhuma – liberdade de expressão. A primeira ação dos militares foi invadir e incendiar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), na praia do Flamengo, Rio de Janeiro. Os militares tornaram ilegal a atividade dos estudantes, alegando que recebiam dinheiro da União Soviética e faziam apologia ao comunismo.

bilizavam a população. Os anos 60 foram marcados por atividades culturais, com estudantes

Rio de Janeiro.

“Apesar da disposição dos jovens, os gritos também de-

defensores de uma arte revolucionária que conscientizaria as camadas populares da opressão imposta pelo governo. O Golpe Militar marca uma ruptura no pensamento dos estudantes que passaram a buscar novos modos de contestação e luta política.

Assim, a UNE passa por grandes manifestações, até 1968, para chegar à luta armada.

Segundo Luiz Antônio Dias, vice-coordenador da pós-graduação de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e pesquisador do período militar, os estudantes passaram a responder à repressão com mais violência.

“A luta começa no luto” e “o povo armado derruba a ditadura” tornaram-se palavras de ordem após a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, durante um confronto com a polícia em um restaurante universitário no

monstravam certa ingenuidade, ao supor que passeatas, gritos e entusiasmo eram suficientes para derrubar uma ditadura bem estruturada e, principalmente, bem armada”.

“A luta começa no luto” e “o povo armado derruba a ditadura”

SURGIMENTO DA UNE A União Nacional dos Estudantes, que surgiu em 1937 durante o Estado Novo, rapidamente começou a se envolver em questões políticas que mo-

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OS CEM MIL Em junho de 1968, a Passeata dos Cem Mil, também no Rio de Janeiro, marca a união da Igreja Católica, classe média e parte da imprensa aos estudantes neste ato de repúdio à violência e repressão perpetrada pelo aparato militar do Estado.

O estudante de Relações Públicas, Peter Lucas dos Santos, que faz parte da atual diretoria da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE) – entidade ligada à UNE –, explica que nesse período começaram os maiores atos contra a ditadura.

Sempre com muita violência e censura por parte dos militares.

A UNE convocava a população por meio de jornais alternativos, cartazes e assembleias, mas sofria com o acirramento

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MPOS DE CHUMBO da censura no país.

Outro momento que marcou a história da entidade durante o golpe: a Batalha da Maria Antônia, ocorrida entre os dias 2 e 3 de outubro de 1968, quando alunos da USP (Universidade de São Paulo) e do Mackenzie, que era a favor da ditadura e tinha apoio dos militares, transformaram a rua em um campo de guerra.

“Um dos motivos desse enfrentamento foi que um tiro, vindo do prédio do Mackenzie, matou um estudante secundarista que estava na USP durante as manifestações, o que gerou revolta nos estudantes”, afirmou Peter Lucas.

SISTEMA AI-5 A batalha resultou no decreto do AI-5, que deu total liberdade ao regime militar em dezembro de 1968, deixando a situação dos estudantes mais difícil, perdendo todo o apoio que havia conquistado após a Passeata dos Cem Mil. “Os anos 70 marcam uma desmobilização da massa estudantil. A resistência tornou-se quase individual, restrita a pequenos grupamentos clandestinos”, aponta Luiz Antônio Dias.

O RETORNO O movimento estudantil reaparece, de forma visível e efetiva, em 1977, com novas manifestações representativas, ganhando destaque na imprensa.

Em setembro, a PUC-SP foi invadida pelo batalhão de choque da Polícia Militar. Buscando reconstruir a UNE, o 3º Encontro Nacional dos Estudantes foi encerrado de forma violenta, com a prisão de cerca de mil pessoas.

Após o fim do período militar, a UNE participou ativamente da campanha “Diretas Já”, movimento que reivindicava uma eleição presidencial direta no Brasil. Em 1985, a instituição recuperou sua legalidade.

NA UNIVAP O economista João Bosco foi um dos principais ativistas de São José dos Campos durante o período da ditadura. Entre os anos de 1968 e 1971, quando era universitário da UNIVAP, exerceu a função de dirigente do DACS (Diretório Acadêmico Campos Salles), em conjunto com lideranças do Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

“Nessas condições [AI-5], desenvolvíamos, com cautela, a luta estudantil. Lutávamos não só por melhorias nas condições gerais do ensino, mas, também e principalmente, pela restauração da liberdade democrática”, afirma o ativista.

