FOCA#03 2021

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Embora acompanhe a humanidade desde a pré-história, a prática de tatuar só foi retomada no Ocidente nas últimas décadas, o que reabriu o debate sobre seu papel cultural PÁGINAS 18 A 21

N E S TA E D I Ç ÃO

CONSCIÊNCIA EM QUADRINHOS PÁGINA 4 AUMENTO DA MOBILIDADE ELÉTRICA PÁGINA 10 A DIVERSIDADE DA FÉ PÁGINA 14 O CELULAR E O AUMENTO DA SOLIDÃO DO JOVEM PÁGINA 22 LUZ, CÂMERA E MÁSCARA PÁGINA 25 JORNALISTAS INQUEITOS EM NOVAS FRENTES: PANDEMIA PÁGINA 29


ÍNDICE

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CONSCIÊNCIA EM QUADRINHOS DIVERSIDADE

A DIVERSIDADE DA FÉ COMPORTAMENTO

INCENTIVO Á LEITURA COMUNIDADE

LUZ, CÂMERA E MÁSCARA CINEMA

COMO POSSO ENCONTRAR UM ESTÁGIO? MERCADO DE TRABALHO

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AUMENTO DA MOBILIDADE ELÉTRICA SUSTENTABILIDADE

JORNALISTAS INQUIETOS EM NOVAS FRENTES: A PANDEMIA COMPORTAMENTO

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NA PELE DA HISTÓRIA HUMANIDADE

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A IMPORTÂNCIA DO PASSEIO DIÁRIO PARA OS CACHORROS SAÚDE PET

MULHERES NO SKATE ESPORTE

O CELULAR E O AUMENTO DA SOLIDÃO ENTRE OS JOVENS SAÚDE

NOSSOS COLABORADORES

CORRIDA CONTRA O TEMPO ESPORTE

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1 - Ana Vitória Caxias 2 - Bárbara Liz 3 - Bruna Caroline 4 - Débora Nobre 5 - Eduardo Marcucci 6 - Emily Siqueira 7 - Guilherme Faleiros 8 - Guillermo Furtado 9 - João Medeiros 10 - Júlia Nascimento 11 - Julie Petri 12 - Karolina Zanusso 13 - Laisa Rodrigues 14 - Maria Luiza Machado 15 - Matheus Correia 16 - Murilo Chagas 17 - Natan Alves 18 - Rafael Lalli 19 - Rodrigo Cabral 20 - Rogério Barbato Filho 21 - Victória Christina 22 - Prof. Fredy Cunha 23 - Prof. Lucaz Mathias

EXPEDIENTE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO (FCSAC) – TURMA 2021 REITOR Prof. Dr. Milton Beltrame Junior DIRETOR DA FCSAC Prof. Msc. Celso Meneguetti COORD. DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira EDITOR-CHEFE Prof. Esp. Fredy Cunha (Mtb 47292) PROJETO GRÁFICO Prof. Esp. Lucaz Mathias e Alunos do 6º período de Jornalismo CONSELHO EDITORIAL Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira, Prof. Esp. Fredy Cunha e Profa. Profª. Dra. Elizabeth Kobayashi Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP Av. Shishima Hifumi, 2.911, Urbanova, São José dos Campos – SP 12.244-000 / Tel.: (12) 3947-1083, www.univap.br Dúvidas e sugestões pelo e-mail: fredy.cunha@univap.br.

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REVISTA LABORATÓRIO FCSAC/UNIVAP - S. J. CAMPOS - ANO 22, EDIÇÃO 3 - 2021


EDITORIAL

O PODER

DA

(des)informação POR PROF.º FREDY CUNHA

O ato de se informar é historicamente importante e diz muito sobre você e sobre a sociedade da qual você faz parte. Se antes, na escrita da história, as informações ficavam mais restritas a pequenos grupos, por questões econômicas, por dominação e poder, e até por gênero, hoje é fato que essas restrições diminuíram muito. Acessar informações não é mais algo limitado e complexo. Frases como “informação ao alcance de todos” ou “está tudo na palma de nossas mãos” (em referência ao fácil acesso que muitos de nós temos aos celulares), tornaram-se clichês espalhados por aí. Mas o que também se espalhou com certa abundância foi a nossa capaci-

dade de se ‘desinformar’. Como o ser humano é propenso a trazer pra perto de si apenas o que lhe convém, perdendo a possibilidade de lidar com o contraditório e perdendo, também, a capacidade de análise e crítica daquilo que é colocando diante de si. Cuidado! Se a informação é algo importantíssimo, que nos possibilita avançar e alcançar bons caminhos, a desinformação tem um potencial tão grande quanto, porém pelo lado negativo. Viver dias de mentiras convenientes sendo espalhadas por aí, com a velocidade da internet e amparadas pela ignorância de muitos e pela maldade de alguns interesseiros, é algo extremamente nocivo. Mais uma vez, cuidado! Não abra mão de analisar, de pesqui-

sar e de buscar a INFORMAÇÃO. Pode até dar algum trabalho, mas é o caminho correto. Triste relatar que nos dias em que vivemos, que nos dão alguns sinais de que nos aproximamos do final de uma Pandemia, há quem tenha optado em não levar esta fase a sério, deixando de se cuidar, impactando negativamente na vida de outros e, pasmem, deixando até de se vacinar contra um vírus mortal. E por quê? Porque foram levados pelo perigoso vento da desinformação. Vento este que foi soprado inclusive pela autoridade máxima de nosso país, o presidente da República. Viu só... A desinformação é bem mais séria do que podemos imaginar. Por isso, cuidado! Sigamos adiante com mais critério, mais responsabilidade e, sim, com mais INFORMAÇÕES.

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DIVERSIDADE

CONSCIÊNCIA E O trabalho

A presença dos quadrinhos no Brasil tem mais de 150 anos. Desde a chegada da primeira história ilustrada em 1869, criada por um cartunista italiano, que gostava de contar crônicas sobre acontecimentos cotidianos nas terras brasileiras, as linhas ilustradas fazem parte de nosso dia a dia. Desse marco em diante, por meio de criações internacionais, nacionais, graphics novels, cartuns e até mesmo webtoons (os atuais e cada dia mais famosos quadrinhos online), diversas temáticas começaram a ser trabalhadas como forma de entretenimento e como uma abertura lúdica para o mundo da leitura. Mais recentemente, muitos autores, ilustradores e até mesmo órgãos públicos têm utilizado das histórias em painéis e quadros, para estabelecer uma abordagem social com seus leitores. Por meio de personagens já conhecidos e até mesmo criados especificamente para apresentar um determinado tema, grupos de artistas têm se reunido para contar histórias que possam conscientizar seu público através da inclusão de personagens variados, e que levem consigo uma bagagem que precisa ser desbravada pelos leitores, com POR BÁRBARA LIZ

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um olhar atento e muita reflexão. Uma artista que buscou lançar seu trabalho nesse âmbito, é Lana Clarice Potiguara, de 24 anos, natural do Rio de Janeiro. A artista, uma mulher trans, conhecida como Lana Flowerz, autora da série Mundo Meio Roxo, participa de diversos movimentos em prol de Direitos Humanos, e já possui dois livros impressos lançados, contando com mais de 25 mil seguidores nas redes. A quadrinista e ilustradora ficou conhecida por inserir personagens que apresentam diversidade e assuntos de grande pertinência social em histórias com pequenos quadros, mas com grande impacto no público. “Eu lia várias tirinhas fofas em 2015, mas sentia falta de representatividade nelas, então acabei criando meu próprio universo de tirinhas com os mais diversos personagens para abranger não só a mim, mas outras pessoas que não se sentiam representadas antes. Eu queria mostrar o quanto estamos cercados de cultura e diversidade. Uma coisa que eu digo para muitos é: “colocar diversidade na própria diversidade”, geralmente quando surge um personagem gay em séries, ele é um personagem padrão, branco e que sua personalidade é ‘ser gay’, sem nenhum outro papel relevante, usado apenas como um token para uma falsa representatividade”, explica Lana.

PENSAMENTO CRÍTICO Os quadrinhos e tirinhas criados por Lana ressaltam assuntos voltados para a comunidade LGBTQI+, a cultura de povos indígenas e o uso de personagens que vivem em situações normais, mas dificilmente trabalhadas nos meios artísticos: como religiões diversas, deficiências, doenças crônicas, entre outros detalhes que atraíram o público que passou a aprender e a se enxergar no trabalho da artista. Quando questionada se é possível as pessoas terem a realidade e o pensamento crítico atingidos pela arte em quadrinhos, Lana aponta que sim. “Acredito que seja uma ferramenta muito boa para isso. Muita


EM QUADRINHOS educacional das HQs e Graphic Novels

gente me chama respondendo que aprendeu muito lendo meus trabalhos e que tiveram outra visão sobre pessoas LGBT, por exemplo. Percebo que eu posso expressar esses questionamentos de forma didática através da arte. Talvez no primeiro contato as pessoas vejam como apenas tirinhas para alegrar o dia, mas quando lido mais atentamente e com frequência, elas percebem a crítica e a reflexão que ela carrega”, ressalta a ilustradora. Mariana Bertoni, 20 anos, é estudante de Artes Visuais na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e consome os mais variados estilos de tirinhas e HQs. Ela enfatiza que como forma de entretenimento, as graphic novels e histórias em quadrinhos podem ser utilizadas para atingir o público de maneira precisa, e auxiliar na construção de uma sociedade mais consciente. Mariana Bertoni

“Uma coisa que eu digo para muitos é: ‘colocar diversidade na própria diversidade’” Lana Clarice

Lana Clarice

“A HQ, assim como qualquer outro conteúdo que seja considerado um entretenimento, como os livros, filmes e séries, tem grande parte sim na formação da opinião dos consumidores, daquilo que a sociedade pensa no geral, nos assuntos que se tornam relevante, afinal de contas, nós somos cercados por tudo isso. Por isso, acredito que elas deveriam estar sempre em temas importantes como a inclusão social de pessoas negras, de pessoas deficientes, da comunidade LGBTQI+, de todos os movimentos sociais importantes que conhecemos. Particularmente, grande parte do conteúdo de HQs que já consumi, tratava muito de questões sociais, filosóficas, políticas e geográficas, e que me levaram a pensar a fundo sobre o assunto”, conta Mariana.

