Patologia do Sistema Respiratório

Page 1


www.humani-corporis.com

Organização do sistema respiratório

Vias aéreas "superiores": - nariz e cavidade nasal; - faringe; - laringe.

Vias aéreas "inferiores": - traqueia e brônquios principais; - pulmões.

Órgãos do sistema respiratório.

Pulmões

Características morfofuncionais gerais:

- topografia: assentados sobre o diafragma, cercando lateralmente o coração, dorsomedialmente íntimos à coluna, aorta e esôfago torácicos;

- irrigação: aorta torácica (rr. bronquiais) e aa. pulmonares (hematose);

- drenagem venosa: vv. bronquiais (àzigo) e vv. pulmonares;

- drenagem linfática: (1) lnn intrapulmonares; (2a) lnn. broncopulmonares, ou (2b) frênicos (ducto torácico); (3a) lnn. traqueobronquiais; (4a) lnn. paratraqueais (ducto torácico e ducto linfático dir.);

- inervação: n. vago (rr. bronquiais) e tronco simpático (rr. pulmonares).

Relações anatômicas dos pulmões.

Pulmões

Características morfofuncionais gerais:

- órgãos aerados, ricamente vascularizados, revestidos por serosa (pleura) e organizados em lobos, segmentos e lóbulos pulmonares;

- brônquios (>20 gerações) revestem-se por epitélio pseudoestratificado colunar ciliado e sustentam-se por cartilagem hialina;

- glândulas e células mucossecretoras distribuem-se pelas vias aéreas (esteira mucociliar).

Aspecto microscópico do epitélio "respiratório", cujos cílios movimentam uma camada de muco sobrejacente.

Pulmões

Características morfofuncionais gerais:

- bronquíolos terminais suprem os ácinos pulmonares, constituídos por bronquíolos respiratórios e alvéolos associados (3-5 ácinos compõem um lóbulo pulmonar); - os alvéolos pulmonares (~ 300 mi) revestem-se por epitélio simples escamoso (pneumócitos I) entremeado por células secretoras de surfactante (pneumócitos II) e representam o sítio da hematose; - o calibre de brônquios e bronquíolos varia conforme o tônus de uma delicada camada circular de fibras musculares.

Brônquio segmentar

Brônquios intra-segmentares

Bronquíolos (sem cartilagem)

Ácino pulmonar

Bronquíolo terminal

Bronquíolos respiratórios

Alvéolos pulmonares

Representação esquemática e aspecto microscópico da arquitetura broncoalveolar. Um pulmão adulto saudável exibe mais de 250 m2 de superfície alveolar.

Pulmões

Características morfofuncionais gerais

Lúmen alveolar

Lúmen capilar

Rota de difusão alveolar-capilar para troca gasosas (0,5 μm).

Hemácia
Endoteliócito
Membrana

Doenças dos pulmões

Pneumonites/pneumonias:

- designam as inflamações agudas ou crônicas dos ácinos pulmonares; - principais causas: infecções virais, bacterianas ou fúngicas, autoimunidade, radiação, irritantes químicos (fumaça, suco gástrico);

- manifestações clínicas incluem tosse, dispneia, dor ventilatóriodependente (na vigência de pleurite), além de estertores e macicez.

Doenças dos pulmões

Pneumonia bacteriana:

- importante causa de morbimortalidade no mundo (primeira causa de morte por doença infecciosa);

- extremos de idade e imunodeprimidos são mais susceptíveis;

- comumente sobreposta à infecção respiratória ("superior" ou "inferior") de natureza viral;

- evolução tipicamente aguda, com febre, tosse produtiva (escarro purulento) e dispneia.

Doenças dos pulmões

Pneumonia bacteriana:

- os agentes causais variam, em especial, conforme o ambiente de origem (comunitário ou nosocomial);

- agentes "comunitários" incluem Streptococcus pneumoniae (mais comum), Haemophilus influenzae, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia spp.;

- agentes "hospitalares" (a partir do 4º dia) incluem Klebsiella spp., Pseudomonas spp. e Escherichia coli; - em até 50% dos casos o agente etiopático não é identificável.

