Revista Famasul - Edição 05

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Ano 2 - Nº 5 - setembro a novembro 2023

Pantaneiros Pantaneiros ensinam ensinam como como produzir produzir ee preservar preservar

 José Luiz Tejon: “Brasil criou solos férteis para boas sementes”

 Desenvolvimento: Agro ajusta trajetória para Rota Bioceânica



Editorial CAROS LEITORES

É

MARCELO BERTONI Presidente do Sistema Famasul

CONVIDO CADA UM DE VOCÊS A MERGULHAR NESSAS PÁGINAS E A EXPLORAR AS HISTÓRIAS, CONQUISTAS E DESAFIOS QUE MOLDAM NOSSO SETOR E INSPIRAM A NOSSA JORNADA.

com imensa satisfação que “abro a porteira” da 5ª edição da Revista Famasul, um veículo que se consolidou como uma fonte de conhecimento e inspiração para todos os que compartilham do compromisso com o desenvolvimento responsável e sustentável da agropecuária em Mato Grosso do Sul. Em um mundo em constante transformação, esse produto de comunicação busca iluminar os caminhos que pavimentam o futuro do setor, com ênfase nos pilares social, ambiental e de governança. Agricultura moderna, tecnologia e inovação - essas palavras definem um dos destaques desta edição. O uso crescente de drones na agricultura tem revolucionado a forma como produzimos, tornando-se ferramentas cada vez maiores e mais tecnológicas, capazes de desempenhar diversas funções vitais em nossas operações. Da mesma forma, a produção de carne suína viu um crescimento notável, alavancado pela tecnologia, que nos últimos cinco anos alcançou um incrível aumento de 62%. A consciência ambiental também está no cerne das nossas preocupações, e isso é evidenciado pelo trabalho incansável no processamento dinamizado do CAR (Cadastro Ambiental Rural) pelo Imasul. Mais de 63,7 mil processos analisados em seis meses demonstram o comprometimento do setor com a responsabilidade ambiental e a importância do registro para os produtores rurais. A relação intrínseca entre o produtor rural e a preservação do Pantanal também ocupa um espaço importante nesta edição. Reconhecemos que a harmonia entre o desenvolvimento agrícola e a conservação do meio ambiente é fundamental para o equilíbrio da nossa região. A sucessão e permanência do homem no campo é outro tema relevante, simbolizado pelo caso inspirador do trabalhador rural que testemunhou seu filho se tornar um zootecnista. Este é um lembrete do nosso compromisso em assegurar um futuro promissor para as próximas gerações no setor agropecuário. A rota bioceânica, as histórias de superação impulsionadas pelo conhecimento, a comunicação eficaz do agro com a sociedade e a assistência técnica na pecuária são tópicos que não apenas enriquecem nossa revista, mas também ecoam a determinação e a resiliência que permeiam o agronegócio em Mato Grosso do Sul. Encerramos essa edição com uma entrevista enriquecedora com José Luiz Tejon, uma autoridade no marketing e gestão do agronegócio, onde discutimos a importância da comunicação efetiva entre o setor e a sociedade. A Revista Famasul é um reflexo da nossa missão coletiva de moldar um futuro brilhante para o agronegócio, sustentado por valores, inovação e responsabilidade. Convido cada um de vocês a mergulhar nessas páginas e a explorar as histórias, conquistas e desafios que moldam nosso setor e inspiram a nossa jornada. Um agradecimento especial à equipe que tornou esta edição possível e a todos os leitores por serem parte integrante da nossa trajetória. Boa leitura! SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 3


Sumário/Expediente Presidente: Marcelo Bertoni Vice-Presidente: Mauricio Koji Saito Diretor Secretário: Claudio George Mendonça - Diretor Tesoureiro: Frederico Borges Stella - 2º Secretário: Fábio Olegário Caminha - 3º Secretário: Massao Ohata - 2º Tesoureiro: André Cardinal Quintino - 3ª Tesoureira: Stéphanie Ferreira Vicente

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CONSELHO DE VICE-PRESIDENTES Antônio de Moraes Ribeiro Neto - Antonio Silvério de Souza - Dario Antonio Gomes Silva - Manoel Agripino Cecílio de Lima - Luciano Aguilar Rodrigues Leite - Leandro Mello Acioly - Rodrigo Ângelo Lorenzetti - Alexandre de Paula Junqueira Netto - Roberto Gonçalves de Andrade Filho

Meio ambiente

Pantaneiros ensinam como produzir e preservar

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MEMBROS DO CONSELHO FISCAL Efetivos: Jefferson Doretto de Souza Henrique Mitsuo Vargas Ezoe - Telma Menezes de Araújo - Suplentes: Jesus Cleto Tavares Deny Meirelles Nociti - Fábio Carvalho Macedo

Dedo de Prosa Entrevista com o jornalista José Luiz Tejon

Agronews 5 - Agro na reforma tributária,

Mercado 18 - Agro ajusta rota para o Corredor

Inova Agro 6 - Produção de carne suína cresce 62%

Tendências e mercado 20 - Pecuária, grãos, silvicultura e

amendoim e PPM

em MS

8 - Senar/MS capacita 5,5 mil para uso de drones Meio Ambiente 9 - CAR certifica trabalho de

preservação do agro

Roda de Tereré 12 - Filho de peixe, peixinho é! Porteira do Conhecimento 15 - Educação transforma vidas no campo

Bioceânico

sucroenergético

Assistência Técnica 26 - Parceria com AACC contra o câncer infantojuvenil

Projetos Especiais 28 - Sorrindo no Campo: Dentista vai onde o povo está!

30 Agro Agenda 36 Famasul em Ação Agro Doc 38 Porteira para o Mundo

ICONS

MEMBROS SUPLENTES DA DIRETORIA Paulo Renato Stefanello - Janes Bernardino Honório Lyrio - Alessandro Oliva Coelho Yoshihiro Hakamada - Bedson Bezerra de Oliveira - Lucicleiton Cirino da Rocha - Hilies de Oliveira - Durval Ferreira Filho - Vilson Mateus Brusamarello - Valter Dala Valle - Florindo Cavalli Neto - Herminio Pitão - Severino José da Fonseca - Antonio Gisuatto - Edson Bastos - Romeu Barbosa de Souza - Hudson Amorim de Oliveira

&

S OCI AL

MEMBROS DO CONSELHO DE REPRESENTANTES (CNA) Efetivo: Marcelo Bertoni - Mauricio Koji Saito - Suplentes: José Vanil de Oliveira Guerra Antonio Ferreira dos Reis SENAR/MS - Administração Regional do Estado de Mato Grosso do Sul - Conselho Administrativo - Dirigente: Marcelo Bertoni | Membros titulares: José Pereira da Silva | Marcio Margatto Nunes | Valdinir Nobre de Oliveira | Daniel Kluppel Carrara | Suplentes: Mauricio Koji Saito | Janes Bernardino | Honório Lyrio | Thaís Carbonaro Faleiros Zenatti | Maria Helena dos Santos Dourado Neves | Luciano Muzzi Mendes | Conselho Fiscal: Paulo César Bózoli | João Batista da Silva | José Martins da Silva | Suplentes: Rafael Nunes Gratão | Moacir Reis | Orélio Maciel Gonçalves | Superintendência: Lucas Duriguetto Galvan REVISTA FAMASUL Gerente de Comunicação, Marketing e Eventos: Anahi Gurgel | Coordenação de Comunicação: Camilla Jovê | Coordenação de Marketing: Flávio Gutierrez | Coordenação de Eventos: Larissa Siufi | Equipe de ICONS & S OCI AL MEDI A LOGOS F OR BUS IN ES S Comunicação: Vitor Ilis | Ellen Albuquerque | João Carlos Castro | Leandro Abreu | José Pereira | Michelle Machado Estagiário: Giovanna Welter | Redação, revisão, projeto gráfico, edição e diagramação: A2L Comunicação | Fotos da edição: Assessoria de Comunicação do Sistema Famasul | Freepik | Foto da capa: Maurício Copetti Casa Rural: Sede da Famasul e do Senar/MS Rua Marcino dos Santos, 401 - Cachoeira II Campo Grande/MS Famasul - Tel.: (67) 3320-9700 Site: portal.sistemafamasul.com.br Senar/MS - Tel.: (67) 3320-6900 MEDI A LOG OS F OR BUS IN ES S CAR D Site: senarms.org.br ICONS

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CAR D

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BUS IN ES S

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Agronews

Taxar menos o agro é um bom negócio, mostra FGV Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostra que aplicar alíquotas diferenciadas de impostos para o agro é um bom negócio para o país. O estudo traçou um cenário de dez anos, comparando a aplicação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), tributo que deve ser criado com a Reforma Tributária, com uma alíquota padrão, de 25%, para o setor, e uma diferenciada, de 7,5%.

Bataguassu pode se tornar a capital do amendoim Bataguassu, no leste de Mato Grosso do Sul, pode se tornar em breve a capital do amendoim no estado. A instalação de uma agroindústria para beneficiar a produção, pela cooperativa Casul, de São Paulo, deve alavancar todo o ciclo da cultura. As obras do empreendimento já foram lançadas. Com investimento de R$ 117,5 milhões, a unidade vai fazer o recebimento, secagem e beneficiamento de amendoim e também de soja. A previsão da cooperativa é que a planta industrial entre em operação até 2028 e gere pelo menos 200 empregos diretos no município. Em 2022, segundo dados da pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os produtores sul-matogrossenses cultivaram 6,942 mil hectares com amendoim, colhendo 22,203 mil toneladas.

Nesse contexto, os resultados com a aplicação de índices diferenciados asseguraram menor inflação, maior variação do Produto Interno Bruto (PIB), maior queda de preços da cesta básica, menor perda de consumo, além de uma carga tributária mais baixa em relação ao PIB. Segundo a CNA, assegurar tratamento diferenciado para o setor na Reforma Tributária representa uma forma de evitar ou diminuir impactos indesejáveis sobre as populações mais vulneráveis do país.

