FOCA#01 2022

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Em ano de eleição, o posicionamento dos jovens entre 16 e 18 anos pode ser decisivo. PÁGINA 18 A 21

REAGE JOVEM, BOTA O DEDO NA URNA! BASTA TER UM MICROFONE? A EXPANSÃO DO PODCAST PÁGINA 4 GERAÇÃO DRIVE TO SURVIVE PÁGINA 7 BBB: A REALIDADE EXPOSTA DIANTE DAS CÂMERA PÁGINA 10 IH, METEU ESSA? PÁGINA 13 QUEM SOU EU? PÁGINA 16 É DE COMER? PÁGINA 22 A IMPORTÂNCIA DO AFETO PATERNO DURANTE A GESTAÇÃO PÁGINA 26 A COBRA FUMOU PÁGINA 29 OS PARADOXOS DE UMA SOCIEDADE CERCADA PELOS ISMOS PÁGINA 32


ÍNDICE

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BASTA TER UM MICROFONE? A EXPANSÃO DO PODCAST MERCADO

GERAÇÃO DRIVE TO SURVIVE COMPORTAMENTO

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BBB: A REALIDADE EXPOSTA DIANTE DAS CÂMERAS SAÚDE

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IH, METEU ESSA? ENTRETENIMENTO

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QUEM SOU EU? PSICOLOGIA

REAGE JOVEM, BOTA O DEDO NA URNA! ELEIÇÕES 2022

É DE COMER? ORGÂNICO

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A IMPORTÂNCIA DO AFETO PATERNO DURANTE A GESTAÇÃO FAMÍLIA

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A COBRA FUMOU HISTÓRIA

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OS PARADOXOS DE UMA SOCIEDADE CERCADA PELOS ISMOS SOCIEDADE

EXPEDIENTE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO (FCSAC) – TURMA 2022 REITOR Prof. Dr. Milton Beltrame Junior DIRETOR DA FCSAC Prof. Msc. Celso Meneguetti COORD. DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira EDITOR-CHEFE Prof. Esp. Fredy Cunha (Mtb 47292) PROJETO GRÁFICO Prof. Esp. Lucaz Mathias e Alunos do 6º período de Jornalismo CONSELHO EDITORIAL Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira, Prof. Esp. Fredy Cunha e Profa. Profª. Dra. Elizabeth Kobayashi Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP Av. Shishima Hifumi, 2.911, Urbanova, São José dos Campos – SP 12.244-000 / Tel.: (12) 3947-1083, www.univap.br Dúvidas e sugestões pelo e-mail: fredy.cunha@univap.br.

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EDITORIAL

‘GOOGLE’, ‘COPIA E COLA’ E ‘MENSAGENS NO WHATSAPP’ NÃO FAZEM JORNALISMO POR PROF. FREDY CUNHA

O Jornalismo é uma ciência da Comunicação que está sofrendo uma série de deturpações nesta “onda” da internet. Fazer uma reportagem – algo que envolve apuração aprofundada, entrevistas com fontes que realmente podem colaborar com o tema abordado e a escrita de um texto informativo e relevante –, não é tarefa simples. A internet e as suas possibilidades são importantes para todos que a ela têm acesso, em diversas atividades do dia a dia. E este caminho é sem volta. Pelo contrário, ele só vai adiante. E que bom por isso! Mas há profissões, uma delas o Jornalismo, que não pode “descansar” apenas na internet. Não se faz reportagem com pesquisa no Google. Não se faz

levantamento de informações e entrevistas sempre, e apenas, pelo WhatsApp, sem nenhuma interação pessoal. Não se faz escrita de uma reportagem baseada em textos já prontos. E este tem sido um desafio para a nova geração de jornalistas. Como entender e usar a internet a favor, atentando-se para que as possibilidades geradas por ela não se virem contra a formação de bons jornalistas? Perguntas ainda difíceis de se responder objetivamente. Mas fato é que o Jornalismo exige esforço, vontade e aprofundamento. Sem isso, navegamos na internet, mas afundamos no Jornalismo. Tenham, todos, uma boa leitura

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MERCADO

BASTA T MICRO

POR GUSTAVO ROSA E NATHALIA BANDEIRA

Você já deve ter escutado o termo PODCAST! Mas já sabe o que é, sua finalidade e como surgiu? Os Podcasts são formas mais diretas de comunicação, feitas por meio de de áudio, disponibilizados na internet pelas plataformas de streaming. Hoje em dia, eles podem tanto ser acessados online, quanto baixados em um dispositivo para reprodução off-line. Com início na década de 2000 no Brasil, o primeiro podcaster a se aventurar nesse novo mundo foi o Danilo Medeiros, influenciado não apenas por podcasts do exterior, como também por sua paixão pelo rádio, desde a infância. Em 2004, ele lançou seu podcast “Digital Minds”, e tratava de assuntos como tecnologia, música e cultura geek. O podcast teve uma atualização muito rápida. O que era pra ser um “programa de rádio gravado”, acabou se tornando um programa ao vivo na maio-

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ria dos casos, transmitido pela internet e com vídeo. O vídeo pode se considerar um grande avanço, que traz opção ao ouvinte de não apenas ouvir, mas também assistir. Podemos ver o termo podcast em muitos lugares, principalmente entre celebridades. Segundo um levantamento feito pelo site Guia Corporativo, no Brasil existem mais de 20.000 podcasts. Temos como exemplo o “PodCats”, apresentado pelas digital influencers Camila Loures e Virginia Fonseca. Um programa que traz cantores famosos, blogueiros e atores. Não daria para deixar de falar do “Flow”, o podcast mais comentado dos últimos meses. Considerado um dos podcasts mais ouvidos do Brasil, ele atualmente é apresentado por

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Igor Coelho. Esse é um podcast mais amplo, que trata de assuntos políticos, problemas sociais atuais, mas também conversa com celebridades, atores e vários destaques da atualidade. Ambos têm entre 2 e 4 horas de duração. Sem contar os podcasts de veículos de comunicação oficiais, como os assuntos políticos disponíveis no site da Rede Globo.

POLÊMICA Você vai se lembrar que, em fevereiro deste ano, uma polêmica tomou conta dos sites de notícias. A fala nazista de Monark, ex-apresentador do Flow Podcast. Durante um bate-papo político com Deputados Federais presentes no podcast, Monark disse que, no Brasil, deveria existir um partido nazista. “Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que nazista deveria ter um partido nazista reconhecido por lei”, disse Monark no episódio exibido em 7 de fevereiro, no canal do YouTube do Flow Podcast.


TER UM OFONE? Diante de tantos podcasts existentes e de falas tão sérias que podem ser consideradas criminosas, fica a pergunta: basta ter um microfone? Dentre esses mais de 20.000 podcasts existentes, pode se considerar que a imagem de apresentadores profissionais, radialistas e jornalistas ficam deterioradas? “Hoje, cada vez mais as pessoas têm acesso à internet. O podcast está muito em moda. Recentemente, eu vi um estudo que aponta que esse deve ser um meio que mais deve crescer. Mas a gente vê profissionais que não são ligados ao jornalismo e agem de forma desleixada… O que pode colocar em xeque a qualidade e integridade de profissionais”, diz Leandro Vaz, apresentador da Record TV Vale. Mas é possível falar de qualquer assunto? Sabe-se que é necessário um conhecimento antes, uma preparação e, até mesmo, formação de autoridade e conhecimento sobre o assunto. Ter responsabilidade no

Matheus Estevão e Rik Sperandio do Sanja Cast

foto: reprodução redes sociais

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que se fala. Por exemplo, em uma praça pública, eu falaria sobre esse assunto e iria expor minha opinião? Como iria repercutir? Iria ferir alguém? Qual a finalidade de um programa e suas responsabilidades. “O Podcast não é só a gente tentar levar a mensagem, mas, sim, também receber do convidado e transmitir ao ouvinte. Também é um modo de aprendizado pra nós, apresentadores, antes, durante e depois das perguntas e falas”, diz Rik Esperandio, apresentador do SanjaCast. BATE-PAPO Mesmo com tantas responsabilidades em expor uma opinião, a finalidade do podcast é ser um bate-papo que pode ter diversos nichos como o entretenimento, a política ou a cultura. Muitas vezes, com os próprios apresentadores adquirindo um

conhecimento claro, dependendo do assunto, contribuindo para a democracia. “O Podcast é diferente dos programas de TV, pois traz um conforto tanto para nós quanto para o convidado, por isso fica um bate-papo”, complementa Rik. Os dias estão cada vez mais curtos, pessoas com tantos compromissos. Então por que acompanhar um Podcast? Essa tem sido a saída para muitas pessoas que buscam praticidade e conhecimento. “Escuto podcast tem mais ou menos 3 anos. O que me levou a escutar foi a falta de tempo. Sentia falta de acompanhar as notícias,

então comecei a ouvir os principais assuntos sobre política e as notícias do mundo, e, então, vi que tinha vários podcasts sobre diversos assuntos, e comecei a ouvir mais ainda”, conta Ketlin Souza, 26 anos, assistente administrativa, de Jacareí. Há uma responsabilidade em cada fala, seja na internet ou em público. Estudar, entender, pesquisar e estar disposto a ser corrigido. Afinal, hoje é muito fácil criar seu próprio podcast. Com o mínimo de equipamentos de áudio e/ou vídeo, qualquer pessoa consegue contribuir para a democracia e para a liberdade de opinião.