Doenças dos pulmões

Pneumonia bacteriana:

- prejuízos aos mecanismos de defesa locais favorecem a infecção:

-- disfunção da esteira mucociliar (infecções virais, tabagismo ou inalação de outros gases tóxicos, aspiração de substâncias irritantes);

-- acúmulo de secreção brônquica (obstruções, fibrose cística);

-- prejuízos à atuação bactericida de macrofagócitos alveolares (tabagismo, etilismo, hipóxia);

-- supressão do reflexo da tosse (coma, distúrbios neuromusculares, medicamentos);

-- congestão e edema pulmonares (insuficiência cardíaca).

Doenças dos pulmões

Pneumonia bacteriana:

- a colonização das superfícies bronquíolo-alveolares (normalmente estéreis) deflagra resposta inflamatória tipicamente supurativa;

- a exsudação resulta em edema pulmonar de extensão variável, com preenchimento alveolar-bronquiolar ("consolidação pulmonar") e prejuízos à ventilação e trocas gasosas;

- pode comprometer um ou múltiplos lobos, uni ou bilateralmente.

Aspecto macro e microscópico da pneumonia bacteriana.

Doenças dos pulmões

Pneumonia bacteriana:

- pode haver comprometimento da pleura (pleurite) de padrão fibrinopurulento, com possível formação de empiema pleural; - grandes áreas de necrose podem dar origem a abscessos;

- pode haver disseminação metastática (bacteremia), com colonização secundária de múltiplos sítios.

Aspecto toracoscópico de um empiema pleural (à esquerda) e tomográfico de um abscesso pulmonar associados à pneumonia.

Doenças dos pulmões

Tuberculose:

- doença infecciosa que compromete primariamente os pulmões, gerando pneumonia crônica;

- terceira causa de mortes por doença infecciosa no mundo;

- estima-se que 25% da população mundial seja portadora do bacilo;

- 10 milhões de novos casos por ano (no mundo) e mais de 1 milhão de mortes anualmente;

- contágio pela exposição a aerossóis gerados por indivíduos infectados;

- infecção pelo HIV associa-se a maior risco.

Doenças dos pulmões

Tuberculose:

- manifestações típicas incluem tosse prolongada (>3 sem), febre vespertina e sudorese noturna;

- clinicamente manifesta em 5% das primo-infecções (tuberculose "primária");

- 90% das infecções evoluem para latência (estado de portador; indivíduo assintomático), podendo reativar-se (10% dos casos) após muitos anos (tuberculose "secundária");

Doenças dos pulmões

Tuberculose:

- Mycobacterium tuberculosis é o agente mais comumente implicado;

- após engolfados por macrofagócitos alveolares, os bacilos inibem a formação de fagolisossomas e replicam-se no interior da célula;

- linfócitos T auxiliares recrutados produzem INF-γ, que induz a formação dos fagolisossomas nos macrofagócitos, bem como a produção de espécies reativas e peptídeos antimicrobianos (defensinas).

Doenças dos pulmões

Tuberculose:

- a interação micobactéria-macrofagócito-linfócito T em geral leva à típica formação de granulomas, que "sepultam" os bacilos resilientes, inativando ou desacelerando sua replicação (infecção latente);

- o combate ao bacilo acompanha-se de importante dano tecidual, tipicamente formando-se áreas de necrose caseosa ("tubérculos", resultantes de granulomas fusionados), especialmente na doença secundária.

Clássico granuloma caseoso na tuberculose pulmonar. À direita, grande área de necrose caseosa em lobo pulmonar superior.

Doenças dos pulmões

Tuberculose:

- compromete tipicamente lobos superiores, com extensão para linfonodos regionais;

- pode haver comprometimento pleural, acompanhado de efusão;

- a progressão da doença favorece a disseminação linfo-hemática do bacilo e a colonização de múltiplos órgãos em padrão "miliar";

- diagnóstico (idealmente) por meio da identificação do bacilo (baciloscopia e/ou cultura do escarro).