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DIVERSIDADE

HQ AS AVENTURAS DO CONSELHINHO EM: ACABANDO COM O CORONAVÍRUS – POR CONSELHO TUTELAR DE CAPELA DO ALTO Sinopse: O Conselho Tutelar de Capela do Alto (SP) criou um personagem e aproveitou para conscientizar a população sobre a importância e a forma correta de se prevenir da Covid-19 por meio de conteúdo gratuito e em quadrinhos. Intitulado Conselhinho, a HQ está disponível em vídeo, e pode ser acessado por smartphone, tablet ou desktop.

HQ JEREMIAS PELE – POR RAFAEL CALÇA E JEFFERSON COSTA Sinopse: Jeremias é um dos melhores alunos da classe. Tem vários amigos e uma rotina muito feliz ao lado dos pais. Até́ o dia em que ele encara o preconceito por causa da cor da sua pele.

REAÇÕES POSITIVAS Grupos editoriais como a MSP – Maurício de Sousa Produções e órgãos públicos como Conselhos Tutelares e Forças de Segurança, entraram em temas essenciais para a população, por meio das HQs. De acordo com o projeto de conclusão de curso realizado por José Leonardo de Oliveira Neto, graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba, esse uso das HQs é válido e pode gerar reações positivas. “A imagem associada à palavra exerce grande fascínio para os mais diversos tipos de leitores. Podemos inferir que as HQs utilizadas como fonte de informação contribuem para a geração do conhecimento”, conclui José. Dentro do público consumidor e como artista, Mariana indica, ainda, que vê um enorme potencial das HQs para continuarem atuando como fontes de conscientização no mercado e como objetos de abordagem para situações infinitas. Isso, devido às amplas possibilidades entregues ao autor. “Há mais liberdade de expressão para o ilustrador, mais temáticas a serem exploradas, e que contrastam sim com as diferentes faixas etárias que consomem as histórias em quadrinhos. Vejo que há certa resistência por parte do público ao enxergar representatividade, mas que precisa ser combatida justamente com a inclusão e a inserção desses temas nas obras.”

HQ TINA RESPEITO – POR FEFÊ TORQUATO Tina é mostrada como uma jovem mulher começando seu primeiro emprego como jornalista em ambiente de redação. Já admirada por seu trabalho em um blog independente, a profissional agora lida com colegas de trabalho, autoridades e enfrenta uma situação infelizmente corriqueira no mundo de trabalho das mulheres. 6


COMUNIDADE

incentivo à KAROLINA ZANUSSO


COMUNUIDADE

Projeto de escritor taubateano leva livros infantojuvenis a escolas periféricas de todo o Brasil

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O Brasil soma 100 milhões de leitores, o que representa apenas 52% da população, segundo dados da 5ª edição da pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, divulgada em setembro de 2020, com dados de 2019. Ainda segundo o levantamento feito pelo Instituto Pró-Livro, em parceria com o Itaú Cultural, de 2015 a 2019 o país perdeu 4,6 milhões de leitores. O que explica a drástica perda, de acordo com o estudo, é a falta de tempo da maioria dos entrevistados (47%), que utiliza o tempo livre para assistir à televisão, ouvir música ou navegar nas redes sociais. Entre os não-leitores, 28% afirmaram que não gostam de ler. “Foi um percentual de elevação muito significativo. A maior dificuldade que eles têm é tempo para ler ao longo do ano – e o tempo que sobra está sendo usado nas redes sociais. Acho que isso de certa forma explica, em parte, essa queda”, argumenta Zoara Failla, coordenadora da pesquisa em entrevista ao CENPEC Educação, em setembro de 2020. Em Taubaté, o escritor e dramaturgo Sidney Bretanha, 49, decidiu ir além do teclado do computador e da própria imaginação. Depois de três livros publicados – dois deles com indicação ao Prêmio Jabuti, o Oscar da literatura brasileira –, ele desenvolveu o projeto Voa Livro, o primeiro clube de assinatura solidário do Brasil. A ideia é a seguinte: pessoas físicas ou


empresas podem escolher doar R$ 30,00 (uma obra), R$ 60,00 (duas obras) ou R$ 90,00 (todas as três obras), quantas vezes quiserem e puderem. Os exemplares são destinados a escolas periféricas de todo o país, que concordem em criar um projeto literário junto às crianças das faixas contempladas (cada um dos títulos é indicado aos diferentes anos do Ensino Fundamental). LAÇOS DE AMOR Para o taubateano, estimular e incentivar a leitura vai além da construção educacional do indivíduo. É um ato de amor e carinho, significa também criar laços: “Quando falamos de literatura infantil, principalmente durante o processo de alfabetização, a criança não lê sozinha, mas sim na companhia de um jovem, adulto ou idoso, proporcionando momentos de descoberta, carinho, aproximação e tempo juntos, estimulando não só a criança, mas também o adulto. Posteriormente, uma vez estimuladas à leitura, essas crianças já um pouco crescidas passam a ser jovens que não mais lerão por obrigação, mas por prazer”. Mas como entusiasmar os pequenos a lerem num mundo repleto de telas e entreteni-

mento que, muitas vezes, os desobriga do olhar crítico? Para o escritor, é papel dos adultos ser exemplo: “As crianças e jovens vivem numa era tecnológica dentro e fora de seus lares, dos muros da escola, da convivência com seus amigos. E elas percebem isso ao observarem os adultos que fazem o mesmo. Só que elas não entendem que o adulto pode realmente estar lendo uma reportagem, um livro, uma crítica no celular, tablet ou notebook. É preciso ser exemplo, é preciso que os adultos também se afastem das telas. Além disso, os adultos jamais devem colocar a leitura como castigo, mas estimulá-las e premiá-las pelo hábito”. A partir daí, Sidney acredita que estes leitores passam a enxergar a vida de forma diferente: “A leitura não muda a vida das pessoas, ela muda o olhar da pessoa sobre a vida, e esse é o ponto principal. Mas, sim, o livro pode abrir sua percepção sobre o outro, sobre a sociedade, sobre si mesmo e aí sim a mudança acontece”. Páginas de Mudanças A coordenadora pedagógica Aline da Silva, 43, de Barbacena, interior de Minas Gerais, faz parte de uma das escolas que toparam criar o projeto para os alunos e, para ela, livros

“a criança não lê sozinha, mas sim na companhia de um jovem, adulto ou idoso, proporcionando momentos de descoberta, carinho, aproximação e tempo juntos” Sidney Bretanha

são um importante caminho rumo à mudança: “A literatura pode sim mudar vidas, e pode também construir novas vidas. Por meio de palavras bem colocadas e com a simbologia correta, ela abre caminhos de encorajamento e esperança para os leitores. Eu acredito na mudança do mundo por meio das páginas de um livro”. A educadora pôde ver de perto como as histórias do autor influenciaram positivamente seus estudantes: “Por meio da magnífica obra ‘Alf, o amor tem quatro patas’, os alunos se conscientizarem de que ter um amigo autista é muito engrandecedor e que podem aprender muito com ele. Alinhando o enredo do livro à realidade escolar, os alunos ficaram mais sensíveis às necessidades do próximo e criaram meios mais eficazes de interação e inserção na rotina escolar”. E ressalta que “promover projetos literários faz com que alunos, tanto crianças bem pequenas até os jovens, compreendam que a diferença que queremos no mundo parte da ação de cada um. Incentivar a leitura é incentivar o protagonismo na progressão das múltiplas aprendizagens, porque articula as experiências vividas e as sonhadas com o trabalho lúdico de aprendizagem. Por intermédio de uma leitura adequada à sua faixa etária, o aluno estimula o pensamento lógico, criativo e crítico, bem como sua capacidade de perguntar, argumentar, inferir, interagir e amplia suas competências ‘leitora e escritora’”.

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SUSTENTABILIDADE

AUMENTO DA

mobilidad São José dos Campos apresen-

POR EMILY SIQUEIRA

Transportes movidos à bateria ganham mais atenção em época de distanciamento social

Por conta da pandemia da COVID- 19, a mobilidade elétrica ficou cada vez mais cobiçada por oferecer uma alternativa para evitar as aglomerações em transportes públicos. Com o aumento da procura, é comum encontrarmos cada vez mais lojas físicas que ofereçam a venda de patinetes, scooters, bicicletas e skates elétricos em São José dos Campos. Como por exemplo, a Eco WM, localizada no bairro Jardim das Indústrias e a Gloov, no centro da cidade. Sofia Capellari, 22, estudante, diz: “Na época em que comecei a faculdade, a Yellow estava em alta. Em todo canto eu via os patinetes disponíveis para locação e me ajudava demais no dia a dia, mas como a pandemia resultou na remoção dos serviços, decidi investir na minha própria scooter elétrica para, também, não sofrer o ris-

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co de contaminação da Covid em transportes públicos”. Embora os serviços de locação de patinetes oferecidos pela Yellow não estejam mais disponíveis, a cidade conta com o aluguel de carros elétricos da empresa “Beep Beep” que, atualmente, está disponível em outras três cidades: São Paulo, Guarulhos e Campinas. Entretanto, São José ganha destaque em questão de avanço tecnológico. O município foi o primeiro do Brasil a disponibilizar os carros em vias públicas com sistema dockless (com isso, o motorista pode estacionar em qualquer lugar apropriado dentro da área disponível para circulação). Já em São Paulo, por exemplo, a empresa disponibilizou a possibilidade de estacionar apenas em vagas de estacionamentos privados. Além da locação, a venda de carros elétricos no Brasil cresce cada vez mais. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em maio de 2021, o país bateu o recorde de vendas totalizando 3102 veículos emplacados.

TRANSPORTE PÚBLICO Já em relação aos transportes públicos, a Prefeitura de

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tou em março de 2021 um novo projeto de mobilidade sustentável conhecido como VLP (Veículo Leve sobre Pneus.) Esse será o primeiro ônibus articulado totalmente elétrico do Brasil. A proposta é garantir um corredor para interligar as regiões sul, leste a região central, tornando a conexão entre as regiões mais dinâmica, rápida e garantindo nenhuma emissão de gases nocivos. A qualidade de vida da população é afetada diretamente por conta da poluição dos automotores, prejudica as vias respiratórias ocasionando complicações desde alergias até um câncer no pulmão. Por conta disso, trafegar exalando fumaça do escapamento gera multas graves para o condutor. Embora já haja essa penalidade para prevenir tal situação, São José dos Campos realizou uma outra ação para poupar o meio ambiente dos impactos causados pelos gases poluentes. Desde 2018, a cidade conta com carros elétricos para a Secretaria de Proteção ao Cidadão. A frota da Guarda Municipal é a única no Ocidente a ter veículos 100% elétricos, sendo superada no mundo apenas pela China. Um estudo feito pelo Instituto de Energia e


de elétrica Meio Ambiente (IEMA) revela que os automóveis são responsáveis por 72,6% das emissões de gases no efeito estufa. Como a pandemia impactou negativamente a economia do país, isso fez com que a inflação crescesse significativamente. Conforme o posicionamento da Petrobrás no início de setembro, o valor da gasolina irá aumentar novamente. Desde janeiro de 2021 o preço já subiu quase dez vezes. Segundo Yohan da Rocha, 21 (dono da loja de mobilidade sustentável Eco Wm), “atualmente os maiores motivos que observo pela procura dos clientes é pelo fato de buscarem uma alternativa de mobilidade mais econômica. Grande parte dos clientes reclama do preço da gasolina e conclui que, para a rotina deles, o elétrico se encaixa perfeitamente”. Outro ponto positivo dessa mobilidade sustentável é que há diversos modelos de bicicletas e scooters que são isentas de CNH e emplacamento. Além de oferecer praticidade, economia, tecnologia, entre outros.


SAÚDE PET

A IMPORTÂNCIA DO PASSEIO D POR GUILLERMO FURTADO

Passear diariamente pode trazer muitos benefícios para a saúde e qualidade de vida do animal Sempre recebemos orientações de que a prática de exercício físico é extremamente benéfica para se ter mais saúde e disposição. E com os pets não é diferente. Fazer atividades físicas contribui para o desenvolvimento de hábitos mais saudáveis para o seu cão, seja uma simples caminhada ou um bom tempo dedicado a brincadeiras, pois tudo isso ajuda para que o animal tenha mais saúde física e mental. Em entrevista, o dog walker Matheus Vale nos deu algumas dicas de passeios e nos contou um pouco dos benefícios e das razões de não manter o seu cão preso em casa. “Embora

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muitas casas tenham jardins e quintais grandes, levar o seu cãozinho para passear deve ser a principal fonte de exercícios dele e não tem nenhuma outra atividade que possa substituir isso. Os passeios vão manter o seu cachorro ativo, dinâmico e saudável”. Ele complementa: “Um cão que não sai para passear, diariamente, tem a tendência a ter comportamentos destrutivos, a estar ansioso, a latir e, em algumas ocasiões, até a ser agressivo. E o passeio diário é a principal alternativa para resolver tudo isso”. Um corpo que não se movimenta tem grandes chances de desenvolver problemas de saúde e isso se aplica tanto para seres humanos quanto para animais, de forma geral. Quando estamos em movimento, o nosso organismo é estimulado a produzir uma série de hormônios que podem trazer diversos benefícios para a saúde, promovendo importantes mudanças no metabolismo. E o sedentarismo nos animais

pode acarretar diversos problemas para eles. A obesidade é um desses principais problemas, pois como o cão não se exercita diariamente, a energia extra adquirida na alimentação vira caloria e gordura. Ou seja, é muito importante que o seu pet movimente seu corpo para garantir o correto desenvolvimento.


DIÁRIO PARA OS CACHORROS “Hoje em dia, muitos donos não têm disponibilidade diária para passear com seus animais, mas para isso existe o serviço de dog walker. São profissionais que levam os cachorros para passear conforme a necessidade de cada um”, diz Matheus, que trabalha com o passeio de cães há 4 meses. COMO SABER QUE O SEU CÃO PRECISA SE EXERCITAR? Segundo Matheus, os cães possuem a sua própria maneira de transmitir sentimentos e emoções, e é o dono que precisa estar sempre atento para compreender o que eles querem dizer com cada atitude. “Muitos cães chamam os seus donos para passear cutucando-os com o focinho. Já, outros, latem para a coleira e há aqueles que conseguem pegá-la e leva-la até o dono, indicando a vontade de passear”, diz o profissional. “Cada pessoa deve conhecer o comportamento do seu

animal e ficar atenta ao sinal que ele quer transmitir”. O TEMPO DE PASSEIO Para finalizar, o dog walker Matheus Vale dá algumas dicas sobre o tempo de passeio com o seu cachorro. Para ele, apesar de não haver um tempo preestabelecido para o passeio, é recomendável que se faça pelo menos um passeio por dia com o cachorro, de forma que ele se exercite e gaste energia. Mas ele também deixa claro que isso varia muito de cão para cão. “Se você tiver um cachorro muito elétrico, que gosta de sair à rua, o melhor é investir em longos momentos de passeio para conseguir queimar sua energia. Se, pelo contrário, o seu cão for tranquilo, ou de idade avançada, não serão necessárias longas caminhadas ou vários passeios.” Agora que você já sabe da importância de exercitar o seu cão, diariamente, não deixe isso para depois! Dê ao seu cão amigo uma vida mais saudável e mais feliz ao seu

lado.

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COMPORTAMENTO

A diversid

EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

POR MATHEUS CORREIA

A cidade de São José dos Campos tem veias religiosas desde a sua fundação. Com uma origem baseada na fé cristã, principalmente em preceitos jesuítas e católicos, São José demonstra sua religiosidade já em seu nome. De acordo com dados do último censo realizado pelo IBGE, a população da cidade é majoritariamente católica ou protestante. Reforçando esta estatística, a Prefeitura afirma que o município possui cerca de 470 templos ou espaços destinados à organizações religiosas, sendo a maioria deles, católicos e evangélicos. Templos como a Igreja Matriz, a Igreja da Cidade e a Diocese São

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Dimas são amplamente conhecidas e tratadas como cartões postais ou pontos turísticos da cidade. Entretanto, por conta das migrações e intercâmbios culturais, volumosos em nosso país, crenças diversas e “adversas” ao nosso limitado conhecimento também fazem parte do cotidiano e do funcionamento da cidade. São José conta com diversas comunidades de diferentes fés. Islamismo, budismo, espiritismo, umbanda, candomblé, espiritualismo e judaísmo são outras crenças que também fazem parte da estrutura religiosa da cidade. Infelizmente, a presença

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destas crenças “incomuns” para uma cidade predominantemente cristã, acaba causando certo mal-estar entre moradores da região ou praticantes de outras religiões, tornando-as vítimas de intolerância. Thiago Rodrigues, dirigente do Núcleo de Umbanda Sagrada de São José dos Campos, relata que sua organização sofre até hoje com atitudes desrespeitosas e intolerantes. “Sofremos com isso quase todo dia, principalmente nas redes sociais. Quando impulsionamos uma publicação no Facebook, oferecendo cursos ou aulas, é comum aparecer comentários como “tá amarrado” ou “vão falar sobre Deus””. De acordo com Thiago, a intolerância também extrapola o âmbito virtual. Ele relata que o terreiro já recebeu desenhos que representavam uma espécie de demônio; segundo ele, o desenho era feito por uma criança, que era incentivada pela mãe. Além deste problema, estas organizações também sofrem no setor financeiro, já que, por conta da quantidade menor de praticantes, não conseguem arrecadar valores altos. “Nós dependemos de doações por parte de trabalhadores e frequentadores da casa. Mesmo assim, o valor obtido muitas vezes não é


dade DA FÉ

S

Sendo uma cidade com sua população predominantemente católica e protestante, São José também é lar de diversas outras crenças e religiões suficiente.”, afirma Gléria Lúcia, Presidente do Conselho Diretor do Centro Espírita Divino Mestre. Fundada em 1939, a organização espírita é uma das principais representantes da religião na cidade. Gléria afirma que o centro já sofreu com intolerância no passado, mas hoje, é muito mais aceito pelas pessoas na região. Outro problema enfrentado pela maioria dos templos e espaços religiosos nos últimos tempos foi a suspensão das atividades por conta da pandemia de Covid-19. Como alternativa, o CEBB (Centro de Estudos Budista Bodisatva) ofereceu atividades online para seus praticantes. “Para manter o centro ativo, tivemos a ideia de realizar palestras, aulas e cursos de maneira virtual para nossos frequentadores. Tivemos uma participação legal por parte deles e é bem notável o crescimento do budismo na cidade, já que antes mesmo da pandemia o número de praticantes era alto.”, afirma Renan Brito, coordenador do centro. A religião é algo extremamente importante e presente em qualquer sociedade ao redor do globo. Neste complicado e turbulento momento, ela serve como refúgio para muitos. São

José dos Campos é sem dúvidas uma cidade onde a fé faz parte da vida de muitos de seus moradores. Por isso, muitos praticantes e organizações aproveitaram o meio virtual para realizar missas, cultos, sessões, orações, meditações, aulas, palestras, entre muitas outras atividades, para conectar o devoto à sua crença. Entretanto, a intolerância se mostra presente no município, mesmo em uma era onde muitos tem fácil acesso à informação, podendo se informar em relação a uma religião “diferente” ou “desconhecida”. É um problema

“Sofremos com isso quase todo dia, principalmente nas redes sociais” Thiago Rodrigues, dirigente do Núcleo de Umbanda Sagrada difícil de ser controlado ou reparados, mas que infelizmente, interfere muitas vezes na liberdade de “crer” de uma pessoa. São José dos Campos carrega um nome cristão, mas está aberta à todas as fés.

