8 minute read

Rua e bar lar doce lar

RUA E BAR

LAR DOCE LAR

Quando faz calor em Curitiba, a primeira ideia que vem à cabeça é onde tomar uma cerveja ou um drinque gelado. Ganham pontos os endereços que têm áreas ao ar livre - alguns, com o privilégio de serem cercados de árvores e plantas

Reportagem Aryane Monteiro Fotos Kauany Miguel

Sol, uma roda de amigos e bebidas geladas são, juntos, o melhor convite que os bares de rua têm a oferecer. Em um passeio pela cidade podemos perceber que os estabelecimentos e por vezes, os clientes, avançam pelas calçadas, “privatizando” o espaço público.

Bares como La Santa Bar Cocina Mexicana, na Rua Paula Gomes, 485, quase esquina com a Trajano Reis, mesmo com o espaço interno pequeno, atrai o público que escolhe ficar na rua.

Leandro de Oliveira, um dos sócios do La Santa, conta que antes colocava mesas e cadeiras para fora do bar, porém foi proibido pela prefeitura da cidade.

“Já imaginávamos que o bar ia ser pequeno e que a rua acabaria sendo uma extensão. Nós só não podemos colocar mais mesas na rua sem a autorização da prefeitura. Para a rua não precisa, porque ela é pública, e até o próprio cliente sempre pediu essa liberdade de poder utilizá-la.”

O sócio afirma que o bar tentou resolver a situação com a prefeitura, porém sem sucesso. “Nós meio que abandonamos essa parte de poder contar com algum órgão publico. Então, nós fazemos nossa parte: tiramos o lixo da rua, fechamos no horário”, defende Oliveira.

Meses depois da inauguração do La Santa, abriu o Chicken House Rock Bar, bem ao lado, com a proposta de servir frango frito. Rogério Penasso Furtado, sócio do Chicken House afirma que na hora de abrir o estabelecimento também já imaginava que a rua seria utilizada pelos frequentadores, por esta ser uma característica da região.

“Nós nos baseamos muito nos bares que existem, como O Torto e Rockburguer, mas na realidade não é só nosso bar ou o bar do lado, a região toda é assim. O pessoal tem como ideia utilizar a rua mesmo, é um espaço de todo mundo e todos gostam de ficar por ali.”

Furtado defende o uso das calçadas e ruas, pois para ele os bares só sobrevivem pela parte externa. “Acho que se meu bar fosse um pouco maior, não daria certo. Tenho exemplos aqui do lado: dentro do bar, está vazio, e lá fora está cheio. A galera gosta mesmo da rua, pode conversar melhor. O nosso público vem aqui pensando em ficar do lado de fora.”

O proprietário do Chicken House confirma que, para ele, o uso das ruas é uma tendência forte e reflete em lucro para os estabelecimentos. “O movimento dos bares cresceu muito, e nós, proprietários, torcemos para que aumente mais ainda, pois podemos tentar organizar a rua, porque hoje usamos o espaço, mas a estrutura não é boa, a calçada é mal-acabada, não tem iluminação, é necessário banheiro químico. Então, com uma força maior, com mais bares, mais empresários, quanto mais abrir, para os comerciantes em si, é melhor”, diz Furtado.

“Quanto mais abrir, para os comerciantes em si, é melhor.” Rogério Furtado, proprietário do Chicken House Bar

Dentro da lei

A ocupação do espaço pode até ser espontânea, mas existem regras a serem seguidas. Sara Polisseno de Oliveira, gerente de fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), explica que é necessário obter uma licença da Prefeitura de Curitiba para o uso do espaço urbano.

A gerente de fiscalização afirma que as mesas e cadeiras podem ser colocadas na calçada, mas têm que atender um padrão que é definido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC).

Para obter autorização, o estabelecimento terá de encaminhar a solicitação à SMU, acompanhada de projeto com as seguintes informações: dimensões da calçada, localização de equipamentos públicos nas proximidades (telefones, postes), disposição das mesas e cadeiras, e tipo de mobiliário a ser utilizado, conforme a padronização definida pelo IPPUC, que é aquele que já existe na cidade, uma "muretinha" de metal verde com as mesas compatíveis com o padrão.

A faixa reservada à circulação de pedestre terá de ter no mínimo dois metros de largura e a destinada ao mobiliário, largura máxima de três metros. A área onde ficarão as mesas e cadeiras terá de ser demarcada.

A secretaria vai avaliar as condições para liberar a licença. A permissão tem validade de um ano.

Caso os donos dos estabelecimentos não atentem a essas especificações Policeno afirma que existe a lei 11.095 de 2004 do Código de Obras e Posturas do Município, que prevê uma notificação aos bares que obstruam as calçadas, O bar La Santa chama a atenção bela entrada grafitada.

O Chichen House bar tem como prato principal o frango frito e cerveja barata.