MS tem três cidades no top 20 do rebanho bovino nacional

Mato Grosso do Sul tem três cidades entre os 20 municípios do país com maior rebanho bovino, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) 2022, do IBGE. Corumbá ocupa a segunda posição do ranking, com 1,981 milhão de cabeças. Ribas do Rio Pardo aparece na 14ª colocação, com 837,453 mil animais, e Aquidauana em 17º, com 797,770 mil bovinos. Mato Grosso do Sul permanece como o quinto maior rebanho do Brasil, com 18,433 milhões. Frente aos dados de 2021, houve uma leve retração, 0,94%. No país, houve um incremento de 4,3% no número de animais nestes últimos dois anos, passando de 224,601 milhões de cabeças para 234,352 milhões. SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 5


Inova Agro

A

ALAVANCADA PELA

TECNOLOGIA Produção de carne suína em MS cresce 62%

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tecnologia tem sido grande aliada para o desenvolvimento da suinocultura em Mato Grosso do Sul. O estado é o sexto no ranking nacional de produção de carne suína e nos últimos cinco anos apresentou uma grande evolução. Dados do Departamento Técnico do Sistema Famasul, apontam que a produção de carne suína no estado passou de 148 mil toneladas em 2017, para 240 mil em 2022, um salto de 62% no período. O presidente da Asumas (Associação Sul-Matogrossense de Suinocultores), Milton Bigatão, aponta que são diversos fatores que tornam Mato Grosso do Sul atrativo para a cadeia produtiva da suinocultura. Segundo ele, os produtores são muito eficientes tecnicamente e realizam um bom manejo. Atualmente, o estado conta 280 granjas e 112 mil matrizes. “A suinocultura está vivendo um momento muito bom, de expansão e com responsabilidade. Antigamente 40% dos suinocultores do estado se enquadravam no nível básico de gestão e apenas 10% se encontravam em um estágio avançado. Agora esse número inverteu, em 2023, 10% estão no básico e 40% em uma etapa avançada. Isso significa mais emprego de tecnologias, mais sustentabilidade e maior preocupação com a biossegurança”. Segundo dados do Boletim Casa Rural do Sistema Famasul, as exportações de carne suína in natura sul-mato-grossense totalizaram US$ 4,1 milhões em receita e 1,73 mil toneladas no mês de janeiro de 2023, sendo este o maior resultado entre os meses de janeiro nos últimos dez anos. Bigatão reitera que municípios do estado que desenvolviam outras atividades agropecuárias, agora estão também “abraçando a suinocultura”, investindo na cadeia, como, por exemplo, Sidrolândia e Campo Grande. “Entre os indicadores de crescimento do setor, estão os avanços das estruturas em cidades de Mato Grosso do Sul”.


Com o aumento da eficiência nas granjas, a carne suína sul-mato-grossense atende ao consumo interno e externo. O principal destino do produto do estado é Hong Kong. O território autônomo no sudeste da China respondeu por 30,41% da receita com as vendas externas de carne suína in natura com a compra de 415 toneladas. O segundo lugar no ranking de exportação, com 24,32%, foi ocupado por Singapura. AVANÇOS TECNOLÓGICOS Grande parte do sucesso do setor está ligada aos avanços tecnológicos na criação dos suínos. Para o consultor técnico da Famasul, Fernando Vinícius Bressan, a ciência tem impulsionado a cadeia produtiva através do melhoramento genético dos animais; sistemas de coleta e tratamento dos dejetos dos suínos; sistemas de alimentação automatizados; equipamentos de monitoramento, controle de temperatura e diversas outras ações que garantem a eficiência produtiva. “As tecnologias utilizadas na suinocultura têm ajudado na cadeia produtiva em inúmeros aspectos, como a produtividade das granjas, produzindo maior quantidade de animais e sendo mais eficiente na utilização dos recursos, assim como facilitado a gestão e o trabalho dos colaboradores. Dentre as tecnologias podemos citar o piso vazado para facilitar limpeza; sistema de pressão negativa e inlets para ambiência; comedouros automáticos em inox e ração adequada para alimentação dos animais; além de

programas que facilitam o gerencia- tividade, sustentabilidade, entre outros mento da granja”. itens”, disse. Bressan também ressalta a importânCom auxílio técnico no campo, o cia de práticas sustentáveis na programa Granja Plus atenprodução de suínos em de suinocultores com Mato Grosso do Sul. orientação para ade“A sustentabilidade quação da proprieé um conceito que dade, de acordo envolve o equicom as legislalíbrio entre as ções trabalhisdimensões ecotas, ambiental, nômica, social e segurança do ambiental, bustrabalho, conscando atender às truções rurais e necessidades do de biosseguridade Fernando Vinícius presente sem com(sanidade animal). Bressan, consultor prometer as gerações Além disso, os protécnico da Famasul futuras. Alinhar a susfissionais repassam aos tentabilidade à produção de produtores, o conhecimento suínos no estado é fundamental”. sobre o custo de produção da atividade; organização das propriedades FORTALECIMENTO DO SETOR conforme os preceitos dos cinco sensos Em pouco mais de cinco anos, a (utilização, ordenação, limpeza, saúde ATeG (Assistência Técnica e Geren- e autodisciplina) e incentivo ao associacial) Granja Plus do Senar/MS tem ca- tivismo e cooperativismo. pacitado suinocultores e apresentado Alencar aponta que a suinoculturesultados efetivos. O analista técnico ra tem crescido largamente no estado do Senar/MS, Stephan Alexander Alen- e o desenvolvimento deve ser ainda car, explica que o programa atende 125 maior nos próximos anos. “O número produtores com orientações de gestão e de matrizes no ano de 2023 está acisustentabilidade. ma de 112 mil cabeças, e com todos os “O Sistema Famasul tem cooperado incentivos e apoio de diversas organide diversas maneiras com o desenvol- zações, dentre elas o Sistema Famasul, vimento da suinocultura no estado. A se projeta um crescimento de 35% no ATeG atua em diferentes polos da sui- número dessas fêmeas até 2026, chenocultura, como na região de Dourados, gando a 152 mil. Esse incremento vai São Gabriel do Oeste e Brasilândia, e alavancar a posição de Mato Grosso do oferece na metodologia um acompanha- Sul no ranking nacional produção e de mento de gestão, planejamento, produ- abate de suínos”.

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Inova Agro

SENAR/MS CAPACITA MAIS DE 5,5 MIL PESSOAS PARA UTILIZAÇÃO DE DRONES

O

uso de drones está cada vez mais presente no agro de Mato Grosso do Sul. A incorporação de novas tecnologias assegura precisão no trabalho dos colaboradores e maior rentabilidade no uso de máquinas e equipamentos, tornando as propriedades mais eficientes e sustentáveis. Entretanto, para utilizar todo esse potencial, é preciso capacitar mão de obra. Antenado à demanda, o Senar/MS tem oferecido cada vez mais esse treinamento. Em 2023, atinge a marca de 230 turmas qualificadas e mais 5,5 mil pessoas habilitadas para operar drones. Adauto Júnior, de Campo Grande, teve a vida transformada após passar pelo curso. Ele era autônomo e, poucos meses após realizar a capacitação, recebeu um convite que mudou seus planos. Deixou a antiga ocupação e foi trabalhar em uma empresa de pulverização agrícola. “O curso é completo. Senti o profissionalismo e a dedicação de todos os envolvidos. Sempre fui apaixonado por tecnologia e a oportunidade de conhecer mais a fundo foi uma experiência fantástica”, disse. Adauto relata que aprendeu muito mais do que imaginava. “O uso desse equipamento era novo para mim. Vejo na prática muita coisa do que aprendi, como as medidas de segurança, as condições climáticas necessárias para se fazer um voo, entre outros detalhes que fazem a diferença”.

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O CURSO A capacitação tem dois módulos. O primeiro aborda evolução da tecnologia dos drones, componentes da aeronave, simulador de voo, legislações e normas de segurança para operação, riscos na operação e técnicas avançadas de pilotagem manual. O segundo destaca as aplicações, mosaico e ortomosaico, planejamento de voo, processamento e interpretação de imagens e aplicação da tecnologia. O Analista Educacional e responsável pelos cursos de Formação Profissional Rural (FPR) do Senar/MS, Carlos Geraldo, aponta que o equipamento tem inúmeras aplicações no setor. Na agricultura, por exemplo: demarcar e acompanhar áreas de plantio, identificar falhas, pragas e excesso ou falta de irrigação. Na pecuária: em diagnósticos e mapeamentos para o manejo ambiental e de pastagem, possibilitando mais eficiência no controle do estoque animal e da rastreabilidade do rebanho. “Seu uso desempenha um papel crucial na modernização do agro, tornando-o mais eficiente, sustentável e rentável. Os equipamentos proporcionam aos produtores meios que facilitam a tomada de decisão, fundamentada e baseada em fatos”, detalha, completando que, para a operação de drone, a certificação é essencial. Para participar deste e de outros cursos do Senar/MS procure o Sindicato Rural do seu município.


Meio Ambiente CADASTRO AMBIENTAL RURAL CERTIFICA TRABALHO DE PRESERVAÇÃO DO PRODUTOR

E

IMAGEM: DIVULGAÇÃO/CNA

star em conformidade com a conclusão da análise pelo instituto”, produtores conservam seus patrimôLei demanda uma série de mepontua Ana Beatriz. nios rurais, de modo que toda a comudidas. Desde 2012, produtores Os dados do Imasul apontam que nidade se beneficia”, explica Daniele. rurais de todo Brasil devem inscrever 63,7 mil inscrições no CAR já “Entre outros benefícios, o imóveis no Cadastro Ambiental Rural foram feitas no estado. Após CAR possibilita a conver(CAR), um registro obrigatório para a comparação de dados, são das multas em serintegrar as informações ambientais das o sistema encontrou viços de preservação, propriedades. mais de 46 mil inscrimelhoria e recuperaEm Mato Grosso do Sul, o CAR é feições que aguardam ção da qualidade do to pela internet, por meio da plataforma verificação e manifesmeio ambiente, reguSiriema, do Instituto de Meio Ambiente tação do proprietário larização do uso de de Mato Grosso do Sul (Imasul). O capara finalização do áreas rurais consoliAna Beatriz de Melo, dastramento é feito a partir de dados e procedimento. dadas, acesso ao crédiconsultora técnica da Famasul documentos obrigatórios para diagnosA Famasul trabalha to agrícola e a programas ticar a situação da propriedade e permicom os sindicatos rurais de incentivo à produção e tir depois a regularização de eventuais para aumentar o número de cacomercialização”, detalha Ana passivos ambientais, como explicam as dastros validados, já que a verificação Beatriz. consultoras técnicas da Famasul, Ana consolida a conformidade ambiental As técnicas da Famasul ressaltam Beatriz Paiva Sá Earp de Melo e das propriedades e confere seque, desde junho deste ano, o governo Daniele Coelho Marques. gurança jurídica aos produfederal estendeu o prazo para que os “Atualmente a maioria tores. proprietários façam sua inscrição no dos cadastros é exa“O CAR foi criado CAR e a adesão ao Programa de Reguminada pela análise como forma de idenlarização Ambiental (PRA): dinamizada, a qual, tificar a situação da *Área acima de 4 módulos fiscais até de forma automática, vegetação nativa no o dia 31 de dezembro de 2023; compara as informaBrasil, possibilitar o *Área de até 4 módulos fiscais ou ções fornecidas pelo intercâmbio de inforque atendam ao disposto no art. 3º da Daniele Coelho Marques, proprietário do imóvel mações para regulariLei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, consultora técnica da com o banco de dados zação de passivos amaté o dia 31 de dezembro de 2025. Famasul do Imasul. A validação do bientais e para se ter um Para consultar o andamento da CAR ocorre somente quando ambiente único e transparente análise do CAR, basta acessar o site: a inscrição no CAR for aprovada após que mostrasse ao mundo o quanto os https://siriema.imasul.ms.gov.br/