“Em uma praça pública, você teria a mesma opinião que tem na internet? Às vezes, as pessoas pensam: ‘Ah, vou falar aqui na internet, e depois eu posso apagar’, mas não é assim! Você repetiria isso numa praça pública, diria de forma honesta? Se sim, diga. Mas se ficar com uma pulga atrás da orelha, tome cuidado” Leandro Vaz, apresentador da Record TV Vale

foto: reprodução redes sociais

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COMPORTAMENTO

Geração Drive to Survive POR GABRIELA PACHECO E LÍVIA SIMÕES

‘Drive to Survive’ é o nome que se dá para a mais nova geração que começou a acompanhar a Fórmula 1, a modalidade mais popular do automobilismo.

foto: Beto Issa

Pode-se dizer que, de uns anos para cá, muitas coisas mudaram: algumas pessoas muda-

ram o estilo do cabelo, outras o estilo de roupa, algumas modas mudaram... Muitas pessoas começaram a praticar esportes e outras começaram a acompanhar um novo. Esse é o caso da geração ‘Drive to Survive’, a nova geração de fãs da Fórmula 1. Em 2016, a empresa Liberty Media Corporation adquiriu os direitos de transmissão da Fórmula 1 e prometeu revolucionar o esporte. Neste mesmo ano, uma plataforma de notícias britânica, a F1 Fanatic, divulgou que aproximadamente 200 milhões de telespectadores havia desligado sua TV no domingo de manhã, entre 2008 e 2015,

enquanto a corrida era transmitida. Nenhuma empresa gosta de ver seus números em baixa, e foi isso que fez com que a Liberty pensasse em uma estratégia de mudança. “Eu sou mais velho que a maioria do novo público. Quando a Fórmula 1 era ‘europeia’, do Bernie Ecclestone, a presença nas redes sociais era muito restrita, por exemplo, e com a entrada da Liberty, o conteúdo aumentou absurdamente”, diz o responsável pelo Instagram ‘estagiariodaf1’, que também se identifica pelo pseudônimo ‘Estagiário da F1’, de São Paulo, que atualmente tem mais de 74 mil seguidores. Aos 37 anos, ele conta que viu Ayrton Senna correr e que seu amor por Fórmula 1 veio da influência de seu pai, que o colocava para assistir às corridas desde novo. Os anos foram passando e a abordagem da empresa foi se adaptando à realidade. De 2016 para cá, é possível notar um grande número de pessoas nas redes sociais e, com essa mudança, a aposta em conteúdo para essas plataformas foi certeira. Em 2018, a empresa fechou um contrato com a maior plataforma de streaming do mundo, a Netflix, para a criação de uma série que mostrasse um pouco mais a fundo o esporte que muitos consideravam ‘velho e ultrapassado’. E não é que deu certo? BASTIDORES Mostrando os bastidores e como tudo funciona até, de fato, acontecer uma corrida, a série aproximou os fãs dos pi-

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A influência da Netflix e das mídia

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novas acompanham a F1 apenas para ver os pilotos bonitos”, frase dita por Christian Horner, ex-automobilista e atual Team Principal da RedBull Racing durante um podcast em fevereiro. Apesar desse machismo enraizado, as mulheres vêm conquistando, aos poucos, seu espaço no esporte. Esse foi o caso da Renata Farkach, dona do Instagram ‘maetonaf1’, que iniciou seu

seguro para as meninas perguntarem”. Em pesquisa feita pela plataforma oficial da F1, com 167 mil pessoas de 182 países, foi notado o crescimento de 83% no público feminino: cerca de 18% das participações nas mídias foram de mulheres. “A série é um ponto de partida muito essencial que a Netflix fez. Ela não só trouxe o público feminino, como também implementou e abriu a

foto: Beto Issa

lotos e humanizou o esporte. Como consequência, acabou conquistando uma legião de jovens que se apaixonaram por automobilismo e F1, como foi o caso da Maria Eduarda Noce, 20 anos, moradora de São José dos Campos. “Eu sabia que o esporte existia, mas nunca tive interesse em acompanhar. Eu vi a série sendo sugerida na Netflix e decidi dar uma chance. Eu me encantei pelo esporte e pela história dos pilotos, e desde então acompanho todas as corridas”. De acordo com o site Motorsports, em parceria com a Nielsen Sports, foi detectado um aumento considerável no interesse pela categoria, principalmente na faixa de 16 a 35 anos. A nota divulgada pela Nielsen diz que isso se deu por conta de fãs mais jovens “abraçando a programação e conteúdos on demand como a popular série da Netflix ‘Drive to Survive’, além do grid de pilotos jovens da F1, ligados às mídias sociais, ajudando a atrair novos públicos por meio de plataformas como o YouTube e a Twitch”, para atividades de e-Sports. Assim como Maria Eduarda, muitas outras garotas passaram a acompanhar o automobilismo, um esporte que até hoje é conhecido por ter, majoritariamente, um público masculino. As garotas da geração ‘Drive to Survive’ vem batalhando por respeito e igualdade dentro e fora do autódromo, e lutando para quebrar a ideia de que “as garotas mais

perfil em 2021, com o intuito de criar um local seguro para as meninas que se interessam pelo esporte. Por anos, ela se sentiu deslocada em meio ao público majoritariamente masculino, e ela não tira os créditos da série por isso. “A série influenciou muito o crescimento da minha página e na minha força de vontade e coragem de abrir uma página para criar um lugar

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mente desse público para se permitir sonhar e pensar: ‘eu posso trabalhar nesse ramo’”, finaliza Renata. CRIAÇÃO DE CONTEÚDO “Nós somos amigos há muito tempo, estudamos juntos e sempre gostamos muito de esporte. No final de 2020, eu saí do trabalho que eu estava e falei para o Rafa: ‘vamos montar


as sociais no público da Fórmula 1 um podcast juntos?’. Ele topou. A ideia no começo era fazer sobre vários esportes, mas quanto mais específico for seu conteúdo na internet, melhor. Fizemos um teste e acabou virando totalmente sobre as corridas”, diz Caio Diniz, de São Paulo, que é um dos integrantes do podcast ‘Cronômetro Zerado’, com mais de 6 mil inscritos no YouTube. Assim como eles, muitas pessoas começaram a criar conteúdo

ano completamente empatados. Com essa repercussão, muitas pessoas que não acompanhavam começaram a se interessar. “A série acabou gerando um hype geral no público. A mesma corrida de 2017, que passaria meio em branco, era impossível passar no ano passado porque tinham muitas pessoas comentando, falando pelo Instagram, e tudo isso gerou o sucesso da temporada”, finaliza Rafael Gus-

49,1 milhões, as visualizações de vídeos aumentaram 50%, para 7 bilhões, e o engajamento total aumentou 74%, para 1,5 bilhão. “Com certeza, o ‘Drive to Survive’ foi fundamental para trazer gente nova para a Fórmula 1 e renovar o público, mas não só ele. Teve uma movimentação muito forte da Liberty Media. É obvio que a série foi uma parte fundamental, mas isso foi possível juntamente com a ampliação dos conteúdos nas mídias”, finaliza o estagiário, que hoje trabalha com as mídias da emissora oficial da F1 no Brasil, a Band.

VOCÊ SABIA QUE...

sobre esse esporte que se torna cada vez mais popular entre a geração mais jovem. A temporada de 2021 da Fórmula 1 foi considerada por muitos uma das melhores de todos os tempos. Não é todo ano que um heptacampeão mundial (Lewis Hamilton), e um jovem promissor de 23 anos (Max Verstappen) disputam o título e chegam na última corrida do

tavo, de São Paulo, também integrante do podcast ‘Cronômetro Zerado’. Em números oficiais, segundo o site oficial do esporte, a Fórmula 1 foi a liga esportiva que mais cresceu no planeta em termos de aumento de seguidores em 2021. Neste ano, os seguidores (no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Tiktok, Snapchat, Twitch) aumentaram para

O público médio por corrida em 2021 chegou a 70,3 milhões de pessoas, 13% a mais em relação a 2020 e o maior desde 2013? O número de pessoas que sintonizou a TV e assistiu pelo menos um Grand Prix durante o ano também foi de 13% maior que o ano anterior, totalizando 445 milhões de pessoas. Vendo o sucesso do esporte aumentar, a Liberty Media não parou por aí e, em acordo com a Netflix, renovou ‘Drive to Survive’ para uma quarta temporada, que teve sua estreia em março de 2022. Um prato cheio para os fãs da série, não é mesmo? E você, está esperando o que para assistir e começar a se apaixonar pela categoria mais famosa do automobilismo?

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SAÚDE

BBB: A REALID

DIANTE DAS POR ISABELA SARDINHA E LOUISE GADIOLI

Após mostrar um dia a dia “perfeito” nas redes sociais, os influencers encaram o desafio de revelar suas inseguranças dentro da casa mais vigiada do Brasil Muitos influencers postam nas redes sociais sua rotina, sua alimentação e todo o dia a dia de uma pessoa com uma certa influência nas mídias. Mas nem tudo é o que parece. Por mais que os influenciadores e outras pessoas estejam cada vez mais se expondo nas redes sociais, muitas vezes não é a realidade que ele ou ela esteja vivendo, até porque a maioria das pessoas posta somente as coisas boas e os momentos bons. Mas e a realidade?

“Pacientes se identificaram com os comportamentos de alguns participantes do programa e comentaram comigo o modo como eles agiam” Erica Landim, psicóloga

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Assim entra em cena o Big Brother Brasil (BBB), onde essas pessoas que vivem num mundo de filtros e têm a opção de selecionar apenas as coisas boas que vão para a mídia (suas redes sociais), acabam revelando seu verdadeiro eu, já que o reality mostra tudo sem cortes e sem edições. A maioria dos influencers ainda possui um certo receio ao falar sobre seus problemas de ansiedade, depressão, compulsão alimentar, entre outros, nas redes sociais. Transtornos que precisam de um acompanhamento para não se tornarem algo mais preocupante. Grande parte desses problemas são vistos no reality, até porque uma casa cheia de câmeras e vigiada 24 horas por dia não teria como esconder algo desse tipo. Brigas constantes, xingamentos e até abusos psicológicos têm gerado repulsa, ansiedade e tristeza em quem acompanha o programa, mexendo com o público e até provocando sensações de desconforto. Pessoas que já sofrem com algum transtorno mental estão mais suscetíveis à piora dos sintomas, principalmente quando não fazem um tratamento correto ou não têm um acompanhamento frequente, podendo provocar até gatilhos emocionais ruins.


