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Jogo dos trilhos

Moradores de área de risco enfrentam diariamente o perigo do tráfego de trens nas portas de suas casas

Por Amanda Louise e Bruna Carvalho

As linhas ferroviárias que cruzam o Paraná rendem paisagens particulares. Em Almirante Tamandaré, o trem passa quatro vezes ao dia e desperta a atenção de centenas de pessoas. Com o convívio diário, os moradores já se acostumaram com o barulho e o tremor provocado pela passagem dos vagões, apesar de alguns ainda levarem sustos de vez em quando. Dos 103.204 habitantes da cidade (Censo IBGE 2014), centenas enfrentam as dificuldades na moradia de risco ao redor dos trilhos. O problema já tem mais de 15 anos e nenhuma solução prevista, nem pela América Latina Logística (ALL), nem pela prefeitura, tampouco pelo Ministério Público. Enquanto isso, as rachaduras, os acidentes e o perigo de ter um trem passando na porta de casa continuam fazendo disso um jogo no qual o morador sempre sai perdendo. Angelita Moraes da Silveira, 47, mora na Vila Grécia, bairro de Almirante Tamandaré, há mais de 11 anos e já se adaptou à rotina do trem. O primeiro sinal dos vagões vem às 4 horas da manhã. “O som atrapalhava. No início, eu até levantava da cama, mas hoje nem vejo o trem passar”, conta. Com ela, mora seu marido, suas duas filhas e sua neta recém-nascida. Angelita considera o bairro tranquilo, mas diz que se mudaria se pudesse. INÍCIO

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Em 1985 chegaram os primeiros moradores ao redor dos trilhos. Hoje, centenas de pessoas continuam vivendo nessas áreas de risco. (avance 5 casas)

“O som atrapalhava, no início eu até levantava da cama, mas hoje nem vejo o trem passar”. Angelita Moraes da Silveira, 47, mora na Vila Gré cia há mais de 11 anos e já se adaptou à rotina do trem. (avance 5 casas)

Já Ivonei José Ribeiro, 42, morador da região há cinco anos, ainda não se adaptou ao local. Ele e seus filhos acordam assustados quase toda noite. Além disso, sua casa apresenta rachaduras por causa da pressão do peso dos vagões. “Cada vez que o trem passa vai trincando tudo, e a gente vai remendando”, reclama. Por estar próxima a um barranco, a impressão é que a casa vai se dividir em duas partes. Quando questionado sobre uma possível mudança do local, Ivonei diz que só sairia se tivesse outras opções de moradia ou auxílio. E, apesar das características da região serem de invasão, garante que comprou o lote e “tem o terreno registrado em cartório”. “A ação da empresa é pedir reintegração de posse, o que determina que os mora dores se retirem do local até um prazo determinado. A medida é feita através de um oficial de Justiça e cabe à prefeitura realizar a relocação das pessoas afe tadas”. Assessoria de imprensa da ALL. (avance 5 casas)

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“Cada vez que o trem passa vai trincando tudo, e a gente vai remendando”. Ivonei José Ribeiro, 42, mora na Vila Grécia há 5 anos e ainda não se adaptou à rotina do trem. (avance 5 casas)

“O som atrapalhava, no início eu até levantava da cama, mas hoje nem vejo o trem passar”. Angelita Moraes da Silveira, 47, mora na Vila Grécia há mais de 11 anos e já se adaptou à rotina do

“A ação da empresa é pedir reintegração de posse, o que determina que os moradores se retirem do local até um prazo determinado. A medida é feita através de um oficial de Justiça e cabe à prefeitura realizar a relocação das pessoas afetadas”. Assessoria de imprensa da ALL. (avance 5 casas)

Você chegou ao fim! (não importa quantas casas você avance, sempre voltará ao início do jogo que já dura 15 anos. Volte 25 casas) “A área de rede ferroviária é o menor dos problemas de invasão no município, já que não é de domínio da administração municipal. A prioridade são as áreas de preservação, alagamento e encosta”. Leonel Siqueira, Secretário de Planejamento de Almirante Tamandaré. (avance 5 casas)

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O secretário de Planejamento de Almirante Tamandaré, Leonel Siqueira, trabalha há mais de um ano na prefeitura e diz que não há solução prevista para o problema. Segundo Siqueira, os recursos da União destinados ao município não cobrem os custos de relocação dos moradores da região dos trens. “A área de rede ferroviária é o menor dos problemas”, conta o secretário sobre as áreas invadidas. A parte dos trilhos, que pertence ao governo federal, não é de domínio da administração municipal e a prioridade de mudança vai para as áreas de preservação, alagamento e encosta. Siqueira também afirmou que não há contato com a ALL, empresa que tem o domínio atual sobre a área, e que os ofícios enviados à concessionária ainda não foram respondidos. A ALL recebeu a concessão para a área ferroviária em 1997 e, desde então, lida com diversas regiões de ocupação irregular. A ação da empresa a esse tipo de causa é pedir reintegração de posse, o que determina que os moradores se retirem do local até um prazo determinado. A medida é feita através de um oficial de Justiça e, segundo a concessionária, cabe à Prefeitura realizar a relocação dos das pessoas afetadas para outra área.

Menino caminha pelos trilhos (fig. 1) Ao lado, os moradores: Angelita Moraes da Silveira e sua filha Thayná (há mais de 11 anos morando na Vila Grécia, já se acostumaram); e Ivonei José Ribeiro que tem constantes rachaduras em sua casa (há cinco anos na Vila Grécia).

A Vila Grécia é uma das maiores áreas de moradia de risco ao redor dos trilhos de trem em Almirante Tamandaré.

Fotos: Pedro Giulliano

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