Tuberculose miliar no baço (à esquerda); à direita, em grande aumento (1000x), micobactérias observadas à coloração de Ziehl-Neelsen.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

- alargamento irreversível dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais (gr. emphysan, inflar) decorrente de destruição alveolar;

- integra, junto à bronquite crônica, a entidade clínica "doença pulmonar obstrutiva crônica";

- importante causa de morbidade no mundo, sendo (em conjunto com a bronquite crônica) a quarta causa de mortes mundialmente;

- coexistência com a bronquite crônica é comum.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

- diagnóstico em geral a partir dos 50 anos;

- fatores de risco incluem tabagismo (principal) e exposição a poluentes do ar;

- manifestações clínicas incluem dispneia com intolerância progressiva aos esforços e (mais tardiamente) tosse persistente;

- espirometria é importante teste diagnóstico (fluxo expiratório prejudicado; capacidade vital geralmente preservada).

Cerca de 75% dos enfisematosos são tabagistas.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

- patogênese complexa e parcialmente compreendida; - a agressão química (sobrecarga oxidativa) induzida pelos componentes da fumaça do tabaco queimado, aliada aos efeitos da resposta inflamatória crônica, leva à destruição progressiva dos alvéolos; - proteases liberadas por células inflamatórias e epiteliócitos agredidos parecem especialmente importantes na destruição alveolar (deficiência congênita de α1-antitripsina aumenta em muito a incidência).

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

- a destruição enfisematosa dos alvéolos subtrai massa funcional e impõe prejuízos à retração elástica dos pulmões (expiração difícil); - há hipertrofia da musculatura peribronquiolar, que favorece o estreitamento luminal e acaba por acentuar a dificuldade expiratória; - pode haver hipertensão pulmonar (mecanismos pouco esclarecidos) complicada com insuficiência ventricular direita (cor pulmonale); - um balanço pró-inflamatório sistêmico é típico (↑ TNF-α, IL-6, CXCL8), favorecendo uma maior incidência de eventos cardiovasculares.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

- pode predominar na região centroacinar (mais comum; típico nos ápices) ou comprometer o ácino como um todo (enfisema panacinar, típico nas bases);

- pulmões podem exibir aspecto "bolhoso" (enfisema subpleural; favorece o pneumotórax).

Aspecto macroscópico do enfisema pulmonar.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar

Aspecto bolhoso do enfisema subpleural.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar

Aspecto tomográfico do enfisema pulmonar (à esquerda) em comparação com pulmões normais.

Doenças dos pulmões

Enfisema pulmonar:

Aspecto microscópico do enfisema pulmonar (à esquerda), em comparação com um pulmão normal.

Doenças dos pulmões

Bronquite crônica:

- doença inflamatória crônica das vias brônquicas e bronquiolares;

- integra, junto ao enfisema pulmonar, a entidade clínica "doença pulmonar obstrutiva crônica";

- importante causa de morbidade no mundo, sendo (em conjunto com o enfisema pulmonar) a quarta causa de mortes mundialmente;

- comumente coexiste com o enfisema pulmonar.

Doenças dos pulmões

Bronquite crônica:

- diagnóstico em geral a partir dos 40 anos;

- fatores de risco incluem tabagismo (principal) e exposição a poluentes;

- manifestações clínicas incluem tosse produtiva persistente (>3meses) e (mais tardiamente) dispneia com intolerância progressiva aos esforços;

- espirometria é importante teste diagnóstico (fluxo expiratório prejudicado; capacidade vital geralmente preservada).

Cerca de 90% dos bronquíticos crônicos são tabagistas.

Doenças dos pulmões

Bronquite crônica:

- a ação tóxica da fumaça do tabaco induz aumento adaptativo na secreção de muco (hipertrofia/hiperplasia de glândulas/células mucossecretoras), favorecendo a obstrução, em especial, das vias de menor calibre (<3 mm); - a ação tóxica da fumaça, aliada aos efeitos da inflamação crônica, leva à destruição ciliar, prejudicando (ainda mais) a eficiência da esteira mucociliar (agravando a obstrução e favorecendo infecções).