DADE EXPOSTA

S CÂMERAS “Percebo muito a falta de relacionamento dentro do programa, de verdades e sentimentos entre os participantes” Fernanda Cardoso, ex-BBB

Segundo a psicóloga joseense Erica Landim, quando as pessoas entram em um reality e já possuem diagnóstico como transtorno de bipolaridade ou ansiedade, elas acabam tendo uma probabilidade maior de piorar dentro do programa. Existem muitos conflitos no confinamento e elas não estão ao lado dos familiares e amigos que são pessoas que geralmente nos acolhem, nos apoiam e que nos conhecem há mais tempo. Erica também lembra que dentro do programa surge aquela dúvida de saber se está sendo aceito, criticado ou apoiado aqui fora, colaborando para que os quadros se acen-

tuem. Um exemplo é o ex-BBB21 Fiuk (filho do cantor Fábio Júnior), que tem déficit de atenção e sintomas depressivos, alertando os telespectadores. EXPOSIÇÃO A ex-BBB10 Fernanda Cardoso, de São José dos Campos, que foi uma das finalistas do programa, compara as mudanças do reality e dos participantes com o passar das edições. Fernanda relata que as pessoas estão mais preocupadas por conta da facilidade de expor as opiniões do público nas redes sociais, o que faz com que as pessoas sejam covardes a ponto de cancelar as

outras de forma violenta. “Mesmo eu saindo em segundo lugar do BBB10 tinha pessoas que não gostavam de mim e eram muito mal-educadas e agressivas”. Ela completa dizendo que diante da proporção que isso tomou as pessoas entram no reality mais preocupadas de serem canceladas e acabam não vivendo o programa, não se relacionando e não sendo verdadeiras. Atualmente, a ex- BBB10 tem sua própria clínica em São José, é formada em odontologia e especializada em harmonização orofacial. Com 25,4 mil de seguidores, Fernanda posta em suas redes sociais procedimentos e trabalhos feitos por ela em sua clínica, além de mostrar um pouco do seu dia a dia. É perceptível que mesmo a pessoa não chegando na final do reality, ela acaba ganhando reconhecimento e influência nas

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r e des sociais, pelo número de seguidores que vai obtendo, e que continua acompanhando o dia a dia do participante. LIMITES Com o passar do tempo, o BBB acabou ganhando bastante destaque no Brasil, sendo um dos reality’s mais assistidos. Com uma grande audiência, influenciando as pessoas que assistem. A maioria dos telespectadores acompanham o programa sem desgrudar os olhos da tela, observando os participantes fazendo as coisas mais comuns do dia a dia. Algo

que deveria ser consumido por muitos como uma forma de entretenimento acaba ultrapassando dos limites, interferindo até no modo de conviver das pessoas. O reality é composto por várias participantes com personalidades e histórias de vidas diferentes, o telespectador do programa acaba se identificando com a história de um e com a personalidade de outro. É nesse momento de identificação que ele vai tomando partido e se reconhecendo com algum “Brother” do programa. Porém, conforme os conflitos vão acontecendo dentro do BBB as pessoas que acompanham o programa acabam pensando como conduziriam ou agiriam sobre aquela situação. Jonas de Oliveira Lima Ferraz, telespectador do programa, acompanha o BBB desde sua primeira edição. “A cada edição eu pensava em tentar me inscrever, mas na época ainda era muito novo”. O designer gráfico

“Já deixei de sair para algum compromisso para assistir ao reality, principalmente quando tinha prova do líder ou dia de eliminação de algum participante” Jonas de Oliveira Lima Ferraz, desiger gráfico

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conta que já deixou, algumas vezes, de sair para algum compromisso para assistir ao reality, principalmente quando tinha prova do líder ou dia de eliminação de algum participante. Ele ainda reforça que fica por dentro de tudo que acontece no programa através do “Globoplay” e pelas páginas de notícias voltadas ao BBB no Instagram. No começo de março, um dos participantes apertou o botão de desistência e deixou o “BBB 22”. O ator Tiago Abravanel contou o motivo de sua saída em suas redes sociais, por meio de uma transmissão ao vivo no Instagram. Ele justificou sua decisão comentando como foi sua trajetória no reality show, deixando bem claro que escolheu priorizar sua saúde mental. “Quando entendi que a minha saúde mental era a minha prioridade, comecei a pensar na maneira de me despedir. Se continuasse, eu ia me ferrar psicologicamente e iria perder a minha saúde mental. Saí com a consciência tranquila e grato”, declarou o ex-BBB. Tiago garantiu que não se arrepende de ter deixado o reality. “Para uns, pode parecer fraqueza, irresponsabilidade... Quando olhei aquele botão, pensei: ‘Tenho que ter coragem para fazer isso’. Coragem para saber o meu limite e coragem para gente entender a importância de preservar nossa saúde mental”, fechou. O programa pode proporcionar momentos incríveis e a criação de laços afetivos para a vida toda, mas é necessária cautela para que não se torne uma experiência traumática.


ENTRETENIMENTO

IH, METEU ESSA? Conheça mais sobre o fenômeno Casimiro e sua influência na internet brasileira

POR CAIO GOULART E JOÃO DELFINO

Existem inúmeras plataformas de streaming no mundo, com filmes, séries e documentários. Uma delas é a Twitch, que envolve conteúdos ao vivo com videogames, esportes e música. Criada por Justin Kan em 2011, a Twitch vem ganhando espaço na internet brasileira. O site permite aos criadores de conteúdo, a capacidade de transmitir suas atividades para que os espectadores assistam em tempo real ou

apenas ser um telespectador do seu game ou esporte preferido. Junto com a crescente da Twitch, personalidades influentes começaram a surgir nesse meio e o destaque desta reportagem vai para o streamer brasileiro mais falado da atualidade, Casimiro Miguel. Para muitos, ele mudou a opinião das pessoas sobre a plataforma,

trouxe mais visibilidade e criou uma identidade com ela. Casimiro Miguel Vieira da Silva Ferreira, mais conhecido como Cazé, é um streamer, influenciador, apresentador e youtuber brasileiro de 28 anos, que produz conteúdo para Twitch e atua nos canais De Sola e TNT Sports, no Youtube. O carioca virou um fenômeno com seus comentários, bordões e suas reações sobre vários tipos de


assunto, indo desde futebol e games até protestos e montagens de lancheiras. Suas primeiras participações foram em canais esportivos no Youtube. Criou seu canal da Twitch em setembro de 2018, mas começou a se destacar em 2021, após passar a fazer lives diárias. O streamer já apareceu jogando títulos famosos, mas o que o fez conquistar de vez o público foi o seu jeito de reagir a vídeos aleatórios, programas de televisão, esportes ou trailers. INFLUÊNCIA DA PANDEMIA Sua ascensão veio junto a um ano em que ainda se vivia muita expectativa referente à pandemia de Covid-19. Devido a muitos ainda estarem confinados, Casimiro foi o entretenimento para parte deste público. Ele mesmo já comentou que o período pandêmico o ajudou muito a se dedicar e aumentar sua audiência, já que só

poderia ficar em casa. Rafael Trujillo, 20 anos, estudante de São José dos Campos, é fã de Casimiro e começou a assisti-lo com muito mais frequência durante a pandemia. “Ele é muito carismático, assisto a qualquer conteúdo simplesmente por ser ele quem está falando. Ele inovou a Twitch, ela era muito ligada a games e Casimiro mudou isso com seus conteúdos muitas vezes aleatórios. A pandemia ajudou na questão de o público ter mais tempo e estar buscando outros tipos de entretenimento. Assim como foi para ele, que ficou mais tempo em casa e teve mais disponibilidade de fazer as lives”, disse Rafael. PARCERIAS DE SUCESSO Uma das maiores parcerias já estabelecidas entre alguma marca e um streamer, talvez até mesmo entre marca e influenciador, foi a união entre Casimiro e Netflix. No final de 2021, a plata-

forma divulgou a criação de uma série sobre a vida do jogador de futebol brasileiro Neymar. No mesmo momento, o assunto repercutiu entre o público brasileiro, principalmente os fãs do jogador e de futebol no geral. A série ficaria disponível para os assinantes da Netflix no dia 25 de janeiro de 2022, mas em uma parceria muito bem-vinda para ambos, a plataforma de streaming se juntou a Casimiro. O garoto que ganhou a internet, teve a oportunidade de ter, de forma exclusiva, o primeiro episódio da série para ser exibido em seu canal na Twich. A live de Casimiro bateu o recorde brasileiro de pessoas assistindo simultaneamente na Twich. Foram 545 mil espectadores e ficou em 8º lugar no ranking mundial. Já em 2022, em parceria com a LiveMode, Casimiro teve permissão para exibir, com imagens, 16 jogos do Campeonato Carioca. Essa possibilidade rompe uma barreira do tradicionalismo da televisão, trazendo uma opção para o torcedor acompanhar o time com o humor na mesma prateleira da opinião técnica. AÇÕES DE UTILIDADE PÚBLICA Sempre ciente de seu papel ao impactar seguidores e viewers, Cazé também já tratou de assuntos importantes, como o temporal que caiu na cidade de Petrópolis (RJ) e deixou mais de 200 mortos. O influencer, em transmissão ao vivo, arrecadou R$ 120 mil e destinou à cidade. Em uma de suas maiores ações de utilidade pública, Casi-

