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Comunidade é transformada com ações sociais

Fotos: Mario Spaki

Municípios da grande Curitiba ganham novo ar graças ao trabalho das Redes de Desenvolvimento Local, originadas pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). Trabalhos de cunho social inserem jovens e adultos em inúmeras atividades e lhes apresentam novas perspectivas de vida.

Por Beatriz Theiss

Ogrande aumento populacional tem gerado um leque de situações a serem analisadas em nosso país. No campo econômico, a geração de novos empregos é um fator de risco devido às exigências do mercado de trabalho. Com base nestes dados, percebe-se a necessidade de criação de fontes de renda que possam inserir cidadãos de diversas faixas etárias, que mesmo sem qualificação profissional, possam garantir o sustento diário de seus familiares. Foi pensando nisso que surgiu a Rede de Desenvolvimento Local, criada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) no início de 2007. De lá pra cá, esse projeto vem modificando bairros e municípios de toda Curitiba, ensinando o cidadão de cada localidade uma relação de democracia e ação social para com o seu próximo, compartilhando um novo sistema de administração da região em que se vive. Os representantes e colaboradores da rede de desenvolvimento local são formados por jovens universitários que atuam nessas localidades em busca do enriquecimento social, profissional e acadêmico. A inserção da população no trabalho de de-

senvolvimento local garante a construção de um novo cidadão, dotado a partir de agora de responsabilidades sobre o bairro em que reside, incentivando-o a ser protagonista de sua “Criar este tijolo sexhistória cotidiana. Segundo a assessotavado com pneus ria de imprensa do usados(...) foi a possiServiço Social da Indústria (Sesi), o bilidade que encontrei objetivo das Redes de Desenvolvimento de criar algo que pu- Local é incentivar os desse dar oportunidamoradores de cada localidade a atuar de a pessoas que não positivamente em sua comunidade, saibam ler ou escre- destacando que o ver.” – Elias Saade, líder intuito do trabalho realizado é trazer o comunitário do bairro Boqueirão. protagonismo do cidadão.

Pelos furos dos bloquetes são passados os cabos

Material Reciclável X Emprego

A ação de um homem pode mudar o dia a dia de muitas famílias e livrá-las do maior problema do século: as drogas. Essas são as palavras pronunciadas por Elias Saade, líder comunitário da região do bairro Boqueirão, em Curitiba. Disposto a escrever uma nova história aos moradores de sua localidade, Saade desenvolveu projetos que podem gerar novos empregos e dar oportunidades a jovens e adultos de ingressar no mercado de trabalho e sem necessidade de que eles saiam da comodidade de suas casas. Idealizador de blocos de pneus usados em formato sextavado semelhante à um favo de mel, o líder comunitário diz que “criar este tijolo

“Para continuar esse projeto preciso de recursos financeiros para homologar a ideia.” – Elias Saade, líder comunitário do Boqueirão.

Tijolos artesanais são criados a partir de pneus usados

sextavado com pneus usados, juntando areia e cimento na composição, foi a possibilidade que encontrei de criar algo que pudesse dar oportunidade a pessoas que não saibam ler ou escrever, e que queiram garantir o sustento de seus familiares trabalhando em casa.” Os blocos de origem reciclável desenvolvidos por Saade podem ser usados em construções de casas, barracões e calçadas, pois sáo bastante resistentes, assim como os blocos tradicionais. Porém, seu custo ainda está fora dos padrões do mercado. “Para o meu projeto seguir em frente preciso de recursos financeiros para homologar a ideia. Após esse processo, rapidamente famílias poderão trabalhar com a produção dos blocos de pneus e garantirão um meio de renda eficaz, sem que precisem ficar longe de sua família para trabalhar”, finaliza o líder comunitário.

Voluntário em ação

O enfermeiro Bruno Melo é um cidadão um tanto aplicado Ligado à saúde, à igreja, à família e às ações sociais, o rapaz atualmente desempenha seu trabalho no Centro de Desenvolvimento Comunitário Vila Amélia, localizado em Pinhais, Regiáo Metropolitana de Curitiba. Mesmo com tantas atribuições em seu dia a dia, ele dá prioridade ao seu trabalho no âmbito social, e diz que “dá tempo pra tudo. É preciso de organização e ter em mente as prioridades, ai sempre há um tempo pra pensar no próximo. E acredito que o que faço é pouco, queria fazer mais.” Inserido no Centro de Desenvolvimento Comunitário, organizado pela Igreja Batista Vida Nova, Melo e colegas desenvolvem projetos na área de inclusão digital, cultura e trabalhos artesanais. Para ele, a inserção da comunidade em atividades de iniciativa popular e social é fundamental para a mobilização da população, aprimorando nos cidadãos a função do coletivo, podendo com isso gerar melhorias na localidade em que vivem. Melo ainda relata que “o que as pessoas precisam são de oportunidades, e é por isso que sonhamos e trabalhamos por um mundo mais justo e solidário.” Além disso, Melo busca ajudar as pessoas as pessoas necessitadas mudando a visão que cada um tem do seu cotidiano, mostrando que é possível melhorar muito o ambiente em que se vive com pequenas atitudes, ganhando

assim um maior número de adeptos em novas atividades. Antes de começar o trabalho na região de Pinhais, Melo e sua equipe realizaram uma pesquisa na comunidade, avaliando a perspec“O que as pessoas precisam são de oportunidades, e é por isso que sonhamos e trabalhamos por um mundo mais justo e solidário.” – Bruno Melo membro do Centro de Desenvolvimento Comunitário Vila Amélia. tiva situacional de jovens e adultos e os motivos de estarem acomodados ou desmotivados a mudar o ambiente em que vivem. Ele ainda conta que, “na pesquisa que realizamos na comunidade, encontramos um jovem brincando de pipa na rua. Ele já estava em idade para trabalhar, mais estava ali, como alguém sem nenhuma perspectiva. Em uma das perguntas, questionei se ele tinha o sonho de realizar uma faculdade, e ele disse que isso não era pra ele.” Com muita força de vontade e fé, o enfermeiro ressalta que “A parte mais gratificante é saber que com poucos recursos podemos gerar impactos muito positivos; é ver alguém acreditando que pode sim chegar lá, que seus sonhos podem ser alcançados, que não esta fadado a repetir a historia dos seus pais, da sua comunidade. Temos muitas limitações, temos muitos sonhos, mas, às vezes, poucos recursos financeiros, e, por isso, muitos ficam engavetados. Em meio a pouco recursos financeiros, temos muitos recursos humanos”, finaliza Melo.

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