O Corpo - edição 2

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ORGANIZAÇÃO POPULAR ORGANIZAÇÃO POPULAR

Artistas da aparição, fuleragem, arte de ação, happening, arte não objetual, mandinga, arte contextual, teleperformance, live art, fação, performance urbana, performação, performance duracional, arte relacional, performance sonora, site specif, performance instalativa, land art, deriva e tantas outras possibilidades ainda nomináveis se organizem!

O Corpo

a função social da arte a função social da arte

NA LUTA

Nos somamos as trabalhadoras e os trabalhadores da arte e cultura de Crato e pedimos 2% do Orçamento para Cultura que é pedir o mínimo de investimentos municipais para fortalecer esse setor econômico que segundo dados do Observatório Itaú Cultural em 2020 representou 3,11% do PIB brasileiro, ultrapassando a indústria automotiva. Sem falar no fato de a cultura é um direito do povo, ela cumpre importante papel na constituição simbólica do ser humano e o fortalecimento do pensamento crítico.

Ceará | Cariri, 11 a 19 de maio de 2023 ano 3 ¬ edição 2 ¬ distribuição gratuita
JORNAL DO SINDICATO DA PERFROMANCE F o t o M a r i a M a c e d o
UM

O Sindicato da Performance, festival internacional que fomenta a criação, circulação e formação nessa linguagem artística tão diversa e plural que, no Brasil, genericamente chamamos de performance, nasce do desejo de um artista e produtor cultural que atua na área, colocando o seu corpo pra jogo e desejando jogar com outros corpos dispostos.

Seguimos desejando, essa é nossa cina. Desejamos agir nas fronteiras, questionar os limites e lançar outros olhares sobre o laço social para dizimar preconceitos, abrindo espaço para a descoberta sincera do outro e de seu lugar no mundo. Queremos ser encontro.

Nascemos olhando para o que tem acontecido no eixo Norte-Nordeste e no sul global. Buscando contatar artistas desses territórios minorizados por diversos motivos – políticos, econômicos, sociais. Nascemos nos envolvendo nas batalhas para abertura de espaço para a linguagem aqui no Ceará e hoje podemos fazer uma edição do festival com subsídio do Edital de Incentivo às Artes da Secult CE e o mais importante, sem precisar se esconder ou dissimular em outra linguagem.

Temos conseguido chegar a mais pessoas, nossa meta agora é como fazemos para que mais pessoas caibam em cada edição do Sindicato, além de criar outros mecanismos para o fortalecimento da linguagem, através da circulação, mas também por meio da formação e da articulação com os equipamentos culturais da região, que tem sido essenciais para a realização do Festival com o tamanho que ele se apresenta para vocês.

Ampliando os diálogos com a cena cultural no Cariri, esse ano fazemos duas importantes conexões – a Batalha do Cristo e a Queermesse. Duas cenas que dialogam diretamente com a performance e que atuam na região a um tempo, a batalha abrindo espaço para a palavra que emana sobretudo de corpos historicamente marginalizados, racializados e empurrados para as periferias; já a Queermesse, uma ainda jovem realização da cena drag do Cariri que reúne drags de diferentes gerações e abre espaço pra essa forma de arte e vida que emana de corpos dissidentes, tudo isso sendo feito desde o interior, sob todas as dificuldades que a política cultural e social da região impõe.

Nesse jornal trazemos uma fagulha da potência que brota no Cariri, território que se espraia pelos sertões e vales do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí, no miolo do Nordeste, terra ancestral tocada por divinos diversos. Que esse festival sirva de oxigênio para alimentar a insurgência desse conjunto de trabalhadoras da arte. Dessas fazedoras de novas realidades. Vem com a gente dar esse grito de rebeldia e construir outras formas de viver e de fazer arte.

