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IV. Como as experiências se alimentam?

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III. Escuta

III. Escuta

IV. Como as experiências se alimentam entre si, e como alimentam a trama de atuações?

Acredito que as respostas para as perguntas que estão presentes no título desse subcapítulo encontram-se dissolvidas ao longo do trabalho. No entanto, considero válido fazer duas considerações que somam reflexões a esse questionamento:

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1. Muitas das experiências apresentadas, ainda que com suas especificidades, partem de lutas similares: envolvem conflitos do Município/ Estado, que a despeito das suas distintas filiações político-partidárias, se articulam com empresas e corporações privadas, tendo suas ações engendradas por práticas que reproduzem o racismo estrutural (muitas envolvendo desapropriações de moradias populares), com falta de transparência e desinformações na comunicação de seus processos.

‘“Tanto no Tororó, quanto no Subúrbio Ferroviário, os funcionários entraram nas casas alegando estarem fazendo avaliações do imóvel em função de possíveis danos estruturais, mas depois as pessoas estavam com as casas marcadas para remoção”. (FIGUEIREDO; ROSA; VIERA et al, 2021, s/p)

Construindo um paralelo entre o conflito da obra do monotrilho no Subúrbio, tema da Escola de Verão, e a luta do Tororó, tema da Campanha Tororó Resiste, podemos refletir sobre o uso da comunicação como ferramenta de luta. Nota-se uma articulação entre movimentos distintos, sejam eles:

. Comunicação interna, mobilizada entre moradores/as envolvidos/as implicados no conflito e parcerias engajadas, compartilhando informações, gerando espaços de debate e fortalecimento comunitário.

. Comunicação externa, divulgando e denunciando o conflito para o público amplo: ora dialogando com o território, no intuito de mobilizar outros moradores que não estejam participando ativamente do debate, ora ampliando a repercussão da problemática para a sociedade civil como um todo.

Esses processos ocorrem de forma simultânea, e se retroalimentam. O registro das ações de comunicação interna, e os aprendizados suscitados pelos momentos de troca fornecem insumos para produzir uma comunicação externa com mais impacto e representatividade. Há, nos dois casos, uma conciliação de tempos em jogo. O tempo do fazer da urgência, que corresponde à velocidade das intervenções nos territórios e necessidades dos grupos afetados, se sobrepõe ao tempo de elaboração e sedimentação de aprendizados, de mobilização e articulação política. Ao mesmo tempo que a dissonância desses ritmos impõe certos limites, também há uma potência de exercitar um “movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer” (FREIRE, 2001 p. 42-43). Nesse sentido, o exercício de (re)elaborar sentidos e conhecimentos a posteriori mostra-se extremamente relevante, assentando os aprendizados ativados no momento das práticas e reconhecendo que o processo continua aberto.

2. Atuar no TRAMA possibilita, em cada projeto, uma experimentação de diferentes funções e posições ocupadas pelos integrantes. Esse trânsito de práticas e descobertas de novas aptidões tem sido para mim um espaço de caráter formativo, para além daqueles propiciados pela formação tradicional da Faculdade. Trabalhar com e para a coletividade tem sido um processo de autoconhecimento e experimentação de habilidades individuais e no coletivo.

Os trabalhos têm permitido aprimorar e complexificar processos de criações compartilhadas de multilinguagens. Um dos pontos importantes, já citado de forma breve anteriormente, é a problematização da ideia de que “todos devem participar de tudo”. Pontuamos como compreendemos ser inviável que moradores e agentes comunitários estejam sempre presentes nas atividades e criações propostas, pela disponibilidade de tempo. Na constituição do TRAMA, enfrentamos as tensões da excessiva coletivização dos processos de construções das atividades. Após o ânimo inicial em que todos estavam ávidos por colaborar e aprender com os projetos, e também, por não saber ao certo onde cada um podia melhor atuar, com o tempo, entendemos a importância de segmentar, e mesmo hierarquizar algumas de nossas ações, organizando e otimizando nossa atuação, ainda que mantendo a horizontalidade como fundamento.

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