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Doutor cão
by eba_pucpr
Cães amigos auxiliam em tratamento de doenças e levam alegria para pacientes
Stacy Barbosa
Há tempos se ouve a expressão “O cão é o melhor amigo do homem”. Eles estão presentes em diversos momentos da vida das pessoas e há quem não viva sem ter um animalzinho de estimação.
No entanto, a relação entre o homem e o animal vai muito além da alegria e da companhia que um faz ao outro. Há muitas formas de um bicho ajudar uma pessoa e uma delas é participar do tratamento de diversas doenças, a chamada Terapia Assistida por Animais (TAA). Estudos mostram que a presença de animais nesse processo pode ser extremamente positiva, pois eles promovem uma sensação de bem-estar, além de diminuir dores e problemas como a depressão.
A psicóloga Ana Suy Sesarino Kuss explica que dependendo do tipo de relação que a pessoa tem com animais, esse tipo de terapia pode ser extremamente eficaz. “Nem todas as pessoas gostam de bichos. Mas para as que gostam, só vejo aspectos positivos no tratamento com a presença de animais. Françoise Dolto, uma psicanalista importante, dizia que as crianças se identificam com os bichos porque precisam, para ser educadas, abrir mão de uma parte de si preciosa, que é a nossa parte mais primitiva. Conforme vamos crescendo, vamos nos afastando disso, mas nunca abandonamos essa parte primitiva que chamamos de inconsciente. A relação com os animais, nesse sentido, permitiria que tivéssemos notícias de nós mesmos, da nossa parte que foi ‘esquecida’ e, por isso penso que pode ser muito eficaz”, avalia.
A utilização do animal como terapia é comentada desde o século XIX, quando os animais foram introduzidos nos ambientes hospitalares. Em países como Austrália, Egito e Estados Unidos a prática já é bastante utilizada. No Brasil, ainda existem poucas pesquisas sobre o tema, embora muitas instituições como hospitais, escolas e asilos recebam visitas constantes de voluntários.
O animal tornou-se elemento terapêutico para o homem. Fidelidade, incapacidade de julgar e amor incondicional são algumas das qualidades dos animais que auxiliam na recuperação física e mental de pessoas debilitadas.
Existem inúmeros projetos que fazem, de forma voluntária, visitas a hospitais, escolas, asilos, associações e institutos, com o intuito de levar conforto, alegria e carinho para quem precisa. É o caso do Projeto Amigo Bicho, em Curitiba, que foi fundado em 2005, pela médica veterinária Letícia Castanho.
Segundo Letícia, o objetivo do projeto é beneficiar as pessoas através do uso de animais de estimação. “Já é comprovado cientificamente que apenas dez minutos de contato com os animais faz com que o corpo libere substâncias como a ocitocina, prolactina, entre outras, que causam sensação de bem-estar e diminuem o stress, fazendo com que o paciente responda melhor as terapias convencionais”, comenta. “Atualmente, o Amigo Bicho faz visitas regularmente a oito instituições e a principal ideia do projeto é unir a paixão pelos animais, com a paixão pelo ser humano e transformar um pouquinho o mundo através do amor”, afirma.

Ela revela que a seleção dos animais voluntários é bastante rigorosa. “Os cães têm que estar obrigatoriamente com todas as vacinas, vermífugos e antipulgas em dia, com a saúde perfeita, e ter um comportamento muito dócil e amigável. Estes cães passam por uma avaliação comportamental, onde testamos diversas situações para saber como ele vai reagir frente a situações de stress ou apertos, carinhos, etc”, esclarece.
Segundo Mariza Mastaler Ayres, voluntária há quatro anos, fazer parte do projeto é tão importante para ela, quanto para os seus cães terapeutas. “Faz quatro anos que estou no projeto e amo de paixão. As visitas fazem muito bem para nós, voluntários, porque saímos com a sensação de dever cumprido. Os animais sabem o dia da visita e ficam ansiosos e muito alegres. Eu tenho seis cachorros e é só mexer na roupinha que eles percebem. Já cheguei a trazer quatro de uma só vez. Hoje trouxe a Nala e a Mia porque para cada local que vamos visitar tem o animalzinho ideal para levar”, relata.
Paciente aproveita visita para matar a saudade do seu cachorro.
De acordo com a Fundação Bocalan, entidade referência em TAA da Espanha, “A excitação positiva motivada pela presença do animal, fomenta a expressão de emoções e a capacidade de comunicação.” Para a Delta Society, da Australia, “os animais ajudam a aumentar a concentração em deter“Os animais sabem o dia da visita e ficam anciosos e muito alegres”.-Marisa Mastaler Ayres, voluntária minadas tarefas”. A Associação Americana do Coração (American Heart Association), afirma que a visita de um cão por 12 minutos melhora o funcionamento do coração e dos pulmões, diminui a liberação de hormonais negativas e baixa os níveis de ansiedade.
Janaina Aparecida Aristides, que está no Hospital Cajuru acompanhando o filho internado na pediatria, considerou a presença dos animais um momento de descontração e conforto. “O momento em que a gente está aqui é triste, quando vi as pessoas entrando e fazendo as brincadeiras com os animais, me animei. Ajudou a esquecer um pouco o que está acontecendo”, afirma.
Simone Bernardes fala que para aqueles que têm um animalzinho de estimação em casa e está no hospital há algum tempo, o momento em que os cães terapêuticos entram nos quartos é único, pois faz o paciente lembrar e matar a saudade. “Quem tem cachorro em casa e que está aqui há algum tempo sente certo conforto e, também, saudade”, assegura.
Atualmente, a TAA é utilizada como instrumento no tratamento de diversas doenças, como autismo, deficiência intelectual e física, paralisia cerebral, síndrome de Down, Parkinson, Alzheimer, câncer, entre outras.
Cassiane Ribeiro Kaiser, enfermeira no Hospital Cajuru, acompanha as visitas e vê de perto os benefícios que os cães fazem aos pacientes. “É a terceira ou quarta vez que acompanho a visita do Amigo Bicho pelos quartos do hospital. É sempre bom, porque os pacientes saem da rotina e ficam alegres. Acredito que contribua para melhora do quadro e da autoestima de cada um. Até para quem trabalha no hospital é interessante, porque paramos e vivenciamos por um momento outra realidade”, diz.
Nilza Maria Brenny, coordenadora do Núcleo de Voluntariado do Hospital Cajuru, defendeu o projeto e o uso de animais em terapias assistidas. “Existem pessoas que não vivem sem ter um animal de estimação. Quando os voluntários entram nos quartos com os animais, é uma forma de lembrar daqueles que os pacientes deixaram em casa. Os animais ajudam muito no processo terapêutico, tanto na dor do paciente, quanto do familiar e dos colaboradores”, considera.
Nilza aproveitou o encontro para anunciar que a equipe do Amigo Bicho será oficializada e passará a ter acesso a projetos, serviços e novas áreas para visitar. “A partir de hoje os voluntários do Amigo Bicho vão poder fazer parte de tudo que envolve o voluntariado do hospital, eles serão oficializados e terão até uma sala. Pelo fato de os animais serem importantes no processo terapêutico, nós trabalhamos a equipe para que estejam sempre motivados a estar aqui”, disse.
Seja como amigo, cão terapêutico ou companheiro, os cães têm a capacidade de alegar e contribuir com a saúde e o bem-estar do ser humano. Uma relação de cumplicidade na qual se aplica a famosa frase “na saúde e na doença”.
Divulgação/ Amigo Bicho
