Jornal da Brotero Nº 8 - junho 2012

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Empreendedorismo ::

O poder das evidências Tal

como o álcool e o tabaco eram anestésicos essenciais para aliviar a dor e o desconforto, a superstição e a magia serviam para aliviar a infelicidade (M. Shermer, 2007). Na feira de Nova Iorque, em 1939, um grupo de cientistas, incluindo Albert Einstein, defendia que a feira não se devia limitar às grandes exposições, mas que o conhecimento científico, com os seus métodos, deveria ser apresentado ao grande público, pois estes cientistas estavam convencidos de que a compreensão popular da ciência serviria de «antídoto para a superstição e a intolerância» e seria «uma suprema conquista contra a ignorância». Puro engano, já que não houve praticamente lugar para o conhecimento científico. É um facto que desde o homem primitivo, dominado pelo pensamento mítico até aos nossos dias, predominou mais a pseudociência, dado que fornece respostas fáceis e impede que a dúvida se instale. Hipócrates de Cós, pai da medicina, introduziu no diagnóstico das doenças as bases do método científico quando apelou à observação cuidadosa e meticulosa: «Não deixeis nada ao acaso. Não descureis nada. Associai observações contraditórias». Foi por este caminho espinhoso e com inúmeros obstáculos que a ciência evoluiu e se fundamentou em evidências, alicerce de paradigmas científicos, que dão vida e salvam vidas e, assim, continuará a ser, no futuro, procurando respostas para novos problemas que se colocarão à sobrevivência da humanidade, até que um dia a vida se extinga no planeta azul. Contudo, a pseudociência é mais fácil de forjar e, consequentemente, mais fácil de se instalar na maioria das consciências adormecidas, dado que os seus padrões de argumentação não passam pelo crivo das provas como os da ciência. Antes de séc. XVII, «ninguém negava a influência dos céus sobre o tempo ou contestava a relevância da astrologia na 16 Jornal da Brotero Junho de 2012

medicina ou na agricultura», como refere o historiador Keith Thomas. A astrologia e a magia apresentavam-se como auxiliares dos homens nos seus problemas do dia-a-dia, ensinandoos a evitar o infortúnio ou a lidar com ele quando lhes caía em cima. A ciência nasceu da magia, mas a sua função é combater o pensamento mágico. Assim, a astronomia substituiu a astrologia, a química sucedeu à alquimia e as probabilidades acabaram com a crença na sorte e na fortuna do “Euromilhões”. Galileu duvidava de que alguma vez Aristóteles se tivesse certificado da verdade da afirmação «os corpos mais pesados caiem mais depressa» através da experiência. Mas a grande interrogação que se nos coloca é como as pessoas acreditaram, durante dois milénios, naquilo que lhes diziam sem se darem ao trabalho de o verificar. A prova apresenta-nos o poder das evidências em relação aos argumentos de autoridade. Isto é óbvio, tal como o defendeu Francis Bacon na sua obra Nova Atlântida, 1626, em que afirma: «O propósito da nossa fundação é o conhecimento das causas e dos mecanismos secretos das coisas e o alargamento das fronteiras do império humano para o efeito de todas as coisas possíveis». Foi graças a esta persistência e obstinação que chegámos às galáxias e às estrelas. Mas, infelizmente, apesar de todos os progressos e das evidências científicas que lhe servem de suporte, ainda hoje, o mundo é mais fiel e leal a Aristóteles do que a Galileu. É que, em tudo na vida, como afirmava um famoso político inglês, «a mentira voa e a verdade tropeça». José Armando Saraiva Fontes: O mundo Infestado de Demónios, Carl Sagan, Gradiva, e Ideias Optimistas, coordenação de Jonh Brockman, Tinta da China.


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