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Cozinha sobre rodas
Os Food Trucks estão conquistando a cidade e lançando tendência
Reportagem: Débora Dutra; Evelise Muncinelli; Pedro Almeida e Victor Waiss Fotos: Débora Dutra e Victor Waiss
Para se destacarem, proprietários apostam na personalização dos veiculos
Seja pela correria do dia a dia, ou mesmo pela vontade de experimentar uma comida diferente e rápida, os food trucks se tornaram uma opção nas ruas de Curitiba e de várias outras cidades do mundo. Ainda vistos como novidades por alguns, eles ainda estão buscando espaço no mercado, mas parece que vieram para ficar.
Servindo com rapidez, qualidade e preços mais acessíveis que os restaurantes tradicionais, eles estão caindo no gosto do público. Sejam em feiras de rua ou eventos gastronômicos os trucks, como são chamados, estão cada vez mais presentes, oferecendo versões mais elaboradas de pratos comuns ou comidas típicas que não se encontram em qualquer lugar. Nas feiras em que estão estacionados, é possível encontrar pratos de várias partes do Brasil e do mundo.
COMO SURGIU
Em 1872, o norte-americano Walter Scott começou a vender tortas, sanduíches e cafés numa cidade chamada Providence, em Rhode Island. O público era composto por entregadores de jornais locais. Quase 20 anos depois, Thomas J Buckley fabricava modelos coloridos e chamativos de carroças, pensadas especialmente para a venda de comidas.
Na época após a Segunda Guerra Mundial, faltavam restaurantes nos subúrbios das cidades dos Estados Unidos e a população da região crescia exponencialmente. Os caminhões itinerantes de comida, então, se popularizaram entre os trabalhadores por ser uma opção barata e fácil de encontrar, apesar de não ser de qualidade. E assim continuou durante o resto do século.
No Brasil, os primeiros food trucks surgiram em São Paulo, em 2012. Atingidos pelo raio gourmetizador, se estabeleceram como uma versão estilizada dos tradicionais carrinhos de cachorro-quente, pipoca e churros. A ideia é apresentar uma culinária diferenciada, seja pelo produto ou pela apresentação.
DIRETO DA HUNGRIA
Um exemplo é o Kurtos Kalacs, um truck que vende um tipo de pão doce frito de mesmo nome, originário da Hungria. Ana Paula Lazier, a proprietária, comenta que a originalidade do produto é um diferencial no mercado, pois eles são os primeiros a produzir o Kurtos Kalacs aqui no país.
A ideia de comercializar o produto ocorreu a Ana Paula após dez anos atuando em outro ramo. Formada em Letras, ela estava infeliz com a profissão escolhida e queria uma mudança na vida. Essa transformação veio após uma viagem ao Leste Europeu: ao experimentar o doce tradicional do local, ela decidiu trazer para o Brasil. “Na viagem, eu conheci esse delicioso doce e fiquei encantada. Enquanto pensava na oportunidade, fiz um paralelo da questão climática daquela região com a nossa aqui no Paraná. Lembrei também do fato de termos muitos descendentes dessa região”, diz ela.
Em Curitiba, os food trucks são orientados pela prefeitura a optar por uma comida típica. E elas se fazem presentes, desde comida mineira até a alemã. A burocracia ainda é um empecilho para aqueles que querem entrar nesse ramo, mas ela não é uma exclusividade, pois segue praticamente o mesmo caminho que um restaurante tradicional teria que cumprir. LEI DOS FOOD TRUCKS
Atualmente, há uma média de 25 unidades funcionando na capital, de acordo com a Associação Paranaense de Food Trucks. Dessa forma, se tornou necessário que houvesse regras para a atuação dos envolvidos com tal atividade. O decreto, aprovado na Câmara Municipal em março e sancionado pelo prefeito de Curitiba em abril deste ano, está previsto para entrar em vigor na metade de junho.
Para Pedro Américo, do #PartiuTemaki, a demora para a regulamentação sair é péssima para os negócios: “Estamos todos sujeitos a trabalhar em parcerias com estacionamentos e locais privados, os quais muitas vezes nos cobram taxas muito altas”. Assim que os trucks forem regularizados, eles também poderão transitar em pontos públicos da cidade todos os dias. “Atualmente, devido à dificuldade de formar algumas parcerias em pontos estratégicos da cidade, estamos circulando somente aos finais de semana e/ ou em eventos dos quais somos convidados”, diz Pedro, que, apesar de tudo, está otimista com a proposta.
Feiras de ruas são locais proprícios para encontrar food trucks

A Lei 14.634 prevê que somente empresas curitibanas obtenham alvará de funcionamento, assim como a proibição de redes de food truck, sendo autorizado apenas dois veículos por CNPJ. Também é estipulado que eles fiquem a uma determinada distância de restaurantes, lanchonetes e feiras nas quais já existe um ponto de venda daquele produto. Os produtos distribuídos precisam conter nome, endereço do fabricante, data de fabricação, validade e registro do comércio. PIOR INIMIGO
É quase uma unanimidade entre os proprietários dos trucks: o clima de Curitiba é o pior inimigo deles. Isso se deve temperaturas instáveis e às condições climáticas únicas da capital paranaense. Alguns nem chegam a sair para as ruas nos dias chuvosos.
Para Ana Paula, os dias de chuva significam uma redução muito grande no lucro, pois em dias assim, uma quantidade muito menor de pessoas sai as ruas. “Meu lucro cai 70% - é muita coisa!”, desabafa.
Gerson Jourdani, proprietário do Currytiba Wurst, especializado em comida alemã, diz que não leva seu truck para as ruas em dias de chuva. “Quando chove eu não costumo nem sair da cozinha”, brinca. Mas ele completa dizendo que o frio é bom para as vendas: “Eu vendo um chope escuro que tem um bom apelo no inverno, e tem outros trucks que vendem quentão. Esse friozinho gostoso é bom para nós. MOBILIDADE
Um dos diferenciais dos food trucks é a mobilidade, mesmo que, para isso, seja necessário sacrificar espaço na cozinha ou no estoque. Para Gerson Jourdani, do Currytiba Wurst, o fato de poderem estar em vários lugares é um diferencial positivo. É pela possibilidade de rotatividade que as empresas desse ramo ampliam o público.
Ele ainda completa dizendo que o fato de não estarem presentes todos os dias é saudável para o relacionamento com os clientes: “Tenho clientes fiéis em todas as feiras que participamos. Se eu tivesse um ponto fixo como um restaurante, tenho certeza que eles iriam uma ou duas vezes por mês, mas não iriam toda semana”.


