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Calendário em recuperação

Calendário

em recuperação

Após a greve dos professores, pais e alunos buscam alternativas para recuperar o tempo e o conteúdo perdidos

Aliny Gohenski M uito foi falado sobre os 73 dias de greve dos professores e funcionários da rede estadual de ensino do Paraná. Só no primeiro semestre deste ano foram duas paralizações: do dia 9 de fevereiro até 11 de março e de 25 de abril até 9 de junho. Durante o período, muitas tentativas de acordo com o governo foram frustradas, um confronto histórico entre a Polícia Militar e manifestantes aconteceu, salas de aula permaneceram vazias e um milhão de alunos da rede pública foram prejudicados.

Diante das incertezas, alunos e pais se adequaram como puderam. Cleide Ferreira, operadora de telemarketing e mãe de Gabrielly Ferreira, de 14 anos, resolveu trocar a filha de colégio. Gabrielly cursava o 9º ano do ensino fundamental na rede pública e, logo que a primeira paralisação teve início, Cleide resolveu a matricular em um colégio particular, apesar de a decisão afetar a condição financeira da família. “Nesse tempo de crise econômica no país não foi uma decisão fácil mudar minha filha de colégio e adquirir mais uma conta fixa. O ensino particular não é barato e, por causa disso, precisei abrir mão de outros gastos e luxos como alguns passeios e viagem para poder pagar a mensalidade.”

Ciente da gravidade da situação, a mãe diz ser algo válido para o futuro de Gabrielly. “Se ela continuasse no colégio público, certamente iria ser prejudicada pela greve”, afirma.

Para Gabrielly, a mudança também não foi fácil, além de passar a frequentar um ambiente novo, com colegas e pessoas diferentes, e ter sua rotina alterada, a estudante precisou enfrentar algo ainda mais difícil para ela: a distância dos amigos com quem convivera

desde os primeiros anos de escola. “No começo foi muito difícil para mim, pois estava acostumada com minhas amigas por perto, fazíamos trabalhos juntas, minha melhor amiga estudava na mesma sala que eu.” Agora a estudante já se diz adaptada ao novo colégio e lembra da importância disso. “Sei que estou lá por uma boa causa. Enquanto no colégio que eu estudava todos estavam em casa, eu continuei tendo aulas, não fiquei atrasada nos estudos e isso vai contribuir muito para meu futuro”, conta.

Isabela Leineker, 17 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio, não teve a mesma oportunidade de Gabrielly, mas mesmo assim não cruzou os braços. A estudante, que diz ter sido muito afetada com a greve, aproveitou o tempo em casa para revisar os conteúdos já passados pelos professores. Após o fim do período de paralização e o retorno às aulas, a aluna destaca o empenho dos docentes para tentar recuperar as aulas perdidas e passar o conteúdo de forma com que os alunos possam aprender mais em menos tempo. Segundo ela, as aulas de sábado estão sendo bastante produtivas e a turma está comparecendo, principalmente por estarem no último ano.

Para não ficar para trás, todos os dias Isabela e seus colegas se reúnem após a aula para fazer grupos de estudos e compartilhar o aprendizado. Apesar de todo o esforço de professores e alunos para colocar o conteúdo em dia, ainda há um grande atraso que pode prejudicar os pré-vestibulandos. “Mesmo depois de toda essa greve e caos no ensino, os vestibulares das universidades públicas não adiaram a data das provas e isso pode nos afetar negativamente”, lamenta a estudante.

Para a professora da rede estadual de ensino Evelize Ferreira a sexta aula prejudica o desempenho dos alunos e sobrecarrega o professor, e as aulas aos sábados atrapalham os alunos em relação às suas atividades complementares. De acordo com a professora, mesmo com todo o esforço, os alunos do último ano do ensino médio serão prejudicados, pois o vestibular é realizado antes do fim do ano letivo e existem conteúdos que eles só vão aprender após a realização das provas.

“Nesse tempo de crise econômica no país não foi uma decisão fácil mudar minha filha de colégio e adquirir mais uma conta fixa.” Cleide Ferreira, atendente de telemarketing

Tomada De Consciência

Hermes Leão, presidente da APP – Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná, defende que embora possa parecer um paradoxo, a ausência dos estudantes nas escolas por razão da prolongada greve, a paralisação também produz uma tomada de consciência quanto à importância da escola para a vida dos jovens e adolescentes. “Contudo, algum prejuízo intelectual e de

aprendizado não pode ser descartado. Entendemos que está havendo um esforço coletivo de garantir os direitos letivos a comunidade estudantil”.

A Secretaria de Estado da Educação (SEED), através dos Núcleos Regionais de Educação (NREs), acompanha o cumprimento dos calendários de reposição de aulas em todo o estado, que devem conter as 800 horas-aula previstas na Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Como houve casos de escolas que não aderiram à greve, outras que aderiram parcialmente e outras que participaram totalmente do movimento, os calendários são diferentes. Segundo a SEED, parte das escolas da rede estadual encerrará o ano letivo de 2015 até dezembro, enquanto outras unidades só terminarão em 2016, nos meses de fevereiro ou março, conforme o caso.

“Entendemos que está havendo um esforço coletivo de garantir os direitos letivos a comunidade estudantil.”

Hermes Leão, presidente da APP

Amanda Penteado

Após 73 dias de greve e várias tentativas de acordo entre a classe e o governo, no dia 9 de junho a greve foi suspensa e o acordo apresentado pelo governo, que prevê o pagamento de 3,45% , referente à inflação entre os meses de maio, quando vence a data-base da categoria, e dezembro de 2014. Em janeiro de 2016 e 2017, os servidores devem receber um novo reajuste, com a inflação acumulada no ano anterior, mais um ponto percentual. Em maio de 2017, os servidores ainda devem receber um novo aumento, em relação ao primeiro quadrimestre do ano. Já em 2018, a data-base voltará para o mês de maio, quando será paga a inflação acumulada no último período A preocupação da SEED neste momento é com a qualidade da reposição de aulas, e por isso a secretaria pede a colaboração de alunos, pais e/ou responsáveis, para que entrem em contato com a Ouvidoria (0800419192), (41) 3340-1538 e (41) 3340-1539, (41) 3340-1596, (41), 33401732) caso tenham alguma reclamação ou sugestão a fazer.

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