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A volta dos bolachões

Substituídos pelos CDs por algum tempo, os discos de vinil estão de volta para a alegria dos colecionadores

Matéria: Fernanda Bertonha e Mônica Seolim Fotos: Aldo Edson Portes de França

“Chegava a pagar uma média de R$150 em discos, principalmente os mais raros, como o ‘álbum branco’ dos Beatles.”

– Rogério Gajda, produtor audiovisual

Depois de perder espaço para os CDs, os discos de vinil (LPs, ou ainda, bolachões) voltaram a ganhar destaque na mídia musical. Colecionadores chegam a pagar mais de R$100 por uma única peça. No Brasil, a indústria fonográfica que produz os LPs enfrenta os altos impostos, que tornam os produtos importados mais atraentes.

Para João Augusto, consultor da Polysom (produtora de vinil do Rio de Janeiro), na década de 90, os CDs se popularizaram no Brasil por oferecerem vantagens em relação ao vinil. “A portabilidade, o menor espaço ocupado nas prateleiras, a capacidade para mais tempo e músicas”, justifica. Segundo ele, os LPs nunca deixaram de existir, apenas tiveram sua produção diminuída drasticamente, até a virada do último século, quando voltou a entrar em alta por vários motivos: “Romance, tradição, saudosismo e a própria oposição a um mundo tão cibernético.”

O consultor diz ainda que o Brasil tem demanda para o mercado dos bolachões, mas que as altas cargas tributárias são um problema. “Os custos de produção são elevados e os impostos altíssimos no Brasil oneram mais ainda.” Mesmo assim, os artistas estão lançando suas obras nesse formato, pois de acordo com o consultor, “a música deles ganha níveis tão elevados quando reproduzidas em vinil que até um gasto a mais passa a valer a pena.”

De 2010 a 2014, a Polysom gravou 135 mil discos, sendo que no ano de 2013, essa produção registrou um crescimento de 63%. A tiragem mínima para um disco de vinil é de 300 peças, sendo que para produzir 500, o valor fica em torno dos R$ 10 mil.

O bancário Pedro Henrique Lopes coleciona discos há seis anos, e diz ter se encantado com

detalhes que não encontrava nos CDs. “O formato da capa, ter que trocar o lado do LP depois de 20 minutos.” Hoje, Pedro tem mais de mil discos e já pagou R$450 por algumas peças de sua coleção. O colecionador acredita que a época de ouro dos bolachões ficou no passado. “É ilusão acreditar que o LP voltará com força total, que venderá horrores como aconteceu com o mercado de CDs na década de 90!”

O assessor de comunicação Aldo Edson Portes também é colecionador e diz que, na infância, economizava dinheiro do lanche para comprar discos. Ele aponta que o retorno da força dos vinis inflacionou o mercado. “Receio que, em pouco tempo, colecionar discos se transforme em hobby apenas para pessoas de alto poder aquisitivo, se é que isso já não está acontecendo.”

A conservação do disco de vinil também exige um cuidado especial, como explica Aldo. “Eu lavo os meus LPs com detergente neutro, debaixo da torneira. Nada de álcool ou qualquer outra substância corrosiva.”

Rogério Gajda é produtor de material audiovisual e também trabalha como DJ. Como colecionador, ele tem cerca de 700 discos em casa e o primeiro que comprou foi aos 13 anos de idade. “Na minha adolescência só tinha vinil e fita k7, meus pais e tios ouviam vinil, e com mais ou menos 12 anos, eu já tocava em festinhas de garagem, usando disco.” Em seguida, Rogério começou a tocar profissionalmente, mas mesmo com a chegada das mídias digitais para facilitar seu trabalho, nunca abandonou os bolachões. “Chegava a pagar uma média de R$ 150 em discos, principalmente os mais raros, como o ‘álbum branco’ dos Beatles”, relembra.

O DJ diz que a qualidade do vinil é superior à de outras mídias, mas isso só é perceptível quando se tem um aparelho de qualidade. Sobre a sua relação com o bolachão, ele afirma: “Eu toco em festas com o computador, uso o digital no carro e em casa, mas o vinil é uma paixão à parte! Ouvir vinil é diferente, você vê a música, tem a experiência de colocar a agulha no disco, tem que virar, o som é diferente, você entra em contato direto com a música”, conclui.

César Araújo, um dos proprietários do Sebo Líder, localizado em Curitiba, diz que a venda de vinis é uma das principais responsáveis pelo faturamento da loja. Os discos são procurados por gente de todas as idades e, inclusive, ele diz que se surpreende com a quantidade de adolescentes, na faixa dos 15 anos, que faz a compra desse tipo de mídia. Os valores variam de acordo com a raridade. Existem peças de R$1,50 e até de R$180. Para ele, a volta da popularidade do vinil foi estimulada pelos colecionadores, “mas a grande mágica dos bolachões é a viagem no tempo que só eles nos permitem fazer”, conclui.

Uma desvantagem do vinil em relação ao CD é o espaço que ocupa.

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