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MERCADO DE TRABALHO

ESTÁ COMO POSSO

POR DÉBORA NOBRE

Há ótimos portais online para encontrar uma vaga de estágio, a começar pelo site mais acessado por alunos da graduação: o do CIEE, que é uma conexão entre estudantes e empresas. Após fazer o seu cadastro, ele localiza uma vaga ofertada na área desejada dentro dos padrões do seu currículo. Nas Prefeituras de São José dos Campos, Taubaté e outras cidades da região, sempre têm concursos para estagiários, por meio de um processo seletivo que você pode participar duas vezes por ano. O uso do app de relacionamento profissional Linkedin tem crescido bastante no Brasil, e o mais importante é montar um perfil sem timidez, contando bastante sobre sua carreira e metas

de trabalho, conectar-se com o máximo de pessoas ao seu redor, porque por meio de um compartilhamento de um amigo você irá concorrer a vaga por intermédio do app. Na Univap (Universidade do Vale do Paraíba), a TV UNIVAP é um local onde o estudante de Comunicação Social pode aprender muito sobre a área de produção de telejornalismo, desde fazer uma pauta, gravar, atuar no áudio, editar vídeo, até a ser o apresentador. Todos os conteúdos dos programas são enviados para o canal universitário número 8 da NET e 10 da VIVO. Francine Padilha, que é coordenadora desta TV universitária disse que todo ano os alunos têm a oportunidade de fazer o processo seletivo para ser estagiário. Basta estar matriculado, com as notas em dia, e fazer uma prova prática dependendo do seu curso. Também existe a oportunidade de fazer o estágio voluntário não remunerado para cumprir as horas obrigatórias de estágio.

“O estagiário de comunicação dentro da TV Univap pode exercer diversas funções. O aluno de jornalismo pode fazer reportagem como num ambiente de televisão, já o aluno de Publicidade e Propaganda, e Rádio e TV, pode ficar mais na parte de edição de áudio e vídeo. O interessante é que os alunos podem migrar de funções ao longo desse período que passam na TV.” Ela ainda complementa que o universitário tem a oportunidade de produzir, fazendo o passo a passo como se estivesse produzindo para um telejornal. É uma experiência prévia, bacana, de se ter noção de como funciona a realidade do mercado de trabalho, conhecendo a dinâmica de uma redação de televisão.

MAIS OPORTUNIDADES O Super Estágios é uma agência focada em estágios para todas as regiões do país e, também, para quem está no Ensino Médio e Técnico. É só fazer o login no site e seguir as redes sociais para ficar informado sobre as chances de trabalho.


ÁGIO? ENCONTRAR UM

Confira dicas de como achar uma vaga ideal para você, estudante da graduação

Na região do Vale do Paraíba, tem a empresa Evo Estágios, que está sempre atualizando as ofertas de vagas para diversos cursos. Basta cadastrar seu currículo na plataforma. O Portal Abre é uma agência que também faz a união entre candidatos e instituições para o primeiro passo da realização profissional de estágio. Pelo Whatsapp ou Instagram, é possível que alguém da sua faculdade lhe envie uma mensagem de contato de uma empresa que está procurando estagiário da sua área, ou até mesmo em grupo de emprego do Facebook. É LEI Saiba que o estagiário é protegido pela Lei nº 11.788/2008, que garante o seu aprendizado em um ambiente de trabalho, podendo ser estudante devidamente matriculado com mais de 16 anos. Terá uma carga horária de 4 a 6 horas por dia, e sempre com um supervisor ao seu lado para instrui-lo. Jamais tem expediente aos fins de semana e feriados. Geralmente, um estágio tem

contrato com duração de 6 meses a 1 ano, podendo ser renovado até o seu último semestre da faculdade, ou sendo efetivado como funcionário da área que você sempre sonhou. Também se tem direito ao vale transporte, vale alimentação e é possível ter plano odontológico, dependendo da empresa que for estagiar. Muitos benefícios no início da carreira. Andressa Souza, 19 anos, viu na página da prefeitura de SJC que teria vagas abertas para estágio de Jornalismo. Ela fez o cadastro no site do CIEE. As atividades oferecidas foram o que a impulsionou a buscar a vaga, como administrar as redes sociais e fazer pauta. O processo foi realizado por meio de uma prova e a convocação em seguida, para uma breve entrevista por telefone. “Fiquei muito feliz, a experiência está sendo muito especial, já me desenvolvi e evoluí muito no dia a dia do trabalho”. Vale sempre buscar uma vaga. “No tempo certo irá chegar, você vai aprender bastante e vivenciar inteiramente essa experiência. Vá atrás, mande currículo e tenha fé, quando é para ser, acre-

dita, você é capaz”, disse ela. Gustavo Rosa, de 20 anos, soube da vaga de estágio na Rede Record por meio do grupo da sala no whatsapp. Fez a entrevista pelo Zoom e, após passar no processo seletivo, foi para a entrevista presencial, quando conseguiu a vaga para estagiar como produtor de TV. “Para mim está sendo um desafio fazer a apuração da notícia ali, em tempo real. Todos os dias que chego na TV, saio da zona de conforto, mas, além disso, o jornalismo de TV é o que eu quero para mim nos próximos anos. Um dia antes de saber da vaga, imaginei: ‘ali é onde quero trabalhar’.”

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HUMANIDADE

Embora acompanhe a humanidade desde a pré-história, a prática de tatuar só foi retomada no Ocidente nas últimas décadas, o que reabriu o debate sobre seu papel cultural

NA PELEDA POR EDUARDO MARCUCCI, RAFAEL LALLI E ROGÉRIO BARBATO FILHO

O ser humano sempre foi um animal profundamente expressivo. Toda vez que desenvolvia uma nova técnica – pintura, escrita, escultura, cinema... –, ela era logo aplicada à comunicação de mensagens e significados, ou simplesmente à expressão de alguma ideia de beleza. As modificações corporais, como a tatuagem e o piercing, também se inserem nessa longa história da expressividade humana.

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Desde a pré-história já é possível identificar indícios da existência das tatuagens. Em seu livro “Les Hommes Illustrés” (“Os Homens Ilustrados”, em tradução livre), Jérôme Pierrat e Eric Guillon explicam como possivelmente a tatuagem surgiu junto a outras expressões artísticas, como grafismos e pinturas em objetos. Isso teria criado a noção nos homens primitivos de que o corpo seria mais um espaço para aplicar a arte, que não se distinguia dos outros objetos. Porém, esse tipo de marcação tem um significado diferente para cada cultura em que está tradicionalmente inserida. Em algumas, denota coisas positivas, como uma distinção para guerreiros e nobres, proteção espiritual, a identificação de adeptos

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de uma religião ou a transição para a vida adulta. Em outras culturas, pode servir para marcar criminosos, hereges, prostitutas e outros tipos de párias. ESTIGMA Historicamente, a sociedade ocidental teve uma relação conflituosa com as tatuagens. Mas, nas últimas décadas, essa realidade vem aos poucos se transformando. Flavio Carnevalli de Carvalho, de 35 anos, atua como tatuador em São José dos Campos há 17 anos. Em sua visão, o estigma hoje é pequeno: “Talvez em algumas religiões. Bem pouco, mas ainda tem. Por mais que muitas pessoas ‘das antigas’ estejam abertas à tattoo, tem muita gente de cabeça fechada”. No mercado de trabalho, Flavio acredita que o


A HISTÓRIA estigma esteja praticamente extinto: “Não vejo muito o lado corporativo atrapalhar mais, porque eu tatuo advogados, médicos, engenheiros. Hoje eu fiz o braço até aqui [indicando o pulso] de uma engenheira, entendeu? Então não tem muito mais essa”. Fernanda Vasconcellos, 32, designer gráfica e gerente de estúdio de tatuagem que mora em São José dos Campos, já fez mais tatuagens do que consegue lembrar: “Nossa, já perdi a conta. São muitas. São, eu acho que… Como eu tenho o braço fechado eu considero que é uma. Eu acredito que eu tenho umas 23. Não, 25. Ah, eu não sei, de verdade, eu já perdi a conta”. Ela diz que a maior resistência, no seu caso, vem de parentes. “Olha, a família geralmente não gosta muito. Mas eu acho que

preconceito real, não”. Contudo, ela conta que, eventualmente, já sentiu que precisava se prevenir de antemão contra a possibilidade do estigma: “Já teve reunião de trabalho que eu preferi ir de camisa longa, por exemplo, para não correr o risco de sofrer esse preconceito e me atrapalhar com relação ao trabalho. Mas hoje em dia é bem mais tranquilo”.