O Chichen House e La Santa ficam lado a lado, e clientes na caçada aproveitando o espaço.

com qualquer material, se não tiver licenciado conforme o projeto que foi aprovado.

O departamento de fiscalização vai notificar o local para que as mesas sejam retiradas da calçada. Caso não sejam retiradas, existe uma multa, no valor de R$ 687, e se por fim as irregularidades persistirem, o estabelecimento poderá ter o alvará de funcionamento caçado.

“A lei é o Código de Obras de Posturas do Município, não diz especificamente que o bar pode colocar, diz que é proibido obstruir a passagem com qualquer tipo de equipamento, seja instalado ou depositado na calçada. Existem alguns decretos que saíram ao longo do tempo, permitindo a regularização desse uso através das licenças específicas, porém esses decretos são de competência do uso do solo”, explica Jussara.

Tem até praça

O bar Choripan, que fica na Rua Tapajós, 30, aproveitou o jardim que havia em frente à casa e o transformou em uma praça para seus clientes.

O dono do bar, Carlos Antonio Fracaro Rocha, explica que ele entrou com um processo na prefeitura para adoção da praça. O processo é chamado de Parceria Pública-Privada (PPP), contrato de prestação de obras ou serviços não inferior a R$ 20 milhões, com duração mínima de cinco e no máximo 35 anos, firmado entre empresa privada e o governo federal, estadual ou municipal.

“Nós tentamos a PPP porém o processo foi negado, pois a vizinhança não gostou da bem-feitoria, por muita reclamação dos vizinhos a prefeitura não liberou a adoção. Então nós

A rua é minha

Com o crescente movimento, a rua São Francisco no centro da cidade virou pauta pública

A criação recente da Praça de Bolso do Ciclista e abertura de vários bares, movimentou a vida noturna da rua São Francisco no centro da cidade, o que incomodou os moradores do único prédio residêncial da região, o edifício Schmidlin Tamm. Para o síndico, Luiz Carlos Shiminelo, o maior problema, além do barulho alto que perdura pela madrugada, é a quantidade de lixo que fica espalhado na rua pela manhã. “É absurdo a quantidade de garrafas de bebidas, bituca de cigarro, além do cheiro, porque o pessoal usa a rua de banheiro” diz Shiminelo.

Um abaixo assinado foi criado pelos moradores, pedindo aos bares que atualmente fecham as 23h, encerrem suas atividades mais cedo, além de mais rondas políciais abordando os “mijões” da rua.

Enquanto o pedido é avaliado, a prefeitura criou a campanha “precisamos falar da São Francisco”, para debater a ocupação conciente dos espaços públicos da cidade.

Bar Choripan: praça para uso e ocupação pública.

estamos cuidando apenas na frente do bar, o que é de responsabilidade de quem mora no local, cuidar do seu espaço.”

Fracaro, conta que apesar do primeiro processo ter sido negado, ele entrou com um novo pedido de adoção da praça e está aguardando o resultado pela prefeitura.

O local é bem arborizado e colorido. Tem mesas e cadeiras feitas artesanalmente, pintadas com diversas cores, além de flores para enfeitar o espaço. O que chama a atenção é a quantidade de lixeiras, que estão por toda parte. “Nós colocamos um monte de lixeiras, nós tentamos manter tudo limpo, temos pessoas que ficam responsáveis pela manutenção da praça. Vai das pessoas terem consciência na hora de vir para a rua”, afirma o dono.

Guilherme Soares foi pela primeira vez a um bar que disponibiliza uma praça e saiu de lá com uma impressão positiva. “Fica mais informal, gostei bastante. ”

Já Heloisa Grein Viera costuma frequentar os bares pelos espaços ao ar livre que eles oferecem. Ela acredita que o ambiente fica muito mais aconchegante. “No caso do Choripan as pessoas chegam aqui, sentam ao ar livre e conversam. O clima de Curitiba que é o problema, mas ultimamente está sendo bom. Eu gosto, mas acredito que deve incomodar os vizinhos deve ter algum barulho, tira um pouco da liberdade."

Realmente, o bar ao ar livre não agrada todo mundo. Os moradores da região se sentem muito incomodados pelo barulho que começa às 14 horas e se estende madrugada a fora. Ana Cristina Ferraz, vizinha do Choripan, conta que o barulho vai até três, quatro horas da manhã.

“Nós já fizemos de tudo, denunciamos, fizemos abaixo-assinado e nada adiantou. Moro aqui há sete anos, o bar está aberto há um ano e meio. A região era muito calma antes da abertura do bar, agora ninguém mais tem sossego.”

Enquanto moradores, frequentadores e os donos não chegam em um acordo, a rua continua livre, o bar aberto e a cerveja gelada.

Galeria

A Rua São Franciso é um dos principais exemplos de ocupação urbana da cidade. A grande quantidade de bares na região atrai muitas pessoas.

This article is from: