FOCA#04 2021

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PÁGINAS 18 A 21

O CIRCO ESTÁ DE VOLTA Após meses sem espetáculos por conta da pandemia da Covid-19, magia circense volta a emocionar plateias

N E S TA E D I Ç ÃO

A LINHA DE IMPEDIMENTO NO JORNALISMO ESPORTIVO FEMININO PÁGINA 4 PCDS NAS TELINHAS PÁGINA 10 O DILEMA DOS ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO PÁGINA 13 DRONES NA AGRICULTURA PÁGINA 22 A ERA DO CIGARRO ELTRÔNICO PÁGINA 25 MST: NOVO MODELO ACRÍCOLA PÁGINA 31


ÍNDICE

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A LINHA DE IMPEDIMENTO NO JORNALISMO ESPERTIVO FEMININO ESPORTE

O QUE ACONTECE EM CAMPO, NÃO PODE FICAR EM CAMPO ESPORTE

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PCDS NAS TELINHAS ACESSIBILIDADE

FUNCIONAMENTO DE ESTABELECIMENTO ALIMENTÍCIO NA QUARENTENA PANDEMIA

OS MAEFÍCIOS DO AÇUCAR REFINADO NO ORGANISMO SAÚDE

RESPEITÁVEL PÚB LICO, O CIRCO ESTÁ DE VOLTA! ENTRETENIMENTO

DRONES NA AGRICULTURA: PELO CÉU É POSSÍVEL PROTEGER, SEMEAR E FERTILIZAR O SOLO PELOS ARES

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O DILEMA DO ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE AMANDONO RESPONSABILIDADE

MST: UM NOVO MODELO AGRÍCULA SOCIEDADE

BEM-VINDO AO MUNDO UNIVERSITÁRIO COMPORTAMENTO

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A ERA DO CIGARRO ELETRÔNICO SAÚDE

NOSSOS COLABORADORES

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1 - Ana Vitória Caxias 2 - Bárbara Liz 3 - Bruna Caroline 4 - Débora Nobre 5 - Eduardo Marcucci 6 - Emily Siqueira 7 - Guilherme Faleiros 8 - Guillermo Furtado 9 - Júlia Nascimento 10 - Julie Petri 11 - Karolina Zanusso 12 - Laisa Rodrigues 13 - Maria Luiza Machado 14 - Matheus Correia 15 - Murilo Chagas 16 - Natan Alves 17 - Rafael Lalli 18 - Rodrigo Cabral 19 - Rogério Barbato Filho 20 - Victória Christina 21 - Prof. Fredy Cunha 22 - Prof. Lucaz Mathias

EXPEDIENTE JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO (FCSAC) – TURMA 2021 REITOR Prof. Dr. Milton Beltrame Junior DIRETOR DA FCSAC Prof. Msc. Celso Meneguetti COORD. DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira EDITOR-CHEFE Prof. Esp. Fredy Cunha (Mtb 47292) PROJETO GRÁFICO Prof. Esp. Lucaz Mathias e Alunos do 6º período de Jornalismo CONSELHO EDITORIAL Profa. Dra. Vânia Braz de Oliveira, Prof. Esp. Fredy Cunha e Profa. Profª. Dra. Elizabeth Kobayashi Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP Av. Shishima Hifumi, 2.911, Urbanova, São José dos Campos – SP 12.244-000 / Tel.: (12) 3947-1083, www.univap.br Dúvidas e sugestões pelo e-mail: fredy.cunha@univap.br.

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EDITORIAL

O JORNALISMO EM TEMPOS DE

internet POR PROF.º FREDY CUNHA

A internet existe há muito tempo. A internet acessada por alguns de nós existe há um tempo relativamente pequeno. A internet acessada por muitos de nós existe há bem pouco tempo. Na realidade de uma universidade como a Univap, a internet é algo comum, algo sem o qual não sabemos mais estudar, trabalhar e se relacionar. É normal que todos nós (ou, para não correr o risco de errar, quase todos nós) tenhamos acesso fácil a ela. Nós mesmos: alunos, professores e demais profissionais da instituição. Mas a relação do Jornalismo com a internet e com tudo que ela oferece deve ser vista com um olhar mais cuidadoso. Uma das profissões mais impactadas pela enxurrada de conteúdos que corre pelos caminhos da internet é, sim, o Jornalismo. Ela, a internet, é aliada ou inimiga de nossa profissão? É possível chegar a uma resposta fácil e única? Não! De jeito nenhum. Mas é possível usar este questionamento para, no mínimo, acender uma ‘luz de alerta’ em nossa caminhada profissional. Como nós, profissionais de Comunicação (em especial, os/as jornalistas) temos nos utilizado dela? Quem tem

servido a quem nesta relação “Internet – Jornalismo”? A internet tem um inquestionável poder de nos acomodar. Frases como “tudo na palma de nossas mãos” ou “por meio dela tenho acesso a qualquer coisa” não podem contaminar o Jornalismo. Via de regra, um conteúdo jornalístico é alcançado com esforço, crítica e persistência (o que não combina com o ‘fácil acesso na palma das mãos’). Portanto, jornalistas, deem um ‘clique’ na mente e reflitam sobre isso num momento em que estiverem com o olhar, o pensamento e o coração longe das telas. Essa é uma reflexão necessária para os anos futuros.

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ESPORTE

A LINHA DE IMP jornalismo espo AINDA QUE A PASSOS CURTOS, NO ENTANTO, ELAS PERCEBEM QUE AS COISAS ESTÃO MELHORANDO, e entendem que elas podem ser inspirações para outras meninas e mulheres que querem ter voz e serem reconhecidas no ambiente de cobertura jornalística de esporte. POR GUILHERME FALEIROS E LAISA RODRIGUES

Mulheres ainda são minoria no segmento Assim como as outras nuances do esporte, a cobertura jornalística do meio ainda é um ambiente pouco receptivo às mulheres. Ainda predominantemente masculina, a área chega a ser hostil ao público feminino que, constantemente, precisa se reafirmar e, muitas vezes, andar sozinho, a curtos, mas importantes passos. O domínio sobre esporte sempre é uma questão quando mulheres são colocadas em pauta -- ou quando mulheres sugerem a pauta, encaminhamento e desenrolar do assunto. Dentro de campo, por exemplo, as mulheres já foram proibidas de jogar futebol, pela prática não ser considerada compatível ao tipo físico feminino: durante o governo de Getúlio Vargas, no artigo 54 do Decreto-lei 319, a lei dizia que “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompa-

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tíveis com as condições de sua natureza”. Entre 1941 e 1979, as mulheres não podiam participar ativamente da dita “paixão popular” no “país do futebol”. Fora das linhas, ainda existia a luta de mulheres que queriam falar e cobrir, de forma jornalística ou não, o esporte. Profissionalmente, foi a partir da década de 70 que as mulheres passaram a atuar ativamente no ramo. Apesar disso, a dureza do prélio acompanhou a luta por muito mais do que 90 minutos, mais do que fases ou início e fim de temporada. Ainda hoje, em 2021, as mulheres são minoria no meio, e muitas ainda se sentem estruturalmente questionadas e reprimidas. Afinal de contas, lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no jornalismo esportivo? NÚMEROS NA PROFISSÃO De acordo com o UOL, apenas 13% dos profissionais de cobertura de esporte na TV fechada brasileira são mulheres. Quase 100% delas trabalham na reportagem. Não é preciso

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muitos dados quando é possí-

vel perceber a diferença na representatividade de mulheres e homens pelas referências: quando se fala em narrador esportivo, os primeiros nomes que vem à mente da maior parte do público são masculinos. É um senso comum, quase consenso. Uma esmagadora e injusta comparação, quando, não por falta de vontade, as mulheres ainda são a minoria dentro do segmento. Entre as corajosas e protagonistas mulheres que alcançaram o espaço no meio, 86,65% relatam ter sofrido algum tipo de repressão machista, segundo pesquisa realizada pela jornalista Renata Cardoso Nassar, em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) que teve o tema “O assédio no jornalismo esportivo: o cotidiano das jornalistas e o machismo praticado pela imprensa”. Outro dado coletado na mesma amostra afirma que, entre elas, 38,46% passaram por situações de constrangimento ou assédio. Em 2018, após os relatos das repórteres Bruna Dealtry e Renata de Medeiros, que passaram por atos similares de assédio, outras jornalistas criaram o curta e a hashtag #DeixaElaTrabalhar, que reuniu diversos


PEDIMENTO NO ortivo feminino relatos e manchetes que contavam, caso a caso, o desrespeito às mulheres que enfrentam o cotidiano da profissão.