Doenças dos pulmões

Bronquite crônica: - áreas de colapso alveolar (atelectasia) devido reabsorção gasosa favorecida pela obstrução podem ocorrer; - cronicamente, a obstrução aérea é agravada pela fibrose das vias de menor calibre; - pode haver hipertensão pulmonar (mecanismos pouco esclarecidos) complicada com insuficiência ventricular direita (cor pulmonale); - um balanço pró-inflamatório sistêmico é típico (↑ TNF-α, IL-6, CXCL8), favorecendo uma maior incidência de eventos cardiovasculares.

Doenças dos pulmões

Bronquite crônica: - à microscopia, infiltrado inflamatório peribrônquico variável; - áreas de metaplasia escamosa (precursora potencial do carcinoma escamocelular) são comuns.

Aspecto microscópico da bronquite crônica; à direita, foco de metaplasia escamosa.

Doenças dos pulmões

Asma (gr. asthma, ofegância):

- doença inflamatória crônica caracterizada por hiper-reatividade brônquica/bronquiolar (espasmo, hipersecreção) paroxística, em resposta a estímulos tipicamente inócuos;

- diagnosticada na infância (doença crônica mais comum) ou idade adulta;

- crises de dispneia, sibilos e tosse são as principais manifestações (cianose e retração subcostal e/ou supraesternal/clavicular sinalizam gravidade);

- a reversibilidade das crises é característica (em longo prazo, pode haver disfunção ventilatória mesmo nos períodos intercríticos);

- fator de risco para o enfisema/bronquite crônica.

Estimam-se 300 milhões de casos de asma no mundo.

Doenças dos pulmões

Asma:

- em geral tem natureza alérgica, em indivíduos que exibem susceptibilidade genética a reações de hipersensibilidade tipo I (mediadas por IgE);

- fatores desencadeantes (alergênicos e não alergênicos) incluem pólens, pelos de animais, dejetos de ácaros, fumaça de tabaco, poluentes atmosféricos, ar frio, exercício físico;

- viroses respiratórias são fatores desencadeantes/corroborantes comuns.

Doenças dos pulmões

Asma:

- a patogênese clássica (asma alérgica) resume-se em:

-- sensibilização inaugural de mastócitos por IgE (na primoexposição ao alergênio);

-- ativação dos mastócitos (na reexposição), a resultar em crises agudas reversíveis de hiper-reatividade brônquica/bronquiolar;

-- danos/alterações crônicos à parede brônquica, que levam à disfunção pulmonar permanente (prevenível/minorável com intervenção precoce).

Doenças dos pulmões

Asma:

- a exposição inaugural ao alergênio induz a ativação de linfócitos T auxiliares (TH2), mediante apresentação (do alergênio) por dendrócitos;

- os linfócitos T ativados produzem citocinas (IL-4, IL-13) que estimulam linfócitos B a sintetizar IgE (também promovem aumento da secreção de muco pelas glândulas brônquicas);

- mastócitos submucosos, uma vez sensibilizados pela IgE, ativam-se na reexposição ao alergênio, liberando histamina e outros mediadores (prostaglandinas, leucotrienos, TNF, IL-1, IL-5).

Doenças dos pulmões

Asma:

- a atividade dos mastócitos promove broncoespasmo (estimulação vagal), intensifica a secreção de muco, favorece edema brônquico e recruta leucócitos (inflamação);

- mediadores localmente produzidos (mastócitos, linfócitos T, epiteliócitos) exercem particular efeito sobre eosinófilos (IL-5), cuja atividade (enzimas proteolíticas) impõe danos à mucosa.

↑ secreção

Alergênio

Dendrócito

Epitélio brônquico Célula caliciforme

Ativação

Lesão tecidual

Recrutamento e ativação de leucócitos

Receptor de IgE

Principais mecanismos da asma.

Histamina, prostaglandinas e leucotrienos

Edema, broncoespasmo e ↑ secreção de muco

Doenças dos pulmões

Asma

A hipersecreção brônquica na crise asmática pode ser severa a ponto de compor extensos moldes das vias aéreas, que favorecem atelectasia obstrutiva.

Doenças dos pulmões

Asma:

- a consequente redução do calibre brônquico/bronquiolar prejudica a ventilação alveolar e favorece hipoxemia (crise asmática, reversível);

- em longo prazo, observa-se espessamento fibrótico da parede brônquica associado à hipertrofia muscular e glandular (remodelamento das vias aéreas), que favorece prejuízos permanentes à ventilação (que serão agravados na vigência de crise).

Aspecto de um brônquio normal (à esquerda) em comparação com um brônquio asmático (centro e à direita).

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- doenças intersticiais crônicas de caráter restritivo, associadas à inalação de partículas diversas, em geral poeiras de material inorgânico;

- mais comuns em trabalhadores expostos a poeira de mineração (sílica, asbesto/amianto, carvão);

- em geral se manifestam após pelo menos 10 anos de exposição (exibindo progressão, ainda que cessada a exposição);

- favorecidas pelo tabagismo (mecanismos de remoção prejudicados);

- dispneia progressiva é a principal expressão clínica, com diminuição da capacidade vital à espirometria.

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- patogenicidade variável conforme a partícula considerada (tamanho, toxicidade, eficiência dos mecanismos de remoção);

- substâncias resistentes à degradação/remoção podem persistir por anos no interior dos pulmões;

- partículas com até 5 μm tendem a ser mais perigosas (fácil acesso às vias terminais).

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- silicose: -- pneumoconiose mais comum; -- principal doença ocupacional crônica no mundo; -- causada pela exposição crônica ao dióxido de silício (sílica), que pode compor partículas de 0,1 a 100 μm.

A sílica é o principal componente da areia e rochas e matéria-prima para o vidro e cimento.

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- silicose:

-- após inaladas, as partículas são englobadas por macrofagócitos com subsequente ativação de inflamossomas e síntese de citocinas pró-inflamatórias (inflamação crônica);

-- há fibrose severa, traduzida por enovelados coalescentes de fibras colágenas comprometendo o interstício pulmonar e a pleura (inicialmente nos lobos sup.);

-- a distorção arquitetural do órgão associa-se à importante restrição da sua expansibilidade (↓ capacidade volumétrica).

Aspecto macro e microscópico da silicose.

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- asbestose: -- causada pela exposição crônica a silicatos de magnésio e ferro, que compõem o asbesto/amianto (matéria-prima para a confecção de milhares de produtos); -- o asbesto é também considerado carcinogênico para humanos (IARC/OMS) e sua comercialização já foi banida em mais de 60 países (incluindo o Brasil, desde 2017).

O asbesto é um mineral fibroso amplamente utilizado na fabricação de materiais para a construção civil.

Doenças dos pulmões

Pneumoconioses:

- asbestose:

-- após inaladas, as partículas são englobadas por macrofagócitos, com o subsequente acionamento de inflamossomas (inflamação);

-- a fibrose progressiva compromete o interstício pulmonar e a pleura (que pode exibir importante calcificação), inicialmente nos lobos inf., culminando com restrição da expansibilidade pulmonar;

-- corpos asbestóticos, formados no interior de macrofagócitos, são comuns.

Placas pleurais calcificadas (à esquerda) e corpo asbestótico (seta), característicos da asbestose.

Doenças dos pulmões

Tromboembolismo pulmonar:

- importante causa de morbimortalidade;

- favorecido pela estase venosa (acamados/imobilizados) e condições de hipercoagulabilidade (gestação, contraceptivos, obesidade, tabagismo, trauma, câncer);

- manifestações clínicas, quando presentes, incluem dispneia, dor ventilatório-dependente, tosse, hemoptise.

Os fatores de risco para o tromboembolismo pulmonar são diversos e frequentemente se sobrepõem.

Doenças dos pulmões

Tromboembolismo pulmonar:

- causado pela embolização de trombos venosos profundos, tipicamente originários dos membros inferiores (comumente subclínicos); - repercussões variam conforme a magnitude do evento (em geral subclínico), podendo cursar com distúrbios respiratórios (infarto pulmonar) e hemodinâmicos (sobrecarga e insuficiência do VD, choque obstrutivo) potencialmente letais.

Aspecto clínico e macroscópico de uma trombose venosa profunda em membro inferior.