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Meio Ambiente Em quase 300 anos, pantaneiros ensinam como conciliar a produção com a preservação ambiental

H

convivência

centenária

á aproximadamente 300 anos, o produtor rural cria gado no Pantanal. Usa as pastagens naturais da planície, renovadas anualmente pelo ciclo das águas, para alimentar seu rebanho. Bois e vacas dividem o pasto nativo com capivaras, veados e outros animais típicos do bioma. Ao mesmo tempo em que utiliza de forma sustentável esse recurso natural, o pantaneiro luta pela preservação e zela pela fauna e flora, porque sabe que depende desse complexo ecossistema, do qual também faz parte, para a sua sobrevivência. Uma simbiose perfeita entre a produção e sustentabilidade, que serve de exemplo para o mundo. Não é à toa, que estudo de cinco organizações não-governamentais (ONGs): WWF-Brasil, Ecoa, Avina, SOS Pantanal e Conservação Internacional (CI), tendo a Embrapa Pantanal como consultora, apontou que 87% da vegetação nativa da região está intacta, e que o bioma é o mais preservado do país. Outro estudo, do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), classifica o Panta-

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nal como o bioma brasileiro de maior fauna preservada. O trabalho aponta que, de todas as espécies catalogadas na região, 93,7% têm alto nível de preservação. “O maior interessado na longevidade do bioma é o produtor rural, pois somente assim é possível garantir a continuidade da atividade e o futuro das novas gerações. Quando falamos em sustentabilidade temos que considerar além do aspecto ambiental, como também o desenvolvimento social e o econômico da região, como apontam os conceitos de ESG. Nesse sentido, a conservação do meio ambiente se faz necessária com a presença do pantaneiro e da pecuária. Em 300 anos de história e de convívio, o boi foi integrado à fauna local”, aponta o presidente do Sistema Famasul, Marcelo Bertoni. Ele cita como exemplo da harmonia entre o homem e o meio ambiente na região, o fato de que 97% do território do bioma está em propriedades privadas. “Quem preserva o Pantanal é o produtor. Ele se preocupa tanto que muitas propriedades possuem brigadas e realizam o primeiro combate a incêndios florestais. Além disso,


abrigam e apoiam bombeiros e brigadistas em situações de combate ao fogo e utilizam técnicas e manejos, como, por exemplo, o transporte do gado por comitivas e a queima controlada, para reduzir riscos ambientais”. O presidente do Sistema Famasul comenta que produzir e preservar é um desafio constante. “Exige conhecimento técnico, pesquisa e, principalmente, experiência e sabedoria prática. Isso os pantaneiros têm como ponto forte, pois em um ambiente ora seco, ora alagado, a ciência caminha junto com a vivência prática. Ao mesmo tempo, o uso de novas tecnologias como a inseminação artificial em tempo fi xo (IATF), o melhoramento genético, o geoprocessamento e os softwares de gestão, possibilitam produzir com mais eficiência e rentabilidade”. Tendo a ciência como parceira, Bertoni diz que os pantaneiros têm uma relação muito boa com as entidades que estudam o local. “Diversas propriedades rurais já foram utilizadas como locais de pesquisa de instituições que atuam na região, como a Embrapa Pantanal, UFMS e UEMS, além de terem contribuído com as suas demandas para o direcionamento da pesquisa. No Pantanal vale a máxima que a ciência e a vivência devem caminhar juntas”. Com as práticas conservacionistas adotadas pelos produtores, ele diz que

o turismo rural, que mostra as belezas cultura de Corte, 35; Horticultura, 55; naturais da região e o cotidiano das Agroindústria, 17; Piscicultura, 17, e propriedades, tem se tornando uma Ovinocultura, 3. Além disso, já foram importante alternativa econômica. formados mais de 100 profissionais “O turismo rural no Pantanal é recom o Curso Técnico em Agronegócio sultado direto do trabalho sustentável e somente em 2022 foram oferecidas dos pantaneiros que asseguraram a 64 capacitações do Senar/MS, em espreservação da fauna e flora. Alguns pecial a de Prevenção e Combate a Inprodutores, que já contavam com boa cêndios em Propriedades Rurais, que infraestrutura e facilidade de faz parte do Viva Pantanal. acesso às propriedades, Bertoni diz que a entiestão aproveitando dade participa das disessa oportunidade cussões conduzidas de agregar uma pelo governo de nova fonte de reMato Grosso do ceita. A atividaSul para a elade pode crescer boração da lei ainda mais, tem para a explorapotencial, mas ção sustentável precisamos de e preservação parcerias para do Pantanal. melhorar a logísti“Como fez à época Marcelo Bertoni, presidente do Sistema ca e capacitar a mão do Decreto de 2015, Famasul de obra local”. o Sistema Famasul Para contribuir com contribui ativamente na o desenvolvimento sustentáargumentação e com dados técvel da região, o Sistema Famasul tem nicos, ambientais e econômicos para atuação robusta na área. Entres os subsidiar o debate. Com os sindicatos destaques estão os programas de Asrurais, participa de audiências públisistência Técnica e Gerencial – ATeG, cas na Assembleia Legislativa e nas do Senar/MS. O do Pantanal atende câmaras municipais, sendo porta-voz 12 propriedades de pecuária de corte do produtor rural. O objetivo é consdiretamente no bioma. Nos arredores cientizar os parlamentares e opinião de cidades pantaneiras e no entorno, pública da importância econômica e outras atividades são beneficiadas: social da produção pecuária no bioBovinocultura de Leite, 60; Bovinoma”, conclui. SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 11


Roda de Tereré

FILHO DE PEIXE, PEIXINHO É! T

em um ditado popular muito comum para descrever familiares que possuem características parecidas, profissões iguais e até mesmo semelhanças no jeito de lidar com a vida: “Filho de peixe, peixinho é!”. Desde muito cedo, Rafael José de Assunção, 30 anos, já sabia que a terra, a pecuária e o trabalho no campo fariam parte de sua trajetória. A paixão dele pelo agro não veio do nada, o grande inspirador foi o pai, Célio Assunção, que é administrador rural. Rafael, zootecnista e técnico de campo da ATeG Bovinocultura de Corte do Senar/MS, lembra com carinho de toda a história de amor e dedicação do pai pelo setor. Ele diz que quando tinha apenas três meses toda a família se mudou de Jateí para Bataguassu, para que o pai assumisse a gestão de uma propriedade rural na área da pecuária. A mudança, rumo ao desconhecido, foi preponderante em seu caminho. “Meu pai já trabalhava para a mesma família, então houve a oportunidade para ele ir para Bataguassu. Na ida foi só eu, meu pai e minha mãe, sem parentes, sem ninguém mais. Nós fomos na cara e na coragem. A partir disso construímos a nossa vida. O mato sempre foi minha paixão. Esse sentimento é em razão de eu ter nascido neste lugar, crescer e me formar junto ao campo”, comenta Rafael. No meio da terra e do gado, Rafael começou a dar os primeiros passos no agro. Ainda criança, a escola agrícola “abriu a porteira” para o conhecimento sobre o campo. Entre as aulas, disciplinas sobre a lida diária na propriedade rural eram expostas. Se no colégio o menino tinha a teoria sobre a produção e o trabalho no campo, em casa ele tinha a vivência prática e a experiência compartilhadas em cada conversa com o pai. Com 15 anos, a escola agrícola formou o então jovem para as possibilidades que ele enfrentaria no campo. As aulas não eram em Bataguassu, mas sim em Presi-

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Trabalhador rural que viu o filho se tornar zootecnista fala sobre como as instituições atuam pela permanência das novas gerações na área rural

dente Prudente, interior de São Paulo, e a duas horas de distância da propriedade rural em que a família trabalhava. Seo Célio lembra com emoção do esforço do filho para estudar. “Criei ele na roça, como eu fui criado. Desde pequeno ele ama cavalo. Por ele, nem ia para a escola, ia para a lida comigo. Mas a mãe sempre fez questão dos estudos. Tanto é que hoje ele é o nosso orgulho”. DO ENSINO MÉDIO À FACULDADE Assim que saiu do ensino médio, Rafael foi procurar emprego. A faculdade, um sonho sempre presente, teve que ser adiado. “Eu e minha família não tínhamos condições financeiras para que eu entrasse na faculdade. Então tive que ir trabalhar primeiro, fui buscar o recurso financeiro para fazer a faculdade”, relembra o zootecnista. O curso superior teve que ser conciliado com o trabalho. “Lembro bem da minha faculdade. Sai da fazenda em Bataguassu e fui para São Paulo. Estudava e ao mesmo tempo trabalhava em uma propriedade rural da região. Era de dia na fazenda e à noite na faculdade. Foram cinco anos dessa forma, foi ralado! Saía todo dia cedo, ia para fazenda, fazia minha própria comida, levava marmita. Trabalhava na parte de inseminação. Era um leão por dia!”, recorda. Rafael conta que foram cinco anos nessa jornada dupla. Tudo para conseguir o tão sonhado diploma. No coração, além do desejo de seguir os passos do pai e permanecer no campo, queria crescer, conciliar a teoria que havia apreendido com o saber da experiência do dia a dia, além de oferecer melhores condições de vida para a família. Após se formar, Rafael voltou para a propriedade que o pai gerenciava, mas para trabalhar como zootecnista, cuidando da sanidade do rebanho. “Eu nunca me vi em outra atividade. Eu já tentei me imaginar fazendo outras coisas, executando outras SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 13


Roda de Tereré atividades, outras áreas, como, por exemplo, fazer concurso para a polícia, essas coisas, sabe? Mas não passa de imaginação. Sempre fui aquilo que o campo sou. Eu sempre falo para o meu pai que a gente acorda e respira a pecuária todo dia”. PAI, FILHO, NETO... Depois de um tempo trabalhando com o pai, ele resolveu entrar para o time do Senar/MS. “Um dia, um técnico do Senar/MS apareceu na propriedade, em Bataguassu. Conversa vai, conversa vem, conheci mais sobre o trabalho que a entidade desenvolvia e as possibilidades que oferecia”. Naquele momento, o zootecnista buscou um novo sentido para a profissão, o de ajudar outros produtores rurais. “Tive essa vontade de trabalhar como técnico de campo. Deste modo eu posso ajudar os produtores rurais. Passei no processo seletivo e comecei a atuar aqui na minha região. Além de ajudar meu pai, orientar outras pessoas a dar continuidade ao trabalho no campo, de forma mais saudável e sustentável. Muitas pessoas querem que a família continue no campo. Mas outras, querem trilhar um caminho diferente, mas quando você consegue trabalhar bem a propriedade, produzir bem, as novas gerações têm um incentivo a mais para continuar”. Na propriedade em que trabalha, seu Célio continua a receber as orientações do filho, agora como técnico do Senar/MS. É Rafael que orienta sobre a reforma da pastagem e o melhoramento genético dos animais, além de auxiliar no planejamento e na gestão da propriedade. “Tem sido muito bom ter o Rafael aqui ajudando. E é um

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orgulho. Só de pensar tudo o que enfrentei para conseguir essa formação do meu filho, é uma emoção enorme”, diz o administrador rural. Unir a paixão pelo campo e a possibilidade de ajudar outras pessoas foi uma verdadeira virada na vida de Rafael. Estar na propriedade rural junto ao pai, ajudá-lo e compartilhar os aprendizados sempre foi o desejo do zootecnista. Entretanto, ampliar o conhecimento e ver a mudança de outros empresários rurais a partir das visitas técnicas do Senar/MS, trouxeram um sentido a mais para a profissão. Fazer com que outros jovens entendam o negócio rural como algo rentável, possível e de sucesso é o novo objetivo do técnico. “O Senar/MS foi uma virada de chave. Tinha um cenário de massa, uma grande parcela da população da área rural sem o conhecimento certo para desenvolver as técnicas. Muitos jovens deixavam as fazendas da família por isso. A metodologia trabalha de uma forma muito importante para dar a certeza de que o campo é uma escolha viável e que pode sim passar de geração em geração. O campo é o meu lugar, quero continuar no campo”. A exemplo de seu Célio, Rafael transmite agora ao seu filho a paixão pelo campo. “O meu sonho é passar tudo que sei para o meu filho também, assim como meu pai fez comigo. Trago meu filho para fazenda, brinco com ele na terra. Faço isso para ele realmente se envolver nesse amor, com essa mesma paixão que eu tenho. E hoje eu sou feliz como pessoa. A gente vê realmente nosso esforço dando certo: acordo cedo, pego o carro e vou trabalhar para a minha família”.


Porteira do Conhecimento

C senar/ms: PARCEIRO DO CONHECIMENTO NO CAMPO

hegar ao mercado, ler rótulos das embalagens dos alimentos e entender a diferença entre um produto e outro. Saber diferenciar os preços. Assistir algum conteúdo com legenda. Pegar um livro, revista, jornal e folheá-los, compreender o que está escrito. Essas atitudes, rotineiras e quase automáticas para quem sabe juntar as letras em palavras e as palavras em frases, são verdadeiros desafios para quem não teve a oportunidade de aprender. No Brasil, 9,8 milhões de pessoas maiores de 15 anos não são alfabetizadas, segundo os dados mais atualizados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Em Mato Grosso do Sul, a taxa de analfabetismo é de 4%, segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua). Com o recorte para a comunidade rural, os dados apresentam uma desigualdade severa. Os últimos números que refletem a situação no campo são também do IBGE, de 2007. Naquela época, 23% da população agrária era analfabeta. No mesmo ano, a taxa nas cidades chegava aos 4,4%. Na luta pela equidade desta balança, o Senar/MS (Serviço de Aprendizagem Rural em Mato Grosso do Sul) apresenta várias frentes de ação. Para ajudar com que as pessoas saibam ler, escrever e fazer operações básicas de matemática, o parceiro é o Programa Despertando. Para aqueles que já são alfabetizados e precisam de um ensino personalizado, ou que buscam aperfeiçoamento ou até mesmo aprender uma nova profissão, de forma rápida, são várias alternativas oferecidas pelo Senar/MS, entre elas os cursos de Ensino a Distância (EaD). SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 15


Porteira do Conhecimento AUTONOMIA A analista educacional e responsável pelo programa Despertando, Arilaine Pessoa, comenta que a maioria dos alunos que chegam às salas de aula são pessoas que deixaram os estudos de lado para focar na família e no emprego. Entretanto, nesse retorno, os alunos também voltam com o sentimento de que alguma coisa estava faltando. Com giz, lousa e os cadernos em mãos, os produtores rurais encontram um novo horizonte ao verem as possibilidades da leitura e da escrita. “Antes de ingressarem em nosso programa, muitos deles sequer cogitaram a possibilidade de buscar mais conhecimento ou participar de cursos adicionais devido às limitações impostas pela falta de alfabetização. A maioria dos nossos alunos expressa que a falta de habilidades de leitura e escrita atrasou e complicou suas vidas, apesar de terem trabalhado e constituído famílias. Sempre carregaram consigo um sentimento de que algo crucial estava faltando”, frisa Arilaine. Ela aponta que após a alfabetização os participantes passam a ver o mundo de outra maneira. “Agora eles têm consciência de que estão enxergando o mundo com novos olhos, e que um horizonte de possibilidades se abriu diante deles, permitindo que construam novos sonhos e aspirações. Agora, os alunos estão ansiosos para aprimorar suas habilidades em diversas áreas e contribuir ativamente para suas comunidades”. O Programa Despertando atua de forma contínua nas comunidades de Mato Grosso do Sul. Arilaine explica que o foco do grupo é levar o conhecimento para pessoas que

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estão afastadas, em regiões em que a internet é de difícil acesso e que o ensino presencial é a única opção. Ao todo, o curso possui 243 horas, as aulas são realizadas no período noturno e três vezes por semana. “A primeira ação fundamental é o atendimento em sala de aula, que envolve o acolhimento e a personalização do processo de ensino. Nossas turmas são compostas por apenas 10 alunos, o que permite que os instrutores possam dedicar atenção individualizada a cada um, compreendendo suas limitações e avanços de maneira precisa. As turmas são organizadas considerando a localização geográfica da demanda, garantindo assim um acesso facilitado às aulas”, destacou a analista educacional. Uma das alunas mais recentes é a produtora rural Ivanilda Máximo, de 55 anos. Sem saber ler e escrever, as dificuldades eram diárias e em atividades que até parecem comuns. Sem entender os preços dos produtos ou identificar os rótulos, as idas aos supermercados eram sempre acompanhadas de outra pessoa. O Programa Despertar foi a mão amiga para o início do processo de autonomia. “Eu não sabia ler e nem escrever, tinha essa dificuldade e queria vencer. Sempre foi meu sonho. Eu estou muito feliz com a oportunidade. Antes do curso eu não sabia nada. Hoje, consigo ir ao mercado, sei ler os rótulos dos produtos, sei os preços das coisas, sei ler e escrever. Essa foi a maior mudança. Só consegui realizar meu sonho através do Despertando, do Senar/MS”, relata, emocionada. Arilaine estende o sentimento de Ivanilda aos outros alunos. Para a especialista, a autonomia em fazer algo que parece simples é um passo muito grande no processo de aprendizagem.


“Para aqueles que aprenderam a ler teve que se transformar em produtora lizar e buscar o conhecimento para eu e escrever na idade apropriada, é fácil rural quase do dia para noite. tocar a parte administrativa das prosubestimar o impacto limitante Há dois anos, Eliane teve que priedades. Já fi z vários cursos, agora da falta dessas habilidades. lidar com a morte do pai, quero continuar estudando e assumir No entanto, muitos de que era o alicerce da famesmo aquilo que meu pai queria, nossos alunos comparmília e quem cuidava junto do meu irmão”. tilham histórias que dos negócios rurais. Os cursos de Ensino a Distância destacam a imensa Assim que o inven(EaD) do Senar/MS foram o combo importância da autário foi divulgado, perfeito para a necessidade de Eliane. tonomia que adquia surpresa surgiu. Formação integrada, rápida e eficaz firiram, permitindoAs propriedades, fozeram com que a engenheira escolhes-lhes realizar tarefas cadas na pecuária, se as capacitações. Produtora rural Ivanilda Máximo, de 55 anos simples, como sacar dideveriam ser adminis“Estou absorvendo tudo que o nheiro no banco, algo que tradas e tocadas por ela e Senar/MS pode me proporcionar de coantes dependia de terceiros. o irmão. nhecimento sobre a pecuária. Faço um Para algumas alunas, o simples ato Eliane se viu no escuro, sem excurso e já entro em outro. Eu precisava de sentar e ler a Bíblia representa um periências com a vida no campo, com entender este novo mundo de forma sonho realizado”, finaliza Arilaine. a administração de negócio rápida. O EaD me possibilitou rural, o conhecimento foi isso, até mesmo porque NO LUTO, CONHECIMENTO acalento para o luto e tenho que administrar FOI ABRIGO possibilidade para se a fazenda que fica em O campo não era a primeira alternaestruturar intelectuRio Negro e eu moro tiva. A engenharia elétrica foi a opção almente. em Campo Grande. da Eliane Muniz. Filha de produtores “Na divisão dos Tudo isso me ajudou rurais, cuidar da fazenda dos pais era bens eu me vi fazena viver meu luto, me algo muito distante. O irmão, que tideira. Como não tideu segurança para Produtora Eliane nha mais afinidade com lida rural, era nha conhecimento na encarar a nova realidaMuniz e o pai quem ajudava e tinha mais traquejo área, fui atrás. A posside e eu estou gostando nas escolhas da propriedade. Porém, bilidade mais rápida foram cada vez mais. Hoje, meu um baque repentino mudou o rumo os cursos de ensino a distância plano é sair da minha profissão da história da engenheira elétrica, que do Senar/MS. Eu resolvi me especiade engenheira e virar produtora rural”.

