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Conexão mundo
Conexão

Andressa Elesbão, Giovanna Kasezmark, Glaucia Périco e Raphaela Viscardi

correria do dia a dia, o estresse no trabalho e as preocupações com a família, muitas vezes, já nos fizeram ter a vontade de largar tudo e sair pelo mundo, sem compromisso, só com a mochila nas costas, não é mesmo? Hoje, há quem prefira trocar o terno, a gravata e a estabilidade financeira por trabalhos informais fora do país, a fim de adquirir experiências culturais e crescimento pessoal, além da possibilidade de ganhar mais dinheiro.
Trabalhar para custear a viagem tem sido a melhor opção para quem vai fazer intercâmbio cultural e deseja estender a permanência no país escolhido. Muitos dos países desenvolvidos têm escassez de mão-de-obra para setores informais, o que favorece intercambistas que, ao chegarem a seu destino, acabam aceitando empregos que, na maioria das vezes, não condizem com sua formação acadêmica. Porém, eles veem na remuneração não só a possibilidade de se manter no país, mas também uma nova oportunidade para ter ainda mais contato com os cidadãos e a cultura local.
É o caso de Amadeu Olivério, 25 anos, formado em Economia, que preferiu deixar o trabalho num banco, para viver seis meses na Austrália, trabalhando como garçom em restaurantes. Depois de muito trabalho e de um bom retorno financeiro, o jovem decidiu estender a sua experiência por mais meio ano. “Precisava ver o mundo de outra forma, às vezes nos prendemos a algo - trabalho, cidade e relacionamentos - por comodidade, por sabermos “fazer” aquilo, e não buscamos um algo a mais, uma mudança”, diz.
Além da vivencia na Austrália, Olivério passou dois meses viajando pela Ásia e vivenciando novas culturas. “Quando você sai de algum lugar, você leva os costumes e manias. No momento, eu não sinto que tenho um lugar para chamar de casa, talvez seria o Brasil, pela minha família e amigos. Mas quero andar muito ainda antes de me firmar. A experiência em cada lugar me muda infinitamente, até mesmo sem eu saber.”

Independentemente da área de atuação, o mercado de trabalho brasileiro está cada vez mais concorrido e, por isso, muitos recém-formados buscam ter a vivência internacional, pois, hoje, é um grande diferencial na seleção para as vagas de emprego. Aos 22 anos, Ana Carolina Silva se formou em Secretariado Executivo e visava aos processos de trainee nas grandes empresas brasileiras. Então, assim, decidiu ir para a Holanda para trabalhar como babá e adquirir uma maior bagagem. . “Profissionalmente, o que valeu foi a experiência internacional, o contato com pessoas que trabalhavam em grandes empresas na Europa, conhecer mais sobre as oportunidades de trabalho lá, comunicação 100% em inglês e também aprendi um pouco de holandês”, conta.
Além da experiência na Europa, Ana também passou um ano e meio trabalhando em uma empresa no Chile. “Foi meu primeiro emprego CLT, me ajudou a desenvolver habilidades profissionais, tive a oportunidade de ser gerente de uma equipe e responsável por grandes projetos.”
O fato de ter contato com a língua oficial do país é outro motivador para os jovens saírem
Arquivo pessoal



Arquivo pessoal

do Brasil. O interesse em se tornarem fluentes é grande, haja vista a necessidade que até o mercado brasileiro impõe sobre o conhecimento de ao menos dois idiomas.
Para Luiz Fernando Lopes, 26 anos, o contato com uma nova língua e cultura foi determinante para a decisão de sair do país há cinco anos. “Me agregou crescimento pessoal, principalmente pela experiência de vida que tive fora do Brasil. Além do contato com o inglês, que agregou valor ao meu currículo, contando muitos pontos para a empresa em que trabalho hoje”, declara.

Porém, trabalhar para custear a viagem pode não ser tão fácil e recompensador, afirma Estefany Reimão, 21 anos, que trancou a faculdade de Direito para passar um ano estudando inglês na Irlanda. Para se manter na Europa, a intercambista precisou procurar um emprego e, hoje, mora com uma família irlandesa e cuida dos três filhos do casal. “Para quem vem estudar é praticamente impossível ganhar um salário mínimo, que gira em torno de oito euros por hora. Quem não tem passaporte europeu ou não é 100% fluente em inglês, ganha ainda menos. Eu mesma dependo de uma quantia que minha mãe manda do Brasil todos os meses”, explica.
Estefany viajou com o objetivo de passar um ano na Europa e, mesmo pretendendo ficar mais tempo, não sabe se vai conseguir estender a viagem. “Não quero destruir o sonho de ninguém, mas não é fácil largar todo o conforto que se tem no Brasil e ter que correr atrás de moradia e emprego num lugar que você não conhece. Eu tenho trabalhado de 12 a 14 horas por dia e só vou estender o intercâmbio se conseguir um local pra morar que seja barato e um novo emprego”, desabafa.
De acordo com Amadeu Olivério, morar fora do país, conviver com diferentes culturas e enfrentar novos desafios contribuem para o crescimento pessoal, mudando, muitas vezes, totalmente o modo de vida de quem possui uma vivência internacional. Além disso, grande parte do aprendizado adquirido la fora, é posto em prática no retorno para o país de origem. “Quando eu voltar para o Brasil, depois da morar na Austrália, um país de primeiro mundo, eu quero levar o método de organização deles, mas primeiro começando por mim e, depois, passar adiante para o resto da sociedade”, declara Amadeu.

Já Ana Carolina afirma que como não foi um trabalho na sua área de atuação, a estada na Europa a fez evoluir muito mais pessoalmente. “Vi um crescimento interno gigante em relação a minha autoconfiança e perdi o medo de arriscar”, conta. Porém, apesar da Holanda ser um país desenvolvido, Ana declara que “morar na Europa me fez perceber a grandeza do Brasil. Notei que mesmo países mais organizados e ricos também têm problemas, cada um em sua proporção.” Ana Carolina em Amsterdan, na Holanda.
Arquivo pessoal Estafany Reimão durante o St. Patrick’s Day.