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HÁ LIMITES PARA CASIMIRO? Em meio ao grande sucesso, perguntas sobre as possibilidades de Casimiro expandir seu alcance e ter seu conteúdo exibido em outros veículos de comunicação, começam a surgir. Será que o streamer terá espaço na televisão aberta ou fechada? É válido comparar a audiência de Casimiro com as TVs? Segundo Armindo Ferreira, consultor em novas tecnologias, ainda não é coerente comparar o carioca com os meios de comunicação mais tradicionais. Apesar do enorme apreço de Casimiro com o público, o influencer não está no mesmo patamar dos veículos citados. Mesmo no recorde de público batido pelo streamer na live da estreia da série “Neymar, o Caos Perfeito”, a audiência não correspondeu a um ponto de IBOPE, organização que calcula os telespectadores de determinada programação, cujo cada ponto equivale a 713 mil indivíduos. O consultor diz que a discussão é válida, já que a televisão é um veículo abrangente e conta com

fotos: divulgação/ casimiro (Instagram)

miro convidou o professor de relações internacionais Tanguy Baghdadi, para explicar mais de 100 mil espectadores o conflito entre Ucrânia e Rússia, que eclodiu na madrugada do dia 24 de fevereiro, após invasão russa. O professor havia acabado de sair de um link ao vivo da GloboNews e ajudou o público a entender melhor o que significava o conflito e os seus desdobramentos para o mundo, com uma linguagem mais casual.

um público que, em muitos casos, não tem interesse naquele conteúdo, mas assiste da mesma forma. Armindo relata que provavelmente a televisão seguirá com um entretenimento diferente do realizado por Casimiro, que, por sua vez, é consumido por uma esfera de público mais jovem. “É muito difícil falar de televisão. Se falarmos da televisão aberta, ela pode sofrer mudanças, mas no geral deve continuar com um conteúdo mais popular, mais fácil de gestão”.

nova geração de streamers, alguém que abriu portas para um público novo. “Ele fez as pessoas instalarem o aplicativo, criarem o hábito de consumirem a Twitch. Abriu um mercado, trouxe um público não Twitch para ela, abrindo oportunidades para outros casters aproveitarem essa audiência”. Ele conclui dizendo que Casimiro conquistou o público simplesmente com seu jeito de ser e que, por trás desse trabalho, há muito o que se destacar. “É alguém que, por características O CARISMA muito pessoais, criou uma simCOMO PONTO FORTE patia marcante entre as pessoas, Para o consultor, Casimiro é e dificilmente será copiado. Ele é um ponto fora da curva. Ele conse- um evento único e quem souber guiu trazer um paentender este lavreado, uma remomento e o que senha, um humor ele fez pela Twipara situações tch, as oportunidiversas da vida. dades que abriu, Acima de tudo, ele a oportunidade é um bom contaque inventou, dor de histórias. pode aproveitar Várias pessoas o o legado que ele levam como uma já deixou”. companhia, prinNão é poscipalmente pelo sível saber para horário que geonde Casimiro ralmente faz suas Armindo Ferreira, consul- vai direcionar lives. São normais tor de novas tecnologias seu futuro, qual os relatos de pesplataforma, em soas internadas com Covid, pes- qual assunto se firmará. Mas é soas deprimidas ou entediadas, muito difícil que o garoto que assistirem ao streamer e se senti- ganhou a simpatia da galera firem melhor. que longe do olhar do público. Armindo enxerga Casimiro Provavelmente, Casimiro não como um precursor para uma irá parar por aqui.

“É alguém que, por características muito pessoais, criou uma simpatia marcante entre as pessoas, e dificilmente será igualado.”

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PSICOLOGIA

POR FLÁVIO DE CARVALHO SILVA

A adolescência é, sem dúvidas, um dos momentos mais complicados da vida de uma pessoa. Trata-se de um momento de descobertas do mundo e de si mesmo, de abandonar a infância e preparar-se para a vida adulta. Porém, esse momento de descoberta não é tão simples para muitas pessoas, principalmente quando se trata de si mesmo. Crises de identidade são comuns durante a adolescência, mais para uns do que para ou-

Como as crises de identidade social e profissional afetam a vida de um jovem

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tros. O fato é que o jovem tem a necessidade de se sentir parte de algo. Além disso, há também uma certa pressão da sociedade por uma auto definição muito precoce em todos os sentidos, e nem todas as pessoas são capazes de se descobrir assim. De acordo com a psicóloga e psicopedagoga Elaine Ribeiro, de São José dos Campos, o jovem tende a buscar se adaptar e conviver com pessoas que pensam e possuem semelhanças, seja de gostos, pensamentos ou estilos, e é por isso que nessa fase da vida surgem as “tribos”, que segundo o sociólogo francês Michel Maffesoli, seriam classificadas como grupos de pessoas que se unem com base em interesses em comum. Há ainda aqueles jovens que têm barreiras em se enquadrar em uma “tribo” ou em um grupo social, que possuem certa dificuldade para definir sua identidade por algum motivo. De acordo com Elaine, esses jovens sofrem diversas consequências. “As consequências são, se não trabalhadas por meio de uma intervenção multiprofissional, ou seja, a escola executando projetos educacionais e atuação psicológica, uma possível depressão ou um transtorno de ansiedade generalizada, pois o

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jovem se isenta de suas responsabilidades dentro do ambiente familiar e social”, afirma a psicóloga. Fato é que a inconstância se torna uma realidade no jovem, afinal, é uma busca incessante de autodescoberta, conhecimento e, principalmente, de encaixes. Não há uma maneira definida de se lidar com jovens, pois estão se descobrindo, conhecendo a si mesmo, seus gostos, suas referências, aprendendo aos poucos a ter suas próprias opiniões, que por vezes irão gerir seu temperamento e fazendo com que pensem por si, alguns de maneira mais rebelde, outros de maneira mais calma, mas, principalmente, cada um com a sua individualidade. Área Profissional Outra das maiores dificuldades dos jovens no que diz respeito à identidade, é no âmbito profissional. Os jovens cada vez mais são pressionados a descobrir-se profissionalmente o quanto antes, seja ao fazer um curso técnico durante o Ensino Médio, ou principalmente ao escolher uma faculdade. As instituições de ensino têm cada vez mais estimulado os jovens para que prestem um vestibular e saiam do Ensino Médio diretamente para uma faculdade. Mas aí entra outra questão: eu sou


capaz de decidir todo o meu futuro aos 17 anos de idade? João Matheus Portela, 17 anos, de Ponta Grossa (PR), está no 3° ano do Ensino Médio. Ele afirma ser incentivado tanto pela escola quanto pela família a entrar em uma faculdade logo no próximo ano, e diz que também faz parte de seus planos pessoais. Porém, ele ainda não sabe qual curso fazer. “Então, aí entra a parte da indecisão. Eu tenho um campo, que seria seguir o meu hobby, por exemplo, mas ele é muito complexo e isso abre para várias oportunidades. Eu já pensei em fazer História, pensei em fazer Jornalismo, pensei em fazer Direito, então gira nessa área. No terceiro ano, os professores começam a falar que você tem que decidir o que quer fazer da vida. Essa pressão ocorre e muitas pessoas ficam meio desconfortáveis com isso”. De acordo com a psicóloga Elaine Ribeiro, essa pressão para uma autodescoberta profissional tão precoce não é benéfica. Ela afirma que esta expectativa gera uma insegurança no adolescente, pois coloca em dúvida suas capacidades e habilidades, o que acaba se tornando mais um desafio em vez de propor estruturas para ele experimentar e se descobrir. Além disso, há também o medo da

frustração. Isso, muitas vezes, acaba fazendo com que o jovem perca grandes oportunidades de crescer e se descobrir profissionalmente. ADAPTAÇÃO Dado os fatos, as crises de identidade se tornam frequentes na juventude. Pessoas que não se sentem encaixadas ou descobertas, por vezes sofrem com isso. Nesses casos, Elaine afirma que é essencial saber que as crises de identidade são processos de adaptação. É necessário ajudar a pessoa a ser capaz de se ajustar aos princípios básicos de organização, disciplina, foco, motivação, autocuidado, respeito e empatia. É necessário manter a saúde em dia, manter-se ativo e conviver com pessoas, para um bom desempenho e formação de caráter. A identidade do jovem é algo único e precisa de todo o cuidado. Não se deve perder a autenticidade forçando alguém a ser o que não quer ser, ou acelerando o processo de autoconhecimento. Por mais que a juventude esteja sempre a mil, é crucial que o jovem tenha o seu tempo e seja bem orientado a isso. Só assim a pergunta feita no título desta matéria poderá ser respondida com clareza.

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ELEIÇÕES 2022

Em ano de eleição, o posicionamento dos jovens entre 16 e 18 anos pode ser decisivo. O voto adolescente é um ato de resistência e participação política. POR JULIA GOMES E MAYRA RIBEIRO

Não é novidade para ninguém que tem eleição nesse ano, né? Em meio ao emaranhado de crises — política, econômica, social, sanitária —, que caracterizam o atual cenário do país (enfim, o brasileiro que lute), a possibilidade de eleger novos líderes é quase uma promessa de mudança, ao menos nas cabecinhas mais progressistas e sedentas por melhores condições de vida. Isso, aliás, engloba boa parte do pessoal mais novo que, no auge de seus 16 anos, inicia sua vida política em 2022. A pouca idade, no entanto, é inversa-

mente proporcional ao peso da necessidade de mostrar os ideais mais do que estabelecidos e a vontade de mudar o mundo que essa galera tem. Mas, se antes dos 18 anos, somos jovens demais para tantas coisas, por que existe a opção de começar na vida política tão cedo? Qual o peso dos eleitores menores de idade no cenário político? No Brasil, o voto não obrigatório para adolescentes foi conquista de uma juventude estudantil, decidida a mostrar seu engajamento político na década de 60. Os movimentos estudantis e realizações de greves nas universidades marcavam o período da Ditadura Militar, alcançando seu auge no ano de 1968. Os jovens estudantes partiram para as ruas Willian Freitas, professor de direito penal

“Se o jovem se sentir maduro o suficiente para entender a importância de votar e ajudar a escolher e fiscalizar seus representantes, ele deve participar da eleição.