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Mercado

Agro de MS ajusta rota para o

Corredor Bioceânico O

agro de Mato Grosso do Sul já ajusta a rota a passo das operações até a negociação com os clientes para aproveitar toda a potencialidade do Corde outros países. redor Bioceânico. A megaestrada vai ligar o Ela comenta que o os participantes ainda contam oceânico Atlântico, no Brasil, ao Pacífico, no Chile, com uma consultoria que os acompanha em cada etacruzando os territórios do Paraguai e da Argentina. pa do processo, da preparação da documentação até a Mato Grosso do Sul tem um papel estratégico no adequação dos produtos, e têm a oportunidade de pardesenvolvimento da Rota da Integração Latino-Ameriticipar de rodadas de negócios e feiras internacionais. cana (RILA) ou Rota Bioceânica, como também é chaEntre os produtos “Made in MS” que podem ganhar mada a rodovia. Porto Murtinho, no sudoeste do estaespaço no comércio exterior com a rota, ela cita os do do, é a porta de entrada e saída do Brasil no corredor. complexo carnes, o que inclui as proteínas bovina, su“O agro do estado já iniciou a preparação para a ína, de aves e o pescado; a celulose, o mel, farináceos, chegada da rota. O setor tem feito articulações com os frutas e seus derivados (doces, compotas e geleias), governos do estado e federal para trabalhos de manualimentos oriundos da mandioca (fécula e tapioca) e tenção e melhorias nas rodovias que integram o coros provindos do milho (amido e fubá), além de sucos, redor”, aponta Nathália Alves, coordenadora do temperos e especiarias. Agro.BR em Mato Grosso do Sul. “Com a rota, Mato Grosso do Sul passaO Agro.BR é um programa da Conrá a ser o corredor central no fluxo de federação Nacional da Agricultura pessoas, mercadorias e serviços. Vai e Pecuária do Brasil (CNA) e da diminuir não só as distâncias dos Apex Brasil, voltado para fomennossos produtos para os países tar as exportações da agropecuasiáticos, como a China, Coreia ária nacional. No estado, conta do Sul e Taiwan, mas também com apoio do Sistema Famasul. para os mercados norte-ameEla diz que além disso, o próricano e da Oceania, além de prio Sistema Famasul, por meio possibilitar uma maior conexão do Senar/MS, tem realizado die comércio de produtos e serviNathália Alves, coordenadora versos eventos, como workshops ços com nossos vizinhos. Apenas do Agro.BR em MS e palestras, para apresentar a rota, com esse encurtamento da distânseus impactos e vantagens aos producia, os produtos sul-mato-grossenses tores rurais. Em paralelo, tem estimulado já vão ganhar muita competitividade em a produção de alimentos das cidades próximas relação aos de outros países e até mesmo de a Porto Murtinho, já visando o aumento de demanda outros estados brasileiros”. na região, tanto para o consumo local, quanto para a Além desse incremento, o corredor deve ser uma venda para o exterior. importante ferramenta de integração cultural e turístiJá com o Agro.BR, Nathália diz que estão sendo ca entre os quatro países por onde passa. atendidos 55 pequenos e médios produtores, agroindústrias e cooperativas agrícolas. O objetivo é preparar OBRAS ACELERADAS as empresas rurais e seus produtos para a exportação, Entre Porto Murtinho e a cidade de Carmelo Peralpor meio de capacitações que ensinam desde o passo ta, no Paraguai, está sendo construída uma estrutura

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que é fundamental para a rota, a Ponte da Bioceânica. Atualmente, a ligação entre os dois países na região é feita somente por balsas, o que limita o transporte de cargas. A administração paraguaia de Itaipu Binacional está investindo R$ 575,5 milhões na obra, que já está 40% concluída. A previsão é que seja entregue em 2025. Além dessa obra, do lado brasileiro, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) abriu licitação para a elaboração do projeto e a execução da construção do acesso à ponte, do contorno rodoviário de Porto Murtinho na BR-267 e do centro aduaneiro de controle de fronteira. O investimento deve ficar entre R$ 400 milhões e R$ 480 milhões. Quando o corredor estiver em operação, dentro de dois anos, um estudo da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), do governo federal, aponta que a megaes-

trada encurtará em mais de 9,7 mil quilômetros de rota marítima a distância nas exportações brasileiras para a Ásia. Em uma viagem para a China, por exemplo, pode reduzir em 23% o tempo, cerca de 12 dias a menos. O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, destaca que a rota é um projeto estratégico e prioritário para o governo de Mato Grosso do Sul. Ele aponta que o corredor deve mudar a geopolítica nacional. “Vamos redirecionar cargas que atualmente estão indo para os portos de Paranaguá e de Santos, para os portos chilenos de Iquique e Antofagasta. Da mesma forma, vamos conseguir trazer produtos asiáticos, chilenos e argentinos para o Brasil. Temos uma grande oportunidade para transformar o estado em um hub logístico de entrada e saída de produtos”, analisa.

BRASIL BOLÍVIA

CAMPO GRANDE

IQUIQUE ANTOFAGASTA

PARAGUAI

SANTOS

CHILE

OCEANO PACÍFICO

OCEANO ATLÂNTICO

N

O

ARGENTINA

E

S

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Tendências de Mercado Os analistas técnicos do Sistema Famasul retratam o panorama atual de produtos do agro e as tendências baseadas nos principais indicadores e propensões de mercado. BOVINOCULTURA DE CORTE Os primeiros nove meses do ano exigiram resiliência na atividade. Os abates caíram 9% e o preço 16%, mas o custo de produção retrocedeu 9%, o que diminuiu o impacto no faturamento. No último trimestre, indicativo de melhora. Consumo interno aquecido e diminuição de abates devem elevar o preço da arroba. Exportações ajudam a escoar produção, mas valores estão 15% abaixo de 2022.

AVICULTURA - A flexibilidade da produção estruturou o volume para ser compatível à demanda e fez frente à tendência baixista. O abate seguiu próximo ao de 2022 e as exportações ajudaram no escoamento. A perspectiva para o quarto trimestre era: oferta ajustada (viés de baixa), preços estáveis e mercado externo promissor. Mas o caso de influenza aviária em criação doméstica de Bonito gerou incerteza.

SUINOCULTURA - Cenário estável nos nove meses de 2023, com produção e abates crescendo. O preço ao produtor foi pressionado para baixo a partir do segundo trimestre, mas não apresentou significativas variações. A expectativa para os últimos três meses do ano é otimista, com perspectiva de aumento de consumo, o que contribui para melhorar a precificação pelo animal e estimula a produção.

BOVINOCULTURA DE LEITE - A partir do terceiro trimestre sofreu com queda nos preços (15,45% frente a 2022) e redução do volume captado pelas indústrias (14% diante dos três meses anteriores). A baixa remuneração e as importações de lácteos têm inviabilizado a recuperação do setor. A curto prazo sem perspectiva de reversão, porque o aumento da produção nos próximos meses deve pressionar ainda mais os preços.

SOJA - Nova safra deve ter área plantada de 4,2 milhões de hectares (6,5% a mais que ciclo passado), produtividade de 54 sacas por hectare e produção de 13,8 milhões de toneladas. Estado é o quarto maior exportador nacional e China o principal comprador (66,4% da produção estadual). Excesso de oferta no mercado internacional pressionou preços locais, provocando queda de 25%.

MILHO - Com 2,3 milhões de hectares de área cultivada e produtividade de 80,3 sacas por hectare, segunda safra deve atingir 11,2 milhões de toneladas. A produção recorde no Brasil e EUA deve pressionar os preços, que já caíram 45% na comparação com 2022. Terceiro no ranking de exportações do grão, o estado tem nos países asiáticos os principais compradores: Japão, Vietnã e Coreia do Sul.

SUCROENERGÉTICO - Mato Grosso do Sul tem 18 usinas, sendo 10 mistas (etanol e açúcar) e 8 destilarias (7 de etanol de cana e 1 de milho). A cana ocupa 869 mil hectares em 42 municípios. Com alta de 5% no preço médio do ATR o cenário 2023 é positivo para o setor, tanto que o complexo sucroenergético do estado exportou US$ 385 milhões esse ano, sendo 94,5% da receita vinda da venda de açúcar.

FLORESTAS PLANTADAS - O estado tem 1,2 milhão de hectares com eucalipto (72 municípios). O maciço se concentra na Costa Leste, onde estão três fábricas de celulose. Já o cultivo de seringueira ocupa 22,6 mil hectares, em 29 cidades. A concentração é no Nordeste. As exportações de produtos florestais cresceram 0,78% esse ano, chegando a US$ 884,2 milhões. A China foi a grande compradora.

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Dedo de Prosa JOSÉ LUIZ TEJON “TEMOS OS SONHOS DE CONSUMO PLANETÁRIO, UM BRASIL COM RESERVAS AMBIENTAIS ESPETACULARES, PODENDO MULTIPLICAR SUA OFERTA DE ALIMENTOS EM TUDO SEM ARRANCAR UMA SÓ ÁRVORE”

J

ornalista, publicitário, professor, escritor, doutor em Educação, consultor, conselheiro e conferencista internacional. A trajetória profissional de José Luiz Tejon é impressionante e faz dele uma das maiores autoridades do país nas áreas de vendas, liderança, motivação, superação e marketing em agronegócio. Entretanto, é ao conhecer sua história de vida que suas realizações ganham uma dimensão ainda maior. Nascido em Santos (SP), ele foi adotado em seu primeiro ano de vida por imigrantes europeus e aos 4 anos sofreu um acidente doméstico que provocou uma queimadura de terceiro grau em seu rosto. Passou 14 anos semi-internado em hospitais públicos. Como não pode estudar em escolas convencionais, compensou com muita dedicação os estudos em um colégio para crianças especiais do hospital em que ficou. Entre autoria e coautoria tem 35 livros publicados e já vendeu mais de 600 mil exemplares. Em 15 anos como palestrante, já foi visto por mais de 600 mil pessoas em 4 países diferentes. Entre os cargos que já ocupou foi diretor-geral da Oesp Mídia do grupo O Estado de SP e diretor da Agroceres e da Jacto, entre outros. É articulista de diversas mídias: Estadão online, Feed&Food, Cães&Gatos, Jornal A tarde/BA, Jornal O liberal/PA e Canal Rural. Entre os diversos prêmios que conquistou estão o Top de Marketing da ADVB e o Troféu Great Key Speaker pela Olmix, na França. É integrante do Hall da Fama da Academia Brasileira de Marketing, já foi eleito pela Revista IstoÉ Dinheiro Rural uma das 100 personalidades mais influentes do agribusiness e homenageado pela Massey Ferguson como destaque no agrojornalismo brasileiro. Nesta entrevista à Revista Famasul, ele analisa a comunicação do setor, o modelo de sucesso do agro brasileiro, como o setor se tornou mais resiliente com as dificuldades e aponta que existe em Mato Grosso do Sul uma visão integrada de todo o setor produtivo em busca da sustentabilidade. SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 21


