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República do café
by eba_pucpr
Brasil. O maior produtor de café do mundo. Com o tempo, o grão passou de um produto que movimenta a economia, para um verdadeiro ícone cultural e gastronômico. Lojas, produtores e todos os envolvidos com a bebida investem em novas técnicas para aperfeiçoar a sua degustação. Algumas vezes, o cliente não tem apenas uma relação de paixão com o hábito de tomar café, mas também, uma espécie de vício. Conheça um pouco mais sobre essa bebida que manteve muitas gerações encantadas e acordadas
Ana Beatriz Villas Bôas, Ana Luiza Souza, Bruna Mazanek,Fernanda Novaes, Lucas Prestes
Em 1727, o sargento-mor brasileiro Francisco de Mello Palheta foi à Guiana Francesa a pedido de um governador do estado do Maranhão. Lá, ele se aproximou da esposa do governante da capital do pais. A mulher, encantada com a brasilidade do sujeito, lhe entregou – escondido – uma muda de café arábica.
Assim começa a história de amor entre o Brasil e o café. Com as condições climáticas favoráveis no pais, as plantações se espalharam rapidamente, chegando aos estados do Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, tornando-se assim o produto-base da economia.
Por quase cem anos, o café foi a grande riqueza brasileira. Com ele, a economia do pais acelerou, e novas cidades foram formadas no interior do estado de São Paulo, no sul de Minas e no norte do Paraná, surgiram grandes estradas de ferro, que trouxeram, com elas, desenvolvimento.
Com toda essa evolução, o café e o povo brasileiro passaram a ser inseparáveis. Mas a bela florada do café já passou por maus momentos. Em 1870, as plantações no interior do estado de São Paulo foram dizimadas por uma geada, felizmente a região se recuperou e continua sendo uma das maiores produtoras do país.
O norte do Paraná recebeu a fria visita em 1975. Costuma-se dizer que na ocasião “não sobrou um pé de café para contar história”. Infelizmente a região não se recuperou, e hoje a produção cafeeira do estado é bem menor. Entretanto, quem continua produzindo criou maneiras de fazer um café diferenciado e é referência para baristas.
Da terra à mesa
O cultivo de café exige cuidados peculiares para produzir as melhores bebidas. De acordo com o engenheiro agrônomo Cesar Maruch, a primeira delas é a semente. “Exis“Os cafés especiais tem dois tipos de grão, o robusta, representam uma que é de pior qualidade, e o arábica, que produz as melhores bebidas”, margem de lucro explica. muito maior que os Após a fase do plantio, vem a colheita e a seca do café, respontradicionais.” sáveis por 50% da qualidade da bebida. Sem a separação correta dos Marcelo Ramella, economista grãos, o sabor fica comprometido, bem como quando eles não são secados em condições adequadas. Hoje em dia, esse trabalho é facilitado pelo uso de maquinário. Existem máquinas que colhem, separam e secam os grãos e graças à essas novas tecnologias os grandes produtores sobrevivem, enquanto os pequenos sofrem com falta de mão de obra. Cornélia Margot é suíça e dona da fazenda Palmeira, no norte do Paraná. Para garantir a qualidade de seu produto, a fazendeira fiscaliza todo o processo que é feito artesanalmente.
“Ela acredita que esse é um diferencial, e que assim o seu café ficará mais saboroso. Por enquanto, está dando certo”, conta Maruch, que já foi o engenheiro responsável pelas produções da fazenda Palmeira.
Atualmente, uma saca de café, seco e torrado, vale R$ 500. O valor dobrou devido à redução na quantidade de produtores.
Combustível
A cafeicultura é uma das atividades agrícolas mais importantes do Brasil. O país é o primeiro produtor e o segundo consumidor mundial do produto. Devido a toda essa demanda, o mercado precisa, constantemente, se reinventar. Lojas de café hoje investem em técnicas aprimoradas e grãos diferenciados. “Quem oferece qualidade, se mantém”, diz Ana Argenta, empresária que oferece serviços de consultoria em lojas de cafés. A procura por estabelecimentos que oferecem um produto superior é cada vez maior, representando, aproximadamente, 2% de todo o café consumido no Brasil.
Responsável por um alto percentual dos investimentos no setor agrícola, a indústria de café cresce cada vez mais. O país produz, ao todo, 28 milhões de sacas anuais e exporta cerca de 300 mil a 500 mil sacas por ano de cafés especiais. Os cafés diferenciados representam 10% de toda a movimentação do produto no cenário mundial. “Foi inaugurada uma nova etapa no ciclo econômico do café, os cafés especiais representam uma margem de lucro muito maior que os tradicionais”, explica Marcelo Ramella, economista. Porém, a produção de café convencional requer custos e investimentos menores. Já o especial, exige adequação às normas, investimentos em mão-de-obra qualificada e em processos de produção e gestão.
“Se você está disposto a investir, aposte em cafés especiais”, afirma Ramella. Os retornos financeiros são atrativos, pois a população brasileira está cada vez mais interessada em cafés gastronômicos. “Curitiba é uma capital em que o café especial é uma tendência. Não existem mais cafeterias que não ofereçam qualidade, pois elas não se mantêm no mercado”, explica o barista do Lucca café, Igor Salles.
Um dos atrativos é a latte arte, que encanta o consumidor não apenas pelo aroma e pelo sabor, mas também pela visão. Salles conta que alguns clientes já se recusaram a beber o café com ilustrações na superfície, pois o consideraram uma obra de arte que não poderia ser destruída. “Eles pediram o café, tiraram foto e até pagaram, mas não quiseram tomar para não desfazer o desenho”, relata Salles.
Ana Luiza Souza

Investir em cafés especiais é um bom negócio para as empresas
Acerte na dose
A cafeína que compõe o café tem influência relevante na melhoria do estado de humor. O consumo moderado do produto gera efeitos como o aumento de energia, de concentração, de disposição, de imaginação e até de autoconfiança, é o que explica o médico André Luiz Mezzaroba Pelisson.
O consumo de quatro xícaras de café, diariamente, reduz a enxaqueca e dores de cabeça. “Prova disso é que a cafeína está na composição de analgésicos”, conta. Já a interrupção abrupta desse hábito pode ocasionar o efeito inverso, causando mais dores de cabeça para quem tem o costume de ingerir a bebida.
Crianças que tomam uma xícara de café com leite por dia têm um risco menor de sofrer de depressão. Além disso, o que muitos não sabem é que o risco cardiovascular diminui cerca de 24% quando consumidas três xícaras diárias de café. Ou que a cafeína retarda a deterioração mental, pois estimula o sistema nervoso central.
O café, entretanto, não oferece apenas benefícios. Devido ao fato de que ele é um estimulante nervoso natural, dependentes químicos são aconselhados a não ingerir nada que contenha a bebida. O café se assemelha aos efeitos das drogas e provoca alterações no organismo, como a taquicardia, se consumido em excesso.
A quantidade deve ser controlada: 70% das pessoas perdem o sono quando consomem café. Por isso, Pelisson recomenda que a última dose da bebida seja ingerida até as 17 horas. As outras duas ou três xícaras, recomendadas para o consumo diário, devem ser intercaladas por no mínimo uma hora entre uma tomada e outra.
Infografia: Lucas Prestes