REAGE BOTA O contra a opressão de governos. Um grande momento destas

manifestações foi a união de estudantes e trabalhadores que expressavam suas opiniões a respeito da guerra no Vietnã, armas nucleares, liberdades civis e do feminismo em protestos. Depois de 20 anos, os esforços da juventude em fazer parte das decisões políticas não foram esquecidos. Em 1988, o brasileiro cuja idade estivesse entre 16 e 18 anos foi contemplado com o Artigo 14, inciso 1°, da Constituição, que tornou realidade o desejo de participação nas eleições. A primeira participação dessa faixa etária, na política, ocorreu no ano seguinte, na decisão presidencial cujo vencedor foi Fernando Collor. William Freitas, professor de direito eleitoral em uma universidade de São José dos Campos, enxerga a lei como uma forma de incentivar o jovem a participar da vida política do país antes do início da


E JOVEM, O DEDO NA URNA! vida adulta, mas sem que a opção do voto se torne uma grande responsabilidade — afinal, votar é auxiliar na determinação do destino próximo de uma sociedade —, caso o adolescente ainda não se sinta confiante para assumi-la. Responsabilidades E os quadrinhos de super-heróis foram precisos ao dizer que “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Mesmo assim, Felipe Prado se sente feliz em saber que um gesto aparentemente tão simples, quanto votar, pode impactar o país inteiro. Aos 17 anos, o estudante joseense tirará seu título de eleitor neste ano. O jovem pretende começar o processo antes da data-limite, 4 de maio, e vê no voto a possibilidade de defender seus interesses políticos. Ainda que a rede familiar de Felipe não dê muita importância ao seu engajamento, ideais opostos coexistem dentro de casa. Em uma fase em que os conflitos familiares estão presentes,

também, nos valores, a decisão do jovem em votar pode estar ligada à necessidade de mudança imediata do cenário político e de mostrar a validade de suas opiniões ante ao Lidiane Maciel, socióloga antagonismo dos parentes mais velhos. Tendo encontrado sino da política em escolas. Os situações semelhantes na ge- recursos básicos para disponiração mais nova, o professor bilizar professores e materiais William acredita que parte de Sociologia, disciplina fodessa pressa em fazer política cada na política e na sociedavenha de uma visão quase idea- de, são escassos. O resultado lizada do que significa política. disso é o desencorajamento e “Boa parte dos jovens tem se o afastamento deste público mostrado imediatista, esquece ante ao assunto. No entanto, que a vida e os resultados ao para a professora e socióloga longo dela dependem de muito Lidiane Maciel, de São José dos esforço, afastadas as exceções Campos, não é preciso muito à regra, às quais em poucas para falar de política durante oportunidades permitem re- a formação dos jovens. Basta a sultado sem esforço, dedicação orientação dos professores ene muito trabalho prévios”. gajados com tema e projeto peEste fenômeno se deve, dagógico voltado à vida política principalmente, pela dificul- comunitária. dade em criar interesse em Ela destaca que é a partir política nos jovens, oriunda da escola que teremos mede um déficit evidente no en- lhores candidatos, eleitores e

“A discussão política deve ser abordada em várias matérias, não somente em história, geografia e sociologia”


“Veja o exemplo de Greta Thunberg, na Suécia, que, a partir da escola e movimentos de rua, mexeu na estrutura de reconhecimento de processo político, envolvendo bem mais que jovens no debate público sobre Meio Ambiente” Lidiane Maciel, socióloga participantes da vida comunitária. Tendo isso em mente, os governos e movimentos brasileiros criaram diversos projetos nos últimos anos, voltados ao incentivo do ensino político e emissão de título de eleitor. Estes projetos partem desde a criação do site Jovem Eleitor, até as campanhas como: Meu Primeiro Voto, Semana do Jovem Eleitor e Bora Votar! E os esforços de todos os lados vêm gerando resultados. Nos dois primeiros meses de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral estima que, aproximadamente, 522.946 jovens de 16 e 17 anos fizeram seus títulos de eleitor no estado de São Paulo. O número representa um aumento de 30% em relação às emissões do ano anterior, quando, no mesmo período, foram 400.862. Aliado aos projetos e ao engajamento político característico dos mais novos, a presença de personagens com idades mais próximas ao público também vira um atrativo para quem está começando. Para Lidiane, esse poder de

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mudança, uma vez apoiado à informação de qualidade, é forte o suficiente para transgredir a barreira geracional que Felipe e outros tantos jovens enfrentam ao debater política com suas famílias. “Primeiro os jovens serão adultos. Se possuem uma visão política me- l h o r orientada, participarão me-

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lhor da vida pública e poderão até alterar a visão dos pais e avós. As gerações estão em conexão, se relacionando no dia a dia. Dessa forma, os jovens podem sim movimentar a geração de cima” Participação Tomando o assunto da participação de candidatos mais novos na política para dentro das nossas fronteiras, William acredita que a esfera política brasileira está preparada para receber a participação dos jovens. No seu ponto de vista, São José dos Campos “elegeu vários candidatos bem jovens e tem a participação deles nos


quadros de vários partidos”. Estes, por sua vez, têm se dedicado à criação de órgãos internos dedicados à participação dos jovens em sua atuação. O interesse na presença dos adolescentes na política também existe em decorrência de um perfil geracional muito bem estabelecido. Prestes a entrar na fase adulta, os jovens veem o cenário atual como desafiador, com poucas oportunidades e qualidade de vida. O desejo de evolução é intrínseco a essa geração e se manifesta por meio da busca pelo inexplorado. Felipe, como parte dessa parcela da população, se enxerga com tais carac-

terísticas. Ainda que a imaturidade, o imediatismo e todos os problemas estruturais de ensino tornem essa ansiedade por inovação na política uma grande perseguição ao utópico, a presença de adolescentes de 16 a 18 anos tem peso nas eleições e pode, sim, fazer a diferença no quadro social do país a médio e longo prazos, com o acesso ao ensino de política. “O Brasil ainda é um país com significativo percentual de jovens, de modo que o voto deles tem grande importância nas eleições. A influência do voto deles é grande e pode decidir as eleições se a escolha deles estiver alinhada em torno

de uma mesma candidatura. Tenho percebido que os jovens têm a tendência de serem mais aguerridos quando participam das eleições. Também tendem a votar em candidatos que apontam uma maior ruptura com o quadro atual”, explicita William. O fato é que os jovens estão reagindo e colocando seus dedos nas urnas. Em uma disputa eleitoral como a que vem por aí, essa galera pode representar, no mínimo, o começo de uma nova fase na política brasileira. Quem tem 16 anos ou mais e já tirou seu título de eleitor, está pronto para participar da história do país. E para quem ainda está na dúvida se deve ou não procurar um cartório eleitoral e adentrar nesse universo, fica o conselho do professor William: “o problema maior é que quem não faz política e ajuda a fazer escolhas, tem boa parte de sua vida dirigida por quem a faz”.

“Invenções, projetos… Creio que a melhor coisa para contribuir com o avanço, é a novidade que cada geração pode agregar ao cenário político de seu país” Felipe Prado, 17 anos, estudante

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ORGÂNICOS SAÚDE & BEM-ESTAR

É DE CO POR MARIA LUIZA GONÇALVES, MELINA OLIVEIRA E WENDY SILVEIRA

Já parou para pensar que aquilo que cresce perto da sua casa é um pedaço da natureza impondo seu espaço? Mais que isso, pode ser alimento ou até remédio! 22

Você provavelmente já ouviu por aí que comida boa, é comida de verdade. Sua avó ou sua mãe já devem ter preparado pra você alguma receita com cascas de frutas, sementes ou folhas. Essas sobras também são PANCs. É isso mesmo, as PANCs, uma abreviação para as ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais’, vêm ganhando força de uns anos para cá, mas já conhecidas e usadas na alimentação há muito tempo. Isso porque são espécies de plantas rústicas e resistentes, que não necessitam de grandes

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cuidados, e por isso são muito cultivadas em hortas de escolas, comunitárias, canteiros e jardins. Podem até ser confundidas com ervas daninhas, ou mesmo com “mato”, já que algumas PANCs são espontâneas e brotam nas calçadas. É comprovado que essas plantas podem contribuir para uma alimentação saudável e equilibrada, com novos sabores e cores. Sendo uma forma estimulante de quebrar a monotonia alimentar. Mas não se engane, elas acrescentam também ao nosso organismo os componentes nutritivos que tanto precisamos.


OMER? Em São José dos Campos, a geógrafa e especialista em Educação Ambiental, e mestre em Planejamento Urbano e Regional, Beatriz Carvalho, idealizadora do empreendimento social Mato no Prato, nos conta de onde foi a ideia de trabalhar nesse ramo. “Tudo começou com o Mato no Prato, nosso projeto de educação ambiental por meio da revolução alimentar, afinal, além da natureza, nós amamos cultura e comida”. O empreendimento foi criado para fortalecer o vínculo entre as pessoas e a natureza por meio das escolhas alimentares.