Dedo de Prosa

“AS LIDERANÇAS PRECISAM SE REUNIR PARA ORGANIZAR A ECONOMIA DO AGRO, E DEIXAR DE LADO A GUERRA DAS ‘EGONOMIAS’”

O senhor é considerado o maior especialista em marketing rural no Brasil. O setor é um dos principais da economia nacional. Muitas vezes carregou o PIB e a balança comercial do país nas costas. A comunicação do segmento com a sociedade brasileira reflete essa importância na sua opinião? Tejon: A comunicação do setor não é organizada e administrada, portanto, não faz parte de um planejamento estratégico das relações humanas dos vários elos do sistema do agronegócio com a população. Dessa forma é errática, agindo conforme as situações. Porém, quando uma cadeia produtiva se organiza, ela consegue resultados demonstráveis como, no exemplo, da carne suína que, desde 2010, atuando junto aos supermercados brasileiros para elevar a consciência do cidadão consumidor, conseguiu dobrar o consumo per capita da categoria em cerca de 12 anos. E quais as dificuldades para que essa comunicação seja mais fluída, mais direta e com uma mensagem mais clara? Tejon: Planejamento estratégico identificando as percepções existentes hoje em distintos agentes (stakeholders) e atuando com a comunicação educadora objetivando obter percepção

positiva sobre realidades positivas não percebidas. E externamente? A imagem da produção agropecuária brasileira ainda carrega estereótipos que desvalorizam o setor? Tejon: Estamos realizando agora uma pesquisa de percepção na Europa, França, Alemanha, Reino Unido e República Tcheca. Vamos ver o que vira deste estudo. Aí poderemos avaliar com fundamentos técnicos. A pesquisa será apresentada no 8º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio em São Paulo. A pesquisa tem patrocínio da Serasa Experian Agro, é realizada pela Onstrategy da Europa e tem apoio da Abag, com a nossa coordenação, Tejon e Biomarketing. Como reverter esse quadro? Tejon: A partir da pesquisa revelando a verdadeira percepção e não aspectos pontuais esparsos, poderemos propor uma estratégia coordenada de comunicação brasileira agro para a Europa, centro difusor e posteriormente analisar outros polos fortes da opinião pública mundial. Em um artigo sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) você apontou que em 2030 o agro será uma montadora “agrotec-

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nológica de sustentabilidade intensiva” e que o líder do setor nesse contexto deverá reunir oito dimensões: coragem, confiança, cooperação, criação, consciência, conquista, correção e caráter. Como preparar as nossas lideranças de hoje do setor para esse futuro que está logo ali, na esquina? Tejon: Sim, o futuro do que estará ocorrendo em 2053 será definido e decidido nesta década em que estamos. Portanto, não temos tempo para perder. Alysson Paolinelli, brilhante e espetacular brasileiro, disse: “Só duas coisas podem nos impedir de assumirmos nosso protagonismo mundial: ideologias e burrice”. Precisamos organizar um planejamento estratégico do “A” do abacate ao “Z” do zebu, integrando universidades, governo e a sociedade civil organizada. Um verdadeiro “design thinking”, uma montadora. As confederações e federações empresariais terão papel relevante nesse plano e implementação estratégica, pois quem faz o PIB acontecer são os empreendedores em ação. Nossas lideranças desde jovens precisam conviver com jovens dos demais continentes. De todos eles. Dou aula para jovens internacionais na França. A reunião multicultural será essencial e vital para qualquer um que queira ser chamado de líder nos próximos 10 anos. Preparar líderes brasileiros para o mundo, com


empatia e consciência do papel único do brasileiro para o bem do planeta. Fizemos a revolução mais importante da história, a revolução tropical agrícola, que permitirá ao cinturão tropical do planeta terra, a todos os seus povos e nações transformar desigualdade, pobreza, fome e miséria em prosperidade. A agricultura tropical brasileira e nossa competência cooperativista são marcos seguros e reais da dimensão brasileira. Potência agroalimentar, energética, ambiental e humana. Nossos líderes precisam compreender os anseios das populações e ouvir sábios como Roberto Rodrigues: “Somos país da paz, pois alimento é paz!”. Neste mesmo artigo você indica que o Brasil será uma plataforma mundial de segurança alimentar e da sustentabilidade e que será um agente fundamental para que se obtenha êxito nos 17 ODSs. Ano a ano a produção agropecuária do país cresce, assim como os investimentos e a preocupação com a sustentabilidade. Mas a chegada a esse objetivo ainda parece um tanto distante. Quais são as dificuldades para atingi-lo? Tejon: Nós já os temos. Já somos. Dr. Ratan Lal, prêmio Nobel da Paz, cientista indiano radicado nos Estados Unidos, afirma: “O modelo brasileiro precisa ser adaptado a todos os países do mundo; criaram solos, são regenerativos”. O Brasil conseguiu superar até a parábola do semeador, que explicava não ser prudente, nem inteligente semear em terras fracas …e o Brasil conseguiu criar solos férteis para semear as boas sementes. Temos um ativo de realidades que são positivas e superiores às nossas imperfeições. Não sabemos dar luz ao que aperfeiçoamos, então ficamos com a percepção que não nos impulsiona e tão pouco inspira, uma percepção de “patinho feio”, a fábula de Hans Christian Andersen. Mas, na verdade, já somos cisnes. Há muito a fazer, mas conhecemos o caminho dessa jornada.

mos anos, seja por fatores climáticos, falta de crédito, baixa remuneração dos produtos, entre outros, ajudou a desenvolver a resiliência e a ensinar os produtores a enfrentar e a superar as adversidades? Tejon: Sim, as crises forjam seres humanos com o dom do caráter corajoso, a resiliência. A partir de uma crise, quem a enfrentou e superou agradece, pois jamais seria tão forte sem essa experiência. A agropecuária brasileira é resiliente, basta ver que transformamos uma região tropical num celeiro internacional. Imigrantes sofridos aqui chegaram, e se misturaram com os locais. Depois, migrantes partiram para desbravar o Brasil central, nordeste e norte. Com suas mãos, dormindo sob lona de caminhão, que história bela de guerreiros e guerreiras. E hoje temos um paraíso a ser restaurado. Temos os sonhos de

consumo planetário, um Brasil com reservas ambientais espetaculares, podendo multiplicar sua oferta de alimentos em tudo sem arrancar uma só árvore. Muito pelo contrário, com conhecimento agrossilvipastoril, fazendo integração lavoura, pecuária e floresta plantaremos mais árvores ainda. Temos o poder dos novos tempos de uma contabilidade verde até agora invisível que ficará visível, a bioeconomia. E poderemos agregar muito valor a toda originalidade nacional e mais ainda, oferecer ao mundo serviços tecnológicos dos conhecimentos brasileiros agrotropicais. Mas não podemos nos esquecer da necessidade de investimentos nas pesquisas genéticas para cada bioma brasileiro, na agroindustrializacão e, sem dúvida, na inteligência administrativa das cadeias produtivas com ênfase nas competências estratégicas de marketing.

Você diz que o acidente que sofreu quando criança foi decisivo para aprender a lutar e para que se tornasse quem é. No campo, as sucessivas crises que o setor enfrentou nos últiSETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 23


Dedo de Prosa

“VISÃO INTEGRADA ESTRATÉGICA É O RUMO, ADICIONANDO SUSTENTABILIDADE COM CAPITAL AFETIVO NAS RELAÇÕES HUMANAS”

O foco nas batatas quando você era criança o ajudou a prestar atenção no que tinha de ser feito. A não se distrair diante das adversidades. O agro brasileiro já aprendeu essa lição também? Em focar no que é essencial para o desenvolvimento do setor? E o que podemos citar como essencial? Tejon: Ótima pergunta. Não aprendemos não. Desfocamos. Somos vítimas das distrações. Muitos aspectos, alguns com razão, outros sem razão, transformam nosso agro numa torre de Babel com muitas discussões pontuais. E não orquestramos o Sistema Brasileiro do Agro como uma orquestra para tocar uma sinfonia. Ao não fazer isso, cada instrumento toca na sua própria partitura, o que gera não uma sinfonia e sim uma cacofonia. As lideranças precisam se reunir para organizar a economia do agro, e deixar de lado a guerra das “egonomias”. Eu tenho ótimas expectativas com Nilson Leitão no IPA, o Instituto Pensar Agro. Em Mato Grosso do Sul a produção agropecuária é altamente tecnificada,

modelo de sustentabilidade e inovação para o país e tem ainda no Pantanal um exemplo de como é possível conciliar uma atividade econômica com a preservação ambiental. Como o estado pode explorar melhor essa potencialidade no marketing do setor? Tejon: Mato Grosso do Sul tem exemplos extraordinários e ainda uma Embrapa criando ali uma visão espetacular de carne carbono neutro, por exemplo. Tem um trabalho já bem desenvolvido do novilho precoce, tem um bioma apaixonante, o Pantanal, e dentro dele a Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO). Tem uma música extraordinária representada por Almir Sater e também seu filho. Tem um turismo rural fascinante. Possui uma montagem civilizatória única. Eu mesmo acompanho na região de Naviraí, com a Copasul, um trabalho extraordinário do algodão, da mandioca e agora de uma inovação da carne “marsuriana”. Tem o potencial do setor da celulose. Enfim, Mato Grosso do Sul possui realidades efetivas e uma

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senadora que admiro muito hoje, Teresa Cristina, que me chamava atenção por ter tido uma experiência ótima nas secretarias do estado que já integravam agricultura com indústria, serviços e comércio. Essa visão integrada estratégica é o rumo, adicionando sustentabilidade com capital afetivo nas relações humanas. E que as forças das mídias do estado sejam devidamente convocadas para reverberar e atuar na educação positiva e persuasiva para a prosperidade de todos. Parabenizo a Famasul e enfatizo o papel cada vez mais essencial das lideranças dos setores empresariais, ao lado da sociedade civil organizada, de serem os grandes articuladores das visões estratégicas para que governos façam planos de estado, de longo prazo. O Brasil vai dobrar o agro de tamanho até 2035, com sustentabilidade, e vamos criar uma marca brasileira no mundo. Com mais ou menos dores. Seria bom se fosse pela via dos amores. Amar é aperfeiçoar, e para fazer isso precisamos, reunidos, nos organizar. Famasul, coragem e ótimo trabalho.



