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Som de maloqueiro

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hashtag #tônarede

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Som de

maloqueiro. O que é isso, tiazinha?

Nascido em Curitiba, o eletrofunk é um dos principais movimentos funkeiros do país

Alessandro Silva, André Wuicik, Lara Farias e Rodrigo Dornelles

Que o funk é um ritmo popular em todo o Brasil, não há dúvidas. Desde o surgimento do funk carioca, popularizado a partir dos anos 2000, o ritmo ganhou seguidores e é impossível encontrar alguém que não tenha no mínimo ouvido falar sobre ele.

Com isso, diversos subgêneros surgiram, geralmente misturando outros estilos já conhecidos com as batidas e pancadões. É possível encontrar, por exemplo, o brega funk, no Nordeste, o “proibidão”, no próprio Rio de Janeiro, e o badalado funk de ostentação, em São Paulo. Até tentativas ousadas como o funknejo apareceram com o intuito de agregar o sertanejo universitário ao universo das batidas e rimas.

No entanto, foi em Curitiba que uma receita aparentemente óbvia ganhou corpo e hoje forma uma das maiores cenas funkeiras do país: o eletrofunk. Trata-se da mistura do ritmo com a música eletrônica, na qual as rimas e refrões chicletes se alternam com as batidas do som eletrônico característico das baladas populares da região sul do país.

Da forma que é feito hoje, o eletrofunk foi inventado pelo curitibano Cléber Monteiro, conhecido artisticamente como DJ Cléber Mix. Cléber foi o típico jovem dos anos 80,

aficionado em músicas de festas de garagem. A partir do aprendizado autodidata que teve da época de DJ amador, decidiu colocar em prática sua própria criação.

“Eu comecei tocando em festas de amigos, e depois fui para as baladas. Eu não tinha curso nem nada, fui aprendendo tudo na prática. Uma vez, sem muita preocupação, deixei um funk rolando e, em seguida, coloquei no meio uma batida eletrônica. O pessoal gostou, e eu fui aprimorando até ficar da forma como é visto hoje.”

Formando o bonde

No entanto, foi quando Cléber Mix passou da cabine de som para o escritório que o gênero ganhou os milhares de fãs conquistados nos últimos quatro anos. O músico parou de somente mixar músicas prontas com baladas eletrônicas para criar as próprias composições e agenciar artistas contratados para assumir os vocais.

Foi a partir desse momento que o principal ícone da cena foi descoberto. Ednaldo da Silva, conhecido como Edy Lemond, já tinha se tornado um “viral” da rede quando exibiu de forma independente o vídeo de “Taca Cachaça”, em 2011, uma das músicas de funk eletrônico que até hoje mais fazem sucesso nas baladas do gênero. Logo após o estouro da música na rede, o cantor foi contatado para se profissionalizar por meio de Cléber Mix.

Em parceria com o DJ, Edy Lemond protagonizou diversos hits, como “Ui adoro”, “Pensando em Você” e “Eletrofunk Executivo”. Outros artistas, como Mc Siri, Mc Mayara e Dz’s Mc também ganharam popularidade.

Edy Lemond compara as letras em duplo sentido com músicas dos ritmos sertanejo e forró.

Foto: Duke Wellinton

Shows de eletrofunk faze sucesso por todo o país e atingem todas as classes sociais.

Som para todos

Além das características batidas e rimas, um dos fatores que ajudam o ritmo a se popularizar é a “limpeza” das músicas, que não contam com apologia a drogas e ao sexo.

“Nossas músicas são para se divertir, têm duplo sentido, mas não fazem apologia a nada. Você pode escutar em casa, não ter vergonha de ouvir em um churrasco com criança, mulher”, comenta Alexandre Theodoro, o Mc Siri. Edy Lemond também explica sobre a forma como as músicas abordam

os temas em que são baseadas. “Assim como o sertanejo e o forró usam o duplo sentido, nós também fazemos música de forma divertida, zoeira de leve, frases já conhecidas que entram nas músicas”, explica. Outro ponto que, segundo o cantor, evidencia o lado descontraído de seu estilo é a presença do gênero em todas as classes sociais. “Já fui fazer uma participação em uma casa de alto padrão de Santa Catarina, através de meu em“Nossas músicas são para divertir, têm duplo sentido, mas não fazem apologia a nada” – Mc Siri, cantor

presário. Fiquei um pouco receoso se o público me reconheceria ou iria curtir. E, para minha surpresa, todos cantavam minhas músicas”, relembra apesar de ressaltar que o sucesso está também no interior e principalmente nas baladas periféricas.

Descontração levada a sério

Uma das características que mais marcaram o eletrofunk, até hoje, foram os videoclipes chamativos, vistos muitas vezes como produções “trash”, todos lançados em um grande canal de vídeos da internet. Essa reputação se deve ao fato de esses clipes terem sido feitos quase que de forma caseira, muitas vezes induzindo o espectador ao riso. No entanto, os artistas admitem e reforçam que a ação era proposital, mas prometem algo diferente ainda para esse ano. “Toda formula se satura. Vamos retirar do ar o que era visto como ‘trash’. Mas nós não vamos perder a identidade”, e emenda: “Temos uma história e não caímos de paraquedas. As pessoas às vezes têm uma ideia errada sobre artistas de funk. É preciso respeitar, tentar ver o conteúdo, e não só julgar pela capa”, explica Edy Lemond. “Estamos produzindo coisas novas, com melhores equipamentos, um direcionamento diferente, inclusive nos unindo com artistas de outros ritmos e estilos”, alerta Mc Siri. Dessa forma, Curitiba, por vezes comparada a localidades europeias, “formou seu bonde”, e não fica devendo a qualquer comunidade carioca, ao mesmo tempo em que ajusta contas com a cultura popular do Brasil.

”Dicionário” do funk

Alemão: Pessoa de caráter duvidoso. Falso. Bifão: O cara que só anda acompanhado de várias mulheres, mas não está namorando nenhuma. Bonde: Grupo de amigos da mesma comunidade. Bucha: Pessoa inconveniente, importuna, safado. Buzum: Ônibus, condução. Caô: Mentira, Boato. Caozeiro: Quem mente demais. Cap (quép): Boné Cata-Mocréia: Pessoa que vai em porta de escola seduzir as alunas na hora da saída. Mijar no meio do vaso: Ter intimidade dentro da casa de alguém. Pisante: Tênis. Puxar o bonde: Formar um grupo de galeras no baile. Responsa: Confiável, agradável, divertido. Rolé: Passear, andar sem compromisso. Sangue bom: Pessoa de boa índole. Style: Estar bem arrumado. Tecido: Estilo de roupa. X9: Informante.

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