POR QUE ‘TATUAGEM’? Para fazer as tatuagens, os povos polinésios utilizavam ossos muito finos e um tipo de martelo que, ao chocar-se com os ossinhos, perfuravam a pele e introduziam a tinta. Desse processo, surgiram os termos taitianos “tau” ou “tatau” que, além de ser uma onomatopeia do barulho que as ferramentas faziam durante o processo, também significa ferida ou desenho batido. Esses termos originaram a palavra inglesa “tattoo”, que foi difundida pela tripulação do capitão James Cook para o mundo todo.


HUMANIDADE

MÚMIAS: EGÍPCIAS E TATUADAS A civilização egípcia sempre teve uma profunda preocupação com a eternização e a estética, criando monumentos, esculturas e outras obras de artes que fornecem amplo material para estudo. Devido a essa riqueza de conteúdo, é bem mais fácil encontrar informações que comprovam a existência de tatuagens na cultura egípcia. E não seria coincidência que as múmias tatuadas mais antigas fossem dessa civilização. Conhecidas como Múmias de Gebeleim, datam do período pré-dinástico e teriam mais do que 5000 anos. Duas delas, uma de cada sexo, possuem tatuagens figurativas: a masculina tinha um touro selvagem e um carneiro-dabarbária tatuados no braço e a feminina símbolos que remetem a letra S e L nos seus ombros e abdômen. “TATUARTE” Entre os adeptos da tatuagem, há poucas dúvidas sobre a sua natureza artística: “para mim é uma das expressões artísticas mais complexas que tem, tanto para o tatuador quanto para quem está sendo tatuado, porque é algo definitivo, né?”, diz Fernanda. Ela acredita que o que torna a tatuagem uma forma de arte é justamente sua expressividade: “Você pode expressar como você se sente com aquele

desenho, para mostrar para o mundo o que você é, o que você representa”. O tatuador Flavio vai além: “Cara, eu vejo a tatuagem como uma libertação. Era algo muito oprimido, reprimido, né? Tipo… A galera marginalizava demais. E hoje em dia eu vejo como uma libertação”. Ele acredita que a tatuagem se tornou algo democrático: “Hoje em dia você vê pessoas de todas as idades, todos os gêneros, todas as classes, in-

diferente de profissão, tatuando. Parece que muitas pessoas usam a tatuagem para soltar o que está dentro delas, sabe?”. ESTÉTICA OU SIGNIFICADO? A motivação que leva alguém a se tatuar hoje pode variar muito, mas a relação que as pessoas estabelecem com o desenho pelo qual optaram geralmente cai em uma de duas categorias: uns escolhem fazer uma tattoo simplesmente porque acham o desenho esteticamente bonito; outros optam por desenhos específicos que carregam algum significado pessoal para eles. Flavio conta que em seu estúdio há muito equilíbrio entre os dois grupos: “Olha, posso dizer que é cinquenta e cinquenta [por cento]”. Em décadas anteriores, havia mais procura por tatuagens com significado próprio. Mas Flavio afirma que a internet mudou essa

ÖTZI, O TIROLÊS DAS NEVE Não se sabe exatamente quando o ser humano começou a se tatuar, principalmente devido à dificuldade de encontrar resquícios em bom estado. Ainda assim, provas arqueológicas de tatuagens foram obtidas em múmias e referências presentes em obras de arte. 20

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realidade: “Hoje em dia não se preocupa tanto com o significado, é muito um lance estético. Com o crescimento de redes sociais, Instagram e Pinterest, por exemplo, a galera tem muito acesso a tattoo. Então muita gente traz a ideia que viu pronta e quer reproduzir”. Fernanda diz que prioriza esse aspecto: “para mim é uma questão estética. Apesar de muitas das minhas tatuagens terem algum significado, eu sou total a favor do estético, tanto que o meu braço não tem significado nenhum. Ele é inteiro tatuado, mas porque eu achei bonito e quis fazer”. Ainda assim, ela acredita que essas questões são individuais, e as motivações podem inclusive variar para uma pessoa: “É uma coisa bem aberta. Para mim é bem aberto”. VÍCIO Quanto mais tatuagens uma pessoa faz, mais ela parece querer fazer. Ou, ao menos, essa é a

visão que muitas pessoas têm: fazer tatuagem vira um vício. Mas por que isso acontece? Para Fernanda, isso tem a ver com superar a primeira barreira: “Todo mundo pensa que dói muito. E realmente dói, tá? Só que quando você faz a primeira, você vê que não dói tanto assim”, ela enfatiza. “Então aquela coragem que você precisa para fazer a primeira, para entender qual é a dor, você faz e fala ‘ah, não dói tanto assim. Vou fazer uma segunda. E uma terceira… E uma quarta’”. Flavio também acredita

que a questão está em superar esse primeiro entrave: “Tem pessoas que não têm tattoo e eu falo ‘não faz a primeira se você não quer’. Porque depois que você faz a primeira, a sua vida vai mudar. A mente abre. Não digo que [você vá pensar] ‘ai, vou querer me fechar inteiro’. Não, mas é que parece que alguma coisa… A chave vira dentro de você. Porque você vê que aquilo ali vai fazer parte de você. E você vai querer cada vez mais. Porque você vai ver como é legal ter um adorno que é seu para sempre”.

E O OCIDENTE? Apesar das práticas já serem comuns para a maioria dos povos europeus na Antiguidade, houve muita resistência com a aceitação dessa cultura no Ocidente. O motivo está ligado ao cristianismo, principalmente devido ao ganho de expressividade que a Igreja Católica alcançou durante a Idade Média, segundo o livro “Tatuagens e Marcas Corporais”, de Ana Costa. Ao estigmatizar os grupos que tinham tais marcas, sugerindo associações com práticas heréticas, a Igreja tornou essa arte impopular.

ES Em 1991, foi encontrada na fronteira entre a Áustria e a Itália uma múmia masculina de 5200 anos, batizada de Ötzi pelos pesquisadores. Ele apresenta 57 tatuagens não figurativas, basicamente traços e pontos em lugares pouco visíveis, o que exclui a ideia de terem uma função expositiva. Isso fez surgir uma hipótese interessante quando os pesquisadores perceberam que a localização das tatuagens bate com os pontos normalmente trabalhados durante a acupuntura. Com isso, levantou-se a ideia de que, dentro do grupo cultural de Ötzi, as tatuagens teriam um cunho terapêutico.

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SAÚDE

o cel

E O AUMENTO DA S Redes sociais são vilãs para as novas gerações

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SOLIDÃO DO JOVEM POR ANA VITÓRIA CAXIAS E RODRIGO CABRAL

Estamos em pleno século XXI, em uma época conectada pelo celular. Com esse pequeno aparelho em mãos, nos conectamos com todo o mundo. Em questão de segundos, conseguimos informações do que está acontecendo do lado oposto do globo. Basta dar uma breve conferida no público à sua volta que a grande maioria das pessoas estará encurvada sobre a tela do celular, verificando atualizações do Facebook, do Twitter, do Instagram... Porém, essa tecnologia que veio para nos auxiliar, pode estar causando sérios problemas de saúde mental na população, e isso ocorre pelo fato de que as pessoas não se desprendem mais do virtual e acabam esquecendo o mundo real. Índices de doenças como depressão, ansiedade, pânico e solidão, aumentaram drasticamente. Em um dado da OMS (Organização

Mundial da Saúde), relata-se que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, o equivalente a 5,8% da população, além de 9,3% dos brasileiros terem algum transtorno de ansiedade. A maioria dos adolescentes e jovens que se sentem “off-line” em relação à vida, se valem das mídias sociais para tentar neutralizar a dor e compensar o vazio emocional ou habilidades sociais menos desenvolvidas. Porém, essa vertente comportamental acaba gerando um ciclo vicioso, visto que pode exacerbar a solidão e resultar em graves prejuízos à saúde mental. A felicidade momentânea desencadeada por um ‘like’ pode aliviar temporariamente os sentimentos de solidão. Entretanto, esse tipo de “aprovação virtual” nem sempre supre os anseios mais profundos e, com isso, acaba aumentando a soli-

dão e os sentimentos de frustração e angústia. Ainda que pareça satisfatória, essa interação virtual não pode substituir a socialização por completo. A nova realidade, com a pandemia de Covid-19 teve muito a atrapalhar, distanciando os jovens de seus convívios, com contatos sociais mais restritos, muitas vezes afastados dos familiares, tendo que se adaptar a uma rotina de exceções, com pressões vindas de todos os lados, fez muitos aumentarem o consumo das redes sociais. Júlia Lalli, de 20 anos, que é de São José dos Campos, conta que chegou a perceber essa solidão no último ano, quando notou que se afastou bastante de seus familiares, perdendo momentos que eram importantes para ela. Todas as vezes que ela percebia que o vício de ficar no celular estava consumindo o tempo dela, tinha o sentimento que usava as redes sociais como uma fuga da