“A maneira mais deliciosa de se fazer revolução alimentar, é produzindo comida de verdade” Beatriz Carvalho, geógrafa e especialista em Educação Ambiental

VALORES NUTRICIONAIS As plantas alimentícias não convencionais possuem valores nutricionais tanto quanto as que já consumimos diariamente. Como dito, são plantas rústicas, propagadas por mudas ou sementes, geralmente pouco afetadas por pragas e doenças, bem adaptadas ao clima da região. Essas características, portanto, as colocam como hortaliças de fácil cultivo. Algumas PANCs chegaram a fazer parte da cultura, identidade e práticas agrícolas de certas comunidades espalhadas pelo Brasil, devido às ca-

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“Você brincava de ‘comidinha’ com matinhos quando era criança? O que te fez desistir?” Beatriz

racterísticas de serem cultivadas pela agricultura familiar. Sendo assim, as PANCs não são parte de um cultivo comercial em larga escala. Consequentemente, tal dificuldade prejudica os estudos dessas espécies, o que resulta em poucas informações sobre formas de uso, cultivo e disponibilidade dessas plantas. A forma mais acessível de resgatar esses alimentos e de diversificar a alimentação fizeram com que diversos órgãos públicos e privados, assim como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), co-

meçassem a buscar levantamentos de espécies que possam ser utilizadas na dieta alimentar. PLANTAS ALIMENTÍCIAS Cerca de 300 espécies já foram catalogadas como planta alimentícia e pelo menos 50 dessas plantas já possuem informações técnicas de cultivo e fazem parte desse trabalho de hortas locais. Como por exemplo Amaranto, Capuchinha, Chuchu-de-vento, Fisális, Mangarito, Vinagreira, Taioba, Caruru, Jambu, Ora-pro-nóbis, Peixinho-da-horta, entre tantas outras.

“Mato? A palavra logo nos remete aquela coisa incômoda, incontrolável e até suja. Já de antemão te aviso, o pensamento involuntário é mentira” 24

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É normal encontrar essas plantas dentro de casa como plantas ornamentais. Por exemplo, existem pessoas que mantêm cercas vivas de ora-pro-nóbis e não sabem que na verdade ela é uma planta comestível. O reconhecimento surgiu a partir da necessidade da sociedade de se alimentar de forma mais natural. Afinal, não precisamos sair às ruas e erguer bandeiras e cartazes para fazer o nossa Revolução Alimentar. Só depende de nós mesmos irmos ao supermercado, mercadinho do bairro, às feiras-livres e, em seguida, para as nossas cozinhas. A Revolução Alimentar deverá ser a evolução do ato de produzir comida a partir de recursos naturais, utilizando o mínimo possível de processados. Como o próprio ditado popular diz “Desembale menos, descasque mais”. Então por que não explorar o paladar e procurar novas opções de se fazer comida? Beatriz viaja ao redor do Brasil, participando de entrevistas, eventos culturais, palestras e workshops com a finalidade de levar para as pessoas, conteúdos e ensinamentos sobre educação ambiental por meio da conscientização alimentar. “Nós idealizamos o projeto para o público infantil. A ideia era apresentar às crianças e jovens vegetais diferentes e atrativos em aparência e sabor, para evitar futuros preconceitos e monotonias alimentares”. Ao longo do processo da iniciativa, eles optaram por conti-


nuar levando o conteúdo para jovens e adultos. “No decorrer das atividades nos deparamos com um enorme interesse do público adulto e passamos a resgatar as memórias afetivas relacionadas ao ato de comer”. Hoje em dia, as ações do Mato se aplicam às instituições e grupos interessados, o que contribui para a democratização da alimentação biodiversa e as melhores formas de promovê-la. O projeto é presente nas redes sociais, como Instagram e Youtube. Beatriz Carvalho ensina via canal de streaming seus conhecimentos e receitas, inclusive a de xarope de sabugueiro (confira, a seguir, a receita). “Essa é uma das primeiras receitas que aprendi quando mergulhei na minha busca por uma alimentação mais diversa, uma das minhas paixões que me firmou nesse caminho, afinal, é bom demais, além de ter infinitas propriedades medicinais, mas antes de mais nada, serve para beber, esse xarope é delicioso”. No universo das PANCs, o ilustre peixinho-da-horta também é comestível. Uma plantinha de característica aveludada, culturalmente conhecida por lambari, lambarizinho, lambari-de-folha, entre outros apelidos dependendo da região. Sempre utilizada em decoração, devido suas particularidades atrativas. Mas por que peixinho? Seu sabor remete ao gosto do peixe, por isso recebeu o reconhecimento. Além disso, a forma mais utilizada nas receitas é a empanada e frita. Mas caso não queira

prepará-la frita, pode ser colocada na salada junto com outras plantinhas comestíveis, como a capuchinha por exemplo. E falando sobre capuchinha, uma planta nativa das regiões montanhosas do México, do Peru e também do Brasil. É uma planta ornamental e PANC literalmente, já que podemos comer suas flores, folhas, frutos, sementes e ramos. Tem um aroma agradável e um sabor picante. As folhas arredondadas verdes ou com bordas avermelhadas, são lindas e

atraentes, facilmente encontradas em diversas cores. Parecidas com um capuz, por isso seu nome “capuchinha”. Projetos como o Mato no Prato nos incentivam a buscar conhecimento alimentar, porque comida de verdade dá em árvore. “Nós trabalhamos na popularização de espécies vegetais comestíveis, hoje denominadas PANC, um tesouro que as pessoas estão aos poucos descobrindo e que está transformando suas vidas”, diz Beatriz Carvalho.

RECEITA XAROPE DE SABUGUEIRO

Solte as flores secas do sabugueiro, corte 2 rodelas de limão siciliano, preencha um Receita: Xarope de Sabugueiro Solte as flores secas do sabugueiro, corte 2 rodelas de limão siciliano, preencha um pote de vidro com as flores, as rodelas do limão e complete com água filtrada, adicione 1 fava ou 2 gotas de extrato de baunilha, tampe e leve ao sol por três dias. O Xarope é utilizado para tratar doenças do trato respiratório. As flores do sabugueiro têm propriedades expetorantes, o que estimula na circulação sanguínea, na produção de suor, antivirais e anti-inflamatórias tópicas. Dessa forma, a planta é benéfica no tratamento de gripe e resfriado, febre, tosse, rinite, sintomas alérgicos e outros.

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FAMÍLIA

FAMÍLIA

A IMPORTÂNCIA DO

AFETO P POR ANDRESSA SOUZA E IRENE ORTEGA

Em aproximadamente nove meses de gestação, o pai desenvolve um apego emocional, social e físico com o bebê, por meio de carícias, conversas, canções entoadas, entre diversos modos com os quais cria-se um vínculo com a criança, ainda dentro do útero. Com isso, após o nascimento pode se despertar um reconhecimento da voz do pai e o bebê recém-nas-

“De forma inconsciente, o homem desenvolve os ciúmes, o desinteresse sexual em sua parceira e outras atitudes, por não compreender o seu papel durante essa gestação” Profa. Msc. Katia Zeni Pedroso

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cido se familiariza com os sons presentes no ambiente do lar ou espaços frequentados pela mãe. Além da criação desse laço afetivo por parte dos pais, é de extrema importância que ele não se sinta sozinho durante a gestação, mas que possa ter a consciência de seu papel essencial, e saiba como fazer parte da vida do bebê, durante a gestação, e ao mesmo tempo possa sentir o importante e essencial que é ser ‘o pai’ de uma criança. A participação paterna na gestação se torna fundamental em todos os momentos, para que não somente desenvolva este laço, mas também para que o pai compreenda seu novo papel. Uma função fundamental, que ao longo de muitos anos foi negligenciado, devido ao aumento da entrada de mulheres no mercado de trabalho, temática que está surgindo e ganhando importância entre os estudos de


Pais começam a compreender o significado da paternidade, mas ainda assim podem não entender os efeitos dessa função

PATERNO

DURANTE A GESTAÇÃO especialistas, para compreender a interferência do pai na gestação e construção de personalidade da criança. RELAÇÃO DO CASAL A presença paternal desde a vida embrionária, em que o bebe é capaz apenas de sentir, interfere diretamente na vida da criança. Ou seja, o bebê capta todas as emoções e consegue compreender tudo o que acontece. Tudo o que a mãe sente o bebê também sente e por isso a importância do pai ser o provedor de afeto, aliás, o pai vira duplamente o provedor de afeto direcionado para a mãe e para o bebê por meio dos estímulos que a mãe recebe. De acordo com a especialista em enfermagem obstétrica, profa. Katia Zeny Assumpção, da Faculdade de Ciências da Saúde da UNIVAP (Universidade do Vale do Paraíba), a partir da descoberta da gestação, inicia-se um processo de mudanças na vida do casal, entretanto, existem maneiras diferentes de abordar essas

mudanças que interferem na gestação do bebê e, principalmente, no papel paterno. “De forma inconsciente, o homem desenvolve os ciúmes, o desinteresse sexual em sua parceira e outras atitudes, por não compreender o seu papel durante essa gestação”, disse a profissional. O auditor fiscal Felipe Pinto Cardoso, 43 anos, de São José dos Campos, pai de Beatriz Moreira, de apenas 10 meses, após vivenciar e poder estimular a criação de afeto durante a gestação, por meio de conversas, carinho, canções e outras participações, contou que a etapa de gestação trouxe diversos benefícios para o casal, e também para auxiliar na compreensão do seu papel de pai. “Eu costumava conversar com a Beatriz ou cantar para ela quando ainda estava na barriga e, quando ela nasceu, eu tinha a sensação de que, de alguma forma, a gente já se conhecia”, explicou ele. O papel do pai provedor de afeto é estimular o desenvolvi-

mento do bebê por meio de uma canção, por exemplo, além de estar presente em todos os momentos da gestação, para gerar e despertar o sentimento na criança. A formação profissional ou nível socioeconômico do pai não é um fator predominante na relação do pai com o bebê. Embora alguns pais possam desenvolver emoções desfavoráveis no relacionamento com a mãe, tal como inveja, ansiedade e solidão por não contar com as mudanças corporais da mãe, deve ser considerada relevante a comunicação física e emocional com os devidos cuidados, para favorecer o desenvolvimento do bebê durante os nove meses de gravidez. O pai não deve ter vergonha ou medo de expor suas emoções ao bebê e à mãe. INTIMIDADE DURANTE A GESTAÇÃO Segundo a Revista do Hospital Universitário/UFMA 2006, no artigo ‘Atividade sexual da mulher na gravidez’, as modificações do corpo feminino na gestação incomodam e dificultam a prática sexual, mas não impedem seu exercício. Entretanto, as gestantes carecem

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A criação do afeto paterno é importante para o desenvolvimento da criança, pois o pai tem um papel único na vida de um filho(a). Roseli Leão, psicóloga clínica

de orientações mais detalhadas para que a atividade sexual no período da gravidez seja mais prazerosa para a mulher e vivenciada pelo casal com mais segurança. Os pais criam uma barreira física com a mãe e evitam ter intimidade durante a gestação por medo de machucar o bebê ou porque acreditam que apenas precisam cuidar da mãe suprindo as vontades dela, deixando de lado a intimidade sexual. De acordo com a especialista Katia Assumpção, os pais devem separar os papéis para conseguir promover afeto à mãe e ao bebê. As mudanças físicas da gestante não devem apagar a intimidade e, sim, estimular o casal a se sentir mais apaixonado um pelo outro, pois a intimidade faz parte Felipe Pinto do amor e segurança que suprem Cardoso, pai de o bebê durante seus nove meses Beatriz de formação fetal e no futuro. Moreira

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA A criação do afeto paterno é importante para o desenvolvimento da criança, pois o pai tem um papel único na vida de um filho(a). Por meio dele, a criança irá compreender o mundo. Com isso, pode-se entender que a falta deste afeto paterno poderá ocasionar insegurança, sentimento de inferioridade e rejeição na criança. Segundo Roseli Leão, psicóloga clínica, com formação em Terapia Cognitiva Comportamental e pós-graduanda em psicologia infantil, de São José dos Campos, para criar um vínculo com a criança o pai deve oferecer afeto e atenção. “Estes são os melhores caminhos para criar vínculos, porém é preciso identificar de que formas este pai pode expressar afeto e atenção. Estas são uma das maiores queixas dos pais em consultório: ele dá atenção, mas o a criança não percebe. Talvez porque o pai não observou de que forma ela se expressa: se pelo contato físico, se por palavras. Enfim, é um aprendizado constante, mas que se torna fácil com a prática”, explicou ela. A contribuição paterna no desenvolvimento da criança trata-se de um fator importante e indispensável. Quando não encontrado ou despertado, esse afeto paterno pode gerar inúmeras consequências, como: distúrbios de comportamento, baixa autoestima

foto arquivo pessoal

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por pensar que não é amado, se sentir culpado por achar que não é um bom filho(a), agressividade, dificuldades de relacionamento, hiperatividade, dificuldades de aprendizagem, entre outros. Para auxiliar na construção desse desenvolvimento, a psicóloga Fabiana Ferreira, também de São José, recomenda que os pais procurem ajuda não só para compreender o papel de ser pai, mas também para compreender todo sentimento que esse papel irá despertar. “Para que o mesmo tivesse apoio e ajudasse a compreender todo tipo de sentimentos e pensamentos que passam a acontecer a partir do momento em que recebe a notícia de que vai ser pai. Existem grupos que são chamados de Grupos de Gestante e Pais, que auxiliam as mães e os pais a compreender todo o processo da gestação”, disse ela.

Qualquer dúvida, procure um profissional; Participe em tudo que tenha relação com o bebê; Não tenha vergonha de expor suas emoções ao bebê; Fale com o bebê;

Acaricie a barriga da mãe.

DICAS PARA O PAI Profa. Msc. Katia Zeni Assumpcão Pedroso


HISTÓRIA

A COBRA POR GIOVANNA LAVECCHIA E MARCUS TRIZZINO

FUMOU Em 1939, quando as tropas a FEB, a Força Militar Brasileira. alemãs comandadas por Adolf Em 1944, sem poder prorroHitler invadem a Polônia, que- gar a entrada do Brasil no conbrando o pacto de nåão agressão flito, Getúlio Vargas declara Ese dando início à Segunda Guerra tado de Guerra no país e se alia Mundial, Getúlio Vargas, o preoficialmente aos americanos. sidente do Brasil na época, declara que “É mais fácil uma coFORMAÇÃO DAS bra fumar um cachimbo do que TROPAS BRASILEIRAS o Brasil entrar na guerra”. Ainda em 1943, quando a Vargas, que embora flertasFEB é criada, os recrutamentos se com ambos os lados, não se começam a acontecer. Em um uniu nem aos nazistas nem aos primeiro momento, os militares aliados, tentanativos foram condo manter o país vocados e, posteneutro o máximo riormente, os rede tempo posservistas entre 18 sível. Porém, o e 45 anos. próprio povo braO Brasil teve, sileiro começou a ao todo, três batareivindicar seu lulhões de infantagar no conflito e, ria. O primeiro foi em 1943, a primeio Regimento Samra base militar da paio, localizado Força Expedicioem Juiz de Fora, nária Brasileira é no estado de Getúlio Vargas, criada na cidade Minas Gerais, o presidente do de Natal (RN), segundo foi o 11° Brasil em 1939 juntamente com Batalhão de in-

“É mais fácil uma cobra fumar um cachimbo do que o Brasil entrar na guerra”

Os soldados do Vale do Paraíba na Segunda Guerra Mundial

fantaria de São João Del Rei, também no estado de Minas, e o terceiro foi 6° Regimento de Caçapava, no estado de São Paulo. O exército brasileiro também contou com um batalhão de engenharia militar e um batalhão de saúde, além de receber apoio da cavalaria brasileira e de ter um destacamento aéreo. Os 26 mil soldados brasileiros enviados à Europa receberam o apelido de pracinhas, pois tinham de se alistar na praça, termo utilizado na época para quem se voluntariava no exército. OS GRINGOS Segundo a historiadora Ana Luiza do Patrocínio, de Jacareí, autora do livro “FEB 70 Anos, os Pracinhas de Jacareí na 2° Guerra Mundial”, “o Brasil não estava preparado para a guerra. Não tinha uniformes, não tinha armamento suficiente e muitos de nossos soldados eram despreparados para lutar”. Quem forneceu os unifor-

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quistasse a Itália”, conta Ana Luiza sobre o início do Brasil na guerra. Em setembro de 1944, quando o exército brasileiro chegou ao solo italiano, os aliados já haviam libertado o sul da Itália, entrando por Sicília, e adentravam cada vez mais o país. Mussolini, líder do partido facista, já tinha abandonado seu posto e fugiu para o norte da Itália, com a intenção de chegar à Suíça. Faltava apenas o norte a ser libertado. mes para o exército brasileiro foi o exército americano, que lutou ao nosso lado. Estando juntos em campo de batalha foi possível perceber as diferenças entre os costumes e regras das duas nações. Os americanos ainda tinham segregação racial em suas tropas, ao passo que no exército brasileiro, os soldados tinham que respeitar a hierarquia militar para receber a comida na hora das refeições, o que não acontecia com os estadunidenses. O uniforme americano era da cor verde musgo, e o comandante estadunidense gritava “green go” para as tropas americanas avançarem, o que significa “verdes vão”. Os reservistas brasileiros ouviam esse comando o tempo todo e sem compre-

Curiosidade: a expressão “senta a pua” se tornou o grito de guerra da Força Aérea Brasileira e significa algo como “mandabala”, nos dias de hoje 30

ender o que significava, começaram a chamar os americanos de “gringos”. OS PRACINHAS VALE PARAIBANOS O Sexto Batalhão de Infantaria de Caçapava era conhecido como Regimento Ipiranga e contava com pelo menos 500 homens vindos de todo o Vale do Paraíba. Somente de Jacareí, 153 soldados foram enviados, junto aos reservistas de São José, Santa Branca, Caçapava e várias outras cidades. Inicialmente, o Regimento Ipiranga seria enviado para a África do Sul, que estava sobre domínio Nazista. Mas semanas antes de partirem, os nazistas foram derrotados em solo africano e as tropas brasileiras foram redirecionadas para a Itália. “O Brasil foi convocado para a guerra com dois principais propósitos: um era substituir os soldados cansados das tropas americanas, que já lutavam há algum tempo, e o outro era servir de distração para que o quinto batalhão americano con-

