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Lar doce lar
by eba_pucpr
LAR LARdoce
Situado na Região Metropolitana de Curitiba, o Lar Mãe Maria acolhe crianças e adolescentes necessitadas de amparo e proteção, com o objetivo de reinseri-o na socidade
Por Beatriz Pacheco, Gustavo Lavorato, Jhenifer Valetim, Laura Espada e Mariana Papi
anifestar o rosto materno e providente de Deus aos pequeninos do Reino. Essa é a missão das Irmãs Beneditinas da Divina Providência. No início do ano 2000, o sonho de construir um lar para acolher crianças e adolescentes, que seriam encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude, começou a ser concretizado. O primeiro passo foi achar um terreno adequado, que deveria ser próximo a escolas, postos de saúde e meios de transporte. O local escolhido foi São José dos Pinhais, no bairro Borda do Campo, Região Metropolitana de Curitiba. Depois de dois anos de preparo, no dia 2 de março de 2002, o lar foi inaugurado
Me funciona até hoje, abrigando mais de 30 crianças e adolescentes.
COTIDIANO
Ao contrário das expectativas do grupo, o Lar Mãe Maria que encontramos foi construído em uma chácara que abrigava cinco casas lares, com pais e mães sociais para fornecer amparo a crianças carentes.
Quem nos recebeu foi a coordenadora do projeto, irmã Narcisa, que nos contou que o lar é mantido graças a um convênio com o município de São José dos Pinhais e às doações mensais. “O estado ajuda apenas em projetos esporádicos. Mas não existe uma verba destinada à manutenção do lar vinda do estado,
apenas do município. Na verdade, a função de fazer esse trabalho que nós desempenhamos é do governo. A entidade entra como parceira e presta esse serviço, mas claro, para nós, vai muito além”, explica. O acaso de marcarmos a data de nossa visita
no mesmo dia em que um grupo de voluntários desenvolveria atividades, durante todo aquele dia, viria nos ajudar a entender melhor a realidade daqueles que conhecemos. Em meio às atividades, conversamos com Leia Cristina de Campos, que é mãe social há nove meses. Ela, que têm dois filhos, agora é mãe de 11 “São como se fossem meus”. Durante a conversa, Leia reforçou a normalidade de sua rotina como dona de casa. No entanto, existem dificuldades para controlar um gru-
po grande e diversificado. “Aqui, a gente recebe crianças de todos os jeitos, algumas vêm desconfiadas, a contragosto e outras, pelo o que já passaram, vêm com muitos problemas psicológicos e até diagnósticos psiquiátricos”, relata a mãe. Junto com seu marido, Elias Gomes Barbosa, que “As crianças têm identitambém se tornou pai dade aqui, respeitamos social, Leia a individualidade delas. conta sobre o desafio de liNão faltam dar com uma jovem com colaboradores”. crises convulsivas, uma filha com transtorno de personalidade bipolar e uma terceira com dependência química. Para ser admitido no lar, Barbosa explica que passou por entrevistas com psicólogos e com a irmã Narcisa. “Eu não estava trabalhando e aqui nós não pagamos luz, água, comemos com as crianças, ou seja, é um benefício para nós também. Ajudamos eles e também somos ajudados. É gratificante”, afirma.
Hoje, Elias está desempregado e se recupera de uma cirurgia. “Agora tenho mais tempo para ficar em casa e ajudar minha mulher”, finaliza. VIDA NA INSTITUIÇÃO
Além das crianças que nos contagiaram com alegria ao chegar na chácara, o lar também dispõe de espaço e atenção para as mais velhas. As adolescentes – todas meninas, já que o lar permite a estada de meninos até os 12 anos – podem ficar até completarem 18 anos. Cintia Moreira da Silva, 18, é uma delas. A jovem, que já passou por outras duas instituições, vive no lar há três anos e conta como foi difícil encontrar um lugar que a fizesse feliz. “A primeira vez que fui parar em uma instituição eu tinha 12 anos. Algumas vezes, eu voltei a morar com a minha família, só que nunca dava certo porque minha mãe é bipolar e muito violenta. Na última instituição pela qual passei, cheguei a apanhar das outras meninas, porque sempre fui a menor”, conta. De acordo com Cintia, os jovens recebem apoio do lar em todos os sentidos, desde material escolar até cursos externos. A jovem contou que trabalha como menor aprendiz em uma empresa parceira do Lar Mãe Maria e que ganhou de uma madrinha um curso de inglês. Além dela, outras adolescentes são beneficiadas com cursos dados por seus padrinhos. “Pra gente, isso aqui é nossa família. Pra mim, eles são meus pais. Eu digo que é como se a minha mãe social tivesse me ‘jogado fora’ na maternidade e eu voltei pra ela. A gente se dá muito bem, ela é meu chão”, revela a adolescente.

O LAR Mesmo com a ajuda permanente de grupos voluntários e empresas parceiras, o Lar mantém um quadro de funcionários. “Nós temos um quadro de funcionários contratados. São dois psicólogos, duas assistentes sociais, uma pedagoga, uma educadora, uma fonoaudióloga. Esses profissionais são pagos pela instituição”, explica a coordenadora do projeto. A reverenda explicou ainda que esse quadro de funcionários é o exigido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e tanto o município quanto a rede de proteção fazem fiscalizações constantes.
Segundo a religiosa, os especialistas são imprescindíveis para o desenvolvimento das crianças, uma vez que elas chegam com muitas debilidades ao lar. “Às vezes recebemos adolescentes semianalfabetas, que foram muito negligenciadas. Temos crianças de 3 anos que não falam, porque foram abandonadas e não receberam estímulo nenhum. Essas são as carências que a instituição tenta suprir”, afirma. A coordenadora explica que dificilmente a criança chega ao lar com o desenvolvimento pleno para sua idade e, na maioria das vezes, apresentam lacunas, como problemas de aprendizagem e problemas de saúde. Irmã Narcisa ainda afirma que a organização e a seriedade do lar é o diferencial na hora de conseguir parceiros. “As pessoas chegam aqui e notam que as crianças são bem cuidadas, e sempre se oferecem para ajudar. As crianças têm identidade aqui, respeitamos a individualidade delas. Não faltam colaboradores”, conta. Irmã Narcisa explica ainda que, desde o início, empresas se disponibilizaram a apoiar o projeto, e até hoje, recebem essa ajuda, pretendo conseguir mais doações e investimentos de empreendimentos particulares.
Ilustração: Mariana Papi
