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Quem vive de lixo?
by eba_pucpr
Famílias transformam resíduos recicláveis em fonte de renda
Gabriela Oliveira, Helem Barros, Raíssa Ribeiro
Não é difícil encontrar, espalhados pelas ruas de Curitiba e da Região Metropolitana, milhares de catadores de lixo. São pessoas que, informalmente, trabalham na coleta e na separação correta dos resíduos recicláveis produzidos todos os dias na região. Essas famílias dependem do lixo para sobreviver, e dele fazem sua renda mensal.
Segundo dados da Prefeitura de Curitiba, atualmente a cidade produz diariamente 1,8 toneladas de lixo, um quilo de resíduos por cada morador da cidade. O que é gerado pela população de Curitiba e Região Metropolitana é depositado, hoje em dia, no Centro de Gerenciamento de Resíduos Iguaçu (CGR Iguaçu), no município de Fazenda Rio Grande.
O CGR Iguaçu está localizado em uma área de 2,6 milhões de metros quadrados, mas apenas 382 mil são utilizados para compactação e armazenamento do lixo. O restante do terreno é utilizado como área ambiental. O Centro de Gerenciamento tem capacidade para 2,4 mil toneladas por dia e os resíduos descarregados no local são cobertos com 70 centímetros de terra, todos os dias, para evitar o mau cheiro. Márcia Mariano, de 33 anos, e sua mãe, Iracema Lopes, 59, vivem da coleta de materiais recicláveis há dez anos e enfrentam as dificuldades da informalidade do serviço. “O trabalho é cansativo, dá para comprar algumas coisas, mas pagar contas não dá”, afirma Marcia. Mãe e filha fazem parte da Associação de Catadores de Material Reciclável Ilha, localizada em Almirante Tamandaré, onde os catadores podem guardar e fazer a separação do lixo. Cada catador tem a sua baia, um espaço para armazenar o que é coletado. Claudete da Silva, 42 anos, conta que gosta do trabalho. “Eu adoro trabalhar aqui na associação reciclando o lixo. É um lugar tranquilo e eu tenho vários amigos.” Claudete também comenta sobre a falta de reconhecimento da profissão: “O nosso trabalho é como qualquer outro e merece ser valorizado.”

crédito: Gabriela Oliveira
Iracema Lopes, ve na reciclagem do lixo sua forma de sustento.
Quais os impactos de um aterro para a população?
A comunidade que se encontra ao redor de aterros sanitários pode acabar sofrendo fortes consequências. Para o professor Carlos Mello Garcia, o impacto do aterro no meio ambiente depende da qualidade de gestão do projeto. “Se o aterro for mal feito, é um veneno para a comunidade ao redor. Se for bem operado, não traz nenhum problema para a sociedade, que pode habitar a região próxima sem preocupações”, explica.
O antigo aterro da Caximba, que antes era o destino do lixo de Curitiba e RMC, está passando por um monitoramento, além do trabalho de revitalização da área. O centro de gerenciamento de resíduos foi projetado para ter uma vida útil de 20 anos, mas permaneceu 30 anos em atividade. “O aterro da Caximba causou maus odores, o chorume era jogado nos rios, além de haver proliferação de ratos, insetos e aracnídeos, prejudicando e incomodando fortemente a comunidade ao redor”, afirma o professor.
Garcia acredita que o CGR Iguaçu, que é administrado por uma empresa privada, ao contrário do antigo, tem uma boa organização e não oferece riscos para a comunidade. Procurada pela equipe da CDM, a empresa Estre Ambiental, que gerencial o CGR Iguaçu, não se manifestou até o fechamento desta edição. Legislação
Os catadores de material reciclável são amparados por uma lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Lei 12.305/10, que garante a inserção das associações no trabalho de coleta seletiva de lixo. Menciona, também, o conceito de gerenciamento e gestão dos resíduos sólidos, meios eficazes para a coleta, transporte, tratamento e destinação final ambientalmente adequada.
Para o professor e doutor Carlos Mello Garcia, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), há um debate com relação a esse modelo não oficial de coleta. “O trabalho executado pelos catadores acabou por se transformar numa peça fundamental no processo de reciclagem. Deve-se valorizar o trabalho deles e buscar uma condição humana sustentável”, aponta Garcia.
No cenário atual, Curitiba e a Região Metropolitana executam o trabalho da reciclagem com quase 20% de todo o lixo recolhido. “Outros 20% são realizados pelos catadores. Daí, você vê a importância deles: quanto mais eles fizeram sua reciclagem, menos teremos de volume e, consequentemente, pagaremos menos pelo espaço desse lixo, na Fazenda Rio Grande”, explica o engenheiro ambiental.
Segundo Garcia, o jeito que o trabalho é feito não é correto. “É desumano, não podemos escravizar as pessoas. Numa sociedade que se preze, deveria-se pensar melhor sobre em como incorporá-los no processo de trabalho, sem tirar sua liberdade”, reconhece.

crédito: Gabriela Oliveira
O material reciclado é vendido para empresas especializadas.
COLABORADORES
O trabalho de coleta e separação do material reciclável feito pelos catadores informais muitas vezes acaba se tornando exaustivo. Ainda assim, a separação do lixo ainda é insuficiente, e prejudica o trabalho dentro dos aterros.
Separar o lixo orgânico do reciclável dentro de casa é uma boa iniciativa para colaborar com o meio ambiente. Felizmente, existem pessoas, como Cleuza Santos e sua família, em Fazenda Rio Grande, que não deixam de contribuir com o trabalho dos catadores. “Aqui em casa, é lei separar o lixo, além de ajudar o pessoal que precisa, estamos fazendo um bem para o meio ambiente. Não custa nada separar”, explica. A separação do lixo acaba tomando bastante tempo de trabalho dos catadores informais. A ação dentro das residências contribui para melhorar as condições de trabalho de quem vive disso.