Expediente

O Jornal O Corpo, do Sindicato da Performance, festival internacional que circula pela região do Cariri com edição anual, com uma visão da linguagem no Brasil com foco no eixo Norte-Nordeste e no mundo com foco no sul global, ensaiando sempre um olhar para o que está correndo por fora do mercado da arte, em estado de resistência e teimosia. | @sind.perfor.art @fatozero

Edição: Lívio Pereira | Textos: Violeta Luna, Lucas Dilacerda | Diagramação: Fatozero Edições

EDITORIAL

Arte acción y compromiso social

El arte acción (performance art) es un terreno muy movedizo y cambiante que te invita a retos y a la experimentación. Para mí esta empieza con la primera materialidad de lo escénico: el cuerpo, como territorio de creación donde articular narrativas desde lo biográfico interpelado por el contexto social, presentando al mundo nuestras propias subjetividades y no los estereotipos con que nos representan.

Como artista encontré en la practica del performance art la manera de expresarme, de construir un espacio de resistencia y cuestionamiento. Mi condición de mujer, inmigrante y mexicana viviendo en EE.UU me ha llevado a trabajar temas que involucran de manera directa las dos naciones, como son la migración, la narcoviolencia y el feminicidio. Hablar de temas tan dolorosos y que conllevan tanta violencia ha sido una preocupación para mi. ¿Cómo se inscriben en los cuerpos estas narrativas de violencia que vienen desde el poder? ¿Quiénes son estos cuerpos? ¿Cómo precariza el poder estos cuerpos? ¿Puede un acto performativo sanar?

Me interesa pensar el cuerpo como un espacio político que revela o hace evidente las narrativas de violencia impuestas por el estado/gobierno y lo institucional. Desde allí se presenta al cuerpo del inmigrante como peligroso y predador; se estigmatiza el cuerpo latino con narrativas racistas y xenofóbicas para justificar leyes anti-inmigrantes severas y a la violencia física en nombre de la seguridad nacional.

El cuerpo físico metaforiza al cuerpo social y en el contexto de la pandemia del COVID, donde este es visto como el vector de contagio (aquí hay que destacar la violencia xenofóbica desatada contra gente de origen chino o asiática en general), el inmigrante se convierte en la encarnación misma de ese virus que infecta, se propaga y a toda costa, se tiene que detener. Una de las formas más perniciosas de este mundo metafórico es la de las “teorías de conspiración” que abundan en EEUU amplificadas por los medios sociales. En este caso se la conoce como great replacement theory o “teoría del gran reemplazo” y advierte sobre el peligro que acecha a la gente blanca de ascendencia anglosajona quien se vería reemplazada por otros grupos étnicos y raciales “si no se toman medidas en el asunto.” Esta toma de medidas es la que llevó, entre muchos otros desgarradores casos, a un individuo blanco de 21 años a asesinar a 23 personas y dejar a otras 23 heridas, mayoritariamente latinas, en un Walmart en la ciudad fronteriza de El Paso, Texas, en el 2019.

Muchas de las imágenes horrorosas que presenciamos día a día, sin embargo, son consecuencia directa de intervenciones del estado que constituyen violaciones atroces de los derechos humanos. Ejemplos de estas son la separación de familias, y los centros de detención donde niños, mujeres y familias son encarceladas por el solo hecho de buscar refugio en los EEUU para mejorar sus condiciones de vida. Vidas precarizadas por un sistema fundamentado en la desigualdad y en una política de muerte (necropolítica) que vilifica esos cuerpos, ya sea por su lugar de origen, por el color de su piel, o por su religión. Tres aspectos que yo considero centrales para lo que nos humaniza: El hogar / Las raíces / El espíritu.

Considero que, ante estos escenarios de prácticas deshumanizantes, el arte acción nos permite construir contra-narrativas para inspirar la transformación, el cambio social y restaurar esa humanidad que nos intentan arrancar.

Si bien en mi trabajo el principal soporte de la obra es el cuerpo como espacio poético y de resistencia, me interesa descentrarlo del ejercicio de poder en la acción y reposicionarlo para que funcione como instrumento de dialogo con el espacio y publico. En lo espacial, me interesa que se este dialogo se dé subvirtiendo o interviniendo los lugares considerados como públicos, para que revelen mediante la intervención performativa el limitado repertorio de acciones aceptadas como normatividad en ellos y que a sus vez se democraticen mediante el desarrollo de las mismas.

