Graciliano nº 11

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O cartunista Henfil, que retratou Teotônio diversas vezes e intermediou a obtenção de recursos financeiros para a finalização do documentário de Vladimir Carvalho

“Algumas narrações do filme são diretamente do livro, na primeira pessoa. Achei aquilo muitíssimo útil e adequado à proposta estética do documentário. Ali o Teotônio estava realmente inspirado. Inclusive ele era um escritor de mão cheia, que facilitou bastante a minha tarefa”, comenta Vladimir Carvalho, que passou a acompanhar Teotônio Vilela em viagens. Esteve em Alagoas, onde filmou em Viçosa, cidade natal do senador, que reencontrou familiares e velhos amigos. Com depoimentos de personalidades da política brasileira, como Miguel Arraes, Paulo Brossard, Nilson Miranda e aparições, em imagens históricas, de dois ex-presidentes do Brasil –

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Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva –, o documentário percorre a vida de Teotônio desde seu nascimento, no engenho Mata Verde, em Viçosa, até o enterro, no Cemitério Parque das Flores, para onde mais de 20 mil pessoas se dirigiram na despedida ao Menestrel das Alagoas. O documentário traz também imagens inéditas da atuação do senador Teotônio Vilela no conflito entre policiais e metalúrgicos, em São Bernardo dos Campos, durante a histórica greve do ABC, em 1980. Daquela manifestação, surgiria o Partido dos Trabalhadores (PT), que tinha como um dos líderes Luiz Inácio Lula da Silva, futuro presidente do Brasil. Além dele, recém-chegado do exílio, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, suplente de senador, despontaria no cenário político brasileiro até chegar à presidência do País. Só depois da morte de

novembro/dezembro 2011

Teotônio Vilela, em novembro de 1983, Vladimir Carvalho iniciou o processo de fechamento do documentário. “O filme foi realizado em película, em 16 milímetros, com o objetivo de depois fazermos uma ampliação para 35 milímetros, o que exigia a busca de recursos mais substanciais. Isso acarretou uma demora, eu já não sabia mais o que fazer. O filme já estava praticamente fechado, concluído em termos de proposta, de edição, mas eu não tinha a certeza de chegar às telas”, conta o cineasta. Foi aí que entrou na história um grande amigo de Teotônio Vilela. A princípio convidado por Vladimir para fazer a arte gráfica dos créditos do filme, ele teria papel crucial para a conclusão e lançamento da película. “Quase que eventualmente e milagrosamente, eu tive um contato com o Henfil. Aí ele me perguntou como seria, quando eu lançaria. Eu disse que não havia condição de lançá-lo naquele momento e que estava pensando em procurar o PMDB, que era o partido de Teotônio, para buscar recursos. Aí o Henfil disse: ‘De jeito nenhum! Você vai esperar que eu faça contato com Teotonio Vilela Filho, que é meu amigo’”, lembra, entre risos, Vladimir. Alguns dias depois, Henfil procurou Vladimir para dizer que estava tudo certo. Marcou um encontro entre o


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