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Foto: Pedro Ivo Prates

lular


SAÚDE

“O que me ajudou foi cortar totalmente o uso das redes sociais. Eu desativei muitas delas nesse tempo e isso me ajudou a voltar para a realidade. Uma realidade mais leve, que até diminuiu minha ansiedade nos períodos que eu fiquei sem internet” Júlia Lalli, estudante realidade de não estar bem, e entrar numa rede social ou na internet para ficar vendo vídeos, ela acredita que isso acontece porque o mundo virtual conforta e que às vezes as pessoas tentam voltar para realidade mas ficar no virtual e melhor, e com o tempo a ansiedade vai cada vez mais aumentando. Ela complementa dizendo que percebeu que se isolava para ficar no celular nas redes sociais, principalmente agora nesse período de pandemia, quando só tinha como ter o contato online, que por um lado pode chegar a ser uma coisa boa. “No momento de quarentena que a gente não pode ver ninguém, a gente sente que as redes sociais vão nos aproximar de alguma forma, mas eu sinto que quanto mais eu me apoiava nessas redes, no contato online, mais sozinha eu me sentia”. Para ajudá-la a não sofrer tanto com a ansiedade, medidas para que ela pudesse voltar a uma realidade mais saudável foram tomadas. O tema pode parecer repetitivo, mas uma análise publicada pela equipe da psicóloga Jean Twenge, da Universidade Estadual de San Diego, no final de julho no periódico Journal of Adolescence, foi muito bem

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discutida em artigo recente do jornal The New York Times. O texto diz que o uso maciço das tecnologias móveis é o principal suspeito nessa equação de escalonamento de adoecimento psíquico dos mais novos. Segundo a psicóloga Renata Oliveira, de São José dos Campos, fala que isso acontece com os jovens por conta da falta de maturidade emocional, pois quando entram nas redes sociais ficam vidrados naquilo que veem como vidas perfeitas. Ela complementa dizendo que o uso de celular, já pelas crianças, com um uso exagerado, pode afetar muito a vida delas futuramente. “Afinal, todo tipo de convívio social exige estímulo, quando um indivíduo desde a infância fica preso a um mundo irreal, acaba tendo dificuldade em se relacionar no meio social”. MAS POR QUE POSTAR? Os jovens, quando entram nas redes sociais, ficam vidrados naquilo que veem como ideal ou rostos com aquela beleza fenomenal. Isso já é suficiente para reduzir a autoestima e levar ao sentimento de inferioridade. Ainda que a maioria das postagens seja apenas ostentação e cada detalhe das fotos

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elaboradas no photoshop, a falta de maturidade emocional contribui. Gustavo Rosa, 19 anos, de São José dos Campos, conta que posta os vídeos nas redes sociais porque gosta de compartilhar algumas coisas de sua vida que acha pertinente e que vai acrescentar alguma coisa na vida das outras pessoas. Ele complementa dizendo que é a mesma pessoa nas redes sociais e na vida real. “Tenho meus dias ruins e dias bons, como qualquer outra pessoa! Mas sempre ‘filtro’ o que postar para os outros”. Fazer um post em redes sociais traz auto estima aos jovens. Gustavo conta que fazer uma postagem traz, muitas das vezes, felicidade, mas às vezes parece um mundo paralelo que diversas vezes apresenta um momento de reflexão para a vida! Ele diz que a maioria das vezes posta coisas felizes, porque o mundo está triste demais para ficar postando momentos ruins. “Porém, dependendo da situação, faço uma avaliação do que postar ou não, mas isso é muito raro acontecer porque só compartilho coisas que eu gosto”. A psicóloga comenta que o uso exagerado do celular e das redes sociais dificulta você criar relações com outras pessoas, porque você aos poucos vai desaprendendo de se relacionar com as outras pessoas, por conta do uso exacerbado das telas e das redes sociais, com isso seu cérebro começa a criar um bloqueio social. Ela conclui que ficar muito tempo no celular pode, sim, colaborar para o surgimento de várias doenças psicológicas.


CINEMA

“Cinema e Streaming são modelos complementares e que ajudam a solidificar a nossa indústria” Gabriel Gurman, CEO da Galeria Distribuidora e co-diretor geral da Diamond Films Brasil

LUZ, CÂMERA E MÁSCARA

POR BRUNA CAROLINE, MARIA LUIZA MACHADO E VICTÓRIA SALERMO

Salas fechadas, estreias adiadas e exibições limitadas. É eufemismo dizer que com a chegada do surto abrupto da Covid-19, em março de 2020, a realidade, no Brasil e mundo afora, tenha ficado ainda mais caótica. Da economia às salas de cinema, a pandemia afetou em grau elevado diversas vertentes de negócios, e para a mídia e a indústria do entretenimento não foi diferente. Em 2019, o cenário cinematográfico nacional chegou a bater recordes de bilheteria e de lançamentos comparados à trajetória midiática total desde quando o cinema se denomina cinema. A diferença é que até há um ano e meio espirrar ou tossir nas salas eram considerados ruídos comuns, assim como o barulho de uma lata de refrigerante sendo aberta, um saco de pipoca sendo amassado ou uma gargalhada aguda.

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CINEMA

Gravações e estreias de c “Pouco a pouco, e com um trabalho bastante cuidadoso, estamos conseguindo reverter esse cenário”, afirma o CEO. A adaptação não foi opcional para o mercado audiovisual. As barreiras existem e o modo de superá-las foi reaprendendo a fazer cinema no mundo atual, que apresenta mais normas de proteção e adversidades.

Set do Filme “Detetive Madeinusa” Toda a produção está fazendo uso de máscara

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No Brasil, um levantamento realizado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) registrou uma queda de 70% na bilheteria nacional em 2020, se comparado ao mesmo período de 2019. Com redução de 6% da renda do setor, o país perdeu duas posições no ranking mundial, caindo do 9º lugar para o 11º, conforme a 22ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2021-2025. Mesmo que a busca por uma reviravolta seja o objetivo, e algumas consequências perdurem por um longo tempo, as redes já reabrem as salas e tentam reverter esse quadro negativo seguindo todas as recomendações de segurança e higiene da OMS (Organização Mundial da Saúde). Para Gabriel Gurman, CEO da Galeria Distribuidora e co-diretor geral da Diamond Films Brasil, as campanhas sempre devem considerar ações para reforçar a comunicação em relação à abertura dos cinemas e enfatizar a existência dos protocolos de segurança.

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BASTIDORES “A parte mais difícil acaba sendo a falta do contato, terminar uma gravação e não poder abraçar as pessoas que fizeram aquele projeto acontecer”, conta Victor Freitas Carvalho, 22, ator de São José dos Campos. Ele explica que com a pandemia a interação entre a equipe mudou. “Fica na locação só quem precisa estar”. Além disso, as horas de gravação foram reduzidas, e uma série de protocolos de segurança adotados. Uso de máscara, testagem contra Covid-19, higienização constante e distanciamento social passaram a fazer parte da rotina dos sets de gravação. “Os protocolos contra o coronavírus são rigidamente seguidos, mas não vou mentir que dá saudade de poder abraçar, encostar... Set é muito sobre isso: conexão entre pessoas e comunicação”, declara a assistente de direção Lara Rodi Marques, 24, do Rio de Janeiro. Lara afirma que a comunicação nos sets foi prejudicada. Além dos equipamentos de proteção individual dificultarem os diálogos, as próprias relações entre as pessoas foram reduzidas. Um hábito


cinema se adaptam ao ‘novo normal’ que era comum antes da pandemia e que foi perdido é o compartilhamento de itens pessoais, por exemplo. Apesar das mudanças, adaptar-se ao novo normal foi simples para Lara. Ela conta que o set de filmagem possui uma equipe de segurança responsável por esclarecer os protocolos adotados e, se necessário, corrigir as ações. Para Victor, adequar-se ao novo normal também foi tranquilo, porque quando as gravações foram retomadas os protocolos de segurança contra a Covid-19 já faziam parte do dia a dia. Para a retomada segura das produções audiovisuais, ainda no primeiro semestre de 2020 foram publicados Protocolos de Segurança e Saúde no Trabalho do Audiovisual. Produzidos por sindicatos, órgãos públicos de saúde e cultura, federação das indústrias e especialistas em saúde e em produção audiovisual, eles apresentam diretrizes para o setor. STREAMING Quando o mundo parou em decorrência da pandemia da Covid-19, as pessoas começaram a se ver em casa seguindo protocolos de saúde e segurança sanitária. Sem poder sair e descansar a cabeça da forma convencional, a grande maioria se apegou àquilo que pode ser divertido em qualquer lugar do mundo, o entretenimento. Após um ano no isolamento, a Kantar IBOPE realizou uma pesquisa que mostrou que 58% dos usuários de internet começaram

a assistir vídeos e streaming pagos durante a pandemia. O tempo em frente à televisão teve um aumento de 37 minutos diários e cada pessoa passou 1h49 por dia assistindo a conteúdos em plataformas de streaming. Quando refletimos sobre o futuro do entretenimento presencial, pensamos se o cinema não estaria com os dias contados. Afinal, a população geral parece ter gostado do conforto de assistir filmes novos em casa. Para Gabriel Gurman, a experiência do cinema é única e não vai ser substituída tão rapidamente. “É delicado avaliar qual será o impacto do streaming quando voltarmos a um cenário considerado normal, em que teremos os complexos reabertos, mas acreditamos que o cinema seguirá sendo uma experiência única e incomparável ao consumo do audiovisual no streaming”, comenta o CEO. “Atualmente, o nosso principal desafio é levar o público de volta às salas”, responde Gabriel sobre o aumento exacerbado do consumo do streaming na pandemia. Ele destaca, no entanto, que “Cinema e Streaming são modelos complementares e que ajudam a solidificar a nossa indústria”. Recentemente, os filmes ‘A menina que matou os pais’ e ‘O menino que matou meus pais’, baseados na história de Suzane Von Richthofen e Daniel Cravinhos, foram anunciados para estrearem na plataforma de streaming Prime Video, da Amazon. O longa foi anunciado em 2018 e estava previsto para estrear nos cinemas, porém sofreu adia-

mentos de estreia em decorrência da pandemia. A Galeria Distribuidora, responsável pelo marketing e divulgação do filme, comentou o caso. “Podemos olhar por dois lados: Existe a ansiedade para lançarmos os filmes o quanto antes. Esse é um projeto que acreditamos imensamente no potencial e a campanha já estava toda desenvolvida para a estreia, que tivemos que cancelar em cima da hora. Por outro lado, durante todo este período de espera a expectativa do público apenas cresceu. Tivemos um grande apoio orgânico com a presença da protagonista no Big Brother Brasil e, pelo que estamos monitorando em nossas redes sociais, cada vez aumenta o número de pessoas que querem assistir aos filmes”. De qualquer forma, a sétima arte continua sendo uma grande companheira para todos os brasileiros durante tempos tão difíceis. Independente do canal de transmissão, a mensagem e a diversão serão sempre as mesmas.