Para terminar, solo quiero agregar que como artista, asumir el arte acción no solo como un espacio estético sino como un instrumento de transformación social, es para mí una responsabilidad. Considero que todo acto de decisión creativa es una acción política en sí misma y que los espacios para construir el arte son los mismos donde construir la persona como individuo y como ser social.

F o t o N o r a R a g g i o
F o t o Y v o n n e M P o r t r a

APRESENTAÇÕES

Cura - Ziel Karapotó (AL/PE)

A performance "Cura", foi realizada no Instituto Ricardo Brennand. É uma busca pelos saberes medicinais indígenas. Abordo a importância dos conhecimentos de cura nas ciências indígenas que foram utilizados como base para a Medicina em todo o mundo, representado na performance através do livro de "Historia Naturalis Brasiliae", publicado em 1648, de autoria do holandês Guilherme Piso, pertencente ao acervo do Instituto Ricardo Brennand. Trago saberes que herdei de meu povo, Karapotó em conjunto com os saberes de Dona Florisa, benzendeira do Bairro da Várzea, em Recife (PE).

Ritual para lembrar - ElianaAmorim (PE/CE)

Em um ambiente sensível e acolhedor, a artista compartilha saberes e memórias, permeadas pela cura e/ou pela magia, a memórias a partir de ervas medicinais encontradas diretamente ligados ao saber das curandeiras guardiãs da sabedoria da medicina popular repassada por suas bisavós, avós, mães e que remontam ao conhecimento de grupos indígenas e afrodescendentes sobre o manejo e uso das plantas, um patrimônio imaterial que está a salvo nas bibliotecas sagradas que são as mentes das mestras curandeiras. Uma performance que convida as pessoas a compartilharem suas próprias memórias de curas e cuidados, e os seus saberes Sagrados repassados através das vivências e da oralidade.

Ancestralidade de terra e planta – Keila Sankofa (AM)

O projeto de pesquisa artística 'Ancestralidade de Terra e Planta' é uma ocupação em que traz obras em fotografia, videoinstalação e performance, juntas ou separadamente, esse é um projeto que vem sendo desenvolvido desde 2018. E essa trajetória resultou em muitos registros estáticos e em movimento, além de intervenções e instalações urbanas. Na pesquisa o corpo está envolto por elementos naturais em meio meio a cidade, um diálogo direto entre quem conta, e quem pode somar a contação. Baseia-se na utilização das plantas para cura e a terra como ferramenta que guarda memória, um banho para renascimento, onde o contato se torna um elemento transmissor de informações enterradas pelo apagamento histórico. Manter esses usos e costumes tradicionais é estabelecer relações com o sagrado. Sendo esses processos ritualísticos, mecanismo de curar males, trazer equilíbrio físico e emocional. Alta tecnologia ancestral guardada pelas rezadeiras, xamã, yalorixás e babalorixás. Sendo eles médicos, líderes, socorristas, pessoas capazes de fortalecer uma comunidade e estruturá-la para a existência de um futuro.

O modo do oceano (III ato) –Abiniel João Nascimento (PE)

Na continuação de minhas investigações sobre 'O modo do oceano/The ocean way' iniciadas em 2022, busco nos territórios (do) Cariri o encontro com o mar de baixo, as pedras de peixe, a cobra grande. Reconstruindo essa relação de diálogo através do sal enquanto meio e também condutor da mensagem: Meu corpo carregará 50kg de sal que serão distribuídos em pequenas porções sobre o território. Em paralelo, desenharei ideogramas criados em diálogo com a matéria em cada círculo de sal. Nesse encontro entre corpos, ruas e paisagens visíveis e invisíveis, faço acordo com a precariedade de uma fossilização efêmera.

