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Em busca dos desaparecidos
Só na Região de Curitiba, há cerca de 300 familiares à procura de seus entes queridos
Texto: Franceslly Catozzo - Fotos: Everton Lima
Daiane, professora.
Era um fim de semana e Marcelo avisou para a mãe que iria sair para beber com alguns amigos. Vestiu uma calça jeans, tênis Olympikus brancos e uma jaqueta marrom. Estava bem arrumado, por sinal. Ele se despediu dos pais, saiu pela porta da sala e nunca mais voltou. Mandirituba, cidade em que era bem conhecido e trabalhava como pintor, tem 22 mil habitantes. Ninguém mais se manifestou com notícias de Marcelo depois desse dia.
Isso ocorreu há mais de um ano e meio. O relato foi dado pela vendedora autônoma Neuza Barbosa da Conceição, de 62 anos, que procura o seu filho Marcelo Adriano Pires. Ele tinha 40 anos quando sumiu e nunca mais foi visto em sua cidade. “Esta é a terceira vez que o procuro em Curitiba. Fomos duas vezes a São Paulo, cinco vezes a Santa Catarina. Eu vou às favelas procurar entre os andarilhos. Uma hora ou outra, eu tenho esperança de encontrar”, desabafa.
A angústia de buscar por um parente que, de um dia para o outro, simplesmente desaparece não é história somente da família de dona Neuza. O Paraná possui 758 registros de pessoas desaparecidas até a data de fechamento desta reportagem, sendo que aproximadamente 96% dos casos são de adultos e adolescentes com mais de 12 anos de idade. De acordo com dados do Sistema de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil do estado, existem 312 registros não resolvidos com pessoas dessa faixa etária somente na Região Metropolitana de Curitiba.
Quem faz parte dessa estatística é Sérgio Ricardo de Andrade, que sumiu na véspera de Natal do ano de 2011. De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela filha, a professora Daiane Caroline de Andrade, de 23 anos, ele fazia uma viagem de ônibus para o interior de São Paulo quando passou mal e foi levado por uma ambulância até um hospital público. Depois de receber alta, não se tem mais nenhum registro de onde ele teria ido. Hoje, Sérgio estaria com 47 anos.
A família é de Araucária, lugar onde o pai de Daiane nasceu e tinha amigos. De acordo com a filha, Sérgio não tinha por que fugir, já que era apegado aos filhos. A empresa de ônibus, a concessionária que administra a rodovia e o hospital não possuem mais informações sobre o caso. O Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) e o Instituto Médico Legal (IML) não registraram a entrada de ninguém com o perfil dele. “É complicado ir aos lugares e não ter com o que voltar. Não há nenhuma resposta”, diz a filha, que tinha 19 anos quando o pai desapareceu.
Rotina interrompida
De acordo com o delegado da Polícia Civil Jaime Luz, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Curitiba tem uma resolução de casos de desaparecimento de jovens e adultos que se aproxima dos 93%, sendo que o índice maior de solução é entre os adolescentes. Ele fala também da importância de se registrar o boletim de ocorrência mesmo antes de contar 24 horas do desaparecimento. “A comunicação caso alguém desapareça pode ser imediata.”
Foi o que fez o cabeleireiro Divanir Santos de Godoi, de 23 anos, quando o seu irmão saiu de casa e não deu mais notícias no dia 24 de março deste ano. Valdir dos Santos de Godoi tinha 35 anos de idade e início de depressão. Foi visto saindo da casa do irmão, no bairro Sítio Cercado, indo em direção ao Pinheirinho. Apesar de vários parentes estarem mobilizados, Divanir é o mais engajado na busca pelo familiar. “Acredito que ele está aqui em Curitiba. Toda a família está procurando por ele, mas sou eu que estou a par de tudo.”
A rotina dessas famílias que relataram suas histórias à equipe da CDM foram profundamente modificadas depois do desaparecimento de seus parentes. “A gente procura desesperadamente, porque não dá para se conformar”, conta dona Neuza, que procura o filho Marcelo desaparecido há um ano e meio.
De acordo com o delegado Jaime Luz, é importante que a família não esconda nenhum fato relevante quando for registrar o desaparecimento de uma pessoa, já que isso auxilia na busca da polícia. “É preciso não omitir nem aspectos positivos nem negativos do desaparecido. De todas as formas, a delegacia vai

Divanir procura o irmão.
investigar quem é aquela pessoa, tanto adultos, quanto adolescentes”, orienta.


Enquanto aguardam as investigações, familiares dos desaparecidos divulgam informações sobre parentes.