QUEM INSPIRA ESSAS MULHERES? No esporte, é comum que a paixão venha do berço. Há quem nem saiba de onde iniciou a paixão por um time, por exemplo. É como se sempre estivesse lá. Andreana Chemello é moradora da cidade de Poá, no Rio Grande do Sul, ainda menina, sonhava em ser jogadora de futebol. Hoje, aos 22, a jovem deixou de lado o sonho de se aventurar dentro das linhas, mas não abandonou os gramados. Estudante de jornalismo, começou sua carreira como repórter esportiva, cobrindo, narrando e comentando jogos de futebol. Nani, como é conhecida, hoje faz parte da Rádio Inferno, que se dedica à cobertura

do time do Internacional. Em seu trabalho, foi bem recebida, mas a repórter relata casos em que seu entendimento de futebol foi questionado. Quem também já teve seus conhecimentos testados foi Valéria Contado, de 26 anos. Formada em jornalismo e moradora de São Paulo, a repórter conta que, em diversos grupos, já se sentiu questionada e não validada: “‘Mas você gosta mes-

“Um cara, que era dono de televisão daqui de Porto Alegre, me fez falar a escalação de três times de futebol diferentes, como se eu não soubesse, dizendo que eu não deveria saber muito sobre futebol. Eu falei, dos três times, mas foi muito constrangedor.” Andreana Chemello

mo?’, sempre tem uma desconfiança, principalmente quando você faz questão de mostrar que sabe, entende e acompanha. Sempre tem aquele ‘você gosta só por gostar, ou gosta por que entende?’. Já ouvi que estava defendendo o jogador porque ele era bonito. Mas não, não era por isso!”. As duas jornalistas ainda dividem o mesmo relato: quando mais novas, suas principais referências e inspirações eram homens. “A minha geração cresceu sem ter referências fortes femininas, protagonistas, comentando assuntos técnicos e táticos de futebol. Eu cresci sem ver uma mulher narradora de futebol. Quando eu era mais nova, a minha maior referência era Renata Fan, mas ela

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ESPORTE

não falava tanto de tática, de técnica, ela era apresentadora. Eu tinha muitas referências masculinas”, comenta Valéria. O INGRESSO NA ÁREA E O APOIO DE MULHERES PARA MULHERES Para as meninas, o processo de ingressar no meio do jornalismo esportivo começou pelas páginas e projetos independentes. O espaço no meio profissional ainda é pouco, mas a vontade as fizeram optar por meios alternativos. Valéria, por exemplo, até hoje

“A maior dificuldade é encontrar lugares de visibilidade que nos ofereçam espaço, nos dê oportunidades pra gente. No futebol, a gente fala sobre a importância da base na formação de um atleta. No jornalismo às vezes falta isso para as mulheres. Em contrapartida, existem muitos projetos, como o próprio Análise Verdão, que nos dão esse espaço”.

cobre o time do Palmeiras pela página Análise Verdão, uma das grandes referências de cobertura independente do time no Brasil. Ainda que a passos curtos, no entanto, elas percebem que as coisas estão melhorando, e entendem que elas podem ser inspirações para outras meninas e mulheres que querem ter voz e serem reconhecidas no ambiente de cobertura jornalística de esporte. “É importante incentivar para que as mulheres ocupem o espaço que elas desejam estar. A gente quer falar sobre isso, então a gente tem que falar sobre isso. Ainda tem a questão de inspirar meninas mais novas, que estão começando agora, que ainda não decidiram a futura profissão, para que elas olhem e pensem ‘olha, que legal, uma mulher falando sobre esporte!’”, comenta Andreana. Valéria ainda ressalta que as coisas tendem a melhorar: “Hoje as coisas estão mudando.

Valéria Contado

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Quando eu comecei a acompanhar, em 2012, era uma coisa. Em 2016, quando entrei na faculdade, já era outra. Hoje é ainda mais diferente, mas ainda não é o que deve ser. A gente quer um ambiente igualitário, acolhedor. Eu quero ver a Renata Silveira e outras mulheres narrando ao vivo em TV aberta”. Com a ascensão do esporte feminino, principalmente o futebol, que vem conquistando espaço nas grades das emissoras, a mulher vem encontrando e dominando um espaço que também pode ser seu. Ainda com a necessidade de driblar os adversários, que muitas vezes estão dentro da mesma profissão, as mulheres, desimpedidas, correm para mostrar que o grito de gol, o comentário dentro dos 90 minutos, a análise pós-jogo, cobertura e reportagem de campo, além das outras inúmeras funções de jornalista esportiva, também são delas.


ESPORTE

O QUE ACONTECE EM CAMPO, NÃO PODE FICAR EM CAMPO POR MATHEUS CORREIA


ESPORTE

Em meio à discriminação no importante é se posicionar c Mesmo após anos de evolução e conscientização social, a discriminação continua presente de maneira enraizada em nossa sociedade. Em pleno século XXI, o ser humano falha em aceitar aquilo que é “diferente” de sua concepção ou ideias de vida, obtidas ao longo de sua existência. Os veículos de imprensa empilham matérias e fatos sobre casos de injúria racial, xenofobia, homofobia, misoginia, entre outras diversas formas de preconceito. Mesmo em uma prática extremamente pública e divulgada como o esporte, estes crimes são frequentes, longe de serem “casos isolados”. No âmbito futebolístico, o racismo, a homofobia e a misoginia são mais presentes do que aparentam. Nem mesmo com a ausência da torcida nos estádios no ano de 2020, por conta das restrições tomadas em relação à pandemia de Covid-19, houve uma diminuição nos casos de preconceito de maneira significativa. De acordo com relatório divulgado pelo Observatório de Discriminação Racial do Futebol, grupo social que combate a discriminação racial no esporte, foram 31 casos de racismo no brasileiro no último ano. “Deixa de ser uma muleta usar a desculpa de que o

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racismo é praticado apenas por torcedores, e dizer que os clubes não têm como agir. Na verdade, o que a gente está reparando em 2020 e 2021 é que existem muitos casos de racismo que são praticados por quem deveria coibir. A pandemia evidenciou esse fato, de que o racismo está presente dentro da diretoria ou das comissões técnicas. Seja porque não tem negro, seja porque é uma estrutura extremamente racista que ganhou evidência por não ter torcida. Podemos dizer que muitas vezes esses gritos eram abafados”, afirmou o criador do Observatório da Discriminação Racial, Marcelo Carvalho, em entrevista ao Globo Esporte. No período de transição em 2021, com as torcidas voltando aos estádios de maneiras escalonada, o Observatório registrou 41 casos de racismo até o início de outubro. O levantamento também mostrou a ocorrência de doze casos de lgbtqia+fobia, onze de machismo e quatro de xenofobia no país. Vale ressaltar que a organização não contabiliza apenas casos de discriminação nos estádios, mas também, na internet. Existe alguma forma substancial de acabar com o preconceito? Analisando toda a complexidade de nossa socie-

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dade, considerando a variedade absurda de culturas ao redor do mundo, e entendendo como funciona o cérebro e a criação de ideais de um ser humano, a resposta é totalmente inconclusiva, mas se aproximando mais do “não” do que de uma solução justa e benéfica. Então, já que é inextinguível, devemos aceitar o preconceito como algo comum no esporte? A resposta é contínua e aplicada contemporaneamente, mas tem início no ano de 1936, com Jesse Owens nos Jogos Olímpicos de Verão em Berlim, estendendo seu punho e confrontando os ideais nazistas da época. A questão abordada não é de que as vítimas de preconceito ou opressão devem talhar sozinhas seu caminho contra o ato que sofreram, mas sim, a ideia de que o posicionamento do atleta, como um todo e como forma de luta contra a discriminação, é extremamente importante.

PROTESTO

Entre os anos de 2020 e 2021, foi habitual ver jogadores de futebol se ajoelhando em campo antes do apito inicial das partidas, em forma de protesto ao racismo. Por mais que o gesto ainda esteja longe de acabar com a discriminação no esporte, é extremamente es-


os esportes, o quão contra os atos de injustiça? sencial para a conscientização de torcedores e dos próprios atletas dentro de campo. Na NBA, liga de basquete americana, os jogadores chamaram a atenção de todo mundo após o ato de se ajoelhar durante o Hino Nacional dos Estados Unidos em apoio ao movimento Black Lives Matter. Para Andrew Souza, jornalista esportiva do portal Meu Timão, o posicionamento de atletas é de extrema relevância. “É cada vez mais importante, não só atletas, como figuras públicas em geral, se posicionarem, ainda mais no mundo em que vivemos hoje, onde a diferença entre opinião e preconceito é muito distorcida. Eu não diria que essas pessoas possuem uma obrigação de se posicionar, já que isso iria um pouco contra a própria ideia, mas é extremamente recomendado, porque os esportistas como um todo, são um espelho para muito gente, principalmente jovens”. O caso mais recente e notório de discriminação no âmbito esportivo foi o do atleta Maurício Luiz de Souza, voleibolista que fez comentários homofóbicos em suas redes sociais, criticando o fato de que Jon Kent, um personagem fictício de histórias em quadrinhos, vai assumir ser bissexual na

HQ “Superman: Son of Kal-El”. Maurício Souza foi demitido do Fiat/Minas Tênis Clube e afastado da Seleção Brasileira de Voleibol, tendo suas atitudes reprovadas por diversos companheiros de esporte, inclusive do treinador da seleção brasileira, Renan Dal Zotto, que afirmou que “Em se tratando de Seleção Brasileira, não tem espaço para profissionais homofóbicos”. Em contrapartida, expondo a magnitude da mentalidade discriminatória de nossa sociedade, Maurício obteve o apoio de inúmeras figuras públicas e atletas, além de ter triplicado seu número de seguidores no Instagram. Mesmo com estas infelicidades, a rejeição e as medidas tomadas pelas entidades contra o atleta, mostram que pessoas com esta linha de pensamento estão cada vez mais sem espaço não só no esporte, mas no funcionamento de uma sociedade como um todo.

MISOGINIA

Além do racismo e da homofobia, outra forma de discriminação entranhada no esporte desde os primórdios, é a misoginia. 38 anos após a regulamentação do futebol feminino no país, equipes femininas ainda enfrentam inúmeros

obstáculos impostos pelo machismo ao praticar o esporte. Thaís Giovanna, atleta da equipe de Futsal de São José dos Campos, comentou que o machismo esteve presente em boa parte de sua trajetória no esporte. “Eu nunca sofri (atos de machismo) por parte de torcedores na arquibancada, apesar de ter colegas que já sofreram. Mas esse tipo de discriminação vem principalmente de outros lugares, muitas vezes dentro de sua própria casa ou de seu círculo social. Já sofri muitos comentários infelizes e muitas vezes fui estereotipada por parentes e colegas por jogar um esporte que eles dizem ser “de homem”. Eu sempre me mantive forte na luta para fazer aquilo que amo, mas isso pode desmotivar muitas outras atletas”, afirma. Como discutido anteriormente, a discriminação é praticamente impossível de ser totalmente vencida, mas pode ser reduzida. Dentro do esporte, um fenômeno social que serve como base social e ideológica para muitas pessoas, expor o quão condenável e repudiável é um ato preconceituoso se torna cada vez mais essencial e importante para que as pessoas se conscientizem e construam uma sociedade melhor e mais justa.