Lava – Suzana Carneiro e Lucivânia Lima (CE)

A ação é feita dentro de arquiteturas e paisagens que de algum modo sustentam as narrativas da colonialidade, em contraponto as performers dançam para demolir. Demolir materialidades visíveis apenas quando se está em fuga. Dançar sobre ruínas para incitar a liberdade,abrir um espaço-tempo no caos para desaguar as dores, limpar as feridas, cessar o peso das águas represadas nas têmporas.

qual a função social
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Foto Maria Macêdo Foto Alonso Junior Foto Gonçalves Vicente Foto Karuá Tarairiú e Anastasia Thibault

Nutrir a seiva da corpa – Pedra Silva (CE)

A instalação-performática vem acontecendo em parceria com a DJ Viúva Negra desde de 2020. As artistas, para criação desta obra, exuzilharam suas pesquisas em torno das Aparições Ancestrais dentro do treinamento da Atuação Makum[b(eira)] e das Práticas da Cyber Ogã. Ambas fazem parte da Coletiva NEGRADA, plataforma de multimídias ancestrais de circulação, difusão e criação de cosmopercepções negres e indígenas da favela. A artista Ilton Rodrigues foi convidada para o projeto compondo com seus conhecimentos de kambonagem e macumbarias sonoras. Antes de nascer a cabeça, havia a Cabaça, o Orí. Nesta porção redonda e curvilínea, o satélite ancestral reatualiza os documentos do corpa-transporte que dança e canta em louvor a quem já foi fazer morada nA Terra. Quando o Orí se mostra adoecido e fraco os odus - caminhos - perdem a dimensão espiralar, assim a sujeita em retomada nativa começa uma caminhada linear e de verdade única. Distanciando-se de seus saberes e identidades multiculturais e dos fundamentos da Ciência Encantada que opera pelo viés da encruza, do encante. É produzida uma cena que desmonta os acordos da cisgeneridade e faz brotar questionamentos sobre uma corpatransporte-abassá-território-maloka, uma corpa travesti e nativa desaldeada, apagada da historiografia cearense que desobedece entre aparições e vultos.Aperformance se faz a partir de rastros de outros trabalhos da artista tendo o programa performático rotativo a cada aparição.

Cabras – Grupo Ninho de Teatro (CE)

Dramaturgias que atravessam a pluralidade e a diversidade de como se dão as construções das masculinidades e o que se compreende socialmente sobre o que é ser homem.

Clínica de reabilitação para homofóbicos –Eduardo Bruno (CE) e Waldírio Castro (PB/ CE)

Agora na região do Cariri, depois de uma sede em Fortaleza e outra em Quixeramobim, a Clínica de Reabilitação para Homofóbicos chega para contribuir no tratamento da homofobia estrutural tão presente no cotidiano das cidades brasileiras. No dia 16 de maio, iremos inaugurar uma nova sede e, para isto, faremos uma panfletagem juntamente a um carro de som que divulgará nossa chegada na região. É urgente curarmos essa epidemia que se alastra pelo país desde 1500.

Experimento para quando o corpo não mais puder? - João Botelho e Tiago Manguebixa (CE)

Qual o corpo do som? Qual o som do fantasma? Fantasma tem corpo? Voz? Tempo e espaço?

As-som//bração. As sombras são? Quem escuta sua fuga, quem foge da sua voz, quem se esconde no som, quem aparece na trans-missão?

Como compor uma fuga junto aos sistemas biopolíticos de reconhecimento e captura? Quais são os processos para desidentificar? Qual a linha que divide a visibilidade do invisível? O ruído inteligível da mensagem ilegível?

“Experimento para quando o corpo não mais puder?” convida a explorar e pensar o espaço que a voz ocupa com seu não-corpo feito de som.

“Fantasmas têm sido uma obsessão minha: são ecos da pessoa, quebram a temporalidade – quando eles chegam já retornam (mas eles não são os mesmos que eram). eles são anacrônicos sempre, é a presença do que não pode (do que não deve) estar ali.”

