52 minute read

O futuro é verde Desembarque 100 Malte, lúpulo e RMC 102 O encontro de vários mundos 108 Ensino à distância 112 Tradição familiar 116 Arte metropolitana 122 Cores ao vento 122 As cores de Campo Largo 132

O futuro é verde

Como se sustentarão as cidades sem um planejamento urbano estruturado? O projeto ConBio veio para mostrar que o sonho sustentável é possível

Amanda Penteado

Para desenhar um futuro próspero, são necessários todos os tons de verde. É imperativo romper com o desenvolvimento urbano acelerado e desnorteado e investir na construção de espaços públicos que visam à melhoria de vida dos cidadãos. Nessa luta, a aposta é na natureza. Cidades ao redor do mundo se mobilizam em torno dessa ideia ecológica para propagar um modelo que não precisará ser reciclado. É o caso do Programa Condomínio da Biodiversidade – ConBio, desenvolvido pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), atua desde 2013 no município de Campo Largo com o objetivo de conservar áreas naturais em ambientes urbanos e proteger a vegetação nativa, além de promover qualidade de vida dos moradores locais. O programa firmou parceria com a Prefeitura Municipal de Campo Largo e é financiado pela Fundação Caterpillar, com o apoio da Pan American Development Foundation (PADF). O fruto não cai longe do pé. Em 2008, a iniciativa, originalmente desenvolvida em Curitiba, realizava visitas conservacionistas a proprietários de imóveis com áreas nativas, levando orientações sobre boas práticas de manejo e conservação de flora e fauna. No total, foram realizadas 900 visitas e inúmeros encontros de integração, explica Betina Ortiz, técnica do programa ConBio, “antes mesmo do programa ser assinado com a prefeitura de Campo Largo, já realizávamos visitas de integração com proprietários de áreas nativas com a intenção de incentivar a conservação da natureza e da biodiversidade”.

Conservado, o verde se multiplicou. Em 2011, os encontros de integração resultaram na criação da Associação dos Protetores de Áreas Verdes de Curitiba e Região Metropolitana (APAVE). Em conjunto com a SPVS e outras instituições que prezam pela biodiversidade, a APAVE procura ampliar resultados e influenciar políticas públicas municipais, estabelecendo avanços importantes para a conservação das áreas naturais urbanas. Além disso, o programa também conta com o apoio da Caterpillar Foundation à SPVS para desenvolver o ConBio, com o envolvimento da PADF, que tem a função de monitorar os resultados do projeto e, juntamente com a SPVS, buscar novos apoios para a ampliação da iniciativa. Depois do crescimento, o programa entrou em fase de propagação. É por isso que incenA iniciativa do programa resulta em uma onda de consciência ambiental e sustentável. tiva e apoia a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal – também conhecidas como RPPNMs. “O ConBio, em 2011, recebeu financiamento da fundação O Boticário de Proteção à Natureza para apoiar os estudos necessários a fim de a propriedade ser transformada em RPPNM. Seis áreas receberam levantamento florístico e topográfico, sendo que uma delas já foi transformada em reserva” exemplifica Betina. A semente foi plantada e colhida. Em 2013, o ConBio firmou oficialmente convênio com a prefeitura de Campo Largo e ampliou ainda mais suas atividades no município. Este novo

passo teve o objetivo não só de orientar, mas contribuir com a conservação de remanescentes de florestas e campos na região urbana, informando e sensibilizando os moradores quanto à importância da recuperação e da manutenção da biodiversidade local, por meio de cursos de capacitação.

O investimento deu frutos. Em 2014, a ação mais trabalhada em Campo Largo foi a de Educação para a Conservação da Natureza. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, uma formação sobre a Floresta com Araucária foi realizada para os professores da rede municipal de ensino. Avanir Mastey, secretário de Educação da Prefeitura Municipal de Campo Largo, explica que “as professoras foram incentivadas a abordar o tema com os alunos ao longo de todo o ano letivo, além da realização de passeios em áreas públicas e plantios de mudas”.

A professora de Educação Infantil da Escola Municipal Madalena Portella Adriane Ferreira ressalta a importância do curso que, “além de permitir aprofundamento nos conhecimentos sobre causas e efeitos do desmatamento, possibilitou também aprender como levar o tema da conservação para o dia a dia da sala de aula de forma lúdica, ensinando às crianças a importância da conservação da natureza”.

Durante o ano de 2014, com o apoio da prefeitura, o ConBio realizou um estudo de percepção ambiental com professores e alunos da rede municipal e ofereceu um curso de formação em Educação para Conservação da Natureza a todos os educadores do 1.º ao 5.º ano do ensino fundamental. Como incentivo, 1.200 mudas de espécies nativas foram doadas pela Sociedade Chauá para enriquecimento e restauração florestal.

A consultora ambiental Ludmila Veado apoia e acredita na importância do programa, que traz para os centros urbanos a natureza, “o que resulta positivamente na qualidade de vida das pessoas e dos sistemas naturais próximos”, explica. Ludmila sugere, ainda, que “todas as escolas deveriam incentivar o cultivo de hortas, pois isso faz com que as crianças

aprendam a necessidade de se ter ambientes naturais equilibrados para uma vida saudável”.

As raízes consolidaram-se e agora se sustentam sozinhas. Em setembro de 2015, a SPVS e o município de Campo Largo promoveram o 1.º Encontro de Proprietários de Áreas Naturais em Campo Largo no Gabinete da prefeitura. No evento, “foram apresentados os resultados desses dois anos de atuação, trocas de experiências entre os envolvidos por meio de oficinas e conversação e a abordagem de temas e propostas que virão pela frente”, diz Avanir Mastey.

Hoje, a iniciativa do programa resulta em uma onda de consciência ambiental que tomou conta de crianças e adultos de todas as idades. “Com as visitas às áreas naturais, as atividades recreativas relacionadas às árvores e a percepção na prática da importância de conservar, os alunos se tornaram disseminadores da questão ambiental, falando sobre isso com pais e conhecidos”, afirma a professora Adriane Ferreira.

“É preciso incentivar a conservação da natureza e da biodiversidade.”

Betina Ortiz, técnica do programa ConBio.

Caterpillar Foundation

A Caterpillar Foundation é o lado filantrópico da Caterpillar Inc., líder mundial na fabricação de equipamentos de construção e mineração. A Fundação Caterpillar, fundada em 1952, tem contribuído com cerca de US$ 500 milhões para ajudar o progresso sustentável no mundo, fornecendo suporte a programas nas áreas de sustentabilidade ambiental, acesso à educação e necessidades humanas básicas.

crédito: Equipe ConBio

PADF

A Pan American Development Foundation (Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento - PADF), estabelecida em 1962, é uma instituição norte-americana filiada a Organização dos Estados Americanos (OEA); criada com o objetivo de implementar programas de desenvolvimento social e econômico, de contenção de desastres e de reconstrução na América Latina e Caribe. Por meio de parcerias com grupos comunitários, empresas, governos, organizações não governamentais internacionais e locais, entre outros, a PADF cria programas sustentáveis que tenham por objetivo melhorar a qualidade de vida de populações vulneráveis.

SPVS

A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), fundada em 1984, em Curitiba, é uma instituição brasileira reconhecida como uma das organizações não-governamentais conservacionistas mais atuantes no Brasil. A característica mais notável das atividades desenvolvidas pela SPVS diz respeito à inovação, como prática para incorporar valor às ações de conservação de natureza.

Palestra ministrada com o intuito de treinar professores para que eles possam implementar as aulas de meio ambiente em suas salas de aula.