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ACESSIBILIDADE

PCDS NAS

A representatividade de pessoas com d to. Trata-se de um preconceito

POR BÁRBARA LIZ E JULIE PETRI

Na série britânica ‘Sex Education’, o ator George Robinson interpreta Isaac, novo vizinho de Maeve, com quem desenvolve uma amizade e um romance. Em ‘How to Sell Drugs Online (Fast)’, Danilo Kamperidis dá vida a Lenny, hacker e melhor amigo do protagonista Moritz. Dante, na terceira temporada de ‘You’, é um bibliotecário interpretado por Ben Mehl. O que esses personagens de séries da Netflix têm em comum é o fato de serem pessoas com deficiência. A companhia anunciou no início de 2021 a criação de um fundo para investir 100 milhões de dólares em conteúdos focados em diversidade, bus-

cando representar minorias em suas obras, além de compor seu quadro de funcionários de maneira mais inclusiva. A representatividade não é essencial apenas em obras da Netflix, mas na arte e nos conteúdos audiovisuais em geral. No caso das pessoas com deficiência, mais do que se identificar com essa condição dos personagens, o público busca tramas que envolvem todos os aspectos da vida de uma pessoa comum, sem capacitismo. Uma sociedade capacitista não enxerga PCDs como seres humanos “normais”, mas sim como seres inferiores e incapazes em comparação com um referencial definido como perfei-

O ator PCD George Robinson no papel de Isaac, em ‘Sex Education’

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estrutural que gera exclusão, e está presente até em expressões usadas no dia a dia. Na arte, e em especial nas obras do audiovisual, é importante quando um personagem com deficiência não tem sua trajetória resumida a essa condição. É o caso dos personagens de séries da Netflix citados, que representam pessoas normais, vivendo dramas que, no geral, não possuem relação com suas deficiências, e mostrando que a vida de um PCD não se limita a isso. A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE Os conteúdos audiovisuais, como séries e filmes, são grandes fontes de entretenimento da atualidade. Em meio aos debates a respeito da representatividade, muitos desses conteúdos se preocupam em trazer nos roteiros e elenco uma diversidade capaz de fazer o telespectador se identificar com os personagens e a trama. Com as pessoas com deficiência não é diferente. Esse é o caso do bancário Felipe Ferreira, 27, de São José dos Campos, que tem uma má formação de mais de um membro. Assim como a maioria das pessoas de sua idade, ele gasta


S TELINHAS

deficiência nos conteúdos audiovisuais boa parte de seu tempo livre consumindo obras do audiovisual. Apesar de já ter assistido a alguns filmes com personagens com deficiência e ter se identificado, ele acredita que os projetos de representatividade deveriam ser mais recorrentes na mídia em geral. “O meio mais forte de representatividade tem sido o audiovisual, mas podemos contar nos dedos quantos lançamentos têm ao ano sobre representatividade”, diz Felipe. “Não vemos muitos comerciais que representam o PCD. Na moda, capas de revistas, passarelas... vemos pouca representatividade também”, comenta. O bancário conta que sempre foi bem assistido e, atualmente, tem uma superação de 100% em relação à sua deficiência, graças às pessoas que deram suporte e o incluíram de forma digna na sociedade. “É o que eu acho que todo PCD merece. Viver com dignidade, ter um emprego, estudar, fazer um esporte, e se sentir parte da sociedade como um igual”, finaliza ele. Rafael Manso, 36, também de São José dos Campos, trabalha como analista de suporte em uma startup. Ele acompanha muitas séries e filmes, e acredita que a representatividade de PCDs tem melhorado

“O importante pra mim é que, independentemente do tipo de deficiência, a pessoa tem que ser vista como uma pessoa normal na sociedade” Rafael Manso, 36 bastante nos últimos anos. “O importante para mim é que, independentemente do tipo de deficiência, a pessoa tem que ser vista como uma pessoa normal na sociedade”, diz ele. O analista enfatiza a necessidade da representatividade, pois ainda existe muito preconceito no modo como as pessoas acreditam que a deficiência torna alguém menos capaz. “Tenho uma má formação congênita na mão esquerda, mas isso nunca me atrapalhou em nada. Muito pelo contrário, sempre me fez ter forças e objetivos para que eu pudesse ser tão bom quanto o meu colega do lado”, relata Rafael. ELENCO E PERSONAGENS Apesar de alguns avanços, ainda há muito que ser desenvolvido na representatividade

de pessoas com deficiência nos conteúdos audiovisuais. Um exemplo disso é que, muitas vezes, os atores que representam personagens PCDs não são pessoas que de fato vivem essa realidade, enquanto existem profissionais com deficiência que não conseguem as mesmas oportunidades nesse mercado de trabalho, ou que não as encontram devido à falta de acessibilidade no meio. Uma outra questão é que, muitas vezes, os personagens com deficiência são apenas coadjuvantes das histórias, e não protagonistas. Alguns exemplos que trazem o protagonismo para esse público são a série ‘Atypical’, que conta a história de um adolescente autista, e o filme ‘Demolidor - O homem sem medo’, sobre um super-herói cego. Nesses dois casos, contudo, os atores não

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ACESSIBILIDADE

têm as deficiências retratadas em tela. Um caso recente que apresentou uma realidade trabalhada nas telas com uma atriz PCD foi o filme ‘Fuja’, do diretor Aneesh Chaganty. A obra contou com a atuação no papel principal de Kiera Allen, artista cadeirante que, em entrevistas, apontou a importância de levar representatividade real para a indústria cinematográfica. Tratando-se de um thriller de suspense, o filme imergiu o público em uma temática profunda e que destacou ainda mais a atuação de Kiera. O número de atores nos elencos e personagens com deficiência nas telinhas ainda está longe de representar a realidade. Contudo, é essencial contar com uma sociedade cada vez mais envolta nas pautas sobre PCDs e que entenda como remover vícios de linguagem, expressões mal colocadas, e reações genéricas a pessoas com deficiência. Isso faz toda a diferença na construção de um cenário mais representativo. Mariana Torquato é criadora de conteúdo, youtuber e PCD com uma má formação em um dos braços. Ela oferece dicas, conselhos, reivindica direitos de pessoas com deficiência, e explica diversas situações bizarras e tristes passadas por pessoas com deficiência. Com base no conteúdo produzido por ela, confira algumas dicas para não propagar o capacitismo em seu dia a dia.

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FRASES CAPACITISTAS PARA TIRAR DO SEU VOCABULÁRIO.

Confira algumas dicas da Mari Torquato:

Dar uma de João sem braço A frase dá rapidamente a entender que pessoas com uma deficiência como a falta de um braço se eximem de realizar tarefas, o que vamos combinar, é pura mentira, né?

Vou orar por você Ainda que a frase aparente ter boa intenção e carregar fé, ela aponta que a condição da pessoa a invalida, a torna dependente de bênção e não de esforço próprio. Como se fosse preciso alcançar uma cura para viver bem, quando o necessário é acessibilidade.

É sua irmã (o)? Uma das situações mais chatas e desconfortantes para um PCD é ser considerado alguém invalido para relacionamentos afetivos, principalmente os amorosos. Quantos deficientes não tiveram seus relacionamentos desconsiderados (e até questionados) simplesmente por terem uma deficiência?

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E a gente tem tudo e reclama O deficiente tem dificuldades como todos no dia a dia. Ainda que existam situações mais complicadas relacionadas à deficiência, e que são causadas pela sociedade capacistista, também temos problemas pessoais e de cunho profissional, familiar e afetivo, que recebem reclamações!


RESPONSABILIDADE

Conheça histórias de pessoas que lutam a favor da vida de cães e gatos que por vezes são abandonados nas ruas POR JÚLIA HELENA E NATAN ALVES

Segundo estimativas de 2019, da Organização Mundial da Saúde (OMS), acredita-se que exista cerca de 30 milhões de animais, entre cães e gatos, abandonados somente no Brasil. Sejam quais forem as circunstâncias que proporcionaram o abandono, muito trabalho é redirecionado a pessoas que fazem o recolhimento desses animais abandonados. Nesse quesito, projetos de acolhimento e iniciativas individuais ajudam a cuidar de diversos cães e gatos que vivem pelas ruas sem um lar. O abandono causa sofrimento ao animal, gerando dificuldade para se alimentar, beber água limpa, procurar um lugar protegido de chuvas, ventos, frio, exposição ao sol, estando sujeito, ainda, a brigas com outros animais, a ser atropelado e sofrer maus-tratos. Além disso, vale ressaltar que mau-trato é crime segundo a nova Lei Federal n°14.064/20, que altera a Lei n°

animais O DILEMA DOS

EM SITUAÇÃO DE ABANDONO


RESPONSABILDIADE

9.605/1998, aumentando a pena de detenção para até cinco anos. E muitos desses animais de rua que são resgatados, vão para algum abrigo, ONG, ou até mesmo para casa de pessoas de forma provisória, até acharem um novo lar definitivo. Existem também exemplos de pessoas que por conta própria se desdobram para cuidar e tentar de alguma forma reabilitar a vida desses animais abandonados. AMIGAS DOS PETS Maria Aparecida de Oliveira, 65 anos, de Pindamonhangaba, conta que começou a resgatar animais abandonados há pelo menos 15 anos, pois sempre teve afeição. Atualmente ela cuida de 21 cães e 18 gatos, sendo que alguns deles estão em tratamento clínico; alguns já estão com idade avançada e outros não são adotados. Assim, para conseguir manter todos os custos e manutenções necessários desses animais como: ração, hospedagem, veterinário e medicação, são realizadas vendas de bazares e rifas. Ela também conta com a contribuição de outras pessoas apoiadoras da causa. Para Maria Aparecida, um dos

maiores desafios que ela encontra é conseguir um lugar para abrigá-los enquanto não conseguem o lar definitivo. “Às vezes, é inviável pagar hotel ou não há vagas. São pouquíssimas pessoas que se dispõem a dar o lar temporário”. “Enquanto houver animais sofrendo e eu conseguir ajudar, ajudarei a amenizar o sofrimento. Meu maior foco é a castração de fêmeas felinas e caninas, pois só assim iremos diminuir o abandono”, ressalta Maria Aparecida. Diferente de Maria, Raquel Luciano de Andrade, 43, de São Sebastião, contou em entrevista que a ligação dela com animais se dá desde pequena, por vir de uma casa que trata cachorro como membro da família, e isso apenas se estendeu a ela com a consciência de que é sempre importante zelar pelos cães abandonados. Desde a sua independência financeira, que ocorreu a partir dos anos 2000, ela já resgatou mais de 30 animais, entre cães e gatos por conta própria. Mas existe um ‘porém’: ela resgata animais já adultos que viveram muito tempo nas ruas, e esses acabam adquirindo doenças que interferem na sua longevidade.

Um dos cães cuidados por Maria Aparecida Foto:Maria Aparecida

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Atualmente Raquel tem três cães que já são idosos, todos resgatados e vira-latas, como ela brinca, ‘do mais alto pedigree’. Mas sua casa já chegou a ser lar temporário e a contar com oito cães próprios e oito cães aguardando adoção. “Foi uma época deliciosa, mas descobri que tenho meu limite, se quero continuar sendo uma tutora responsável”. A fonte relata que o momento mais difícil era o momento depois de que o animal foi resgatado, pois envolvia cuidados veterinários e gastos adicionais. Sendo importante manter um ambiente limpo, devidamente higienizado para evitar possíveis doenças e conservar as condições sanitárias necessárias. Além de respeitar algumas datas importantes como vermifugação e vacinação, porque, em uma matilha, é mais fácil de uma doença se propagar, podendo deixar as coisas ainda mais complicadas. Ela disse que sempre contou com ajuda de uma empregada doméstica na limpeza e, nos cuidados médicos, teve seus próprios veterinários, além de outras pessoas entenderem o papel de tutora de animais domésticos e que sempre estiveram à disposição. “E tem que ser forte, não desistir logo nos primeiros meses, porque ‘o cão fez cocô ali’ ou ‘o gato fez xixi na minha cama’. Penso assim: não vou desistir de um animal, porque não gostaria que desistissem de mim, simples desse jeito. Com amor e paciência, esses animais se transformam e transformam vidas.” Raquel disse que enquanto tiver condições de proporcionar uma vida digna a esses animais ela irá continuar adotando.


ENTREVISTA CONHEÇA UM POUCO DO COTIDIANO e dos desafios de um canil de adoção na entrevista a seguir com a veterinária e gestora, Fernanda Lucci, do projeto Cepatas (Centro de Proteção e Atendimento aos Animais), de Pindamonhangaba. COMO FUNCIONA E EM QUE SITUAÇÕES O PROJETO DO CEPATAS PODE ATUAR? - Nosso foco é o recolhimento de animais negligenciados, mas temos alguns critérios: Primeiro deles é o resgate de animais que sofrem maus tratos, onde fazemos toda ocorrência, chamamos a polícia ambiental, os animais são apreendidos e a polícia faz todo o trâmite administrativo, inclusive com as multas. E em segundo lugar, em nossas prioridades, são animais que podem oferecer algum risco à saúde humana, pois o cepatas faz parte da Secretaria da Saúde. O restante dos animais que recolhemos são os animais orientados por meio das protetoras de animais, elas que fornecem as dicas para a gente de cães e gatos que estão precisando de resgate. Nós não fazemos recolhimento de animais que possuem tutores, com exceção dos casos de denúncia de maus tratos. QUAL É A MAIOR DIFICULDADE DE MANTER UM PROJETO COMO ESSE? SEJA NA INFRAESTRUTURA; NO PESSOAL CAPACITADO; RECURSOS E ETC... - A maior dificuldade do cepatas, sem dúvidas, é a superlotação. O que acontece é que as pessoas querem deixar os animais lá e poucos animais são adotados. Vamos dizer que 70% ou mais desses cães e gatos que são resgatados por al-

guma razão moram no Cepatas, e essas vagas nunca serão disponibilizadas. Então, a demanda para recolhimento é muito maior do que a demanda de saída de animais, de adoções. Nosso grande desafio também é a falta de conscientização humana, porque não adianta nada construir mais recintos para abrigar animais se as pessoas abandonam cada vez mais. O foco do Cepatas é combater os maus tratos para que daqui a 10 anos seja possível diminuir o número de animais abandonados e não aumentar a quantidade de vagas para eles, porque isso não é educativo. Então, uma dificuldade muito grande é lidar com o ser humano, porque os abandonos são constantes, são diários, e os pedidos de resgate chegam a 100 por mês. QUAIS SÃO OS MAIORES DESAFIOS EM EXPLICAR PARA AS PESSOAS A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO COM OS ANIMAIS E, CONSEQUENTEMENTE, EM ADOTAR EM VEZ DE COMPRAR NOVOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO? - As pessoas querem um animal de estimação, mas elas não querem gastar com eles. E muitas vezes nós percebemos que quando o cachorro ou gato ficam doentes as pessoas nos procuram querendo deixar o animal lá porque não possuem condições de tratar. Então, isso é um desafio muito grande porque o animal é

um ser que vive em média 15 anos, requerem também cuidados veterinários, vacinações, tratamentos preventivos para não ter carrapatos, pulgas. APÓS ACOLHIDOS PELO PROJETO, MUITOS ANIMAIS DEVEM CHEGAR ESTRESSADOS E COM DIFICULDADES DE SOCIALIZAÇÃO COM OS OUTROS BICHOS QUE JÁ ESTÃO NO ABRIGO. ISSO PODE SER CONSEQUÊNCIA DAS DIFICULDADES QUE ELES PASSAM NAS RUAS? - Existem alguns animais que passam fome, precisam lutar pela alimentação e quando chegam a um canil, nunca chegam ‘de cara’ a um canil coletivo, primeiro eles vão para o isolamento, mas depois que eles estão aptos à adoção. E nós temos duas situações: animais que competem pela alimentação e animais que estavam acostumados a viverem soltos. Então, isso demanda um estresse sim, mas o grande segredo é evitar o grande acúmulo de animais no mesmo canil. Nós não podemos fazer uma superlotação, porque isso faz com que a qualidade de vida caia, que eles briguem e fiquem estressados. O confinamento pode mudar o temperamento do animal, em que um animal dócil pode ficar um pouco mais agressivo, e nós tentamos amenizar a situação com todo amor possível.

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PANDEMIA

POR GUILHERMO FURTADO

FUNCIONAMENTO DE ESTABE

A pandemia do corona vírus gerou uma grande preocupação no setor de alimentação do país. Muitos restaurantes tiveram que adotar novas medidas de atendimento e novas formas de funcionar nesse período complicado. Mas quais medidas foram tomadas para garantir a segurança dos clientes e dos trabalhadores dos estabelecimentos? Em entrevista, o gerente da Padaria Barequeçaba, Mauricio Paulo de Jesus, afirmou que logo no início da pandemia a padaria fez uma campanha de prevenção com toda a sua equipe. Passaram a usar máscaras e luvas, distribuíram álcool em gel em pontos específicos da padaria e diminuíram as mesas do estabelecimento.

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“No início da pandemia, diminuímos a quantidade de mesas e logo na entrada já era solicitada a higienização das mãos dos clientes.” A redução de mesas e a utilização de álcool em gel no estabelecimento fazem parte das orientações das autoridades sanitárias do Estado de São Paulo. COZINHA Segundo Mauricio, a limpeza na cozinha passou a ser ainda mais constante, assim como a lavagem das mãos e o uso de álcool 70º. “As medidas de limpeza foram reforçadas neste período de crise em todos os ambientes do restaurante, principalmente na cozinha durante a manipulação de alimentos e utensílios. Lavamos as mãos a todo o momento e passamos a utilizar álcool 70º, que é o indicado dos especialistas.” Mauricio contou, também, que especialistas não recomendavam o uso de luvas plásticas ou máscaras descartáveis, até porque precisavam ser trocadas várias vezes ao dia. Ele afirma que o contato físico entre os cozinheiros era o menor possível, evitando ao

máximo as conversas desnecessárias perto dos alimentos. Além disso, ele lembra que funcionários da padaria que apresentassem qualquer tipo de sintomas da Covid-19 foram afastados do trabalho para evitar o risco de contaminação a outras pessoas da padaria, tanto funcionários quanto clientes. SALÃO No salão, a limpeza foi reforçada com a lavagem constante das mãos dos garçons e foi


ELECIMENTO ALIMENTÍCIO NA

disponibilizado álcool em gel em todas as mesas da padaria. Além da higienização das mãos dos clientes na entrada do estabelecimento. “Diminuímos as mesas da padaria para dar um espaço maior entre os clientes e para

melhorar a locomoção dos funcionários e clientes, sem que ficassem se esbarrando nos corredores das mesas.” DELIVERY A Padaria Barequeçaba não utilizava do serviço de delivery antes da pandemia do Coronavírus. Mas, segundo

Mauricio, a utilização desse serviço na pandemia foi essencial. Muitos clientes que tinham medo de se dirigir até a padaria começaram a fazer pedidos para comer em casa. “Antigamente, nós não trabalhávamos com o serviço de entregas, mas com os clientes diminuindo no estabelecimento, tivemos que começar com o delivery.” Mauricio ainda conta que um dos funcionários, que era garçom do salão, passou a fazer o trabalho de motoboy, não precisando contratar outro funcionário para fazer o serviço de delivery.

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ENTRETENIMENTO

POR BRUNA CAROLINE, MARIA LUIZA MACHADO E VICTÓRIA SALERMO

RESPEITÁVE Após meses sem espetáculos por conta da pandemia da Covid-19, magia circense volta a emocionar plateias Hoje tem palhaçada? Tem, sim senhor! Depois de, aproximadamente, um ano e meio vazio devido à pandemia da Covid-19, o picadeiro voltou a encantar o público, com palhaços, malabaristas, mágicos e outros artistas circenses. Apesar de estar um pouco diferente, com cadeiras espaçadas, lona levantada e um novo acessório comum a todos: máscara de proteção facial, o circo continua emocionando a plateia.

A retomada das atividades circenses ganhou força no segundo semestre de 2021, impulsionada pelo avanço da vacinação em massa contra o coronavírus e retorno de outras atividades econômicas. Depois de meses de dificuldades, a alegria toma conta das tendas circenses, mas os desafios persistem. PERÍODO DIFÍCIL A pandemia da Covid-19 provocou uma crise nos setores cultural e criativo no Brasil. Segundo pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), entre julho e setembro de 2020, as artes cênicas foram as mais afetadas com a perda total de receita para 63% dos profissionais. Nesse setor, a maioria dos artistas que atuam


EL PÚBLICO, na área de circo (77%) perderam a totalidade de suas receitas entre maio e julho. Com a suspensão das atividades, os circos sofreram fortes impactos financeiros. O empresário Ramon Marambio, de Guarulhos (SP), explica que os artistas ganham cachês por apresentação. “Nosso circo vive da bilheteria. Se não vende ingresso, não entra dinheiro, não tem espetáculo, logo, não tem salário”, conta o dono do Circo Marambio. Sem a tradicional fonte de renda, os artistas circenses precisaram se reinventar para garantir o sustento. Teve artista que virou vendedor, pedreiro, ajudante de obras, costureiro, entre outras ocupações. “Cada um se virou do jeito que pôde”, comenta Melissa Robattini, de Santos (SP), oitava geração de uma família circense vinda da Romênia, que roda o

Brasil no Las Vegas Circus. “Para mim a pandemia deu início à extinção dos artistas de circo”, conta o dono do Big Brother Cirkus, Alessandro Lestar, de Maceió (AL). O empresário explica que alguns artistas se adaptaram tão bem à nova vida que não quiseram voltar ao circo. Manter a forma foi outro desafio enfrentado pelos artistas. Com a tenda desarmada, muitos não conseguiram manter a rotina de treinos por falta de espaço. Sem treinar, os artistas perderam seus números circenses, o que impactou diretamente na retomada das atividades.

ESTÁ DE VOLTA!

LEI ALDIR BLANC Com o intuito de ajudar artistas de todos os segmentos durante a pandemia, o Governo Federal criou ações emergenciais especiais para auxiliar o setor cultural

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ENTRETENIMENTO

financeiramente. A Lei Aldir Blanc foi aprovada em junho de 2020 pelo Congresso, e se tornou vigente em agosto do mesmo ano, distribuindo entre Estados e municípios uma quantia de, aproximadamente, R$ 3 bilhões. O valor repassado para cada artista beneficiado é de R$ 600 mensais. Ramon Marambio conta que foi difícil motivar os artistas circenses durante o período da pandemia, mas que o auxílio emergencial conseguiu ajudar neste processo. “A motivação sempre é algo muito particular de cada um, não dá para generalizar. O que motiva

“Para mim a pandemia deu início à extinção dos artistas de circo”, Alessandro Lestar, proprietário Big Brother Cirkus

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um, não motiva o outro. Porém, auxiliamos na escrita de projetos e inscrições em editais para participarem da Lei Aldir Blanc, e agregamos às apresentações de todos em espetáculos online distribuindo o cachê. Além disso, mantivemos uma estrutura mínima montada que permitiu ensaios e treinamentos”, comenta Ramon. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chegou a divulgar um estudo que estimou que 700 mil pessoas poderiam ser beneficiadas pela Lei Aldir Blanc, incluindo artistas circenses. Além dos profissionais, algumas instituições também puderam ser beneficiadas para cumprir com manutenções de seus espaços, entre elas: teatros independentes, escolas de música, circos, cineclubes, centros culturais, biblioteca comunitárias, livrarias, produtoras de cinema e audiovisual, ateliês de pintura, moda, design e artesanato. “Após alguns meses, recebe-

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mos o auxílio oriundo da Lei Aldir Blanc e, com isso, conseguimos realizar manutenção e disponibilizar verba para a companhia. Alguns integrantes também foram beneficiados individualmente pela Lei Aldir Blanc, outros conseguiram o auxílio emergencial do governo federal”, conta o empresário Ramon Marambio. RETOMADA Senhoras e senhores, o circo voltou com tudo! Após mais de um ano sem interação com plateia animada, palhaço fazendo palhaçada e cheiro de pipoca amanteigada no ar, artistas que vivem do circo de lona retomam as atividades. Cumprindo os decretos locais, está liberado, com algumas restrições, viver diversas emoções outra vez junto às atrações e espetáculos no picadeiro. Estacionado em São José dos Campos, até o final de novembro deste ano, na avenida Olivo Gomes, em Santana, ao lado do Parque Roberto Burle Marx - Parque da Cidade, o Las Vegas Circus é um dos milhares de circos que teve que pausar a rotina de apresentações e contato com o público durante o período de pandemia da Covid-19. “Nosso sustento vem da lona, então imagina! Graças a Deus o pessoal do circo está acostumado com imprevistos”, comenta Melissa Robattini. Em Guarulhos, o empresário Ramon Marambio conta que a retomada das atividades tem sido acompanhada de grandes adversidades no quesito localização e verba. “Neste momento os aluguéis estão caros, e o nosso público,


des tem sido melhor do que o esperado. “A gente estava com muito medo de como o público iria reagir, mas está surpreendendo. Eu acho que mais que tudo é o ânimo, os artistas também vivem do dia a dia. O mais forte é manter a animação”. De acordo com Melissa Robattini, quando o Las Vegas Circus foi para Guaratinguetá, cidade em que retomou as atividades, os artistas também estavam com receio do que encontrariam pela frente e o maior dos medos era o de não conseguirem o público esperado. Porém, a realidade foi con-

feito em sua maioria por classes mais populares, foi bastante afetado [financeiramente] pela pandemia. Portanto, ainda não conseguimos uma boa bilheteria e um terreno mais promissor. Até o momento estamos trabalhando para pagar o básico”. Também com planos de permanecer em São José dos Campos até novembro deste ano com o Big Brother Cirkus, que está localizado no bairro Vila Industrial, o empresário Alessandro Lestar conta que a retomada das ativida-

trária ao pensamento da trupe circense. “A gente se surpreendeu muito, muito, muito! Várias pessoas estão indo ao circo”, confirmou a artista. “Desde então, a gente já fez apresentações em Campos de Jordão e, agora, em São José dos Campos. O público nos acolheu”, completou. UM NOVO COMEÇO Adaptações tiveram que ser feitas nos circos, assim como em todos os outros locais que demandam grande quantidade de pessoas. Restrições foram colocadas e novos hábitos adquiridos para

que o espetáculo não só fosse mágico, como também seguro. Para isso acontecer, álcool em gel é disponibilizado a quem quiser, medição de temperatura é realizada na entrada, capacidade de lotação reduzida para manter o distanciamento e a utilização de máscara pela plateia é obrigatória. Apesar de todas as adversidades, a pandemia acabou se tornando um momento de aprendizado e evolução para Melissa e para a equipe circense. “Nós aprendemos a dar valor se ao menos uma pessoa está na plateia. Todo o trabalho para fazer aquele espetáculo acontecer vale a pena”, afirma. Além disso, a artista comenta sobre a alegria ímpar em trazer de volta um público inativo para essa atividade mágica e cultural: os jovens. “A gente se surpreendeu bastante em resgatar o público jovem”, afirma Melissa. Ela conta que o Las Vegas Circus teve a preocupação de se adaptar e transformar as atrações em momentos inesquecíveis para todas as faixas etárias. “O espetáculo é da criança ao adulto”, conclui a artista.


PELOS ARES

OS DRONES DRONES NA NA A

pelo céu é possível proteger

POR KAROLINA ZANUSSO

A utilização de VANTs (veículos aéreos não tripulados) na agricultura de precisão é uma crescente no Brasil e no mundo 22

Os drones como conhecemos hoje surgiram na década de 1960, mas começaram a chamar a atenção mesmo nos anos 1980, quando passaram a ser utilizados para fins militares. Apesar disso, a história do primeiro VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) tem registros ainda no século XIX, quando em 1849 foram colocados no ar, por soldados austríacos, balões não tripulados que atacariam a cidade de Veneza, repletos de explosivos. A tecnologia melhorou du-

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rante a Segunda Guerra Mundial, depois foi ainda mais aprimorada durante a Guerra Fria. Em 1982, Israel coordenou o uso de VANTs no campo de batalha ao lado de aeronaves tripuladas, para acabar com a frota síria com perdas mínimas, durante a Guerra do Líbano. Mas sua função ia muito além de ataques, eram usados também para reconhecimento de áreas, permitindo uma visão aérea, além de como apoio, meio de espionagem e envio de mensagens.


