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Entre cobras e macacos
by eba_pucpr
Entre
cobras e macacos
Ter animais exóticos como bichos de estimação tem se tornado uma prática comum
Texto: Caroline Stédile e Thiana Perusso Fotos: Melvin Quaresma
Cobras, aranhas e lagartos. O que para alguns são animais assustadores, para outros são ótimos bichinhos de estimação. Apesar de parecer estranho, ter um animal exótico ou silvestre em casa tem se tornado comum em muitos lares e exige mais cuidado e atenção do que os animais como cães e gatos. Além de amar o bichinho, alguns cuidados são indispensáveis, como tempo disponível para a interação, estar atento à alimentação e à limpeza, reservar um espaço especial sem perigo de fuga e estar ciente de gastos para cuidados.
O sócio-proprietário da loja de animais exóticos Ryulong conhece bem essa rotina. Hugo Segalla, que há dez anos vende animais exóticos e silvestres, é totalmente apaixonado por eles. “Meu primeiro animal silvestre foi uma aranha, a Mortícia. Tempo mais tarde fui presenteado por um amigo com uma cobra, a Belatriz, que tenho há sete anos comigo. Atualmente, além da cobra, possuo também um sagui, a Nina, que está há três anos ao meu lado”, revela. Segundo ele, cada animal precisa de cuidados específicos. O sagui, por exemplo, precisa de muito mais atenção do que a cobra, nem que seja um simples cafuné durante o dia.
Não existe uma lista oficial dos animais que possam ser criados como estimação, mas o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aconselha que a pessoa adquira o animal em criadouros comerciais devidamente registrados e que forneçam nota fiscal com o nome científico e popular do bicho, o tipo e o número de
Qual a diferença?
Aprenda a diferenciar animais domésticos, silvestres e exóticos
Domésticos
É todo aquele que por meio de processos tradicionais e sistematizados de manejo e melhoramento zootécnico tornou-se doméstico, tendo características biológicas e comportamentais em estreita dependência do homem, podendo inclusive apresentar aparência variável, diferente da espécie silvestre que o originou.
Silvestres
É todo aquele pertencente às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do território brasileiro e em suas águas jurisdicionais.

Exóticos
É todo aquele cuja distribuição geográfica não inclui o território brasileiro. As espécies ou subespécies introduzidas pelo homem, inclusive domésticas, que se tornaram selvagens, também são consideradas exóticas. Outras espécies exóticas são aquelas que tenham sido introduzidas fora das fronteiras brasileiras e em suas águas jurisdicionais e que entraram em território brasileiro.
Hugo Segalla segura a furão Mel, que é a mascote da Ruylong Pet Store.

identificação individual, o microchip, no caso dos répteis e a anilha, no caso de algumas aves. Com relação à Ryulong Pet Store, o processo do protocolo do projeto junto ao Ibama e da vistoria demorou três anos para ser concluído.
O processo de montagem de um ambiente propício para um animal viver pode ser complicado em alguns casos. A demora da aprovação do projeto da loja aconteceu justamente para que todos os animais estivessem abrigados em um ambiente adequado para atender às necessidades dos animais até serem vendidos e irem para um novo lar. Alguns necessitam de bastante espaço e luz, como o sagui. Já outros animais podem viver dentro de aquários de vidro, como as cobras.
As coisas mudaram na casa da família de Tiago Melo há três anos, quando a sagui Manezinha foi adotada. “Queria muito ter um sagui, mas demorei dez anos para ter certeza de que iria adotar mesmo, porque estava ciente de que é um neném que vou ter que tomar conta por uns 20 anos.” A família já tinha uma tartaruga e um cachorrinho da raça Pug, que hoje interagem muito bem, principalmente a sagui, que aproveita uma carona nas costas do cachorro quando saem para passear.
“Minha cobra cornsnak adora se esconder no cabelo da minha namorada e nas blusas”, diz
o estudante de gastronomia Rafael Kluck, que afirma que a família aceita tranquilamente o fato de ele ter uma cobra dentro de casa. O rapaz, que já teve uma tarântula como bicho de estimação, agora possui o Dobby, com apenas três meses. Segundo ele, a cobra pode viver até 50 anos e chegar a dois metros de comprimento. “Alimento ela com ratos de três em três dias, para que cresça mais rápido. Além disso, mantenho a temperatura neutra com uma luz ligada 24 horas por dia e deixo sempre um potinho com água para ela se refrescar.”
Roedores fofinhos, muito dóceis e silenciosos ou então “ratos mais gordos, com um rabo maior e orelhas grandes”, podem ser definições para um dos mais populares animais exóticos: a chinchila. A segunda definição foi dada por Camila Bornemann, a estudante que há sete anos possui o Preto, uma chinchila de cor acinzentada e algumas partes pretas. “As chinchilas têm um pelo bem peculiar e não podem tomar banho com água. Então, no lugar disso, elas ficam rolando em um pó de mármore. Outra curiosidade, é que elas precisam manter os dentes em um tamanho aceitável para não roerem a gaiola inteira, e, para isso, roem bolinhas de madeira, que possuem um gosto diferente.”
Cada animal é único
Como todos os bichinhos, até mesmo os que parecem mais perigosos, precisam de cuidados, Petra Cristine Kirsten Lorenz resolveu dedicar sua carreira como veterinária para cuidar dos exóticos. Lagartos, aranhas, papagaios, as mais variadas aves, esquilos e até mesmo ouriços já passaram pelos cuidados da Clínica Vida Livre, que tem como bichinho de estimação uma cobra de quatro metros e meio na recepção.
Petra aconselha que quem pretende comprar uma espécie da qual não tem muito conhecimento, pesquise sobre o comportamento dele para saber se é compatível com o que o dono espera, para não acabar tendo surpresas desagradáveis. “O grande problema de primatas, em geral, é que quando eles entram no período reprodutivo, eles se tornam agressivos. Já vimos casos em que um sagui arrancou um pedaço da orelha do proprietário”, alerta Lorenz.
A higiene, o controle de vacinas, a periodicidade de exames e ida ao veterinário são as principais formas de prevenir que eles sofram alguma contaminação ou demais riscos para a saúde. As pessoas devem estar sempre atentas a essas questões e entender que cada espécie possui uma particularidade, não sendo possível tratá-las da mesma maneira. Para isso, devem buscar orientação de profissionais que estejam aptos para o cuidado que cada animal exige.