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SAÚDE

O AMBIENTE DE T CAUSAR IMPACTO

O número de pessoas acometidas com transtor POR CATHERINE PAIXÃO E GIOVANA LOUREIRO

Há um ano, Larissa Paiva, 21 anos, começava sua jornada como operadora de telemarketing, atendendo clientes de uma empresa de telefonia. Após, aproximadamente, 6 meses, ela já sentia sua mente cansada por conta do trabalho, e precisou trancar sua matrícula na faculdade porque já não conseguia mais estudar. Tendo que lidar calada com inúmeros insultos e diversas situações de estresse, Larissa precisou procurar ajuda médica.

Pode parecer fácil trabalhar sentada na frente do computador, atendendo a ligações e usufruindo do ar-condicionado, mas só se desconsiderarmos os diversos fatores do ambiente de trabalho: clientes mal-educados te insultando por não terem suas exigências atendidas, cobranças constantes de supervisores e péssimas condições de trabalho.

“Depois de um tempo [trabalhando no call center] você começa a se sentir mal. Você é chamado

de incompetente o tempo inteiro.

Eu já estou até acostumada [a ser chamada assim]”, diz a atendente.

Os insultos desgastam o trabalhador, e ter que lidar com isso sem perder a postura, faz com que o desgaste mental seja ainda maior. “Eu já atendi uma cliente que dizia que minha vida seria infeliz, e que eu não merecia ser feliz”, conta Larissa. Além disso, o fluxo de ligações é muito grande.

Diante dessas situações, ela começou a descontar o estresse na comida. “Eu não conseguia mais atender [os telefonemas] sem estar mastigando alguma coisa, e isso me levou a quase 20kg a mais”, desabafa.

Vendo-se numa situação delicada, a jovem procurou ajuda profissional e foi diagnosticada com começo de depressão.

O AMBIENTE DE TRABALHO E A SAÚDE MENTAL DO COLABORADOR Segundo o psicólogo Glauber Mascarenhas, de São José dos Campos, nossas reações aos medos e perigos são desenvolvidas na nossa infância. E se essas reações se desenvolvem fora do normal, quando crescemos e ficamos diante de uma situação de estresse (situação que esteja fora da normalidade do nosso cotidiano),

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TRABALHO PODE OS PSICOLÓGICOS

rnos psicológicos é crescente, segundo a OMS

nossas reações podem ser disfuncionais e causar um transtorno.

Ele ainda ressalta a importância da percepção por parte do empregador de que algo não está indo bem com o funcionário, sendo necessário uma conversa inicial para que possa entender o Entre 2005 e 2015, houve um aumento de 18% nos casos de deque está causando tal desconforpressão no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. to e dificuldades na execução do A OMS revela que até 2020 a depressão será a doença mais intrabalho. Para o psicólogo, esses capacitante do mundo. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) desgastes por parte do colaboraestima que entre 20% e 25% da população tiveram, têm ou terão um dor acabam gerando problemas quadro de depressão em algum momento da vida. para a empresa que poderiam No Brasil, transtornos mentais e comportamentais são a terceira ser prevenidos. “Ele pode evitar, causa de incapacidade para o trabalho, correspondendo a 9% da conidentificando os estímulos escessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, de acordo tressores no ambiente de trabacom dados do 1º Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incalho. Isso é fundamental. pacidade da Secretaria de Previdência, em 2017.

Essa identificação e a retirada desses estímulos, para que seu colaborador possa desenvolver suas cionária. Larissa que haja benefício para atividades de forafirma que “nin- ambos“. Ter uma equipe de ma ampla, apta e guém entende trabalho saudável mentalnão desenvolva que cansa. Eu já mente, por consequência nenhum tipo de estou esgotada ela produzirá mais, estará transtorno psidaquele trabalho. satisfeita, e isso também cológico”, comQuando penso vai gerar uma satisfação no pleta Glauber. que amanhã vou lucro para o empregador.

Quando não trabalhar, eu “A empresa que pensa apehá esse olhar não tenho nem nas no lucro e não conseatento por parte ânimo. É a pior gue identificar aquilo que é da empresa, aca- Glauber Mascarenhas, coisa”. estressor no seu ambiente ba sendo uma psicólogo.

Diante des- de trabalho, ela coloca sua forma de prose cenário de equipe em uma situação de porcionar problemas diversos desgosto e desinteresse, o es- risco, e aí sim pode gerar no ambiente profissional, sendo pecialista endossa a relevância um prejuízo financeiro”, uma das várias queixas da fundo apoio do empregador para finaliza Mascarenhas.

A doença mais incapacitante do mundo

“Ter uma equipe de trabalho saudável mentalmente vai gerar uma satisfação no lucro para o empregador”.

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