Caterpillar Brasil

A Caterpillar Brasil atua há 59 anos com liderança de mercado em seus segmentos. Com unidades em Piracicaba (SP) e em Campo Largo (PR), a linha nacional de produtos é composta por 40 modelos diferentes de máquinas, entre escavadeiras hidráulicas, compactadores, carregadeiras de rodas e tratores de esteiras, além de ferramentas e acessórios especiais. A empresa é a 16ª maior exportadora do Brasil, sendo a principal de seu setor. Preza por ações de responsabilidade social e respeito ao meio ambiente e, desde 2004, é classificada como uma das melhores empresas para trabalhar no Brasil e na América Latina pelas pesquisas do Great Place to Work e Guia Você S/A-Exame.

Desembarque

Lugar de chegadas, partidas, reencontros. Um intermediário entre um lugar e outro. Para muitos pode se tornar um símbolo de realização de um sonho como o da primeira viagem, finalmente conhecer “aquele” lugar especial, ou simplesmente a sensação de andar de avião. O aeroporto é tudo isso, e pode ser mais.

Texto e Foto: Kauany Miguel

Aeroporto. O lugar de passagem, para alguns é um lugar de permanência. Em um quiosque de esquina, bem em frente ao portão de desembarque, trabalha Gabriela Ruizetescher, uma jovem de 19 anos que, em apenas poucos meses de trabalho, já entende bem do sentimento do “ficar”, e conta em meio a suspiros os vários reencontros que já observou dali do meio das canecas decoradas que vende.

“Pra mim, é especial. Sou de Brasília, e meus pais se separaram quando eu era pequena, então eu vinha a Curitiba para ficar com meu pai, e lembro sempre de descer correndo (do avião) para ver se ele já estava aqui me esperando. Me remete a esse sentimento de saudade”, conta lembrando com carinho enquanto observa o portão do embarque.

Hoje, Gabriela mora na cidade e diz adorar trabalhar no aeroporto. Para ela, o mais interessante são os sentimentos e as histórias que passeiam diariamente nos corredores cinzas que a cercam. Assim é também para Rosa Regina Penhabel, que trabalha em uma farmácia lá do outro lado de Gabriela.

“São 15 anos de aeroporto, adoro trabalhar aqui, conhecemos novas pessoas, vivemos com os passageiros, alguns estressados, outros tranquilos. Tentamos tratar com sorrisos, conversa, ajuda. Alguns passageiros entram chorando e saem sorrindo daqui, porque a gente passa

um pensamento positivo”, conta relembrando histórias engraçadas que vive, como quando precisa falar com estrangeiros usando o Google tradutor, e explicando que o que realmente importa é o bom humor, um sentimento que, segundo ela, pode mudar tudo.

Em comum entre elas, e com qualquer outra pessoa que trabalhe no Afonso Pena, as palavras sentimento, histórias, emoção e amor são recorrentes. A relação com o local é bem mais do que só trabalho; é de uma vida, e o significado disso pode ser literalmente exemplificado na pessoa de Edilberto José Gassner. No auge de seus 62 anos, o senhor baixo de sorriso fácil cativa com todo o amor que fala da carreira construída.

São 41 anos de aeroporto, sempre na manutenção. O trabalho, segundo ele, é mais importante em qualquer que seja o lugar. Edilberto já passou por todos os setores, do elétrico ao tecnológico, mas decidiu ficar com a prática. O prazer está mesmo nas pistas de decolagem, passear consertando as cercas, e saber que cada canto dos mais de 5 milhões de metros quadrados de área total do aeroporto tem um dedo seu.

Chega a ser difícil para o próprio técnico lembrar dos fatos importantes da sua vida, em que o Afonso Pena não estivesse, mesmo que indiretamente, relacionado. Seu nascimento, por exemplo, aconteceu no sítio aeroportuário, que são casas cedidas pelo aeroporto aos seus funcionários, pois o pai de Edilberto era eletricista do distrito de obras do Afonso Pena. Os laços são tão profundos, que ele chegou a lançar um livro intitulado O Aeroporto e Eu, contando suas histórias.

Um exemplo é o encontro com sua mulher, Iva Retkwa, que se aposentou depois de 25 anos trabalhando na companhia aérea Varig. Apesar de não tê-la conhecido lá, o papo com a moça decolou quando descobriram que seus pais trabalhavam no terminal e eram amigos.

Todas essas lembran-

ças, mesmo sendo do passado, permanecem no

presente, caminhando pelos mesmos lugares que o pai e o sogro, ou andando pelas pistas hoje asfaltadas, mas que um dia já foram seu quintal. “Eu sinto como se tivesse crescido junto com a aviação. Vivi toda a transformação da automatização, da tecnologia, da construção mesmo de tudo isso aqui”, fala com orgulho, desse que foi seu primeiro e único emprego, já que está aposentado, mas continua trabalhando por opção e amor ao serviço que presta. “Eu me sinto aqui como se estivesse em casa. Acho que é quando eu vou pra casa é que eu trabalho”, brinca.

Todos estão na “estação onde os passageiros passam”, como define Edilberto José, mas nenhum tem pressa de partir. Todos têm planos de ficar exatamente onde estão, no meio do caminho.

Em comum entre qualquer outra pessoa que trabalhe no Afonso Pena, as palavras sentimento, histórias, emoção e amor são recorrentes.

Texto: Daniel Malucelli Fotos: Gabriel Massaneiro Diagramação: Michel de Alcantara

MALTE, LÚPULO E RMC

Uns preferem uma cerveja artesanal de trigo, já outros uma cerveja tipo Ale. Ainda há aqueles que gostam de uma tradicional lager.

A moda das cervejas artesanais pegou. Mas seria essa mais uma modinha gastronômica entre os brasileiros? A resposta é não, e pode ser explicada pelos números.

Primeiro, vamos esclarecer alguns dados. A cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no Brasil – o terceiro maior produtor mundial, atrás de China e Estados Unidos. Ao todo, são produzidos cerca de 13,4 bilhões de litros anualmente, entre as grandes, pequenas e microcervejarias brasileiras, segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas da Receita Federal (Sicobe).

O negócio das cervejas artesanais deslanchou na última década. Mas foi nos últimos

quatro anos que a bebida chegou definitivamente ao copo dos brasileiros. Segundo a Associação Brasileiras de Microcervejarias (Abracerva), o mercado cresce em torno de 30% ao ano, com faturamento anual de R$ 2 bilhões – apenas 2,5% do total. Para se ter uma noção, nos Estados Unidos, esse mercado representa mais de 10% do total, e na Europa, 20%. É com base nesses dados que a expectativa é de crescimento para os produtores paranaenses, e de canecas cheias para os apreciadores. O que os cervejeiros de plantão muitas vezes desconhecem é que boa parte dessas cervejas é produzida mais perto do que se imagina.

Estima-se que existam cerca de 300 pequenas cervejarias no Brasil, sem contar os que produzem sua própria bebida maltada. Segundo a Associação das Microcervejarias Paranaenses (Procerva), são 45 microcervejarias no Paraná, sendo 20 na Região Metropolitana de Curitiba. “É um mercado minúsculo, mas que tem crescido 60% ao ano aqui no Paraná”, explicou Murilo Ribeiro, vice-presidente da entidade.

“Para uma cerveja ser boa, ela precisa apenas de água, malte, lúpulo e fermento na quantidade certa de cada ingrediente.” - Igor Boaventura, sommelier

Cerveja Gourmet

As cervejas artesanais têm uma grande variação no valor, e custam em média três vezes mais do que as industrializadas. Não são apenas essas

as diferenças entre as duas. O sommelier especializado no assunto, Igor Boaventura, explicou que, no caso da bebida produzida pelas pequenas cervejarias, os produtos são mais bem selecionados, além da variedade dos tipos de cerveja, diferentemente das cervejas industriais. “As cervejarias grandes e consolidadas no mer

cado brasileiro visam a atingir o maior número de consumidores possíveis. Eles produzem em larga escala e normalmente usam 60% de malte. O resto são outros cereais não maltados, como o milho, o que prejudica muito na qualidade da cerveja. É uma forma de diminuir o custo de produção, já que esses cereais são bem mais baratos que o malte”, criticou Boaventura.

