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V. Buracos e pontas soltas da trama

“A rede é uma porção de buracos, amarrados com barbante”. Guimarães Rosa

Na trama de atuações que tecemos, diversos fios se enredam em uma malha de coletividades, saberes, territórios e imaginações. A malha só existe pelos seus buracos, como diria Guimarães Rosa, e pelas pontas soltas que ainda estão por tecer.

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Desde que foi criado em 2020, a partir de demandas emergenciais no cenário urbano soteropolitano de grande impacto social, o TRAMA trilhou um caminho de atuação muito conectado a diversas ações, do mesmo caráter, que demandavam urgência, assertividade e estratégias específicas de atuação. Paralelamente, ocorria o início das medidas de distanciamento social devido à pandemia da COVID-19, como já mencionado anteriormente. Mesmo atuando por apenas 2 (dois) anos, reconhecemos que o TRAMA conseguiu contribuir e se implicar politicamente com importantes demandas e disputas comunitárias. Percebemos o amadurecimento enquanto grupo de trabalho e a responsabilidade de atuação como agentes na luta por direitos, em âmbito urbano, municipal e estadual.

No entanto, cabe discutir que esta atuação profissional (ainda) não se sustenta economicamente. O contexto de militância que constitui nosso fazer, e o difícil cenário sociopolítico do momento atual — já descrito neste TFG — configuram uma realidade em que a remuneração recebida por nossos trabalhos se mostra insuficiente para uma dedicação exclusiva às ações do grupo. Dessa maneira, todas/os integrantes do TRAMA conciliam outras atividades, outros projetos e trabalhos, a fim de viabilizar as despesas cotidianas das nossas vidas.

Por conta das demandas contínuas e a nova realidade de readaptação da vida, ao se vislumbrar o fim da pandemia, o coletivo encara a necessidade de consolidar sua estrutura, por meio da formalização do grupo. A não formalização se apresentou como um dos principais problemas enfrentados nestes dois anos de atuação e acarretou dificuldades no aprimoramento da nossa gestão interna e estratégia de ação, inviabilizando também a participação em editais, processos seletivos que exigem CNPJ, o que contribui para a insegurança financeira já mencionada.

Durante a elaboração do presente TFG, pude colaborar com a escrita de um edital, tendo o TRAMA sido recentemente contemplado, visando justamente apoio financeiro para formalização do coletivo. Esse investimento, que nos permitirá formalizar o coletivo como pessoas jurídica, com um CNPJ, certamente irá potencializar nossas atividades e articulações, nos qualificando para concorrer a editais de maior porte. Esta tem sido uma aposta para ampliação das nossas atuações, de modo a alargar nossa rede de parcerias com movimentos sociais, estruturando ações de ativismo social com maior impacto e organização.

Outro ponto que merece ser mencionado, e que se inclui no escopo do edital aprovado, é o desejo de realizar uma seleção para novos integrantes do grupo, na perspectiva interseccional, recebendo mais pessoas negras, pessoas trans, não binárias, indígenas, a fim de nos consolidar enquanto um grupo efetivamente mais diverso. Atualmente, o TRAMA é constituído por uma maioria branca, contando com 1 mulher negra, também habitante de um bairro periférico, e 2 homens negros. Acreditamos que a pluralidade do coletivo é fundamental para criar uma nova circulação de ideias e proposições, além de expandir o diálogo com juventudes periféricas

Na perspectiva de médio prazo, acreditamos que, ao garantir recursos financeiros, haverá condições para maior envolvimento, atenção e dedicação exclusiva de pelo menos parte da equipe ao trabalho do grupo. Em longo prazo, pretendemos ampliar nossas redes e formas de atuação, tendo mais implicação junto aos territórios populares negros, principalmente do nordeste do país. Além disso, almejamos, ao nos institucionalizar, incorporar ensino e extensão como uma forma de mobilização e arrecadação de recursos. Trabalhamos com comunicação, mas, em realidade, temos realizado pouco investimento na “tecnologia da informação”, uma área de conhecimento vasta e muito cara à nossa atuação. Entendemos ser necessário se apropriar destes conhecimentos, a fim de amplificar e qualificar o alcance das nossas ações.

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