V. femoral

Doenças dos pulmões

Tromboembolismo pulmonar:

- o infarto pulmonar (observado em 10% dos casos) em geral compromete lobos inferiores, podendo ser multifocal;

- a extensão do infarto à pleura (dor ventilatória) é comum (exsudação fibrinosa);

- infartos não letais evoluem com cicatrização, resultando em área de retração pulmonar.

Êmbolo "em sela" junto à bifurcação do tronco pulmonar (à esquerda) e área de infarto pulmonar (setas).

Doenças dos pulmões

Neoplasias malignas:

- principais causas de morte por câncer no mundo; - representadas especialmente pelo adenocarcinoma, carcinoma escamocelular e carcinoma (neuroendócrino) de pequenas células; - o consumo do tabaco (ativa ou passivamente) é o principal fator de risco (80% dos casos são observados em fumantes ou ex-fumantes).

O consumo médio de dois maços de cigarro por dia durante 20 anos aumenta em 60 vezes o risco de câncer nos pulmões.

Doenças dos pulmões

Neoplasias malignas:

- etiopatogênese envolve agentes iniciadores e promotores oriundos da queima do tabaco, corroborados pela inflamação crônica das vias aéreas;

- agentes menos comuns incluem radiações e asbesto;

- alterações mais frequentes observadas nos genes ALK, FGFR1, KRAS, MYC, TP53, RB1 e CDKN2A;

- manifestações clínicas incluem tosse, hemoptise, dispneia, dor torácica.

Doenças dos pulmões

Adenocarcinoma:

- neoplasia maligna primária mais comum nos pulmões (40% dos casos); - tipo histopatológico mais comum tanto em fumantes quanto em não fumantes; - em geral a partir dos 50 anos; - sobrevida geral (em 5 anos) em torno de 15%.

Doenças dos pulmões

Adenocarcinoma:

- origem atribuível à transformação maligna de diversos tipos celulares, em especial do epitélio bronquíolo-alveolar;

- nódulo tipicamente solitário e periférico (subpleural), em geral nos lobos superiores, com menos de 4 cm e centro necro-hemorrágico;

- à microscopia, proliferação de células colunares atípicas em arranjos heterogêneos, glanduloides, papilares ou blocos sólidos (interpostos por lagos de mucina e/ou exibindo acúmulos intracelulares de mucina).

Aspecto macro e microscópico de um adenocarcinoma pulmonar (subtipo acinar).

Doenças dos pulmões

Carcinoma escamocelular:

- segunda neoplasia maligna primária mais comum nos pulmões (20% dos casos);

- mais frequente em homens, em geral a partir dos 40 anos;

- sobrevida geral (em 5 anos) em torno de 15%.

Doenças dos pulmões

Carcinoma escamocelular:

- origem atribuível à transformação maligna do epitélio brônquico;

- metaplasia escamosa é potencial precursora (achado frequente);

- nódulo tipicamente central (hilar/peri-hilar), com menos de 4 cm e centro necro-hemorrágico, comprometendo brônquios de maior calibre;

- crescimento endobrônquico (obstrução é comum) e/ou peribrônquico;

- à microscopia, proliferação de células escamoides formando blocos sólidos, com queratinização variável, por vezes em arranjo concêntrico com cerne cornificado (pérolas córneas).

- predomina a disseminação locorregional (intratorácica).

Aspecto macro e microscópico de um carcinoma escamocelular broncopulmonar.

Doenças dos pulmões

Carcinoma escamocelular

Aspecto macroscópico de um carcinoma escamocelular broncopulmonar.

Doenças dos pulmões

Carcinoma (neuroendócrino) de pequenas células:

- terceira neoplasia maligna primária mais comum nos pulmões (15% dos casos);

- mais frequente em homens, em geral a partir dos 60 anos;

- muito fortemente associado ao tabagismo (99% em fumantes);

- tipo histopatológico mais comumente associado a síndromes paraneoplásicas (ACTH, ADH);

- câncer pulmonar mais agressivo conhecido: frequentemente metastático e quase sempre letal.

Doenças dos pulmões

Carcinoma (neuroendócrino) de pequenas células:

- originário das células neuroendócrinas que permeiam o epitélio respiratório (especialmente o brônquico);

- massa tipicamente central (hilar/peri-hilar), permeada por amplas áreas necróticas;

- à microscopia, blocos sólidos de células arredondadas com mitoses frequentes (agressividade), interpostos por finos septos fibrovasculares, são característicos.