A utilização do milho no lugar do malte é uma prática comum das cervejarias industriais. Um estudo feito pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (USP) analisou as cervejas nacionais mais consumidas e constatou que algumas delas chegam a usar 45% de milho.

“A legislação brasileira permite o uso de outros cereais na cerveja, e esse valor é o máximo permitido. Um desrespeito com o consumidor, tanto por parte da lei quanto das empresas. Para uma cerveja ser boa, ela precisa apenas de água, malte, lúpulo e fermento na quantidade certa de cada ingrediente. O resto varia do processo de fermentação e dos tipos de malte e lúpulo que o cervejeiro vai usar”, contou o sommelier.

Por essas razões que os consumidores têm preferido pagar um pouco a mais e desfrutar de uma cerveja de qualidade. O estudante de Agronomia Guilherme Silvestre, que mora em Campo Largo, foi mais longe. Gostou tanto de degustar diferentes tipos de cerveja que decidiu produzir a sua própria bebida. “Eu faço 40 litros a cada dois ou três meses. Cada vez uma receita totalmente diferente. Já fiz cerveja do tipo Indian Pale Ale, Brown Ale, de Trigo. Não faço para vender. É para tomar com os amigos e com a família. Meu pai mesmo depois que experimentou nunca mais comprou cerveja no mercado”, contou o jovem em tom bem-humorado.

Qual é a diferença?

No cardápio são tantas opções de cervejas que muita gente não consegue nem escolher. Então, vamos explicar de maneira simples. Existem várias maneiras de se classificar uma cerveja. A mais comum delas é pelo tipo de fermentação, que pode ser alta, baixa, ou até mesmo espontânea, mais difícil de ser encontrada. Vamos dividir entre os dois primeiros casos. Veja as diferenças.

Tipo Ale – cervejas de alta fermentação

Na fermentação alta, a cerveja é conduzida a temperaturas elevadas, em torno de 18°C. São mais encorpadas, com aromas frutados e em geral com cores mais escuras. São Ale as cervejas tipo: Stout, American Strong Ale, Indian Pale Ale, Irish Red Ale e muitas outras.

Tipo Lager – cervejas de baixa fermentação

Já na baixa fermentação são conduzidas a temperaturas mais baixas, cerca de 12°C. São geralmente mais claras e são a maioria nos mercados brasileiros. Tem o sabor moderadamente amargo. São Lager as cervejas tipo: Pilsen (ou Pilsener), Bock e Einbeck, entre outras.

O encontro

de vários mundos

Considerado um dos melhores sistemas de ensino pelas Nações Unidas, a educação suíça está presente no Paraná há 35 anos. Contando com duas instituições no país, os colégios baseiam a sua pedagogia no método “Cabeça, coração e mãos”, visando ao desenvolvimento do estudante por meio de atividades práticas e contato com outras culturas. Oferecendo o aprendizado de vários idiomas e opções extracurriculares, a escola dispõe de uma rígida carga horário para os alunos.

Roberto Rohden

Em uma sala de aula convencional, a professora começa a passar o seu conteúdo no quadro negro, enquanto que o ambiente tomado por estudantes permanece em completo silêncio. De vez em quando, é possível escutar um murmurinho ou outro, ver um bilhete sendo passado de carteira em carteira ou risadas de um grupo de alunos. Até esse momento, tudo ocorre como em qualquer outro espaço escolar de um colégio brasileiro. O diferencial está na forma como tudo acontece: o idioma falado por alunos e pela professora não é o português, mas, sim, o alemão.

“Quem olha de fora pela primeira vez, acredita que está em qualquer outro lugar que não é o Brasil”, relata Camila Cunha, 17, aluna do ensino médio do Colégio Suíço Brasileiro de Curitiba. A cena descrita acima foi a impressão que a estudante teve em seu primeiro dia de aula. Habituada com a didática e língua utilizada em outras escolas, ela estranhou o seu começo no novo ambiente estudantil, mas conta que depois do medo inicial, tudo vira rotina. “Quando você entra, já tem vontade de ir embora, fica meio amedrontada, sabe? Mas com o tempo você faz amizades, entende a língua e acaba nem percebendo que está falando alemão ou qualquer outro idioma que não é o português”, comenta.

Seu ensino é tão diferente quanto o nome da instituição. A Schweizerschule Curitiba oferece a educação suíça, considerada uma das melhores do mundo, para as famílias brasileiras que se interessam em dar esse modo de aprendizado a seus filhos. Tanto a filial paranaense quanto a de São Paulo são reconhecidas pelo governo suíço, e já somam mais de 1.200 alunos.

Fundada em 1980, a sede de Curitiba se encontrava no bairro Água Verde, mas com o seu crescimento foi necessário um espaço maior, que culminou na construção de uma nova sede

em 1993. Devido ao interesse de várias empresas e da prefeitura de Pinhais, a nova estrutura está localizada no município de Pinhais na região metropolitana.

Ambos os colégios trabalham com parte do currículo europeu além do currículo nacional integral, mas tem sua pedagogia embasada por Henrich Pestalozzi, pedagogo suíço. O foco é utilizar “cabeça, coração e mãos” para o desenvolvimento dos trabalhos com os alunos.

A professora do Colégio Suíço, há 18 anos, Wanda Oliveira explica o que eles pretendem transmitir com esse estilo de ensino. “Trabalhamos para que os educandos cresçam com autonomia, que entendam que somos todos capazes de realizar coisas por nós mesmos; que sejam capazes, também, de ser responsáveis pelos seus atos, que saibam aceitar seus fracassos e sucessos; valorizamos sua criatividade e os avaliamos de várias formas”, diz.

Cunha reafirma o que a docente alega. “Desde que eu entrei na escola sou incentivada a fazer muitas atividades extracurriculares. Ajuda muito a conhecer e aceitar todo tipo de gente, e também para praticar de tudo um pouco.”

Da educação infantil até o ensino médio, os alunos se acostumam a seguir uma grade escolar mais rígida. “É um colégio muito diferente dos demais. Os alunos do 4.º e 5.º anos têm sua carga horária aumentada para 31 aulas semanais. Já os do 6.º ao 9.º anos fazem 34 aulas e do ensino médio têm um mínimo de 36 aulas semanais”, diz a professora Wanda.

Para fugir do habitual ambiente escolar, a direção investiu em excursões para os alunos. Um exemplo foi a visita que os estudantes das duas filiais brasileiras fizeram à cidade de Tiradentes (MG), onde encontraram Oscar Araripe, escritor e artista, com o intuito de explorar a criatividade e arte nos estudantes.

“Trabalhamos para que os educandos cresçam com autonomia.” Wanda Oliveira, professora.

A didatica do colégio suíço conta com o acompanhamento e participação dos pais no aprendizado de seus filhos.

A visita fez parte da Semana de Enfoque Curricular conjunta de Artes Visuais, que teve como objetivo uma imersão na cultura local. O próprio escritor conta que sua experiência foi bem explorada pelos visitantes. “Eles fazem um trabalho de interpretação com os alunos e me visitam em Tiradentes, onde bato um papo com perguntas e respostas.”

Outro aspecto interessante que o Colégio Suíço trabalha é o contato com pessoas diferentes, muitas delas estrangeiras. Segundo a instituição, cerca de 30% dos estudantes são de outro país, o que reflete no conhecimento e respeito por parte dos alunos por culturas e costumes diferentes. “Damos ênfase aos valores de cidadania e aplicamos várias metodologias vindas da Suíça que visam à qualidade de ensino”, diz a docente.

