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Geração impacto
by eba_pucpr
GE ÇÃORA Concebidos na era digital, democrática e da ruptura da família tradicional, os jovens estão cada vez mais acostumados a pedir e ter o que querem Por Gustavo Lavorato e Laura Espada IMPACTO
Demoram a sair da casa dos pais, não têm estabilidade financeira, tardam em traçar seus próprios caminhos e são acomodados: este é o retrato do jovem brasileiro. Os novos adultos de hoje podem ser separados, de acordo com a sociologia, em geração Y e Z. Nascidos entre 1980 e 1990, a geração Y é marcada por grandes avanços tecnológicos e por presenciar uma época de economia estável. Já a geração Z envolve todos os jovens que nasceram após os anos 1990, e se caracterizam por serem nativos digitais, familiarizados com o “boom” dos aparelhos tecnológicos.
Diferentemente de seus pais, a geração Y, em pouco tempo de vida, já presenciou inúmeros avanços tecnológicos e diversas quebras de paradigmas. Cresceram com livre acesso à tevê a cabo, videogames, computadores, celulares, e se mostraram individualistas ao apresentarem características, como a capacidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo. Segundo o sociólogo Tiago Amorim, ao contrário desses jovens, a geração anterior se mostrava descontente com o estado das coisas e possuía um árduo sentimento de angústia. “As guerras mundiais geraram sentimentos de pessimismo e negativismo no homem, desesperançoso em relação ao futuro depois de dias tão violentos. Tanto na filosofia como a arte mostram isso. Quando surge a geração X, anterior à Y, é como um grito libertador de jovens que já não suportam mais a contenção dos tempos de guerra”, explica. Agora, essa aflição da geração anterior resulta em superproteção e preocupação para que os novos jovens não passem pelas mesmas dificuldades.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013, 24% dos jovens brasileiros entre 25 e 34 anos continuam morando com os pais. Dentre eles, 60% são homens e 40% mulheres, e a maioria vem de famílias de alta renda. Essa porcentagem representa a imagem da geração Y. Ana Carolina Magalhães é um exemplo de jovem que comprova essa estatística e as características desse grupo. A estudante está terminando a faculdade de Publicidade e Propaganda, e trabalha em uma agência de comunicação, e ainda mora com os pais. “Não vejo motivos para sair de casa, já que não tenho uma renda tão alta e em casa, tenho todo o apoio da minha mãe. Pretendo ganhar mais dinheiro e só sair daqui uns quatro anos”, diz a jovem de 26 anos.
A Fundação Instituto de Administração (FIA/ USP) divulgou uma pesquisa realizada com cerca de 200 jovens de São Paulo, em que 99% dos nascidos entre 1980 e 1993 só se mantêm envolvidos com atividades que gostam, e 96% acreditam que o objetivo do trabalho é a realização pessoal. Para a psicóloga Marina Novak Weege, isso é algo totalmente diferente do que se conhecia. “O que eu vejo da geração Y é que eles são jovens que estão em busca de algo que
“A geração Y está em busca da realização pessoal e profissional simultaneamente”. Marina Novak, psicóloga.
há muito tempo todos haviam esquecido: serem realizados pessoal e profissionalmente, de forma simultânea, ou seja, encontrar dentro da sua profissão o complemento de suas aptidões”, afirma.
A geração Z, apesar de abranger os nascidos depois dos anos 1990, herdou muitas características da geração anterior (Y). Com o espírito ansioso por inovações, esses novos adultos nasceram sob o advento da internet e desenvolveram um perfil dependente da tecnologia. Para Amorim, essa geração tem novas oportunidades. “A geração Z, por sua vez, tem muito mais possibilidade de conhecimento e interação, promovidos pela internet. São acessos que as gerações anteriores nunca tiveram, pelo menos não com tanta facilidade”, explica. É difícil encontrar algum jovem que hoje não possua celular e acesso à internet. Felipe Nunes, de 18 anos, é estudante e se autointitula viciado em tecnologias. “Leio diariamente notícias sobre novas tecnologias. Tenho videogame, tablet e smartphone, e não passo sequer um dia sem ligá-los. Sempre busco me atualizar sobre os lançamentos”, disse. Enquanto dava entrevista para nossa equipe, o jovem checou mais de cinco vezes o celular. Felipe é um claro exemplo de como as tecnologias influenciam essa geração a serem mais individualistas uma vez que se sentem completos na presença de um aparelho.
A análise do IBGE destacou que além da “geração canguru”, apelido dado aquele grupo de novos adultos que continuam morando com o pais, existe a presença dos jovens “nem-nem” (que nem trabalham e nem estudam) no Brasil. Segundo os dados, 19,6% das pessoas entre 15 e 29 anos se enquadram nesse perfil, sendo mais da metade do sexo feminino. A pesquisa enfatiza que essa característica, de familiares bancarem seus filhos já com capacidade de trabalhar, é cada vez mais comum entre a população brasileira.
Mas, mesmo sendo vistos como dependentes, acomodados, distraídos, superficiais e até egoístas, ainda existem exceções. Alessandra Rodrigues é um exemplo disso. Com apenas 27 anos, mudou-se de cidade para trabalhar, ficando longe dos pais. “Sempre quis ser independente. Terminei a faculdade e prestei um concurso público para trabalhar em um hospital em outra cidade. Quando passei, vi que era um oportunidade de realizar o que sempre sonhei: ter minha própria renda e morar no meu próprio apartamento”, conta a enfermeira que há dois anos mora em Cuiabá.