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Mudar ou não mudar

Mudar ou não mudar: eis a questão?

Como mostram pesquisas feitas pelos mais diversos órgãos especializados, a vontade de mudar de emprego acompanha a maioria dos profissionais, superando as preocupações quanto às consequências de tal ato

Priscila Murr

Diante da crescente busca por uma nova posição no mercado de trabalho, – sobretudo em meio ao atual cenário de queda na geração de empregos formais no país –, o brasileiro vive um dilema entre a segurança da estabilidade e o risco da mudança de emprego. Contudo, e como mostram pesquisas feitas pelos mais diversos órgãos especializados no setor, a vontade de mudar acompanha a maioria dos profissionais, superando as preocupações.

Em 2014, uma pesquisa feita pela Consultoria Boucinhas&Campos mostrou que pelo menos 80% dos brasileiros empregados queriam mudar de trabalho. A Consultoria de Recrutamento PageGroup, mostrou que, no mesmo ano, entre os executivos de alta e média gerência, 92% pretendiam mudar de emprego e, entre os profissionais de suporte e apoio à gerência, 94% tinham a intenção de encontrar outra posição.

Apesar disso, e frente à atual conjuntara econômica do Brasil, com a taxa de desemprego aumentando e os salários sendo desvalorizados, o profissional deve avaliar as condições para a mudança. Segundo o economista Júlio dos Reis, mesmo diante desse cenário, os jovens ainda têm facilidade para tomar a decisão de mudar de emprego, normalmente por não ter tantas responsabilidades, ou família constituída e, em alguns casos, ainda morar com os pais. “Isso é natural, não somente por impulsividade, mas por essas pessoas estarem em fase de desenvolvimento de estudos, de carreira e amadurecimento”, explica.

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no acumulado dos últimos 12 meses, houve redução de 48.678 postos de trabalho formal e, no primeiro trimestre de 2015, o país fechou 64,9 mil vagas, o que configura, portanto, o pior resultado desde o ano 2000. Para Ferreira dos Reis, a crise econômica está diretamente relacionada à atual crise no setor empregatício pela qual passa o Brasil. “Sem dúvida uma está relacionada a outra. Isso afeta a sociedade pois as pessoas investem menos, compram menos, ficam mais pessimistas com o futuro, etc. Um dos pontos primeiramente afetados é a capacidade de investimento das pessoas”, garante.

O melhor emprego

O que antes era uma característica marcante apenas em profissionais mais jovens, agora passa a ser uma realidade inclusive entre os mais experientes. Segundo a Page Group, a principal motivação para a busca por uma nova posição no mercado de trabalho é, tanto para jovens quanto adultos, a falta de oportunidade Diante do atual cenário empregatício do Brasil, muitos profissionais preferem ser cautelosos e avaliar bem a possibilidade de mudança.

de ascensão no emprego em que se encontram. Para a estudante universitária Tatiane Pereira, essa “falta de oportunidade de ascensão” engloba diversos aspectos. “Falta de supervisão de outro profissional, falta de autonomia nas atividade desenvolvidas, um local de trabalho sujo e inadequado para o desenvolvimento das atividades, falta de condições trabalhistas, como os fatores burocráticos que envolvem salários, benefícios e aperfeiçoamento na área desenvolvida, e desvalorização do trabalho estagiário fazem parte do conjunto”, declara. Além disso, a insatisfação com o salário também aparece entre as motivações para a busca de um novo emprego, mas é uma razão mais fraca do que o desejo de trabalhar em uma empresa maior, por exemplo. Para o empresário Renato Wilbert, falta de oportunidade de ascensão, baixo salário e vontade de trabalhar em uma empresa com condições mais favoráveis às suas necessidades, foram os fatores determinantes para que ele começasse seu próprio negócio. “Todos os dias era sempre a mesma coisa: eu vivia uma rotina sem fim e sem felicidade. Mas, numa bela manhã, como dizem, resolvi mudar, radicalizar: comecei o planejamento da minha própria empresa, sozinho. Hoje, depois de mais de cinco anos trabalhando por conta própria, tenho horários muito mais flexíveis, ganho mais, me estresso menos e sinto que minha qualidade de vida melhorou demais”, garante. Perfil semelhante Apesar das muitas diferenças entre as gerações, há semelhanças quando o assunto é a colocação profissional. Um executivo experiente, ao receber uma oferta e pedir demissão do emprego em que está, geralmente leva em conta aspectos como o fato de já possuir uma família estruturada e mais responsabilidades, portanto é mais cauteloso do que um jovem que não tenha essas mesmas responsabilidades, por maior que seja a vontade de mudar, como demonstra a pesquisa do PageGroup. Para Júlio dos Reis, o resultado da pesquisa demonstra um processo natural que deve seguir de forma gradativa. “Quanto a situação atual, acho que precisamos analisar com bastante cautela, afinal não estamos no caos, acredito que o desejo de mudança continuará o mesmo.... A disposição em realmente mudar é que mudará. Essa mudança real passa a um estágio de latência, ou seja, aguardando uma real oportunidade. E não devemos nos iludir, a crise ou qualquer outro efeito social e econômico, não impedirá o indivíduo que realmente queira mudar...de o fazer”, completa. A estudante Tatiane acredita que a mudança pode ser um fator positivo, desde que agregue valor positivo à vida profissional. “No meu primeiro estágio o local de trabalho era muito sujo, o dono do local não permanecia muito tempo na empresa, o salário não era muito bom. Permaneci

por seis meses, pois eu queria outra oportunidade, já que nessa empresa as minhas atividades ficaram estagnadas. Passei para um segundo estágio, em psicologia, e estou tendo um grande aprendizado. As condições ainda não são tão adequadas no sentido de supervisão com o profissio“A crise ou qualquer outro efeito social e econômico não impedirá o indivíduo que realmente queira mudar...”, Júlio dos Reis. nal formado, mas mesmo assim está me possibilitando muitas oportunidades”, comenta. E a universitária alerta que deve haver reciprocidade quanto a adaptações. “O estagiário deve seguir as regras da instituição, pois em qualquer emprego vai ser assim. E o local de estágio também deve dar oportunidades para o estagiário aprender, bem como estar aberto a possíveis eventualidades acadêmicas, fazendo com que o estagiário precise se ausentar. Deve haver um equilíbrio entre ambas as partes”. Boas condições de trabalho e muito aprendizado são os principais desejos dos jovens ao desenvolver um estágio universitário.

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