Não são apenas os estudantes que vieram de fora do Brasil. Alguns funcionários também foram selecionados para ajudar na manutenção do colégio e em outras funções, como a de tradutores dos conteúdos. Esse é o caso da alemã Hildegard Kortefaciom, que já está no país faz 20 anos. “Tem cinco anos que estou no colégio, eu trabalho na secretaria e sou responsável pelas traduções.”

Ao longo dos seus anos na escola, Camila Cunha tem colegas de vários continentes, seja dentro da sala de aula ou pelos corredores. “Quase todo dia tem uma pessoa nova que você conhece. Temos histórias novas para ouvir e é bem normal você escutar alguém falando em qualquer outra língua que não é o português. Em casa é que é estranho, porque só falo em português, e por vezes, meus pais me pegam falando em alemão ou inglês.”

A compreensão das matérias não é afetada, já que a maioria das aulas ainda é lecionada em português, mas uma segunda língua é ensinada desde o maternal e a pré-escola. Com o passar dos anos, os estudantes vão tendo mais contato com o alemão, e algumas disciplinas ministradas nesse idioma. “O currículo do colégio inclui a língua alemã, obrigatória até o 9.º ano do ensino fundamental. Já a partir do 4.º ano, as crianças podem cursar também Inglês e Francês (extracurriculares), pois temos um centro de línguas cujos professores são os mesmos que atuam na escola”, explica Wanda Oliveira.

Internacional

Dupla oportunidade

O Colégio Suiço é classificado como internacional por oferecer o programa de Bacharelado Internacional (IB). Por essa condição, a escola oferece a dupla diplomação, “o Bacharelado Internacional é um programa de dois anos para os alunos do ensino médio, chama-se Full Diplom e é oferecido ao aluno dando-o direito a cursar universidades no exterior. É um programa bastante exigente”, explica a professora Wanda Oliveira. O corpo docente respeita as mesmas necessidades da grade curricular com um grupo de professores brasileiros que ministram disciplinas particulares a História, Geografia, Política e Língua Portuguesa e um corpo docente de origem suíça, alemã e austríaca para as mesmas disciplinas em alemão, atendendo às necessidades do programa internacional de ensino.

crédito: Divulgação

Ensino à distância

Movidos pelo sonho da graduação, jovens enfrentam longas jornadas diárias

Alana Dombrowski, Bruna Oliveira e Daniele Alcoléa

Oque estudantes da Região Metropolitana de Curitiba têm em comum? A reportagem da revista CDM levantou quatro histórias diferentes, em quatro municípios. Todos os protagonistas compartilham uma experiência: em uma rotina agitada e incerta, eles passam horas em estradas para conseguir cursar o ensino superior.

São apenas 5h30 e o estudante de Jornalismo Gabriel Callegari é acordado pelo som do despertador. Com tudo que precisará no dia arrumado na noite anterior, ele tem dez minutos para acordar e estar pronto antes que Paulo, motorista da van, o busque na porta de sua casa. Todos os dias, o trajeto é longo. Acompanhados do nascer do sol, ele e mais três estudantes deixam o município de Morretes e enfrentam cerca de 70 quilômetros de estrada até a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em um percurso que chega a durar mais de uma hora.

Em meio ao cansaço diário e a distância, o estudante conta que seu sonho sempre foi o de entrar no curso e quando conseguiu uma bolsa do Programa Universidade para Todos (PROUNI), não pensou duas vezes.

“Lá em Morretes não tem nenhuma faculdade. Tudo lá é voltado mais para a agricultura e ao turismo. Não tinha nada que me interessasse na cidade. Quem cresce lá, tem três opções: ou você vem para Curitiba, vai para Paranaguá ou trabalha na roça. Como eu não queria isso, optei por vir todos os dias para estudar Jornalismo.”

Logo, Gabriel colocou na ponta do lápis os cálculos do custo de vida em Curitiba. Só em transporte, ele gasta R$ 600 por mês, o que o fez continuar em sua cidade, por pensar em questões de moradia e alimentação. A maior queixa em relação à rotina é o cansaço, o que baixa seu rendimento e o força a chegar em casa e dormir para recarregar as energias.

A cada quilômetro deixado para trás em direção à capital, os estudantes podem encontrar uma aventura. Gabriel conta, com certa euforia, sobre o dia quando a dianteira da van

em que estava começou a pegar fogo próximo ao pedágio, e ele com os demais passageiros tiveram de descer para aguardar a esposa do motorista que veio ao socorro deles. Ela os trouxe para Curitiba, mas tarde demais, já era perto do meio-dia e a aula estava perdida.

Assim como Gabriel, a estudante Julia Favaro Linhares decidiu enfrentar a rotina de estudar

longe de casa. Há cinco anos, Julia percorre uma hora e meia, saindo do município da Lapa até a universidade. Além da distância, ela trabalha o dia inteiro da sua cidade e sai às 16h30 direto para o micro-ônibus.

Julia já se acostumou com a viagem. No deslocamento, além das horas gastas, se vão todo mês R$ 360. Como não consegue estudar no percurso, pois lhe causa enjoo, ela aproveita para descansar e observar o caminho. Seus pais pedem que a estudante sempre os avise quando chega e sai da universidade.

No micro-ônibus em que Julia vem à aula, a acompanham mais de 30 pessoas, entre eles estão amigos, casais de namorados e ex-casais, que talvez neste longo trajeto aproveitem a correria do dia a dia para ficarem juntos e matar a saudade, reafirmar promessas, enquanto outros, que no passado eram apaixonados, mas hoje se ignoram. Há, também, quem cochile ou finja estar dormindo, evitando o contato. Hoje, o fone de ouvido é o modo mais recorrente de se estar sozinho em meio à multidão.

Com o estudante de Engenharia Mecânica da FAE Centro Universitário Luiz Gustavo Razoto Taborda a rotina agitada se repete. Diariamente, ele sai de sua casa em Bocaíuva do Sul, percorrendo 35 km até o Centro de Curitiba. Ao contrário dos outros, o estudante alterna o

transporte entre ônibus de linha e moto e leva cerca de uma hora e 30 minutos. No caminho, o trânsito é intenso, pelo grande movimento de caminhões na estrada. O cansaço e a necessidade de trabalhar no dia seguinte, também são reflexos de sua jornada.

A cada quilômetro deixado para trás em direção à capital, os estudantes podem encontrar uma aventura.

Alana Dombrowski

Gabriel Callegari enfrenta o cansaço da jornada diária para cursar Jornalismo que é seu sonho.

“O pior é quando estou voltando, pois chego 00h10 em casa. Isso atrapalha, pois no outro dia tenho que trabalhar cedo e, sendo assim, o desempenho cai um pouco. Quando estou no ônibus geralmente eu fico escutando música para descontrair.”

Cinquenta quilômetros de distância e aproximadamente duas horas e meia, de van, compõem os dias de Jéssica Muchinski, estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo. Jéssica, mora em Campina Grande do Sul e a correria já começa cedo, pois ela acorda às 4h50 da manhã e dorme muito tarde devido aos trabalhos da faculdade, o que reflete de forma radical na sua vida. “Chegar atrasada por causa do trânsito ou por problemas na van é bem comum. Perco pelo menos quatro horas do meu dia, que eu poderia usar para estudar. A distância acaba atrapalhando o sono também. Quando temos trabalhos ou provas costumamos estudar até tarde. Como acordo às 4h50 para conseguir pegar a van e chegar a tempo na faculdade, chego a dormir apenas duas ou três horas algumas noites. O que atrapalha meu humor, concentração e por consequência as notas e/ou compreensão do conteúdo”.

No caminho, a estudante prefere ler e botar o papo em dia com os colegas.