A AGRICULTURA: AGRICULTURA:

r, semear e fertilizar o solo A ferramenta como conhecemos hoje foi desenvolvida pelo israelita Abem Karen, engenheiro espacial responsável pelo drone americano mais temido e bem-sucedido. Abem queria que “os veículos aéreos não tripulados operassem com os mesmos padrões de segurança, confiabilidade e desempenho que aviões tripulados”. AO LONGO DOS ANOS Segundo um relatório do Wall Street Journal, o uso não-militar dos drones passou a ser possível em 2006, quando a FAA (Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos) emitiu uma licença comercial destas aeronaves. Hoje são inúmeros os modelos de drone disponíveis, bem como suas possibilidades. Se você ainda enxerga essa tecnologia como pura e simples diversão, comparando-a a um carrinho de controle remoto ou a um meio de captação de imagens, por exemplo, está muito enganado! Nos últimos anos, os drones foram se desenvolvendo para atender a diversos mercados, como o da segurança, onde são utilizados para a identificação de riscos em caso de multidões, por exemplo. Empresas como a gigante

Amazon já têm licença para fazer entregas via drones nos Estados Unidos, depois dos testes que começaram em 2013. Em 2011, no Japão, após acidente em Fukushima, drones foram utilizados para conseguir imagens dos reatores danificados, sem expor qualquer ser humano à radiação. A agricultura brasileira pode beneficiar-se dos serviços destes pequenos-grandes voadores, uma vez que estes, se usados na Agricultura de Precisão, prometem auxiliar num aumento de até 67% na produtividade de lavouras diversas.

diversas culturas, inclusive de eucalipto, do meio florestal, e explica que os drones “ajudam a implementar e enfatizar a agricultura de precisão. Então somos (os agropecuaristas) mais eficientes no uso de insumos, no aproveitamento do recurso solo e água, e cuidamos então do nosso meio ambiente”. Exemplificando, os drones podem ser utilizados na dispersão de materiais biológicos, na pulverização de líquidos, no acompanhamento da saúde de uma cultura, na demarcação da área de plantio, e muito mais. A eficiência no caso dos microbiológicos pode ser medida e

NO AGRONEGÓCIO A AP (Agricultura de Precisão) é a soma de tecnologias que visa uma produção com maior eficiência e sustentabilidade dos recursos econômicos e ambientais. Com maior número de dados coletados, maior a garantia de uma melhor gestão das propriedades quanto a utilização dos insumos e do manejo, o que resulta na economia de tempo e dinheiro, e consequentemente no aumento da produtividade e sustentabilidade da lavoura. A empreendedora agropecuária Marina Born de Angels, 54 anos, de Punta del Este, Uruguai, tem fazendas das mais

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PELOS ARES

a conta é bastante simples: um trabalhador com o aplicador manual demora até cinco dias para tratar um hectare. Com o trator, a mesma área é pulverizada em até três horas. Já o drone faz o mesmo trabalho, na mesma área, em 30 minutos. Para o cientista aeronáutico e mestre pelo ITA, Nei Salis Brasil, 40, que hoje empreende no ramo de pulverização líquida por meio de drones, “eles são uma complementação às tecnologias já existentes para a pulverização líquida e dispersão de biológicos no campo e podem garantir informações importantíssimas ao agricultor”. Porém, apesar de tantas possibilidades para o agronegócio, a utilização de drones foi há pouquíssimo tempo regulamentada

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pelo Ministério da Agricultura, em 24 de setembro de deste ano. Segundo o órgão do Governo Federal, o objetivo da regulamentação é simplificar os processos e adequar as exigências legais às especificidades da tecnologia. MAS POR QUE DRONES E NÃO AVIÕES? Além de todas as possibilidades da utilização desse equipamento, é importante olharmos para dois fatores importantes quando pensamos em questões logísticas e financeiras. Por serem facilmente pilotadas a partir de um controle remoto, estas aeronaves tornam-se mais acessíveis e versáteis, como explica o engenheiro aeronáutico Flávio Daruiz, 47 anos: “como o drone não requer grande investimento

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e especialidade – se comparados às aeronaves convencionais, como aviões, por exemplo –, e pode acomodar diferentes paylods (aplicações), além de possuir grande manobridade, pode voar em faixas de velocidades muito baixas, podendo inclusive pairar, o que permite operações in e outdoor”. Mas ele deixa claro que sua importância vai além dos valores mais baixos: “algumas questões regulatórias impedem que aeronaves apliquem próximo a áreas de proteção ambiental, povoadas ou onde invadam culturas que não poderiam receber determinado tratamento. Neste contexto, os drones se tornam excelentes ferramentas complementares às aeronaves tripuladas convencionais”.


SAÚDE

O uso destes dispositivos, geralmente utilizados por jovens, tem aumentado com frequência POR ANA VITÓRIA CAXIAS E RODRIGO CABRAL

A ERA DO CIGARRO ELETRÔNICO


SAÚDE

Apesar de o número de fumantes no Brasil ter caído 50% nos últimos 30 anos, o hábito de fumar vem ganhando uma nova geração de adeptos graças à popularidade crescente do cigarro eletrônico, aparelho que vaporiza seu conteúdo em vez de queimar. O aparelho descolado e futurista dos vaporizadores ganhou a preferência dos mais jovens, que ‘adoram’ exibir suas baforadas saborizadas e sem cheiro, pelo mundo afora. O ponto mais polêmico, no entanto, é o de que esse tipo de cigarro seria menos prejudicial à saúde que o tradicional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que o número de usuários desses aparelhos saltou de 7 milhões, em 2011, para 41 milhões, em 2019, um crescimento de 485%. Uma pesquisa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) mostra que 0,6% da população utiliza dispositivos

eletrônicos para fumar no país. No Brasil, vender, importar e fazer propaganda de cigarro eletrônico é proibido desde 2009. Apesar disso, os aparelhos são facilmente encontrados pela internet, no comércio informal e podem, ainda, ser adquiridos para uso pessoal no exterior. O engenheiro Gabriel Jesus, 26 anos, de São José dos Campos, é usuário de cigarro eletrônico e conta que sabe que esse tipo de cigarro traz riscos à saúde, mas não se compara aos riscos e danos causados pelo cigarro convencional. Ele acredita que a proibição é embasada na falta de estudo sobre o assunto. Ele complementa dizendo que “a composição dos e-liquid é basicamente feita por componentes de baixo risco tóxico”. Muitos usuários afirmam que os vapes são menos prejudiciais à saúde que os cigarros convencionais e os narguilés, até

porque os vaporizadores podem ser usados sem nicotina, mas o pneumologista Paulo César, de São José dos Campos, ressalta que a substância mais famosa do fumo não é a única que pode acarretar problemas por meio do cigarro eletrônico. “Ele contém substâncias químicas potencialmente tóxicas, como álcool benzílico, benzaldeído, vanilina, acroleína e diacetil. Não temos dados suficientes sobre os riscos potenciais do cigarro na saúde, mas a evidência até hoje indica que esses dispositivos não são uma alternativa segura”. O cigarro eletrônico contém um líquido que, ao ser aquecido, gera o vapor aspirado e exalado pelo usuário. O cartucho armazena nicotina líquida, água, aromatizantes e substâncias químicas que conduzem a nicotina até o pulmão. A dosagem de nicotina varia de acordo com o fabricante: a mais baixa equivale

1530 Colonizadores portugueses levam o tabaco, planta de origem andina e popular entre tribos indígenas, para a Europa. Lá, entre outros usos, é empregado como remédio para enxaqueca.

BREVE HISTÓRIA DO TABAGISMO 26

1910 Um jovem imigrante português, Albino Souza Cruz, então com 41 anos, inaugura, no Rio de Janeiro, a primeira fábrica de cigarros do país — o grupo existe até hoje. 1963: O primeiro protótipo do cigarro eletrônico, ainda sem nicotina, é criado pelo inventor americano Herbert Gilbert. Sua engenhoca, porém, não chega a ser comercializada.

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a seis cigarros comuns, enquanto a mais alta, a 18. Ainda existem poucas pesquisas que investigaram os efeitos do cigarro eletrônico na saúde. Um estudo realizado pela Universidade de Portland, nos EUA, e publicado no periódico The New England Journal of Medicine, revelou que, por causa de uma substância chamada formaldeído, o vapor desses dispositivos pode ser até 15 vezes mais cancerígeno que a fumaça do cigarro. Outro trabalho americano, da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, constatou que os vaporizadores podem elevar o risco de infarto e AVC. Entre 2009 e 2016, foram registrados 195 episódios de incêndio ou explosão com cigarros eletrônic DOENÇAS O vapor exalado dos aparelhos modernos, segundo o

1989 O Brasil chega ao maior índice histórico de fumantes na população: 34,8% dos cidadãos, a maioria homens. Nos dias de hoje, menos de 10% convivem com o vício.

pneumologista Paulo César, podem trazer os mesmos problemas dos cigarros convencionais: doenças respiratórias e pulmonares como insuficiência respiratória aguda grave, enfisema, doenças cardiovasculares, câncer e até dermatites. O pneumologista ressalta, também, que a dependência por esses dispositivos é maior do que a de cigarros comuns, pois os eletrônicos possuem carcinógenos, que elevam o risco de doença cardiovascular, reduzem a imunidade local das vias aéreas e a depuração mucociliar (processos de proteção para os pulmões na remoção de partículas inaladas), e ainda aumentam a poluição no ambiente. Baseada no princípio da precaução, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda dos dispositivos eletrônicos, a resolução se fundamenta na inexistência de da-

2009 Sete anos após o início das políticas de restrição a fumar em público no Brasil, a Anvisa, de olho numa tendência global, proíbe a venda, a importação e a propaganda dos cigarros eletrônicos no país.

1996 As embalagens de cigarro no país são obrigadas a conter imagens e frases de advertência como “infarto”, “gangrena” e “impotência” para alertar os usuários dos riscos à saúde.

2014 A partir de dezembro deste ano, entra em vigor a Lei Antifumo, que proíbe, entre outras coisas, fumar em ambientes públicos e privados em todo o país.

“A sensação de consumir esse tipo de cigarro traz a sensação de estar mais calmo. Como se baixasse um pouco a ansiedade e estresse que eu passo no dia a dia” Gabriel Jesus, engenheiro, 26 anos dos científicos que comprovem as alegações de que o cigarro eletrônico é menos danoso. Apesar de a comercialização e propaganda serem proibidas, fumar não é proibido. E os interessados obtêm os produtos de diversas formas na internet. A expectativa é de que a venda seja liberada no país até 2023.

2015 Juul Labs, a maior empresa do ramo de cigarros eletrônicos, é lançada nos Estados Unidos. Ela responde por cerca de 70% desse mercado. 2017 Mais jovens aderem ao cigarro eletrônico. A Anvisa reitera que ele transmite “falsa sensação de segurança” e estuda se mantém a proibição Fonte: Revista Veja

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SAÚDE

OS MALEFÍCIOS DO A

NO ORGA Carboidrato muito consumido no país traz diversas complicações para a saúde

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POR EMILY SIQUEIRA

Quando se trata de qualidade de vida, não tem como deixar a alimentação de lado. A partir do momento que alguém pretende ter um estilo de vida mais saudável, geralmente, uma das primeiras mudanças é cortar alguns hábitos alimentares prejudiciais. Entretanto, nem todos sabem distinguir o que é essencial para o corpo e o que é supérfluo. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 90% dos brasileiros não têm uma alimentação saudável. Suas refeições são muito calóricas e pouco nutritivas, resultando em diversos problemas de saúde pública no país. O Ministério da Saúde realizou uma pesquisa na qual aponta que as despesas atribuídas à hipertensão arterial, à diabetes e à obesidade, no Brasil, totalizaram mais de R$ 3 bilhões somente em 2018, incluindo-se os custos do Sistema Único de Saúde (SUS) com hospitalizações, procedimentos ambulatoriais e medicamentos. Um dos grandes vilões que colaboram para tais do-

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enças é o açúcar refinado, que está muito presente na vida dos brasileiros. Em 2014 houve um levantamento da Sucden, multinacional no ramo açucareiro, que classificou o Brasil como o 4º maior consumidor de sacarose do mundo. Com a globalização, a publicidade e a propaganda na internet, televisão e até mesmo nas ruas estão sendo consumidas de forma rápida, atingindo cada vez mais pessoas. Restaurantes de fast food, por exemplo, conquistam diversos tipos de público-alvo, mesmo não oferecendo refeições que proporcionam uma boa nutrição. Com objetivo de persuasão de forma fácil, é comum nas prateleiras de mercado ter guloseimas atreladas a embalagens de personagens admirados pelas crianças. Tal apelo emocional faz com que o valor nutricional do produto acabe sendo deixado de lado pelos pais, na maioria das vezes, e a embalagem se transforma no fator principal para a compra e consumo. De acordo com o Ministé-


AÇÚCAR REFINADO

ANISMO rio de Saúde, em junho de 2021 teriam 3,1 milhões de crianças – com menos de 10 anos –, com obesidade no país. Tal situação se agravou devido à pandemia da COVID-19. Além da má alimentação, o aumento do sedentarismo durante esse período, a mudança na rotina e o isolamento podem interferir diretamente nas questões emocionais. Logo, a ansiedade, a compulsão alimentar e até mesmo a depressão contribuem para o desenvolvimento da obesidade. Essa questão não engloba apenas as crianças. 95,9 milhões de brasileiros acima de 18 anos, também estão com excesso de peso, e 41,2 milhões deles estão obesos de acordo com o IBGE. A nutricionista Raquel Honório, 32, de Mogi das Cruzes, afirma: “É muito comum aparecer pacientes jovens já com problemas de saúde por conta do excesso de açúcar no organismo. Normalmente, os clientes aparecem preocupados com as grandes complicações (a gordura localizada no fígado,

a gastrite, a diabetes...). Entretanto, o consumo desenfreado de alimentos ricos em açúcar refinado pode ser o motivo de diversas doenças crônicas. Na maioria dos casos, o paciente já tem sinais como: dores de cabeça, cansaço, oscilações de humor e não sabe que é por conta da ingestão, em excesso, desse carboidrato”. MAL REFINADO Quando é falado sobre o consumo de açúcar refinado, geralmente são levados em consideração os doces, como: sorvetes, chocolates, bolos e afins. No entanto, ele se esconde numa quantidade avassaladora de produtos que passam despercebidos. Exemplos: ketchup, gelatina, iogurte, sucos de caixinha, salsicha, carnes processadas e muitos outros alimentos industrializados. É importante ressaltar, também, o consumo das bebidas alcoó-

licas. Geralmente, as pessoas consomem açúcar inconscientemente por não se atentarem à composição do coquetel. Caipirinha, Gin e vinho são alguns exemplos. Segundo dados coletados em 2019, pelo Ministério da Saúde, a média de consumo anual de quem habita o país é de 30 Kg de açúcar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de 18 Kg. Tendo em vista esse cenário, a coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional realizou um projeto chamado “SEIAS saudável” que tem como objetivo conscientizar a população em relação à quantidade de açúcar consumida diariamente. A primeira ação realizada foi uma pesquisa, feita em dezembro de 2019, para identificar quantos participantes tomam café e quantos deles adoçam utilizando o açúcar refinado. Os resultados mos-


SAÚDE

traram que 90% das pessoas tomam café e 60% utilizam esse tipo de açúcar para adoçar. Sendo assim, foram passadas informações educativas a respeito desse tema para que os participantes optem por uma escolha mais saudável. DIFÍCIL MUDAR Apesar das informações a respeito, e a vontade de ter uma alimentação mais saudável e sem exageros, qualquer mudança gera um desconforto e pode ser um processo muito difícil para alguns, até que a nova rotina alimentar se estabeleça. João Victor Schimidt, 18, de São José dos Campos, competidor de boxe, diz: “Constantemente preciso fazer dietas que não me permitem consumir nenhum tipo de açúcar, para conseguir bater o peso ideal em dia de competição. Durante essas dietas, sempre tive acompanhamento de especialistas e o mais indicado/funcional, para quem está com o intuito de parar de consumir de vez, é ir diminuindo as quantidades aos poucos. Dessa forma, o corpo vai se acostumando e evita as possí-

veis compulsões por qualquer docinho que tiver pela frente”. Além de a redução no consumo de açúcar refinado evitar uma série de doenças, também causa diversos benefícios para a saúde. Exemplos: melhora nas oscilações de humor, fortalecimento do sistema imunológico, melhora cardiovascular, melhora na saúde da pele, melhora na função cognitiva, entre outros. Durante a TPM (tensão pré-menstrual) é comum as mulheres terem a tendência de querer consumir alimentos ricos em açúcar. Isso ocorre devido às alterações hormonais que prejudicam a produção de serotonina, que promove a sensação de bem-estar. Logo, resulta no desejo de alimentos que estimulem esse neurotransmissor. Entretanto, por mais que cause o saciamento, consumir os doces nesse período é extremamente prejudicial, podendo agravar os sintomas da TPM, como por exemplo: o aumento das cólicas, inchaço e dores de cabeça. Além disso, quem come muitos doces tem mais chances de ter tumores no intesti-

no, na mama e na próstata. A toxicidade que o açúcar leva à célula também pode aumentar a destruição de células cerebrais, podendo progredir para o desenvolvimento do Alzheimer. Sendo assim, é possível afirmar que o ser humano não precisa desse produto no organismo. Por mais que ofereça a sensação de bem-estar, é algo apenas momentâneo que pode gerar consequências gravíssimas. Portanto, ao escolher consumir o açúcar, é necessário que seja feito de forma consciente, evitando os exageros e optando pelos menos maléficos como: o açúcar demerara e o mascavo, deixando o refinado como última opção.


SOCIEDADE SOCIEDADE

Agroecologia, agricultura familiar e redistribuição de terra são as principais bandeiras do movimento no combate à fome

UM NOVO MODELO AGRÍCOLA NO DIA DE FINADOS, UM EVENTO EM DEFESA DA VIDA. O Ato pela Vida, protesto organizado em Tremembé (SP) pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com outros movimentos sociais, tinha como objetivo principal promover o plantio de árvores em assentamentos da região do Vale do Paraíba e do Litoral Norte. Além da questão ambiental, tratou da vida em outros campos, relembrando os mais de 600 mil mortos pela pandemia de Covid-19 no Brasil e a crise de fome que assola o país.