Netas da diáspora – Tina Melo (BA)

"Netas da Diáspora" busca construir narrativas de afirmação, como subversão da dor e das violências que histórias de mulheres negras contam. Partindo de elementos de uso cotidiano e simbólico,e dados autobiográficos encruzilhados a fatos sociais e históricos,a performance toma o corpo como território de recriação de possibilidades, que é atravessado pelas violências domésticas, urbanas e pelo feminicídio, mas que busca tecer não somente a sobrevida, mas a reinvenção da vida.

pra que a arte?

serve pra que a arte?
F o t o M D i a s P r e t o F o t o R a q u e l L e i t e F o t o N a y r a M a i r a
serve
F o t o Y o h a n n a M a r i e A s s u m p ç ã o
Foto Wandeallyson Landim

Políticas da performance: crítica da violência e clínica da vida

Os regimes de dominação e violência da colonialidade se reproduzem como um vírus. Eles são propagados por meio de imagens, hábitos e discursos, que reiteram e atualizam – a todo instante – a manutenção das estruturas de poder. Como então romper com esse ciclo vicioso? Uma primeira iniciativa poderia ser a de tornar visível esses regimes que muitas vezes são invisíveis para uma parcela da população. Pois um dos mecanismos de defesa dessa estrutura é a de se tornar imperceptível, e operar nos níveis mais subterrâneos da nossa existência, isto é, no nosso desejo, afeto e imaginação.

A performance pode ser um dispositivo de tornar visível os regimes invisíveis de dominação e violência da colonialidade. Por meio de sua própria linguagem artística, a performance tem a potência de dar a ver o intolerável do nosso mundo. Através de um conjunto de ações, a performance torna visível as imagens, hábitos e discursos que são constantemente propagados no invisível de nós mesmos.

O objetivo desse tipo de performance seria o de produzir uma denúncia do imperceptível e de criar consciência no espectador, a fim de transformar a sua subjetividade e, assim, romper individualmente com o ciclo vicioso. Podemos chamar esse tipo de performance de “performance crítica”, pois ela usa a sua própria linguagem artística como uma crítica da violência.

O problema – ou melhor, o limite – desse tipo de performance é que ela mira na consciência e aposta que a transformação da realidade acontece por meio da transformação dessa consciência. Nesse ponto, precisamos nos perguntar quais são os princípios que fundamentam essa afirmação. O pressuposto de que a consciência tem um domínio sobre o desejo, o afeto, e a imaginação é um princípio moderno que foi a base do racionalismo, que fundamentou o iluminismo, e que tornou possível a colonidalidade. Portanto, o risco da performance crítica é a de andar na corda bamba entre uma crítica da violência e uma reencenação da própria violência.

Como conjurar o intolerável sem convocá-lo? Como performar uma crítica da violência sem reencenar a própria violência que denunciamos? Como imaginar nossos corpos fora da ecologia da violência e ao mesmo tempo não cair no romantismo idealista e utópico?

Tomar consciência dos regimes de dominação e violência não faz com que esses regimes parem de operar, pois eles operam sobretudo no nível que não é consciente, isto é, no campo do sensível. Por isso, o desafio seria não apenas intervir na consciência, mas sobretudo intervir na sensibilidade, lá onde as mutações subjetivas acontecem.

A performance pode ser um dispositivo de transformação das sensibilidades, quando usa a sua própria linguagem artística como um campo de experimentação de novas corporeidades que permitem se reconectar com os níveis mais subterrâneos da nossa existência. Podemos chamar esse tipo de performance de “performance clínica”, pois ela usa a sua própria linguagem artística como uma clínica da vida.

A performance clínica utiliza um programa performativo para produzir um estado corporal que possibilita sairmos do plano da consciência e mergulharmos em outros planos da existência, e lá inventar novas armas e armaduras sensíveis de enfrentamento bélico à colonialidade.

Lucas Dilacerda é Curador e Crítico de Arte. É Coordenador do LACLaboratório de Arte Contemporânea; do LEFA - Laboratório de Estética e Filosofia da Arte; e da CAV - Curadoria em Artes Visuais. É Graduado (Licenciatura e Bacharelado) em Filosofia, com distinção Summa Cum Laude, pela UFC; Especialista em Filosofia Clínica; Mestre em Filosofia, com ênfase em Estética e Filosofia da Arte, pela UFC; Graduando em Artes Visuais, pela UECE; Mestrando em Artes, pela UFC. E-mail: lucasdilacerda3@gmail.com.