Nas salas de aula

Os longos trajetos, o esforço e a divisão do tempo entre trabalho e estudos acabam se refletindo no desempenho em sala de aula. A pedagoga e mestre em Educação pela PUCPR Daniele Saheb reconhece os sinais da rotina destes estudantes, no entanto, avalia que tudo depende da organização do aluno.

“São alunos que normalmente têm um desgaste físico e mental bem grande. Não são só os que moram longe, mas todos que têm uma rotina pesada. Ao mesmo tempo, também, conta muito o aproveitamento desse aluno quando ele está em sala. O que relatam é que quando estão na van, estão lendo e estudando e muitas vezes aproveitam mais o tempo de deslocamento do que outros que têm uma rotina tranquila. A questão é o aproveitamento do tempo. Cada um acaba encontrando um mecanismo para ajudar na sua rotina.”

Estes estudantes representam novos grupos sociais e novas vozes na cidade, influenciando toda a estrutura urbana, impactando no transporte e planejamento urbano. “A organização política da cidade é afetada. Esses jovens consomem alimentos, transporte, e demandam outras necessidades sociais, causando grande impacto estrutural. O deslocamento é resultado de uma maior inclusão no ensino, com novas camadas sociais obtendo o acesso democrático a educação. Muitas vezes pertencem à primeira geração da família que cursa o ensino superior”, analisa o sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná Ricardo Costa de Oliveira.

Gabriel Callegari

Gabriel registra o amanhecer saindo de Morretes.

Julia Linhares

O olhar da estudante Julia sobre seu transporte diário.

Luiz Gustavo faz uma parada em seu percurso de moto para captar o momento.

Luiz Gustavo Taborda

Tradição familiar

O Caminho do Vinho pode ser uma opção de passeio e histórias em São josé dos Pinhais

Por Lara Pessôa e Manuella Niclewicz

Desliguem os celulares e preparem os ouvidos para boas histórias. A frase é quase o dito tradicional do Caminho do Vinho, roteiro de turismo rural localizado a poucos quilômetros de Curitiba. Bastante rico em tradições italianas e polonesas, além de costumes e lembranças de um passado importante – mas quase esquecido – para os europeus, o Caminho do Vinho faz parte da Colônia Mergulhão, em São José dos Pinhais, e é uma excelente opção para quem deseja sair da correria da cidade para aprender um pouco mais a respeito da vinicultura, histórias e práticas daquelas terras. Com vielas de paralelepípedo, casas antigas e mais de 40 empreendimentos, o Caminho do Vinho já é considerado uma referência nacional na produção de vinhos artesanais e busca resgatar a cultura e as tradições desse povo. Entretanto, o local só começou a se tornar realidade no fim da década de 90, porque, até então, boa parte dos moradores fabricava o vinho para consumo próprio e vendia apenas pequena parte da produção nas portas de suas casas. Lá, é possível desfrutar do momento fugere urben (fuga da cidade) e entrar em contato com a natureza, perceber a calmaria da vida, promover o desapego das tecnologias, conhecer a vida das famílias das vinícolas, aproveitar os cafés coloniais e, é claro, degustar os tradicionais rótulos produzidos na região. Um ponto de parada que deve constar na lista desse roteiro é conhecer um pouco da família Perbiche, residente no Brasil há mais de cem anos. Na propriedade, há a possibilidade de usufruir de experiências históricas e gastronômicas que vão além da produção dos vinhos. Grande destaque nas terras da família é a presença do único museu da região. De acordo

com o produtor e proprietário, Roberto Perbiche, da Adega Vinhos Dom Roberto, quando inauguraram o empreendimento, há mais ou menos 15 anos, ficaram como os últimos do roteiro. “Por conta dessa classificação, pensei que precisaria de um diferencial para fazer o cliente se deslocar até o fim do percurso. Então, logo me surgiu a ideia de fazer esse museu”, explica. O museu começou como um acervo familiar e, aos poucos, as próprias famílias e visitantes da região passaram a colaborar doando alguns utensílios. Hoje, já são mais de 900 peças expostas, entre televisões, ferros de passar à brasa, rádios e, é claro, diversos utensílios utilizados na fabricação de vinho pelos primeiros moradores da Colônia Mergulhão. A curiosa história de como a família se conso-

lidou por ali é uma incógnita até mesmo para os Perbiche. Em 1878, o bisavô de Roberto, acompanhado do avô, então com 6 anos, ”De acordo com os relatos dos chegaram ao Porto nossos avôs, as mudas de uvas de Paranaguá vieram na bagagem junto com a bordo do navio os imigrantes.” Pascal, que trazia além de Roberto Perbiche - Produtor imigrantes poloneses da região da Galícia – como eles –, camponeses da Prússia Ocidental, hoje Alemanha. “De acordo com os relatos dos nossos avôs, as mudas de uvas vieram na bagagem junto com os imigrantes”, conta Roberto. Naquela época, o Brasil precisava de mão-de-obra para o seu desenvolvimento na indústria e na agricultura e como o povo europeu, além de estar vivenciando tempos difíceis em seus países de origem, eram muito experientes e tinham as características necessárias para enriquecer as terras, eles não paravam de desembarcar em portos nacionais. Ao que parece, quando chegaram à região de São José dos Pinhais, devido ao incentivo da prefeitura, o bisavô de Roberto conseguiu adquirir uma propriedade de cinco alqueires, e com o passar do tempo, a família foi se estabilizando na produção e obtendo ainda mais terras na região. Quanto à produção do vinho em si, hoje, Roberto trabalha

Manuella Niclewicz O museu da família Perbiche expõe mais de 900 peças.

ao lado de seu filho Mauro, responsável pelo cultivo do parreiral. Em decorrência da modernização das máquinas e com uma visão empreendedora, a família sentiu a necessidade de melhorar o processo de fabricação e se adaptar às novas tecnologias. Esse é o motivo pelo qual o procedimento não é mais tão artesanal. O processo de amassar as uvas com os pés e os barris de madeira se tornaram apenas artefatos de memória do acervo. Atualmente, quem ocupa seus lugares são máquinas modernas, barris de aço inox e equipamentos que garantem a própria segurança alimentar. Quanto à quantidade, Roberto garante que o engarrafamento anual de 30 mil litros de vinho é vendido exclusivamente em sua propriedade. Além do vinho, carro-chefe em toda a colônia, e do museu, Roberto tem o seu diferencial nos quitutes produzidos de forma artesanal pela esposa, Diva Pissaia. O modelo de negócio, que começou apenas como um agrado para os filhos, já chega às mãos da sexta geração da família, dos netos de Roberto. As bolachas e geleias Divina tornaram-se sucesso em todo o Caminho e virou destaque do empreendimento. Todo o percurso respira e suscita histórias e, coincidentemente, algumas famílias instaladas por ali tem algum grau de parentesco. É o caso das famílias Perbiche/Pissaia. O lado italiano de seu Roberto vem de Diva. A família Pissaia ou Pizzaia, na grafia original, natural de Covolo, norte da Itália, também desembarcou no porto de Paranaguá, no ano de 1878. A história de dona Diva e sua família é contada por Dirceu Pissaia, seu irmão e proprietário de outro empreendimento na região, a vinícola Vô Dide e Salumeria Mergulhão. Atualmente, quem toma a frente da vinícola é Dirceu e seu filho, Diogo, mas o empreendimento teve início sob os comandos de David Pissaia. De acordo com Dirceu, quem veio da Itália foi seu bisavô. “A Casa da Cultura, na entrada da Colônia, era a casa do nono ‘Húngaro’. Pelo fato de todas as adegas do lado direito de quem vem do portal serem da mesma família, acreditamos que meu bisavô era dono de todos esses terrenos e aos poucos foi desmembrando por gerações da família”, afirma. A história deles não difere muito do caso dos

Roberto e Diva Perbiche produzem vinho há 15 anos.

