
6 minute read
Solidariedade na cabeça
by eba_pucpr
Projetos de doação de cabelos para a confecção de perucas ajudam mulheres no resgate da autoestima
Gabriela Oliveira, Helem Barros, Jheniffer Andrade e Raíssa Ribeiro
Uma doença silenciosa, que atinge homens e mulheres de todas as idades e classes sociais. Um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos. Para cada tipo de câncer, existe um tratamento e a consequência mais comum é a perda de cabelos.
O causador dessa perda que aflige diversas pessoas não é o câncer em si. De acordo com o médico Felipe Gonçalves, o que estimula a queda de cabelo é a morte das células que os quimioterápicos causam. “Uma grande parte dos quimioterápicos, além de matar células tumorais, mata células normais, como as que produzem o pelo. Além da queda de cabelo, a química dos medicamentos usados na quimioterapia causa também a fadiga, perda de apetite, queda de imunidade, náuseas e vômitos”, explica.
34 Revista CDM Jornalismo PUCPR Foto: Gabriela Oliveira
Para muitas mulheres, o cabelo é um acessório essencial e ficar sem ele pode implicar na perda da autoestima,o que acontece com grande parte das pacientes no tratamento da doença. Nadir Bianchini e Thauana Santos de Araújo são estudantes do ultimo ano de Psicologia e trabalham voluntariamente em um projeto que auxilia com acompanhamento psicológico o tratamento do câncer. “Para as pessoas que sozinhas não conseguem passar pela doença, o apoio psicológico é fundamental. Tanto o acompanhamento em grupo quanto o individual ajudam essas mulheres a suportar a dor. É um espaço para elas chorarem, trocarem experiências e desabafar mesmo”, explicam as estudantes.
O projeto Atitude na Cabeça é um exemplo
de inciativa que visa a manter a vaidade e a alegria de mulheres que lutam contra o câncer. A iniciativa veio da necessidade de uma moça, que estava passando pela perda de cabelo, por conta da doença, e não tinha condições de comprar uma peruca. “Essa minha amiga veio perguntar se eu conhecia alguém que doava peruca, eu disse que não conhecia, mas fomos atrás e conseguimos”, afirma uma das idealizadoras do projeto, Terezinha Maria Niehues.
cada vez.” - Michelle Bornemann, paciente de câncer.
Foto: Milton Nitta
Foto produzida para a campanha Outubro Rosa do Shopping Mueller (2013).
AS PERUCAS SOBREVIVEM

oséculo XVII é considerado a época de ouro das perucas. O acessório era objeto de prestígio entre a nobreza e um importante acessório, principalmente do estilo masculino. Reis franceses, como Luís XIII e Luís XIV, não dispensavam a peça e nunca eram vistos de cabelo curto. Usar perucas era uma questão de classe. A profissão de peruqueiro era bem vista, dava status de artista para a pessoa que as confeccionava. A alta demanda elevou a procura por perucas de qualidade e acabou por encarecer a peça. Mas as madeixas avulsas não saíram do mercado e ainda aquecem a economia. Estão em vitrines e em salões de beleza. E podem ser solução para pacientes que passam por tratamentos de saúde. Há perucas para todos os gostos, de todas as cores e cortes, de cabelo natural e sintético. A mulher que vai a uma loja de peruca certamente se diverte com a quantidade de opções e sai realizada.
A divulgação começou com pedidos, pela rede social Facebook, de doação de perucas, lenços e chapéus. Em parceria com outras duas idealizadoras do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol), surgiu a ideia de pegar doações de cabelos e fazer perucas. “Quando uma pessoa coloca uma peruca e se vê normal de novo, a autoestima dela já eleva e ela enfrenta a doença com mais ânimo e coragem”, garante Terezinha.
Um dos passos do projeto, que ainda está em andamento, foi tomado pela voluntária Terezinha Martynhak, dona de salão de beleza e cabeleireira, que corta gratuitamente os cabelos de quem quer doar. “Como eu tive três pessoas na minha família que faleceram de câncer, quando a Terezinha me falou do projeto, eu disse: ‘Tô dentro, vou ajudar vocês’.” A voluntária acredita que o pouquinho que ela ajuda é o mínimo que ela pode fazer pela causa. “Eu vejo também a motivação das pessoas que vem doar o cabelo e é contagiante. É uma alegria muito grande fazer parte dessa ação”, ressalta Martynhak.
A repórter Helem Barros, da revista CDM, resolveu participar dessa corrente do bem e doar o seu cabelo para o projeto Atitude na Cabeça. “Não sei para quem vai o meu cabelo, mas espero que realmente ajude muito, que a pessoa que receba possa não só elevar a autoestima, mas enfrentar a doença com mais esperança. Um sentimento muito bom me invadiu ao ver meu cabelo curto e a sensação de poder ajudar alguém é inexplicável.”
Michelle Bornemann, que está na luta contra o câncer de mama há mais de um ano, é exemplo de superação e serve de inspiração para as pessoas que vão enfrentar a doença. No inicio do tratamento, Michelle procurou levar a situação da melhor maneira possível e conseguiu contagiar as pessoas a sua volta com sua alegria, coragem e força de vontade.
”A pior parte já passou, a quimioterapia mais pesada já foi, mas cada vez que você precisa voltar para o centro cirúrgico, você tem aquela expectativa de que tudo pode acontecer. Então, eu sempre pensei que tem que ser um dia de cada vez, um passo de cada vez, que as coisas vão melhorando”, relata Bornemann.
Para os filhos pequenos, Michelle fez questão de explicar a situação. Quando descobriu que o cabelo ia cair, a primeira coisa que pensou foi neles e em como lidariam com a situação. “Eu conversei com eles, falei que nada ia mudar, que a vida ia continuar e que íamos dar força uns para os outros e eles aceitaram, a gente fez uma festa pra cortar o cabelo. Então a gente fez um churrasco e daí eu enchi a cabeça de chuquinhas e cada um cortou um pouco do cabelo.”
Com esperança e o apoio da família e amigos, Michele também entrou na corrente do bem e ajuda mulheres que passam pelo mesma situação que a sua. Conversando abertamente com quem precisar de conselhos e ajudando projetos como o Atitude na Cabeça, ela procura passar a sua força para quem precisa. Enfrentar o câncer não é uma tarefa fácil, mas a aceitação da doença e a busca pelo resgate da autoestima podem ser grandes aliados para que essa luta seja vencida.


F oto: R aí s s a R i be iro

“É uma alegria saber que eu estou fazendo alguma coisa pela causa, que estou ajudando de alguma forma. E ver as pessoas se doando é maravilhoso. Elas se tornam grandes. É uma alegria sem tamanho e que contagia.” Terezinha Martynhak, cabelereira e voluntária do projeto Atitude na Cabeça.
F oto: R aí s s a R i be iro
“Quando se fala em quimioterapia, a paciente não questiona se vai passar mal ou quais são os efeitos. A primeira pergunta é se vai cair o cabelo. Tem mulher que só se reconhece com cabelão. Então, não tem como tirar isso dela.” Gladys Halush, fundadora da Associação das Amigas da Mama.
F oto: R aí s s a R i be iro
“Além dos encargos da doença, a questão da autoestima é muito afetada. Então tudo que mantem a vaidade da mulher a ajuda a passar de uma forma bem melhor por essa situação difícil.” Valéria Lopes, presidente da Associação das Amigas da Mama.