SOCIEDADE SOCIEDADE

POR EDUARDO MARCUCCI, RAFAEL LALLI E ROGÉRIO BARBATO FILHO

O evento, que aconteceu no dia 2 de novembro de 2021, foi dividido em três partes. Na primeira, lideranças de movimentos discursaram criticando a política de saúde do Governo Federal, que eles responsabilizam pelas mortes na pandemia de Covid-19 e pela crise social e alimentar em geral. Depois, foi inaugurada uma placa na entrada do Assentamento Conquista, em homenagem a Jair Stroppa, militante do movimento que faleceu em junho deste ano. Ainda no assentamento, houve o plantio das árvores, numa iniciativa de reflorestamento orquestrada em parceria com a ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, da Universidade de São Pau-

“Se incentivar a agroecologia direitinho, todo mundo come” Citação no site do Greenpeace, por Mariana Campos

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lo), que pretende plantar 20 mil mudas só na região do Vale. AGROECOLOGIA O reflorestamento é uma das principais bandeiras do MST, fazendo parte das políticas de agroecologia do movimento. O agricultor e artesão de origem baiana, Jailson Batista, de 40 anos, diz que agroecologia é “você plantar mudas da natureza. Mudas nativas, mudas frutíferas, exóticas. É você se preocupar com o bioma, com a recuperação da natureza”. Nessa forma de agricultura, o foco é a sustentabilidade, priorizando a biodiversidade e incorporando questões sociais, políticas e culturais à consciência ambiental no manejo da terra. O MST já é referência em agroecologia no Brasil e no mundo. O movimento é um dos maiores produtores de arroz agroecológico das Américas, produzindo aproximadamente 27 mil toneladas do grão por safra, segundo dados internos da organização. Além disso, o grupo desenvolveu

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iniciativas pioneiras como a Bionatur, presente há 21 anos na região sul do país, produzindo cerca de 12 toneladas de sementes agroecológicas, de mais de 80 variedades de diferentes espécies. Atualmente, o MST estima que cerca de 50 mil famílias assentadas produz alimentos de maneira sustentável. AGRICULTURA FAMILIAR Jailson conta que reside no Assentamento Egídio Brunetto, na cidade de Lagoinha (SP), há pouco tempo: “Eu ainda estou aprendendo, eu sou novo nesse negócio. Estou há dois anos lá no assentamento em Lagoinha. Por enquanto, estou produzindo comida para mim e para a minha família”. Ainda assim, ele ressalta que seu objetivo de produção agroecológica, a longo prazo, vai além do seu círculo familiar: “Eu sou artesão, sou artesão baiano, então eu levo arte e informação para as pessoas. Mas, agora, eu quero levar também alimento para o cidadão brasileiro. Alimento digno, saudável, livre de agrotóxico”. Dados da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) apontam que a agricultura familiar é responsável por 70% do que se consome no país. Enquanto isso, a indústria do agronegócio, que recebe boa parte do incentivo do governo, está voltada para a exportação. É o caso da soja, do milho, da laranja e da cana-de-açúcar, por exemplo. O foco na agroindústria para exportação, aliada à crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, tem levado a um cenário contraditório no Brasil: embora o país seja um dos maiores produ-


REFORMA AGRÁRIA Para o MST, um dos caminhos para afastar a insegurança alimentar, garantir o sustento para milhares de famílias e ainda preservar o meio ambiente é a reforma agrária. O conceito envolve a redistribuição de terras, desmanchando latifúndios ou dotando áreas ociosas de forma a atender aos princípios de justiça social e aumento de produtividade. Jailson conta que por muito tempo sentiu na pele a questão da desigualdade fundiária: “Eu viajei todo o Brasil e a América do Sul. Sempre quis ter a minha própria terra, mas o sistema não dá oportunidade. Eu tentei. Foram 20 anos de esforço para conseguir comprar minha terra, mas nunca consegui. São tantos hectares de terra que tem aqui no Brasil, mas você não consegue ter acesso. É um sistema injusto”. Há, de fato, uma grande concentração fundiária no Brasil. Segundo o último Agro Censo, de 2017, há no país cerca de 2,5 mi-

lhões de pequenos estabelecimentos agropecuários com menos de 10 hectares, que ocupam uma área total de 7,9 milhões de hectares. Por outro lado, pouco mais de 51 mil grandes propriedades, com mais de mil hectares de extensão, ocupam uma área total de mais de 167 milhões de hectares do território nacional. Foi só quando começou a entender essas questões estruturais que dominam o campo brasileiro que Jailson decidiu se juntar ao MST: “Por isso eu comecei a defender a Reforma Agrária. Eu me juntei ao movimento a convite de alguns amigos. E daí eu abri a minha visão, comecei a entender essa questão da terra. Eu queria um pedacinho de terra pra mim, e entendi que o caminho é por essa luta”.

1.348.484 FAMÍLIAS ASSENTADAS ou reconhecidas desde o início do Programa Nacional de Reforma Agrária *Fonte: Diretoria de Desenvolvimento e Consolidação de Projetos de Assentamentos, 2021

tores de alimentos do mundo, a fome voltou a ser um problema de proporções nacionais. Um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN) concluiu que, em 2020, 116,8 milhões de brasileiros (44,8% da população) conviviam com algum grau de insegurança alimentar. Desses, 43,4 milhões não contavam com alimentos em quantidade suficiente, e 19 milhões passaram fome. O relatório destaca que esse cenário se configura num retrocesso de 15 anos em relação à alimentação da população brasileira.

966.126 famílias vivem atualmente em assentamentos CRIADOS OU RECONHECIDOS PELO INCRA

9.432 ASSENTAMENTOS criados e reconhecidos

87.535.596 HECTARES É a área total dos assentamentos criados ou reconhecidos

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COMPORTAMENTO

BEM-VINDO AO

universi Elabore sua própria agenda para não ficar com uma “bola de neve” de atividades no fim do bimestre

POR DÉBORA NOBRE

Está no primeiro semestre da faculdade e foi bombardeado com uma série de informações, e ainda perdeu sua agenda de anotações. Isso pode ser evitado e, aqui, você encontra um caminho de como organizar a sua vida acadêmica com uma simplicidade de ferramentas que você pode ter, mesmo sem saber administrar. Antes de tudo, guarde seu número de matrícula e senhas que serão usadas durante todo o seu curso. Fique atento ao site da faculdade e ao grupo da sua turma no whatsapp. Aprenda a se planejar como um bom aluno. Dicas a seguir: 1º PASSO: Crie uma pasta no email, chamada UNIVAP. Sua caixa de entrada ficará lotada, misturando com os e-mails recebidos diariamente. A cada bimestre mova todos os e-mails relacionados a seu curso para lá, e verifique a caixa

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de SPAM. Às vezes um recado de algum professor pode ficar perdido. 2º PASSO: Crie um arquivo no Google Drive com a sua conta de e-mail e a cada semestre jogue todos os exercícios, slides, PDFs e trabalhos lá. Você irá utilizar essa plataforma para trabalhos em grupos, já que todos podem acessar e editar ao mesmo tempo pelo Google Docs, essa é uma garantia de que suas tarefas ficarão seguras durante todo o curso, a famosa ‘nuvem online’. 3º PASSO: Compre um planner e marque da sua maneira as entregas de trabalhos no calendário que ficará colado na parede. Anote os principais assuntos, o que você quer pesquisar, aquela indicação de livro ou filme. Camila Lopes, 25, estudante de Direito de Taubaté, diz

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que sempre utilizou um planner para estudos e trabalhos. A ferramenta foi o meio principal para ajudá-la a gerenciar todas as matérias do curso. “Sempre deixei em destaque os conteúdos mais complexos que levam tempo para serem feitos e, claro, os mais importantes, que estão com o prazo mais próximo, e maior pontuação”. Ela diz que sempre foi organizada e, durante a semana de provas, evita sair no fim de semana, contudo imprevistos podem acontecer e ela deixou uma dica para você, aluno. “Comece a aprender a usar um planner o quanto antes, pois vai ajudar muito a não perder prazos e consequentemente ter as notas prejudicadas, levando até a desistência do curso, evite que isso aconteça”. 4º PASSO: Nos documentos do seu computador pessoal, salve uma pasta para cada bimestre e, dentro dessa pasta, coloque o nome da matéria + professor. Assim, ficará mais fácil de se localizar a cada exercício feito para entregar. 5º PASSO: Separe um tempo do dia ou fim de semana, para ir treinando o conteú-


O ‘MUNDO’

itário do prático, como fazer fotografias, falar em frente à câmera, editar uma arte para um evento, se atualizar nas redes sociais, fazer uma propaganda ou até elaborar uma campanha de marketing para uma marca. Esse início será fundamental para você adquirir criatividade, porque ao final do curso a teoria se funde com o prático para formar o profissional polivalente que as empresas tanto procuram e, claro, em seu estágio isso será claramente utilizado na comunicação da empresa que você estará. O QUE É UM PLANNER? É onde você anotará suas tarefas diárias, semanais e mensais, sem ter uma restrição por dia como a agenda anual. Geralmente o planner é vendido em diferentes tamanhos, podendo colar no caderno, deixar em cima da mesa e até ser uma lousa grande de parede, para melhor visualização. Raissa Macedo, 19, estudante de Jornalismo, de São José dos Campos, teve a ideia de elaborar um planner universitário, por meio da necessidade de organizar os conteúdos e

trabalhos da faculdade com o restante da sua rotina. “O planner me ajuda a separar um tempo certo para cada atividade e também me auxilia a saber quais são os afazeres de curto e longo prazos”. Ela disse que optou por um planner em vez de uma agenda, pela liberdade na forma de organizar, e por não ter a obrigatoriedade de anotar cronologicamente, tendo a característica de ser personalizado de acordo com a urgência do mês. “Fiz uma pesquisa de campo e percebi que o uso do planner no meio acadêmico é muito importante, mas não se encontra facilmente, e me veio a ideia de criar um de acordo com as necessidades do estudante”. Inclusive, Raissa faz a venda de planner e já tem dois modelos para serem lançados no ano de 2022. Você pode procurá-la no Bloco 2 da Univap.

TRELLO – ORGANIZADOR.

Esse app tem ótimas ferramentas para planejar suas atividades, além de poder ser personalizado a seu estilo, com imagens, funcionalidade, com nota 4,5 na Play Store.

AGENDA + PLANNER SCHEDULING

Calendário muito utilizado por ser eficiente e marcar o tempo, e por registrar suas tarefas.

PLANO DA SEMANA - DIÁRIO, ORGANIZADOR E CALENDÁRIO

App simples e funcional, para visualizar a semana com marca texto e destacar o mais importante.



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