“A parte mais difícil acaba sendo a falta do contato, terminar uma gravação e não poder abraçar as pessoas que fizeram aquele projeto acontecer” Victor Freitas Carvalho, ator

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COMPORTAMENTO

JORNALISTAS INQUIETOS

A pand POR JÚLIA HELENA E NATAN ALVES

Como foi e como está sendo o período de pandemia sob a ótica dos jornalistas profissionais Em fevereiro de 2020, o Governo Federal decretou estado de emergência para conter a disseminação do Coronavírus. No mês seguinte foi instaurada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Logo após o ocorrido, o Brasil parou, comércios fecharam, esportes, escolas e universidades foram suspensas. E com o jornalismo não foi diferente, os jornalistas tiveram que se adequar ao novo “normal”, distanciamento social, uso de máscaras, entrevistado com um microfone à parte, garantindo a segurança

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do jornalista e do entrevistado, além de entrevistas de forma remota, sendo necessário mais jornalistas no factual, já que a demanda tinha aumentado. Como os esportes pararam, jornalistas esportivos tiveram que ir às ruas cobrir a pandemia, alguns desses ficaram de forma temporária – voltando às atividades esportivas quando os treinos e jogos voltaram –, outros decidiram continuar de forma permanente cobrindo o factual. Aqueles que permaneceram atuando na sua área, o factual, tiveram suas rotinas intensificadas, devido à alta demanda de notícias. Nossa reportagem conversou com dois jornalistas que atuaram incansavelmente na pandemia, Juliana Sever, 32, de Taubaté, repórter da emissora Band Vale, e Thiago Crespo, 36, de São Paulo, que trabalha como repórter no Grupo Globo.

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ALTA DEMANDA DE NOTÍCIAS Uma das grandes preocupações do período que se iniciou em 2020, era a responsabilidade de cuidar da própria saúde e do próximo. Assim, o jornalista, que tem a profissão dentre as essenciais, também teme o contágio e se arrisca em busca da notícia. Seja na produção interna ou na rua como repórter, toda a classe manteve o serviço de noticiar tudo o que acontecia no Brasil e no mundo, seja com recurso da tecnologia por meio de chamadas de vídeo ou links ao vivo. Logo no começo da pandemia, os esportes foram suspensos, sem ter uma data para voltar. Thiago era do jornalismo esportivo, quando foi realizada uma espécie de revezamento: de três a quatro semanas ele era cedido à cobertura da pandemia. Segundo ele, seu chefe ligou e perguntou se não gostaria de ser emprestado para


S E EM NOVAS FRENTES:

demia a cobertura da pandemia, topando na hora o convite, pois já tinha experiência na área, atuando quando era estagiário na mesma rede. A transição, claro, foi um imenso desafio mesmo tendo experiência na área. “Na verdade, foi uma transição orgânica, espontânea, porque começamos a princípio sendo emprestados para o geral, o esporte parou no início e na contramão disso a demanda do jornalismo diário cresceu, obviamente. Confesso que cheguei um pouco receoso da diferença entre as dinâmicas, mas no final da primeira semana já estava me sentindo absolutamente ‘em casa’”. Após um período de empréstimo, Thiago foi convidado a fazer parte do quadro de repórteres de São Paulo. “Achei interessante continuar participando da cobertura da pandemia que deu muito significado à profissão e, também, de alguma forma estender horizontes e conexões com pessoas e lugares

dos quais o esporte acabou me afastando, por uma questão natural nesses nove anos de jornalismo esportivo”. Nesse momento de incertezas, a Covid-19 se tornou assunto principal em todo programa jornalístico. Isso levou a uma grande cobertura de um mesmo tema, muitas vezes sem espaço para outra editoria. Juliana contou que, nesse início, o jornalismo se voltou ao tema de saúde pública, causando muitas dificuldades para noticiar o tema sem que se tornasse algo tão maçante para quem assistia.

RESPONSABILIDADE COM A NOTÍCIA E FAKE NEWS Um dos grandes embates do jornalismo, além de transmitir com seriedade todas as notícias sobre a pandemia, de forma clara, direta e com responsabilidade aos telespectadores, é combater as Fake News que vêm aumentando e ganhando cada vez mais espaço. Para Thiago é muito importante prestar esse tipo de serviço. “As pessoas começam a perceber o que é uma notícia verdadeira ou o que é falsa, quais são os canais de comunicação dos

“É um hábito que, na verdade, como eu costumo brincar, acho que nem me reconheço mais sem máscara na televisão” Thiago Crespo, jornalista

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COMPORTAMENTO

quais ela pode confiar por meio do nosso trabalho”. Thiago conta, ainda, que além da mudança de área ser uma oportunidade profissional, ele enxergou como um compromisso social, “num momento em que a sociedade, de forma geral, demandava tanta informação delicada e que merece ser passada com rigor e responsabilidade, achei que assumir esse desafio seria parte da minha formação e profissão”. Ainda que tenha se feito bem presente no cotidiano de cada cidadão, o jornalismo profissional não teve folga quanto ao descrédito colocado na classe. Isso é visto em atos de hostilização feito por alguns cidadãos com profissionais que vão fazer gravações em vias públicas. Contudo, nada fez com que o jornalismo sério diminuísse sua presença nos fatos que importam. “O momento que o jornalismo vive, com tantas Fake News e tanto descrédito na profissão em um momento que ela foi e é tão importante. A classe praticamente atuou junto com o tema, seja falando da Covid, seja falando da vacina. Então, essa informação que é levada por nós, jornalistas, presta serviço à população e é muito importante que ela chegue de maneira clara e correta”.

“Orgulho do que todo jornalista profissional está fazendo durante o combate à pandemia” Juliana Sever

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Juliana Sever em uma pauta em meio a pandemia.

USO DA TECNOLOGIA A FAVOR DA NOTÍCIA Na visão de Thiago, as plataformas digitais ajudaram muito, pois acontecem entrevistas com autoridades do mundo da saúde, política, do Poder Público e de todos os outros setores possíveis, e que, ainda, têm muito no que ajudar, mas acredita que o jornalismo sempre que possível deve ser feito presencialmente, cara a cara. “O jornalismo precisa do olho no olho, do contato, claro que seguindo as medidas de segurança”. Com isso, Juliana também teve problema para contatar fontes e realizar entrevistas de forma presencial, pois muitos tinham medo, inicialmente, de se expor ao vírus. E, assim, para tentar resolver esse dilema, a internet privilegiou o conteúdo da matéria. Como tudo ocorre a distância, entre entrevistado e repórter, esse modelo fluiu bem dentro do jornalismo. “Ainda existem casos de pessoas que não aceitam entrevistas presenciais, aí a gente tem que fazer, dependendo da situação, via Skype. Assim, o cenário mudou bastante.” Juliana complementa: “De repente o jornalismo mudou, claro que a gente já tinha o uso da

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tecnologia na profissão, mas depois da pandemia isso se tornou ainda mais importante. A gente começou a entrevistar via Skype, matérias de redação...”. VISÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE O PÚBLICO “É muito gratificante e recompensador a gente receber, seja nas ruas ou na audiência, o carinho e gratidão das pessoas em relação àquilo que a gente está levando à casa delas”, disse Thiago. Juliana conta como ela enxerga a situação, por meio da ótica de quem vivenciou na pele diversas situações no jornalismo enquanto a pandemia acontece. “Eu tenho muito orgulho do que eu e meus colegas jornalistas temos feito desde o começo, porque foi e está sendo exaustivo, nós temos medo, nos expomos... Orgulho do que todo jornalista profissional está fazendo durante o combate à pandemia”. “A notícia que eu mais gostaria de levar às pessoas, hoje, seria que o Brasil, pela primeira vez desde o início da pandemia, não registrou nenhuma morte por causa do novo Coronavírus. Eu espero que esse dia chegue logo”, comenta Thiago.


EPORTES

A modalidade que fez olhos brilharem nas Olimpíadas tem representantes em São José

pamela rosa

mulheres do skate EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

POR GUILHERME FALEIROS E LAISA RODRIGUES

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EPORTES

Após os Jogos Olímpicos de Tóquio, muitos olhos brilharam para o skate. O esporte, que por muito tempo foi motivo de preconceito e marginalização, é bastante presente em São José dos Campos, que, inclusive, foi o chão que formou uma das promessas da modalidade no cenário mundial, a Pâmela Rosa. Conhecida e querida na cidade, ela participou dos Jogos, apesar de não ter se classificado para as fases finais e, portanto, não disputou o pódio. Mesmo assim, ela é inspiração para muitas outras meninas e mulheres que, apesar do preconceito, se aventuram sobre as quatro rodas e o shape. SOBRE O SHAPE, ELAS CONTAM HISTÓRIAS Mylenna Ramos, 20, é uma jovem skatista que, com manobras, enfeita as ruas e os espaços voltados ao skate em São José dos Cam-

pos. Ela começou a andar tendo o primo como inspiração. “Ele anda faz tempo, e sempre levava o skate para a casa da minha avó nas férias. Ganhei um skate do meu pai e ele me apoiou bastante. Daí, comecei a me inspirar nos atletas profissionais e meus amigos que sempre incentivaram.” O skate, além de tudo, é isso: apoio dos próprios atletas que, sem incentivo externo, encontram um no outro a força e os aprendizados na modalidade. Além dela, Caroline Erpenbeck, 35, também encontrou nos espaços de São José os caminhos para entrar no esporte. Segundo ela, sua maior motivação era a possibilidade de “quase poder voar”. A MULHER NO ESPORTE No Brasil, como em tantos outros espaços, a mulher ainda é subestimada no esporte. Independentemente da modalidade, é muito comum que pessoas jul-

guem a capacidade feminina e, dessa forma, o descaso e a falta de incentivo aumentam. Para se aventurar no esporte, é preciso determinação dobrada. Felizmente, é cada vez mais comum vermos mulheres decididas a serem “livres para poder buscar seu lugar ao sol”, como cantava o também skatista, Chorão, que é, inclusive, uma das inspirações para Caroline. Para ela, “o esporte é muito importante, principalmente para o emocional, superação…o skate dá coragem, faz você enfrentar seus medos e isso dá um gás style na vida”. DA “REBELDIA” AO PÓDIO OLÍMPICO Inserido como modalidade olímpica em 2020, o skate chegou a ter a prática proibida em São Paulo. Em 1988, sob gestão de Jânio Quadros, os praticantes foram reprimidos de “remar” sobre as

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quatro rodas, já que isso era visto como “rebeldia” pelos olhos retrógrados. Marginalizada, a modalidade nunca foi tão falada no Brasil antes de fazer os olhos brilharem pelas belas manobras expostas nas transmissões dos Jogos Olímpicos de 2020. Mylena vê isso como um grande marco. “Uma atleta brasileira, de 13 anos, que ganhou prata no Skate Street (referindo-se a Rayssa Leal, a ‘Fadinha’). A partir desse momento, o skate ficou mais reconhecido de forma benéfica. Antes o skate era muito marginalizado e discriminado. A partir desse marco, o skate entrou em cena, mostrando que as mulheres são capazes de praticar e representar o esporte.” SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Apesar da falta de incentivo, patrocínio e campeonatos ainda amadores, São José tem espaços

voltados à prática. O “Pavilhão” ou, oficialmente, Centro da Juventude, por exemplo, é um dos principais locais onde o esporte é praticado na cidade. O espaço é palco de parcerias e amizades que são feitas ‘pelo skate’. Lá, Mylena andou com Pâmela Rosa, e muitas outras meninas e mulheres remaram pela primeira vez. Com o esporte crescendo, São José tem tudo para ser a ‘São José do Skate’.

1- Isso vem mudando, mas ainda falta um pouquinho mais de estrutura. Mas visibilidade depois dos Jogos Olímpicos mudou muito, então os patrocinadores não querem investir só nos homens, mas também nas mulheres. Graças a Deus eu tenho os melhores patrocínios que eu já pude ter, que eram meus sonhos: Nike, TNT, Banco BV, a prefeitura de São José dos Campos, que esteve comigo desde o começo. São marcas, a maioria de fora do skate, que entraram para querer ajudar e levantar o skate feminino. 2- Acho que a estrutura, como

as pistas, sabe? E mais oportunidade para as mulheres, com patrocínios. Vem melhorando, mas é o que mais precisa para que as meninas comecem e sejam reconhecidas. 3- Graças a Deus isso mudou bastante. Sofremos preconceito fora do esporte, mas dentro da pista eu sempre fui muito bem recebida pelos meninos. 4- Foi sobre não desistir do sonho. Focar ainda mais no objetivo, mesmo não tendo essa megaestrutura. Depois dessa visibilidade que os Jogos Olímpicos trouxeram, as coisas estão começando a mudar. 5- Porque nós,

mulheres, somos muito guerreiras, não desistimos fácil, sabe? E mulher pode chegar onde ela quiser. 6- Desde o começo da minha carreira, a cidade vem me ajudando bastante. No começo foi pouco, mas foi o principal para que eu pudesse correr atrás dos meus sonhos. Ela está comigo até hoje. Eu só tenho a agradecer a essa cidade. Falta um pouquinho incentivo nas pistas. Mas não só no skate, mas no futebol, no esporte em geral. Falta um pouquinho mais de incentivo pra nossa cidade mostrar que é muito bem representada.

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ESPORTE

A sobrevivência do automobilismo na pandemia

CORRIDA CON POR JULIE PETRI

O automobilismo foi fortemente impactado pela pandemia do novo Coronavírus. Com o avanço da vacinação, o esporte retorna à normalidade, mas a Covid-19 deixou suas marcas na vida de pilotos e engenheiros do ramo, especialmente devido às dificuldades já presentes em um esporte elitizado que tenta sobreviver em um país de grande desigualdade. Em 2020, a Fórmula 1 cancelou e adiou diversas corridas, assim como outras categorias do motorsport, como a Fórmula Indy, a Stock Car, e até mesmo o Kart. O piloto do Clube do Remo, Augusto Santin, 47, de Belém (PA), conta que precisou controlar a ansiedade e manter o condicionamento físico durante os meses em casa. “Eu, basicamente, fazia treinamento físico em academia, depois que não tinha

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mais academia era em casa, correndo nas escadas do prédio”, conta ele que, apesar dos exercícios, perdeu um pouco da forma física nos meses de quarentena. A paixão pelo automobilismo teve início quando ainda era criança. Aos 17 anos, Augusto começou a correr de Kart, mas precisou parar devido à falta de dinheiro e apoio. Em 2011, com a vida já mais estabilizada, ele voltou a participar das corridas e, em 2017, competiu pela primeira vez na Fórmula Vee. “A partir desse dia, eu nunca mais parei. Não faltei em mais nenhuma corrida em Interlagos”, conta ele. Apesar dos patrocínios, contudo, Augusto não consegue fazer do esporte uma fonte de renda. “Aqui em Belém, eu trabalho, tenho um restaurante e tento conciliar com atividades físicas e a busca de patrocínios e apoios

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para continuar disputando o automobilismo”, finaliza.

ENGENHEIROS DO AUTOMOBILISMO Os engenheiros mecânicos também foram afetados pela pandemia da Covid-19. O estudante Matheus Syx, 24, que mora na cidade de Volta Redonda (RJ), começou a trabalhar com o automobilismo em 2020, mas o esporte passou a representar uma parcela significativa de sua renda apenas no final do ano. Já no começo de 2021, o estudante tinha diversos trabalhos programados na área. «Eu lembro que eu tinha cinco fins de semana de corrida programados, começando em março e com passagem comprada”, conta ele. “Faltando um dia para a corrida, o governo de São Paulo fechou tudo, e assim todos os Estados foram parando e proibindo o motorsport, por con-


A Fórmula Vee é uma categoria escola que, por características do carro e por seu baixo custo, é uma ótima opção para aqueles pilotos que saem do kart e buscam maiores desafios, como também para pessoas que buscam apenas um hobby Fonte: Portal Guarulhos Online

NTRA O TEMPO ta de uma nova onda de contágio. Nessa época foi um susto financeiro, sem dúvida”, diz o jovem. Com o avanço da vacinação, Matheus conta que o mundo do automobilismo aos poucos vai voltando ao normal. “Ocorreram esses imprevistos no início do ano, na semana que ia iniciar a temporada 2021 na maioria das categorias. Mas depois as coisas voltaram e hoje o ritmo de corridas continua”, comenta. Matheus sempre teve vontade de trabalhar com carros, mas nunca havia pensado em competições. Como estudante de engenharia mecânica, ele teve sua primeira experiência com o motorsport por meio da Fórmula SAE, uma competição estudantil. Depois disso, trabalhou com outras categorias mais profissionais, como a Fórmula Delta, GT Sprint Race e Hyundai Copa HB20. Esse ano, ele está focado em trabalhar

como freelancer na Porsche Cup e na Endurance Brasil.

UM SONHO ACESSÍVEL PARA POUCOS A pandemia acabou colocando um fim no sonho da carreira de alguns amantes do automobilismo. O estudante Luccas Meira, 23, de São José dos Campos, fez investimentos para começar a correr no Campeonato Paulista de Fórmula Vee, em 2020. Quando os eventos foram cancelados, ele não conseguiu patrocínios para prosseguir com os planos, especialmente devido à crise iminente após os primeiros meses de quarentena. O jovem conta que o interesse pelo motorsport começou na infância, assistindo às corridas de Fórmula 1 nas manhãs de domingo, com o pai. “Comecei a gostar muito do esporte e acompanhar até as categorias não muito popu-

lares”, diz Luccas, que, anos mais tarde, participou de corridas de Kart e na categoria amadora da Fórmula Vee. Ele sonhava em conseguir algo mais concreto por meio de sua paixão. “Infelizmente, a partir de 2020, reavaliei as possibilidades futuras e, hoje, trato apenas como um hobby”, conta ele. O automobilismo é um esporte caro e, devido à desigualdade social no Brasil, é acessível para uma parcela muito pequena da população. “Falta de apoio, tanto estatal como social, é o ponto mais crítico, mesmo nosso país tendo uma tradição inigualável no esporte”, comenta Luccas. E finaliza: “As pessoas tratam com desdém e indiferença, desacreditando dos talentos emergentes do nosso cenário e esgotando todas as chances de termos um novo representante brasileiro na Fórmula 1, nos anos futuros”.

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