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SENTA A PUA Ao norte da Itália, em agosto de 1944, os alemães fizeram uma de suas últimas estratégias de batalha. A Linha Gótica, formada por um corredor de defesa nazi-facista, tinha como principal objetivo retardar e bloquear os avanços dos aliados naquela direção. A principal função dos soldados brasileiros era distrair a formação da Linha Gótica para que os americanos pudessem passar. Porém, o Brasil acaba conquistando sozinho o norte da Itália depois da Batalha de Di Taro, quando as forças alemãs e italianas se rendem e as tropas brasileiras conquistam o Monte Castello, entre os dias 27 e 29 de abril de 1945. Quem assina o armistício da redenção dos alemães em solo italiano é o Sexto Batalhão de Infantaria de Caçapava, o batalhão do Vale do Paraíba. As tropas brasileiras voltaram com honras e méritos para o Brasil, pelos seus feitos nas batalhas de Di Taro e Monte Castello. Não perderam nenhuma batalha,


apenas empataram algumas. O Batalhão de Caçapava venceu todos os conflitos em que lutou. Dos 26 mil soldados enviados à Europa, pelo menos 450 pracinhas perderam a vida. “Em Jacareí, teve a morte de um soldado, que morreu na Batalha de Monte Castello, o João Américo da Silva. Das outras cidades do Vale, não se tem levantamento de quantos soldados morreram em batalhas”, conta Ana Luiza sobre as baixas nas tropas do Vale do Paraíba. VOLTANDO PARA CASA Embora tenham voltado vitoriosos, os fantasmas da guerra vieram juntos dos soldados. João Porto Mendes foi um soldado de Santa Branca que compôs o Regimento Ipiranga e esteve nas duas batalhas finais da Itália. Em 1946, um ano após o fim da guerra, se casou com Benedicta de Oliveira

Mendes, com quem teve seis filhos. A quarta filha do casal, Maria Helena Mendes, 65 anos, conta que seu pai era tido como bravo e reservado, e que quem o conhecia antes da guerra percebia as diferenças em sua personalidade. “Meu pai contava que carregava comida e água para os soldados, enquanto eles lutavam. Ele ia ajudando enquanto os tiros e as explosões aconteciam”, fala Maria Helena sobre as memórias de guerra do pai. Os anos que se seguiram não foram fáceis para João. O ex-pracinha tinha dificuldades de encontrar emprego e enviou uma carta ao presidente do Brasil da época, Getúlio Vargas, pedindo ajuda para conseguir um traba-

lho e contando que havia lutado na guerra. Por mais impossível que parecesse, Vargas atendeu ao pedido e arranjou um emprego na companhia responsável por instalar fios de telefone nas cidades de Jacareí e Santa Branca. Além das dificuldades para arranjar emprego, desenvolveu vício no álcool, que foi atribuído aos traumas de guerra. João Porto Mendes faleceu em 1961, vítima de um infarto. Sua família acredita que todos os acontecimentos posteriores à sua volta da Europa influenciaram em sua vida. “Ele morreu 16 anos depois de voltar de lá, mas nunca se esqueceu do que viu na guerra. Ele ficou até o fim com aquelas coisas na cabeça”, relembra a filha.


SOCIEDADE

POR JOÃO TOLEDO, RAÍSSA MACEDO E VITÓRIA FERREIRA

Os paradoxos de uma sociedade cercada pelos ismos O filósofo e professor Karl Popper, em seu livro “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, diz que ‘a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância’. Sendo assim, se

prolongarmos e cultivarmos a tolerância ilimitada, mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante da intolerância, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles. De forma prática, quanto mais tolerantes formos com pessoas intolerantes, menos tolerância existirá e, assim, os extremismos e autoritarismos

“Tanto com ciência, quanto com relações internacionais entre países, devemos escolher um discurso com abertura a tudo, até mesmo com o que não concordo, mas sempre com respeito. Não podemos tapar os olhos e combater o que está ruim com mais coisas ruins” Joana Donatelli, psicoterapeuta e psicanalista

ganharão cada vez mais força, até que a barbárie e agressividade exacerbada sejam as únicas formas de governo, conquistas, diálogos e formas de comunicação. A exemplo, podemos citar o negacionismo, palavra muito utilizada nos últimos tempos e que retrata bem o paradoxo de Popper. Para entender melhor, analisamos a palavra NEGACIONISMO, e o que seu sufixo revela pode esclarecer e desvendar muitos problemas atuais da sociedade. “Para a psicologia, os ‘ismos’ são uma tendência, um conceito e também se referem à questão da intensidade. Quando ouvimos falar sobre fanatismo, ficamos com um pé atrás, geralmente essa pessoa está tendendo a mais e, assim, nos limitamos à escuta, porque o outro tende a algo que não é legal, que é extremo”, comentou Joana Donatelli, psicoterapeuta e psicanalista, de São José dos Campos. “Tanto com ciência, quanto com relações


internacionais entre países, devemos escolher um discurso com abertura a tudo, até mesmo com o que não concordo, mas sempre com respeito. Não podemos tapar os olhos e combater o que está ruim com mais coisas ruins”, completou. O que isso nos mostra é que uma coisa está diretamente ligada a outra, os ‘ismos’ inibem a cultura da tolerância e deixam todos intolerantes. No entanto, para uma comunicação pacífica e menos agressiva, em que pessoas discordam entre si e está tudo bem, precisamos de uma tolerância ponderada e assertiva. ACEITAR X IMPOR Por fim, um paradoxo nos leva a outro: se os ‘ismos’ deixam todos intolerantes e a tolerância finda a própria tolerância, nosso objetivo é encontrar o equilíbrio e a harmonia entre aceitar e impor ideais. Quantas vezes ao longo da história isso aconteceu? Seria possível tal feito nos dias de hoje? Os ‘ismos’ sempre estiveram presentes no decorrer da história, caracterizados como

um conjunto de ideias. Desde o Iluminismo, que derrubou o antecessor Absolutismo, sendo esses ideais influenciadores de todo um território, que tomam e impõem um poder, assim como o Catolicismo e Cristianismo, pensamentos, fé e ideologia vindos sempre de um grupo específico. E, assim, temos o nosso primeiro contato com o sufixo ‘ismo’. “Essas são ideologias criadas para manter uma determi-

nada classe no poder ou um povo unido, como é a ideia do nacionalismo, racismo, individualismo, liberalismo, etc. Por trás dessas ideologias, existem grupos políticos interessados em tomar o poder, mas dependendo de um conjunto de ideias para poder implementá-lo”, diz a historiadora, filósofa e socióloga Karen Delnia, de São José. Ter esse contato ligado

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Essas são ideologias criadas para manter uma determinada classe no poder ou um povo unido, como é a ideia do nacionalismo, racismo, individualismo, liberalismo, etc. Karen Delnia

ao ‘ismo’ faz com que se crie uma sociedade baseada em doutrinas, nas quais um grupo específico será sempre responsável por criar ideais e colocá-las em prática. Sendo assim, se aproximando do extremismo e do fanatismo. Quando, então, voltamos a falar desse paradoxo, encontramos uma sociedade que não pratica o que se é explicado, tornando assim um mundo totalmente limitado aos ideais nem sempre verdadeiros, baseados em opiniões e não em fatos, gerando debates e discussões sem fim. Chegamos, com isso, na atual realidade da nossa sociedade, com pessoas com as mais

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diversas opiniões e as impondo como verdade absoluta. EXTREMISMOS Logo, o extremismo se faz presente. “Grandes filósofos e sociólogos criaram ou explicaram ‘ismos’ que acabaram conduzindo a uma lógica histórica. O que constrói a história? É essa força dinâmica de viver os ‘ismos’”, afirma Karen. Ou seja, doutrinas são necessárias e elas não se encontram somente em um lado, seja bom ou ruim. Elas são necessárias para fundamentar os pensamentos e sentimentos de uma sociedade, seja qual for o seu direcionamento.

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Agora, o problema de se viver em uma sociedade fanática e extremista, que vive em busca dessas doutrinas e as defendem com unhas e dentes, é um constante debate de ideias e opiniões rasas e sem embasamentos. O que gera uma eterna discussão de pensamentos próprios e tentativas de torná-los verdadeiros a todo custo, sem uma comprovação científica necessária. É, então, que podemos explicar o negacionismo. Falar sobre negacionismo nos coloca em uma posição de dúvida frequente, afinal, o que seria essa palavra tão comentada nos nossos dias e qual sua relação com os conceitos dos ‘ismos’? O negacionismo parte de uma doutrina e um pensamento que qualquer colocação além do que o indivíduo carrega, não pode ser verdade. A ideia de negação foi definida por Freud como um mecanismo psicológico, que tem a finalidade de reduzir qualquer manifestação capaz de colocar em perigo a integridade do ego dos sujeitos. Então, essas pessoas não conseguem enfrentar os fatos que vão de encontro com suas ideologias. Essa ideologia costuma se


fortalecer quando a sociedade se depara com situações de instabilidade, como uma crise ou algo nunca antes presenciado. Quando em oposição a evidências científicas e estudos sobre o tema, o movimento encontra sustentação em teorias e discursos conspiratórios, sem aprofundamento, que acabam favorecendo disputas ideológicas, interesses políticos e religiosos. “O que alimenta o negacionista é a conspiração!”, diz Karen Delnia. Sabemos que o negacionismo não é de hoje. Temos um exemplo que remete a um acontecimento do século passado referente a um personagem negacionista: o caso do youtuber Monark, quando fez alusão ao nazismo. Ele é conhecido por ter alguns ‘ismos’ como suas principais ideologias e que afetam alguns grupos da sociedade. Sua justificativa a intolerância é a sua liberdade de expressão. E com todo esse extremismo e negacionismo sobre assuntos importantes para a sociedade, precisamos saber como lidar com toda essa situação. “Em primeiro lugar, precisamos reaprender que a comunicação é passiva e não agressiva. Entendo

que com o crescimento das redes, todos têm voz, tanto crianças quanto pessoas entendidas. Se trabalharmos a posição de uma comunicação mais pacífica e harmoniosa, combatemos isso. Na maioria das vezes esse

pensamento surge de pessoas que têm ideias rasas. Quando abrimos o leque sem medo de saber e sem medo de ter as respostas, conseguimos construir um caminho para fugir disso”, afirma Joana Donatelli.

Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos” Karl Popper

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