Um dos bisavôs de Dirceu Pissaia. Três gerações da Família Pissaia: Dirceu, Diogo e David.

Perbiche. O início da produção se deve ao fato da existência de parreirais e uva para o consumo. O pai de Dirceu, seu David, era quem detinha o hábito da produção para consumo próprio, ainda mais que, como defende Dirceu, “todo o italiano que se preza costuma fazer um vinhozinho em casa”. Por mais que a produção fosse para desfrute próprio, a tradição foi repassada para seu filho Dirceu e o seu neto, Diogo. Mesmo que Dirceu crescesse vendo a tradição de seu pai, este não foi o primeiro modelo de negócio que ele decidiu implementar. A produção leiteira foi o primeiro empreendimento de Dirceu, que produzia cerca de 500 litros por dia. “Começamos assim. Mas, à época da inflação, o leite começou a encarecer e chegou no limite de que não valia mais a pena.”, lembra Dirceu. Enquanto Dirceu

e seu filho trabalhavam com esse tipo de agricultura, seu David continuou com a tradição da produção artesanal de vinho. Foi então que, com as dificuldades de manter o negócio, Dirceu resolveu comercializar os vinhos junto com seu pai e seu filho, no intuito de perpetuar a tradição. Atualmente, com a produção de 30 mil litros por ano, Dirceu comenta que uma desvantagem da produção é a terra ser muito fértil, pois isso aumenta as chances de praga. Entretanto, lembra, feliz, que “temos parreiras de uva que tem mais de cem anos e ainda rendem frutos”. Quanto à concorrência, Dirceu defende que não existe essa rivalidade entre os produtores. Inclusive, alega que “a Colônia vai para frente ”Todo o italiano que se porque somos todos unidos e, de alguma forma temos algum grau de parentesco”. preza costuma fazer um vinhozinho em casa.” Para manter o controle de igualdade no valor do vinho e qualidade Dirceu Pissaia - Produtor em todo o percurso,

ele comenta que os produtores montaram a Associação do Caminho do Vinho, a Acavim, com foco primordial em organizar e transformar a Colônia Mergulhão em um destino turístico rural. “Temos reuniões para a discussão de preços dos vinhos que são tabelados, também temos a preocupação com a conservação do território em termos de iluminação, placas e reformas. A concorrência que existe é no atendimento e na qualidade”, comenta Dirceu. Para aproveitar o passeio sem precisar se preocupar em dirigir, uma das opções é a Linha Turismo Caminho do Vinho. Com ela, é possível fazer um passeio com duração de cinco horas, com roteiro personalizado e um guia turístico – trajado com típicas vestes italianas – que explica toda a história. O serviço foi iniciativa da esposa de Dirceu, Rosana Pissaia, em parceria com uma viação de ônibus. O objetivo de montar o transporte foi implementar o turismo na Colônia. Segundo Rosana, “em um dos cursos de empreendedorismo rural, logo vi que minha função dentro desse cenário seria a de receber pessoas. Então, fiz o curso de guia de turismo, montei uma agência e busquei apoio para meu projeto de uma viação. É uma parceria que completa nove anos neste mês, mas vive da nossa persistência. “Não é nada sustentável”, afirma. Ainda durante o passeio, são feitas paradas estratégicas para um café colonial ou almoço. Ao todo, são programadas oito paradas.

Acerte na escolha!

Existem várias formas de se apreciar um bom vinho, mas a grande variedade acaba confundindo quem não é especialista na hora da escolha. Além da cor – branco, tinto ou rosado –, os vinhos ainda podem ser classificados quanto à classe, que diz respeito à graduação alcoólica, ou ainda ao teor de açúcar, podendo ser seco, meio doce ou suave. O enólogo Washington Uchôa conta que a quantidade de açúcar influencia no estilo e não em sua qualidade em si. “Não são suas propriedades e características que determinam a qualidade dos vinhos e, sim, as necessidades de cada ocasião”, afirma. Por isso, Uchôa alerta: o preço de uma garrafa não é proporcional a sua qualidade. “Ao tentar harmonizar um vinho, não é preciso gastar muito. Então, não invente! Se não for possível ter a ajuda de um profissional, seja coerente: busque vinhos da mesma região dos pratos a serem servidos”, explica. As principais dicas do enólogo para quem quer escolher uma boa garrafa é prestar atenção se não há vazamento em sua rolha, ler os rótulos, pois eles trazem muitas informações e, em caso de grandes dúvidas, optar pelos produtores consagrados.

Serviço

Caminho do Vinho – São José dos Pinhais

Rua Júlio Cesar Setenareski, s/nº/ Colônia Mergulhão, São José dos Pinhais, Paraná

Arte metropolitana

Ruas da grande Curitiba ganham um colorido especial pelas mãos de artistas urbanos

Gabriela Fialho, Julia Baggio e Monique Benoski

Alatinha de tinta na mão e a inspiração pela arte é a marca registrada destes artistas que usam de seu talento e criatividade para colorir as ruas da Região Metropolitana de Curitiba. Inspirados na manifestação artística relacionada a uma linguagem popular, seus trabalhos ganham vida em meio ao caos dos grandes centros urbanos. Com traços e cores, os grafiteiros se destacam e buscam fugir do rótulo de que o grafite e a pichação são sinônimos e trazem em suas bagagens, além da vontade de criar, o desejo de se manifestar.

Afastada da exclusiva relação com o universo jovem e muito longe do estereótipo de “coisa de marginais”, a arte de rua tornou-se um dos maiores movimentos artísticos de grande alcance neste mundo de configuração cada vez mais globalizada. O graffiti designa a arte que transpõe muros, paredes e dialoga com toda espécie de mobiliário urbano. Os grafiteiros, por amor à sua arte, se entregam por aquilo que os move, e na maioria das vezes tiram dinheiro do próprio bolso para manter sua paixão. No Muro

Rodeados pela vida agitada da Região Metropolitana de Curitiba, muitos moradores e empresários cedem espaços para o graffiti. Esse foi um dos motivos que fez com que o comerciante Luís Gonzales, 51 anos e morador de Araucária, transformasse sua moradia em espaço para a arte dos grafiteiros. Depois de várias tentativas falhas de “proteger” o muro de sua residência e de seu estabelecimento de indevidas pichações, Gonzales deu uma chance para a arte urbana, a qual conhecia, mas pela qual sentia certo preconceito. “A pichação era algo frequente no muro da minha casa e de minha loja. A cada mão de tinta para esconder, era uma nova depredação. Um dia um grafiteiro tocou minha campainha pedindo um espaço do meu muro para ele me presentear com sua arte”, explica. Esse foi o primeiro contato de Gonzales com o graffiti, depois de receber sua primeira arte de presente ele se apaixonou e hoje é conhecido pelas cores que entornam sua casa. “Depois da primeira vez que fizeram no muro da minha

casa, me encantei com tanto talento e criatividade e vi que aquilo era arte de verdade. Hoje, todo mundo conhece minha casa e meu comércio pelo graffiti que colorem os muros. Tento renova-los todo o mês”, conta.

Graffiti x Pichação

Em diversos pontos da cidade encontramos diferentes formas de arte nos muros de cada esquina. Mas como podemos distinguir o que realmente é criação artística e o que está fora das leis? Uma questão que divide opiniões de leigos a especialistas. O graffiti hoje é um mercado muito promissor. Há consumidores da manifestação, nas galerias de arte urbana, por exemplo, o que afirma a seriedade do trabalho feito. Para Caio Brandalize, artista plástico e especialista em arte de rua, “O graffiti é considerado uma expressão urbana, enquadrado ao street art – em tradução livre, arte urbana. A pichação, além de não ser considerada arte, é crime previsto em lei. Em outros termos, pode ser avaliada como vandalismo”, opina.

crédito: divulgação “Sempre uso o graffiti para deixar marcas boas no mundo” Kallib Daher, grafiteiro crédito: divulgação

Daniel, “Onew”, não abre mão da sua arte, mesmo acreditando que viver de graffiti atualmente é algo quase impossível.