Aspecto macro e microscópico de um carcinoma de pequenas células.

Doenças dos pulmões

Mesotelioma pleural:

- mais comum neoplasia maligna da pleura;

- maioria homens, em geral em torno dos 60 anos;

- 90% dos casos estão associados à exposição ao asbesto (pode ou não haver asbestose associada);

- manifestações incluem dispneia, efusões pleurais e dor torácica;

- 50% dos pacientes vão a óbito no primeiro ano após o diagnóstico, e a maioria dos demais, no ano seguinte.

Doenças dos pulmões

Mesotelioma pleural:

- etiopatogênse envolve os efeitos nocivos diretos e/ou indiretos (estresse oxidativo, inflamação crônica) do acúmulo de fibras de asbesto na pleura;

- à macroscopia, nódulos tumorais coalescentes formam placas espessas que podem englobar todo o pulmão;

- à microscopia, proliferações de células epitelióides em arranjos heterogêneos são características;

- invasão da parede torácica é característica, além de extensão transdiafragmática à cavidade peritoneal.

Aspecto macro e microscópico do mesotelioma pleural (subtipo epitelioide).

Doenças dos pulmões

Mesotelioma pleural

Pleura difusamente comprometida por mesotelioma, com extensão ao diafragma e linfonodos mediastinais.

Referências bibliográficas

Gerais:

1. Kumar V, Abbas A, Aster J. Robbins & Cotran: Pathologic basis of disease. 9th ed. Elsevier; 2016.

2. O'Dowd G, Bell S, Wright S. Wheather's Pathology: A text, atlas and review of histopathology. 9th ed. Elsevier; 2020.

3. Klatt E. Robbins & Cotran: Atlas of pathology. 3rd ed. Elsevier; 2015.

4. Buja L, Krueger G. Netter's Illustrated human pathology. 2nd ed. Elsevier; 2011.

5. Goldblum J, et al. Rosai & Ackerman's Surgical pathology. 11th ed. Elsevier; 2017.

Específicas:

1. Hasleton P, Flieder DB. Spencer's Pathology of the lung. 6th ed. Cambridge University Press; 2013.

Referências bibliográficas

Complementares:

1. Sociedade Brasileira de Anatomia. Terminologia Anatômica. Manole; 2001.

2. Federative International Committee on Anatomical Terminology. Terminologia Histologica. LWW; 2008.

3. Ovalle WK, Nahirney PC. Netter: Bases da histologia. Elsevier; 2008.

4. Ross MH, Pawlina W. Histologia texto e atlas. 6ª ed. Guanabara Koogan; 2012.

5. Mills S. Histology for pathologists. 4th ed. LWW; 2012.

6. Alberts B, et al. Biologia molecular da célula. 6ª ed. Artmed; 2017.

7. Standring S. Gray's Anatomia: a base anatômica da prática clínica. 40ª ed. Elsevier; 2011.

8. Schunke M, Schulte E, Schumacher U. Prometheus: Atlas de anatomia. Guanabara Koogan; 2007.

9. Netter FH. Atlas de anatomia humana. 7ª ed. Elsevier; 2018.

10.Jansen JT, Netter FH. Netter's Clinical anatomy. 4nd ed. Elsevier; 2019.

11.Moore KL, Persaud PVN. Embriologia clínica. 10ª ed. Elsevier; 2016.

12.Boron W, Boulpaep E. Medical Physiology. 3rd ed. Elsevier; 2017.

13.Coico R, Sunshine G. Immunology. 7th ed. Wiley Blackwell; 2015.

14.Porto C, Porto A. Semiologia médica. 8ª ed. Guanabara Koogan; 2019.

15.Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, et al. Medicina interna de Harrison. 18ª ed. Artmed; 2013.

Sugestão de leitura extracurricular

O Livro dos Cinco Anéis (Miyamoto Musashi, 1584-1665)

"É importante olhar o que está distante como se estivesse próximo e olhar de longe aquilo que está perto".

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.