Por fim, é importante ressaltarmos que a performance clínica não é o oposto da performance crítica. Reencenar os princípios de oposição e contradição é cair nas armadilhas do binarismo que fundamentam a colonialidade. A performance crítica e a performance clínica são duas políticas de uma única e mesma performance que – juntas e ao mesmo tempo – buscam transformar a consciência e reflorestar a sensibilidade.

1. Eliana Amorim, Invocando o sagrado: memórias em transe, 2021, Performance/Ritual, Coleção da artista, Foto de Maria Macêdo /// 2. Sy Gomes, O que aprendi com elas, 2021, Instalação, Coleção da artista, Foto de Marilia Camelo /// 3. Lyz Vedra, Escuta das plantas, Vídeo, 2021, Vídeo Ecoperformance, Coleção da artista, Frame de William Coelho /// 4. Maria Macêdo, Para reflorestar uma terra seca ou como construir Fortalezas, 2020, Videoperformance, Coleção da artista, Foto de Jaque Rodrigues

Mostra de videoperformance Pedras,

Noites e Poemas

Pe ataju jumali / Hot air (Ar quente) - Unides contra a colonização: muitos olhos, um só coração (São Paulo/BR e Resguardo Indígena El Merey-La Veradicta/Colombia). Semeadores: Margarita Weweli-Lukana, Juma Pariri, Frê Arvora, Gurcius Gwedner, Amaya Torres, Jules Zinn, Juan Camilo Herrera Casilimas e Juliana Pongutá Forero.

Os países do Norte Global são os maiores poluidores do planeta com suas emissões de CO2. Assim, criaram o sistema de créditos de carbono, que finge proteger florestas no Sul Global, que já são protegidas por seus povos originários. Uma farsa típica do capitalismo financeiro conhecida como "ar quente". Os seres daquelas florestas, através de suas ativAÇÕES perforMÁGICAS, vieram revelar essa grande farsa e convidar a todos para fazer justiça ambiental com suas próprias mãos unidas numa grande espiral cósmica.

Homem sustentável - Francesco D'Avila (MG)

No trajeto pelas ruas da cidade, carrego o "Objeto Sustentável". Um mecanismo de produção de oxigênio construído a partir de um pote médio de vidro posicionado em uma estrutura de ferro e interligado em uma máscara de oxigênio em meu rosto por finos canos transparentes. Dentro desta estrutura uma planta, terra e uma garrafa que libera sistematicamente gotas de água na planta. Durante 60 minutos caminho pelas ruas da cidade, desenvolvendo micro ações como atravessar o sinal em passo miúdo, ler jornal na banca, entrar no transporte coletivo, sentar no banco da praça, alternando a velocidade da caminhada e com atenção para as possibilidades de jogo que o espaço proporcionar.

T U K Ú N é uma expressão da retomada do corpocrôa ao sagrado originário, às encantarias presentes nas palmeiras que brotam da terra preta de Pindorama. Os artistas performam a partir da relação/ investigação com a máscara de espinhos produzida da capemba retirada do tucueiro (a palmeira do tucum), tecendo outras temporalidades inscritas nos corposespinhos e experimentando conexões e movimentos que manifestam e acionam a luta ancestral pela vida.

Cerka – Renna Costa (PE)

Acerca priva.Acerca separa.Acerca isola.Acerca mata. Corpo travesti enquanto corpo-território. Direitos negados, corpos privados, de afetos, de amores, de direitos, objetificados. Quais são as cercas invisíveis que isolam nossas corpas? Quais limites são impostos à nós?

Caboré (parte de uma trilogia que é a vídeo-instalação "Axé Marias!")Renata Felinto (SP/CE)

Maria Caboré, viveu na cidade de Crato no século 19, e teve sua vida marcada por violências físicas e psicológicas, o que a levou a loucura. Hoje considerada uma santa marginal pela população local.

Tukún | Lab. TUKÚN (MA) - Yuri Azevedo, Lucca Anapuru Muypurá, Maria Dalva e Naná Belfort
F o t o J a q u e l i n e R o d r i g u e s F o t o R c C a m p s / D e n i s C a s i m a

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