Para um artista, ter seu trabalho na rua é o mais importante, independente do local.

Rafael Gomes, 25 anos - Almirante Tamandaré

Rafael vive no universo do graffiti desde seus 8 anos, porém, só fez uso da sua primeira latinha de tinta aos 10. Desde pequeno, sempre estudou e buscou referências para evoluir. Sobre a possibilidade de viver de graffiti, Rafael acredita que ainda mantemos uma cultura muito pobre, o que acaba dificultando um pouco a valorização.

“Hoje o graffiti continua saindo das periferias e invadindo as capitais, justamente por querer mostrar que temos muitos problemas e temos voz para isso.”

Kalibb Daher, 25 anos - Campo Largo

2011 marcou o início do graffiti na vida de Kalibb, que criou o grupo Arte Crew junto com alguns amigos. Em busca de maior experiência, sempre estuda novos artistas e diferentes técnicas. Hoje, ministra aulas pela prefeitura de Campo Largo, o que, para ele, é de extrema importância, pois inspira cada vez mais artistas. Entre seus sonhos, está a vontade de levar as artes da Região Metropolitana para fora do país.

“Sempre uso o graffiti para deixar marcas boas no mundo, faço minha arte com mensagens positivas.”

Daniel “Onew”, 32 anos - Pinhais

Desde meados de 1998, Daniel, ou Onew como é chamado por seus amigos, leva o graffiti como sua principal forma de expressão e diversão. Em 2000, começou a participar de eventos dentro e fora do Paraná. Quando sai para pintar, ele sente sempre a mesma emoção, pois sabe que naquele espaço pintado deixará um pedaço de sua história.

“Graffiti é cultura, é alegria, é sair da mesmice. O graffiti aguça a atenção, transforma aquele simples momento em algo alegre. Graffiti é pura felicidade para quem vê e principalmente quem faz.”

Cores ao vento

Desde criança tinha o sonho de tocar as nuvens. Hoje, Mauro Leandro Chemin possui 3 mil horas de voo e é dono da única fábrica de balões do Paraná

Lana Gillies com a colaboração de Beatriz Lima e Camila Costa

Seu largo horizonte define seu nome. Essa linha, que aparenta unir o céu à terra e ao mar, some em meio às matas de araucárias, que se intercalam entre silenciosos prados e os raios de sol. Recém-asfaltadas, suas estreitas estradas percorrem vastos territóNa continuação da rodovia pavimentada, uma estrada de barro, que levanta as pedras do chão e desnuda os dentes-de-leão. Em sua sequência, uma ponte feita com tábuas de madeira, que, apesar de aparentar fragilidade, nos conduz a um ponto referencial para se chegar à

rios agrícolas protegidos por portões e arames farpados que escondem chácaras, fazendas e sítios.

A “Capital da Louça”, que recebe este nome por obter a maior produção e exportação de louças e porcelanas do Brasil, abriga também fontes de recursos naturais, dentre elas, a mais famosa fonte de água mineral do país: a Ouro Fino. Ainda em seus 1.249.422 km², este município se destaca pelas inúmeras opções turísticas ligadas ao potencial de sua natureza: o Parque do Mate, a Estância Mineral Ouro fino e a Serra de São Luiz do Purunã. Mas o que poucos sabem é que a Cidade de Campo Largo amanhece e se despede, em seus finais de semanas, com um céu colorido - cores vivas providas pela única fábrica de balões de ar no Paraná. Snap Balonismo. Fabricação em escala, produção mecanizada em grandes quantidades, funções repetitivas sem qualificação da mão de obra - de nada disso essa “indústria” possui.

Logo em seu portão, duas galinhas e um cachorro ficam de prontidão para receber os visitantes e passageiros. Pois, além de fábrica e moradia dos empreendedores de balonismo, o terreno da chácara possui um espaço reservado para decolagens e pousos de balões de ar quente. São três galpões que dividem a família Chemin para a fabricação de balões tradicionais e especiais, tanto para venda nacional quanto internacional.

O primeiro galpão serve como escritório e área de criação, onde se desenvolvem todos os projetos e a impressão de moldes. “Antes fazíamos tudo à mão. Dependendo do modelo, fazía

“Eu comecei a voar em 1993, e em 1994 já tinha meu balão e era piloto.” Mauro Leandro Chemin

Com o sonho de voar desde a infância, Chemin relembra que só atingiu seu objetivo depois dos 20 anos de idade. Mauro mostra a capa do jornal de Albuquerque, comprovando o sucesso do balão das abelinhas.

crédito: Beatriz Lima Norberto utiliza a técnica de trançar vime que foi passada de pai para filho.

crédito: Beatriz Lima

Um centímetro errado pode comprometer totalmente a confecção de um balão.

mos em 3D – por exemplo, em argila - depois desmontávamos e tínhamos que planificar. Hoje fazemos tudo por computador, com softwares”, nos relata Mauro Chemin, balonista e dono da indústria.

O segundo espaço é onde os balões ganham forma. Com duas máquinas de costura no canto do ambiente, Mauro e seu filho Kaio unem, através de uma técnica exclusiva e secreta, o material do balão, que se esparrama cobrindo

todo o chão com sua imensidão.

Em meio a mugidos de vaca e berros de uma cabra, os cestos de vime são trançados por Norberto Santa, no galpão mais afastado. Suas técnicas para a construção de cestas – que suportam de 2, 4, 6, 8, 10, 12 e até 16 pessoas – foram desenvolvidas por experiência própria e por conhecimentos passados de geração a geração. Seu pai elaborava cestas de pão em uma época em que nem se ouvia falar da existência de balões no Brasil. Já seu avô produzia carroças de boi, na antiga Iugoslávia.

Todos, artesanalmente feitos de uma junção de vime, vime sintético, aço inoxidável e cabos de aço, levam em média um mês para serem produzidos. Um resultado possível somente com um trabalho contínuo iniciado às oito horas, que se estende até as 18 horas.

Por ser um negócio familiar, a Snap Balonismo, que antes era formada por 18 funcionários, hoje está mais enxuta e possui apenas três integrantes da família mais uma secretária. “Eu comecei a voar em 1993, e em 1994 já tinha meu balão e era piloto. Mas foi a partir de 2000 que começamos a construir balões. A minha avó já costurava balões de papel de seda na máquina de costura para a gente soltar nas copas de 1970 e 74. Mas desde pequeno eu tinha o sonho de voar. Só consegui isso em 1993”, confessa o dono.

Mauro Leandro Chemin é o piloto que mais voou em cima de grandes capitais no Brasil. Fundador desse segmento aqui no Paraná, tornou sua empresa única na região, uma das quatro fábricas que constroem balões aqui no Brasil. Seus filhos, além de serem pilotos de balão, ajudam no planejamento e construção dos mesmos. Kaio fica responsável pela costura, enquanto Lucas projeta os balões por meio de softwares. “Para fazer o balão, não há curso. Isso se passa de pai para filho. A pessoa tem que ter o dom, não só a técnica ou a teoria. No mundo todo, há produção de balão apenas na República Tcheca, na Inglaterra, na Espanha e aqui no Brasil”, declara.