Assistência Técnica e Gerencial

atendimento diferenciado A

pecuária é uma das principais atividades econômicas de Mato Grosso do Sul. O estado tem o quinto maior rebanho do país com 18,4 milhões de cabeças (PPM 2022, do IBGE) e o segmento responde sozinho por 20,1% do Valor da Produção Agropecuária (VBP) sul-mato-grossense, o que representa R$ 13,983 bilhões. Com essa dimensão, o segmento conta com um atendimento diferenciado do Sistema Famasul. Exemplo é o programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Bovinocultura de Corte, do Senar/MS. Somente entre janeiro e outubro deste ano foram realizadas mais de 13 mil visitas a 1,9 mil propriedades rurais em todo o estado. “Com essa orientação os produtores conseguem ampliar a produtividade, sempre com foco na sustentabilidade, e aprimorar a gestão do empreendimento, conseguindo desse modo melhorar a renda e a qualidade de vida das famílias do campo. Para isso acontecer, contamos com uma equipe de 97 técnicos de campo, 11 supervisores e um coordenador da cadeia”, explica o coordenador dos ATeGs do Senar/MS, Nivaldo Passos.

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ATeG Bovinocultura de Corte faz mais de 13 mil visitas somente em 2023

Ele comenta que o primeiro passo da assistência técnica é a realização pelas equipes de campo de um diagnóstico detalhado de cada propriedade atendida. A partir desse verdadeiro raio-X do empreendimento, os técnicos, junto com os produtores, elaboram o planejamento estratégico do negócio e apontam as ações que serão implementadas, seja de adequação tecnológica a capacitação profissional tanto dos proprietários quanto dos trabalhadores. Traçadas metas e definidas as ferramentas de trabalho, Nilvado comenta que a implementação do planejamento estratégico passa por uma avaliação sistemática dos resultados. “É essencial compartilhar conhecimento para os produtores, preparando-os através de cursos e capacitações, o que deixa a mão de obra mais qualificada para o produtor rural. O Sistema Famasul disponibiliza também boletins técnicos sobre a situação de diversas cadeias produtivas e do mercado em Mato Grosso do Sul, o que fornece ainda mais informações aos produtores para a tomada da melhor decisão sobre o negócio”, reforça.


Nilvado diz que a sustentabilidade tem atenção redobrada nos ATeGs. “O Senar/MS tem levado os critérios ambiental, social e de governança para as propriedades rurais através de um questionário ESG, em que destacamos questões ambientais, trabalhistas, sociais e de infraestrutura para atender as legislações vigentes”, detalha. GESTÃO E RESULTADO Doutora em Zootecnia, Ariadne Bonatte, trabalha há mais de dois com o ATeG Bovinocultura de Corte no estado. Ela atende 27 produtores dos municípios de Cassilândia, Inocência, Água Clara, Três Lagoas, Selvíria, Aparecida do Taboado, Paranaíba e Brasilândia, na Costa Leste de Mato Grosso do Sul. “Hoje eu consigo ver nas propriedades que atendo ações que antes não eram feitas e fazem total diferença nas fazendas. Os produtores realizam controle de nascimento dos animais, o calendário vacinal de forma eficiente, o controle de ganho médio diário de peso, estação de monta e várias outras ações”, disse. A técnica do Senar/MS destaca que o programa ATeG possibilita ao produtor explorar novas estratégias para for-

talecer seu negócio. “Como o próprio Ariadne é Adelson Rezende, de 55 nome já diz, o atendimento acontece anos, de Selvíria. Ele trabalhava com de forma técnica e gerencial. Através a pecuária de leite, mas decidiu trocar da capacitação, todos os produtores de atividade e se dedicar a produção que atendo fazem planilha de gestão de animais de corte em busca de uma para saber o que gasta por mês e o melhor rentabilidade do negócio. que está dando lucro. Quando esta“O Senar/MS nos ajudou muito, mos lidando com a pecuária principalmente na área de é fundamental tratarmos manejo de pastagem. de nutrição, sanidaDesde então as coide, melhoramento sas deslancharam genético, manee hoje a nossa jo de pastagem fazenda deu cere também da to”, comemora, parte de gestão complet ando para identifique com a mecar quais são os lhoria da qualigargalos”, pondade dos pastos tua. conseguiu doNivaldo Passos, coordenador do A especialisbrar o número de Departamento de ATeG ta também celebra animais da propriedo Senar/MS que têm encontrado dade. mais mulheres à frente das Para produtores como propriedades de bovinocultura. Adelson que pretendem ampliar “Hoje atendo três fazendas que são a produção ou até mesmo mudar de lideradas apenas por mulheres, o que atividade no agro, o coordenador do é muito bacana, isso não era visto há ATeG orienta que o primeiro passo é anos. Algumas delas já vem de geraprocurar o sindicato rural do seu muções à frente dos negócios, outras, são nicípio. Na entidade, eles serão atenfilhas que ajudam os pais e tocam em didos por profissionais que vão orienconjunto o manejo da fazenda”. tá-los sobre as melhores opções para Um dos produtores atendidos por cada tipo de empreendimento. SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 27


Projetos Especiais

MAIS DE 1,7 MIL PESSOAS ATENDIDAS

S

omente em 2023, 1.723 pessoas já foram atendidas pelo programa Sorrindo no Campo, do Sistema Famasul, por meio do Senar/MS. A iniciativa leva atendimento odontológico gratuito à população do campo. De acordo com o dentista e coordenador da ação, Lucas Gottardi, quem vive nas áreas rurais encontra dificuldade de acesso a esses serviços, por isso, a instituição vai até essas pessoas. “Os pacientes relatam que o acesso é difícil. Que muitas vezes têm de se deslocar até a cidade para tentar uma vaga no atendimento odontológico. Isso causa uma frustração muito grande, quando não conseguem, e sabemos que os procedimentos odontológicos possuem um custo muito alto. Com

o programa, queremos transformar a realidade dessas pessoas e melhorar a qualidade de vida delas”, comenta. O Sorrindo no Campo é o aperfeiçoamento de todas as ações desenvolvidas pelo Sistema Famasul no atendimento odontológico em mais de uma década. Nesse seu primeiro ano deve percorrer pelo menos 30 municípios do estado, por meio de sua unidade móvel, um caminhão equipado para realizar desde os procedimentos de rotina até os de urgência, além de exames e cirurgias. Os tratamentos odontológicos são oferecidos para qualquer faixa etária, sendo que menores de 18 anos devem estar acompanhados de um responsável.

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Dentista vai onde o povo está com o programa Sorrindo no Campo

Em casos mais complexos, os pacientes são encaminhados a um especialista. Além de oferecer o serviço de um dentista, o programa também disponibiliza à comunidade atividades educativas a partir de conteúdos multidisciplinares e práticas de escovação dental, com orientação e auxílio de profissionais. “A unidade móvel possui estrutura adequada para ações coletivas de educação em saúde bucal. O espaço conta com TV e escovódromo para orientações de higiene. Com isso, além do tratamento, o Sorrindo no Campo oferece ações voltadas à prevenção”, diz o coordenador. Em cada localidade, o consultório itinerante permanece seis dias, de se-


gunda a sábado. Geralmente a unidade móvel é estacionada nos pátios dos sindicatos rurais, em escolas ou em unidades de saúde. No sábado, a cidade recebe também outra iniciativa da área, o Programa Saúde do Homem e da Mulher Rural, que leva atendimento médico gratuito, com realização de exames e consultas, além de compartilhar informações sobre prevenção de doenças, qualidade de vida, hábitos saudáveis e combate à violência doméstica. Deste modo, o Sorrindo no Campo se integra a um trabalho muito mais amplo desenvolvido pelo Sistema Famasul voltado ao atendimento de saúde das populações rurais de Mato Grosso do Sul. DENTISTA VAI ONDE O POVO ESTÁ! Entre os beneficiados pelo programa estão a agricultora Márcia Garcia de Oliveira e seus quatro filhos. A família mora no assentamento Itamarati, em Ponta Porã. “Recebemos assistência no início do ano. Fizemos a extração de dentes e obturações. Todos foram muito atenciosos e gentis conosco. A família inteira foi atendida”, comemora. Márcia destaca os resultados do projeto à saúde bucal dos trabalhadores da área rural. “É muito importante ter esses serviços para nós que moramos no campo. Aqui tem muita gente que precisa e a maioria tem dificuldade em marcar no posto de saúde mais próximo. Então, quando tem esse atendimento aqui, as pessoas conseguem ir e receber o auxílio. Por isso, torcemos para que o programa volte logo. É bom saber que lembram de nós, de quem mora no campo”.

voltados à saúde, como a consolidação bucais reduzem o risco de outras dode novas parcerias com outras enças. Isso impacta positivaentidades”. mente nas condições de O Sorrindo no vida do homem e da Campo é desenvolmulher do campo e vido em parceria reflete até mesmo com os sindicatos nas despesas dos rurais e as prefeimunicípios, que turas. Para receacabam reduber a unidade, zindo os gastos o coordenador com o tratamento de outras explica que as instituições inpatologias. Lucas Gottardi, teressadas devem “Nosso objetivo coordenador do “Sorrindo entrar em contato é continuar as ações no Campo” com o sindicato rural do programa com foco de cada município. A proem locais mais remotos. jeção é que até o fim de 2023 seA instituição idealiza cada vez jam atendidas 2.587 pessoas. mais a expansão dos projetos nas áreas

PLANOS PARA 2024 O coordenador do programa revela que para 2024 a proposta é ampliar o número de atendimentos e adquirir uma nova unidade móvel. Gottardi destaca que o trabalho é possível graças às instituições parceiras que acreditam na iniciativa e se preocupam com a promoção da saúde bucal das famílias do meio rural. Ele avalia que o atendimento odontológico, a médio e longo prazo, se revela uma importante ferramenta de saúde preventiva, já que os cuidados SETEMBRO A NOVEMBRO 2023 • REVISTA FAMASUL • 29


Sindicato comemora giro de R$ 25 milhões na Expobai O presidente do Sindicato Rural de Amambai, Rodrigo Lorenzetti, avaliou como muito bons os resultados da 33ª edição da Exposição Agropecuária do município, a Expobai, promovida em setembro, no parque de exposições da entidade. Ele aponta que, durante seu período de realização, o evento movimentou cerca de R$ 25 milhões em negócios. Com várias opções de entretenimento, como shows de artistas regionais e nacionais, rodeio em touro, bailes, exposição de máquinas, equipamentos, veículos e de animais de pequeno porte, além de leilão, a Expobai, teve um público de aproximadamente 14 mil pessoas. Além disso, a feira foi vitrine para as mais recentes tecnologias agropecuárias, contando com grande programação de palestras, cursos, capacitações e workshops, sobre temas como técnicas de manejo, sustentabilidade, gestão do empreendimento rural e perspectivas de mercado.

Desde a abertura da Expobai, o presidente ressaltou que o evento cresce a cada edição e que para isso é fundamental o empenho de toda a diretoria e equipe de colaboradores do sindicato. “Já estamos trabalhando para a exposição de 2024”.

AMAMBAI

Agro Agenda


Somos a 2º maior instituição financeira repassadora de Crédito para o Agro. O Sicredi nasceu no campo, tem suas raízes no agronegócio e conhece como ninguém a sua realidade. Aqui, o produtor rural conta com um parceiro experiente.

Seja um associado!

Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia


Nova diretoria do Sindicato de Aral Moreira foca na representatividade e no associado O produtor rural Rene Glanert Marques assumiu no início de setembro a presidência do Sindicato Rural de Aral Moreira. Ele aponta como uma das principais bandeiras de sua gestão é a ampliação da representatividade institucional. “Queremos o sindicato ainda mais representativo. Fazer com que tenha mais força e maior participação nas decisões do município, buscando parcerias com a Prefeitura, Câmara, instituições bancárias, cooperativas e órgãos de segurança, entre outros, seja para atender as demandas dos produtores ou melhorar as condições de vida na comunidade”. Com maior representatividade, o presidente aponta que o produtor terá ainda mais interesse em se associar. “À medida que fortalecemos a instituição, vamos atrair mais sócios e teremos mais força para lutar por nossas reivindicações”. Outro aspecto que Rene pretende destacar é a

importância do sistema sindical rural, que começa com o sindicato de cada cidade, passa pelo Sistema Famasul e chega à CNA. “Essas instituições têm um papel fundamental na defesa dos direitos da classe e, às vezes, isso não é visto lá na ponta. O desafio é mostrar ao produtor que no dia a dia essas entidades estão lutando e trabalhando por ele”.

ARAL MOREIRA

Agro Agenda


BATAGUASSU

Manoel Agripino é reeleito para presidência do Sindicato Rural de Bataguassu O presidente do Sindicato Rural de Bataguassu, Manoel Agripino Cecílio de Lima, foi reeleito e empossado para mais um mandato à frente da instituição no triênio 2023-2026. Ele agradeceu em especial o apoio da Tesoureira Marília Arcangelo Alonso e disse que na nova gestão sua prioridade será dar continuidade ao trabalho e as ações que já vinha desenvolvendo em parceria com diversas instituições, como Sistema Famasul, por exemplo. Graças a parceria institucional, Bataguassu já recebeu esse ano os dois principais programas gratuitos do Sistema Famasul na área de saúde. O Sorrindo no Campo, que leva atendimento odontológico por meio de uma unidade móvel, e o Saúde do Homem e da Mulher Rural, que ofereceu consultas médicas com urologista, ginecologista, dermatologista e pediatra, com foco na prevenção e diagnóstico do câncer.

Outra ação é a capacitação de produtores e trabalhadores rurais, por meio dos cursos do Senar/ MS. Na solenidade de posse de Manoel Agripino, os 550 alunos que participaram dos treinamentos de Formação Profissional Rural (FPR) e Promoção Social (PS), em 2022, receberam certificados.


Produtor rural de Taquarussu muda de vida após participar de cursos e do ATeG O trabalho desenvolvido pelo Sindicato Rural de Taquarussu está transformando a vida de muitos produtores e trabalhadores rurais. A história do apicultor Osvaldo Souza Santos, de 54 anos, é um exemplo. Ele mudou de vida após participar de cursos e receber a orientação do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Apicultura, do Senar/MS. Para Osvaldo, a apicultura sempre foi uma paixão, mas ele enfrentava dificuldades para ver o empreendimento rural deslanchar. “Eu fui ajudar um amigo apicultor e tomei gosto. Comprei umas caixinhas, mas nada ia para frente. Entendi que faltava conhecimento. Então ingressei nos cursos de apicultura do Senar/MS e a ‘coisa’ andou”, conta o produtor rural. Na busca por aperfeiçoamento constante para obter uma maior produtividade ele revela que já participou de diversas capacitações oferecidas pelo Senar/MS e o sindicato rural. “Já fiz curso de apicultura básica duas vezes, apicultura avançada, produção de cera. E tenho Assistência Técnica e Gerencial. Tudo isso tem me ajudado a engrenar na produção e a sonhar cada vez mais alto”, revela. O produtor conta que atualmente tem 50 caixas de abelha, mas que a meta a médio prazo é quadruplicar esse número. “Quero chegar a 200 caixas em no máximo dois anos”, projeta o apicultor. Osvaldo é um dos dez produtores rurais da Asso-

ciação dos Apicultores de Nova Andradina (Apinova). No local, os apicultores processam o mel com extração, decante e envase. O produto é vendido nos municípios próximos, mas tem capacidade de atravessar as fronteiras de Mato Grosso do Sul. Com o selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e do Sistema Brasileiro de Inspeção (SISBI), eles conseguem vender para todo o país. A produção de mel do Osvaldo é realizada dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA), atividade permitida pela Constituição Federal, assim como em Reservas Legais, pelos benefícios oferecidos ao meio ambiente, como auxiliar na polinização de plantas de preservação.

TAQUARUSSU

Agro Agenda


SIDROLÂNDIA

Mais de R$ 80 milhões são movimentados em negócios na 24ª Expo Sidrolândia O Sindicato Rural de Sidrolândia avaliou os números de fechamento da 24ª Expo Sidrolândia, a Feira de Agronegócio, Comércio e Indústria que aconteceu em setembro no parque de exposições Waldomiro João Comparin, como positivos. Foram mais de R$ 80 milhões em negócios, somando venda de maquinários, insumos, planejamento de safras, serviços e comércio da feira. Em razão da baixa nos preços do gado e sem a oferta de animais nesse momento, a exposição deste ano não realizou o tradicional leilão, o que impactou um pouco no resultado dos negócios, explicou o Presidente do Sindicato Rural de Sidrolândia, Paulo Stefanello. “Embora o leilão não tenha sido realizado, o fechamento deste ano foi muito bom e superou nossas expectativas. Acredito que todos estão de parabéns e desde já agradecemos a parceria de todos os participantes, das cooperativas, agências, empresas, e entidades que mais uma vez nos ajudaram a fazer uma grande feira”, ressaltou Stefanello.

Neste ano, nos seis dias de evento, a Expo Sidrolândia recebeu um público de mais de 25 mil pessoas, segundo os organizadores. A Exposição se consolida e se consagra como uma das mais importantes feiras do agronegócio de Mato Grosso do Sul e da região de Sidrolândia, tanto em volume de negócios, número de expositores, quanto na programação técnica de palestras, encontros e nas atrações.


Famasul em Ação

Marcelo Bertoni é homenageado em Sessão Solene da Medalha Tereza Cristina

Agenda com desembargador do TRE Carlos Contar

Presidente participa de agenda com TST em Brasília

Marcelo Bertoni recebe a Deleagro na Casa Rural

Audiência Pública sobre o Pantanal em Corumbá

Famasul e Imasul em live sobre o CAR

Bertoni recebe produtores pantaneiros no Sistema Famasul

Diretoria da Famasul em agenda na Assomasul

Diretor-administrativo e financeiro, Clodoaldo Oliveira em inauguração da Infovia Digital

Encerramento do CNA Jovem 36 • REVISTA FAMASUL • SETEMBRO A NOVEMBRO 2023


Recepção da Caravana Agro Brazil

Reunião do Ministério dos Povos Indígenas em Brasília

Visita da embaixada da índia ao Sistema Famasul

Sistema Famasul em posse da Frente Parlamentar da Avicultura na ALMS

Diretora-técnica da Famasul, Mariana Urt, participa de Simpósio da Abraves MS

Famasul em Coletiva de Imprensa sobre o Pantanal

Formatura do Curso Técnico em Agropecuária

Frederico Stella participa de abertura do 6º Repronutri

Marcelo Bertoni em agenda com General Walter Braga Netto na Famasul

Coletiva de Imprensa do Sistema Famasul sobre Marco Temporal

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Agro Doc PORTEIRA PARA O MUNDO - “É você, Zé Quati. Enfrenta a criatura!”, falou firme a Floriza. O coitado, sem escolha, seguiu lentamente em direção aquele homem a pé com um pedaço de couro no lombo. Ficaram frente a frente, cada um de um lado da porteira. O diálogo que seguiu merece estudo psicológico e sociológico. - “Bom dia, você vem de onde?”, perguntou Zé Quati. - “Do mundo”, respondeu o homem. - “Vai para onde?”, voltou a perguntar com voz trêmula, Zé Quati. - “Pro mundo”, respondeu o errante andarilho. Zé Quati olhou para o chão ainda molhado, calculou tudo como um moderno GPS e falou: - “É por ali, atravessa aquela outra porteira e segue”. O homem deu um sorriso sincero e seguiu para o mundo.

Leonardo Leite de Barros Produtor rural, empresário e membro da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO)

U

ma sequência de ranchos, anos depois, viria dar o nome à Fazenda Rancharia. Naquela manhã de dezembro, o aguaceiro ainda não tinha se apoderado do Pantanal. A chuvarada da madrugada não tinha branqueado o pátio, eram apenas poças d’água e cantiga de sapo. A criançada correndo, fazendo o de sempre, secando pote e cangando grilo. A cozinheira ensopada com o calor insalubre fritava bolinho de chuva ouvindo um chiado que vinha do rádio, de vez em quando se ouvia parte de uma melodia que tirava um rebolado da desejada. O almocinho já tinha sido servido e a peonada já ia longe na gravanha. Duas coisas assombram o pantaneiro: espírito de outro mundo e gente a pé. Aqui, andar a pé só para ir do galpão para o comedor, da rede para o banheiro, para dar uma desprezada. De resto, naquele tempo, era montado ou em carro de boi. Quem primeiro avistou aquele homem a pé, na porteira do pátio da Fazenda, foi Topete de Mutum, chefe da gurizada. Saiu correndo gritando, as mulheres se embolaram dentro de um quarto e trancaram a porta, os homens estavam pro campo, só sobrara o praieiro. Zé Quati era manco da perna esquerda, “náfico da geometria”, como dizem os pantaneiros. Sua maior característica era a lentidão, um observador, remoedor de tempo.

NAQUELA MANHÃ DE DEZEMBRO, O AGUACEIRO AINDA NÃO TINHA SE APODERADO DO PANTANAL

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