Chemin tem mais de 3 mil horas de voo. Já sobrevoou diferentes paisagens e hoje se orgulha ao afirmar que falta apenas um continente para explorar dentro de um balão: a África. “Acabei fazendo do esporte minha profissão e principal atividade. Trabalhei 30 anos em hospital, agora

“A minha avó já costurava balões de papel de seda na máquina de costura para a gente soltar nas copas de 1970 e 74”

As cores de Campo Largo

Maior clássico futebolístico do município, o duelo entre Fanático e Internacional completa 70 anos

Aliny Gohenski, Guilherme Becker, Karyna Prado e Luana Kaseker

Histórias, gols, rivalidade entre torcidas, vitórias heroicas, derrotas amargas e títulos inesquecíveis. Esses são alguns ingredientes que abrilhantam os clássicos de futebol. No Paraná, quando se fala em rivalidade é impossível não lembrar do duelo entre Atlético Paranaense e Coritiba. Entretanto, longe dos holofotes e a aproximadamente 30 quilômetros da capital do estado, um clássico amador com 70 anos de história tem os mesmos elementos que os grandes dérbis mundiais precisam ter.

Fanático e Internacional são duas equipes de tradição de Campo Largo e completaram, em 2015, 70 anos de um dos maiores clássicos do Paraná. Os clubes da região central da cidade disputam campeonatos oficiais desde 1945, quando a Liga Campo-larguense de Futebol foi fundada. Durante estas sete décadas de muita rivalidade o que não faltam são histórias e lembranças do clássico Interfan.

“No primeiro clássico oficial entre Fanático e Internacional, em 1945, o campo era cercado de madeira, com tábuas em pé e foi onde começou a rivalidade. O jogo foi o primeiro clássico federado e, na ocasião, a partida não terminou. Houve incidentes para o início da rivalidade, desavenças dentro de campo e, a

Fundado em 1945, o Internacional tem 28 títulos da Liga de Campo Largo.

Fundado em 1944, o Fanático tem 20 campeonatos campo-larguenses.

partir daí, começaram a definir quem seria torcedor de quem”, conta Alceu Mocelin Ferreira, atual presidente da Liga Campo-larguense.

De um lado, o Fanático fundado no dia 29 de dezembro de 1944 e que tem em seu escudo as cores vermelho, azul e branco. O Leão da Baixada, como é conhecido pelos seus torcedores, tem 20 campeonatos Campo-larguenses e sete Taças Paraná, principal campeonato amador do estado. A torcida apaixonada torce, acompanha o dia a dia do time e faz exigências como em uma equipe profissional, como explica o presidente do clube, Braz Bianco.

“A maioria que torce para time da capital, torce para equipe daqui do mesmo jeito. É nítido o sentimento a cada partida. Então não podemos criticar a torcida de vir protestar, chutar porta e fazer exigências. É paixão”, revela Bianco.

Assim como nos grandes clubes, os times amadores também contam com torcedores apaixonados que seguem as cores onde quer que estejam. Nelso (sem “n”) Nascimento, de 72 anos, acompanha o Fanático desde 1975 quando chegou à cidade de Campo Largo. Ele conta que a paixão começou após assistir a uma partida entre Fanático e Ferraria. Porém, para ele, nenhum jogo se compara à emoção de um clássico Interfan.

“Todos os clássicos contra o Internacional são marcantes. Os jogos são sempre equilibrados, com altos e baixos. Uma hora a gente ganha, uma hora eles ganham. Mas nossa rivalidade é sempre dentro de campo, fora dele nós somos todos amigos”, lembrou o fanático torcedor.

Como em clássicos de proporções nacionais, os confrontos entre Fanático e Internacional movimentam o munícipio de Campo Largo. A rotina muda, as emoções ficam à flor da pele e a ansiedade toma conta daqueles que, principalmente, dedicam algum tempo a torcer pelos dois principais clubes da cidade.

crédito: Guilherme Becker Nelso Nascimento viveu sete títulos da Taça Paraná. “O clássico mexe com Campo Largo. É uma semana em que você dorme uma hora e não consegue dormir mais. Começa a pensar, a lembrar, amanhece o dia acordado. Então, é uma preocupação tremenda nessa semana, não é fácil”, afirma Nascimento, que já passou várias noites em claro na ansiedade de uma partida.

Apesar de toda magia que envolve um clássico regional, o presidente Braz Bianco revela que sua maior decepção no futebol até hoje, não foi após um clássico e sim por uma atitude do clube rival. Ele conta que quando o Fanático perdeu a final da Taça Paraná de 2014, para o Bandeirantes, por 2 a 0, os torcedores rivais foram recepcioná-los na entrada de Campo Largo.

“A turma do Internacional foi recepcionar a gente lá no viaduto, com camisa e bandeira. Nós chegamos debaixo de chuva, todos chorando e o rival ainda abriu os portões do estádio, acendeu os refletores e queimou dez minutos de foguete. Eu estou contando e querendo chorar de tristeza, mas isso está engasgado e vai ter volta. Eu não sou um cara vingativo, mas a torcida estava toda esperando a gente, ia ser uma festa linda. O Internacional poderia estar torcendo pela gente, porque é a cidade, não, mas, eles queriam que nós perdêssemos”, relembra, com mágoa, Braz Bianco.

A poucos quarteirões do estádio Angelo Antonio Cavalli, está a sede do Internacional. Clube fundado em 30 de maio de 1945, o Alvinegro

de Campo Largo também arrasta uma multidão de seguidores apaixonados. Na história, o time preto e branco tem mais títulos regionais que seu rival, totalizando 28 taças, porém, venceu apenas seis vezes a Taça Paraná, uma a menos do que o Tricolor.

“O clássico mexe com Campo Largo. É uma semana em que você dorme uma hora e não dorme mais.” Nelso Nascimento, torcedor.

Com um grande equilíbrio na galeria de troféus, os torcedores do Internacional também têm motivos de sobra para se orgulhar de vestir o “manto” preto e branco. Após três títulos seguidos da Taça Paraná e igualar o adversário no número de conquistas, o ano de 2015 iniciou de maneira amarga após o Fanático faturar mais uma edição e novamente se posicionar a frente do Inter.

A diferença mínima de taças entre os clubes reflete nos duelos dentro de campo. O torcedor Juarez Butture de Oliveira, de 57 anos, afirma que o clássico tem uma energia diferente, as equipes podem estar em situações distintas, mas, mesmo assim, fazem jogos equilibrados e sem favoritos.

“Sempre entendi clássico como sendo o jogo da incógnita, porque você nunca sabe quem vai ganhar, independentemente da condição de um e outro. Parece que as forças emergem do nada. Aquele que está no chão se supera e derruba o outro. Todos os clássicos apresentam um perrengue, porque a paixão fala a flor da pele”, contou Butture. O torcedor que assumiu em 2007 o cargo de diretor de esportes da equipe já viveu histórias memoráveis com as cores do Inter. Desde alegrias, levantando troféu, até dias de tristeza, após derrotas doloridas. Porém, apesar das dificuldades de comandar uma equipe do futebol amador, Juarez explica como são os sentimentos às vésperas de um duelo com o maior rival.

“Antes de um clássico a ansiedade toma conta, mas temos que nos manter serenos. Precisamos passar para os atletas a tranquilidade. Você vai a uma guerra, mas não para matar ninguém. Tem que fazer com que ele brigue pelo título, mas sem deixar a ansiedade dominar. Mas é claro que também ficamos nervosos”, destacou o dirigente.

Apesar dos recursos limitados dos quais o futebol amador dispõe, o que sustenta o clássico Interfan há 70 anos é a paixão de seus torcedores. Fanaticanos e Internacionalistas dividem Campo Largo, mas se doam igualmente em prol da tradição de um dos maiores clássicos do futebol paranaense.

Juarez Butture destacou importância de Tico Gionédis para a história do Inter.

crédito: Guilherme Becker

This article is from: