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Em poucas palavras

TANACH E GEOLOGIA

AWikipedia explica que um campo geomagnético é o campo magnético que se estende do interior da Terra para o espaço, onde interage com o vento solar, um fluxo de partículas carregadas que emanam do Sol. Estes campos magnéticos mudam de posição lenta e continuadamente, deixando o registro da passagem do tempo em rochas.

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Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv e da Universidade Hebraica de Jerusalém desenvolveram estudos para avaliar a teoria de que os minerais contidos em rochas que foram expostas a fogo intenso registram o campo magnético no momento do incêndio.

Para provar a validade de sua teoria, eles e mais uma equipe multidisciplinar de pesquisadores de vários países usaram dados de campos geomagnéticos de 17 sites arqueológicos de Israel que, no conjunto, contêm 21 camadas de cidades destruídas.

Com isso eles provaram não apenas a validade de sua teoria, como também a acuidade dos relatos históricos do Tanach (a Bíblia Hebraica). Eles partiram da camada arqueológica correspondente à destruição do Primeiro Templo de Jerusalém pelos babilônios, em aproximadamente 830 antes de era comum, e com isso conseguiram datar as demais destruições nos sites arqueológicos estudados e comprovar que os períodos registrados nos relatos do Tanach correspondem aos períodos revelados pelos campos geomagnéticos.

Provaram também as suspeitas de alguns pesquisadores, que argumentam que Judá não foi completamente destruída pelos babilônios. Cidades no Neguev e em outras localidades afastadas de Jerusalém não foram afetadas pela conquista da Babilônia, tendo sido destruídas várias décadas depois, provavelmente pelos edomitas, o que explica o ódio que a Bíblia Hebraica expressa por este povo, como, por exemplo, na profecia de Ovadiá (Obadias) que abre seu curto livro com: “Assim disse meu Senhor Deus a respeito de Edom: Farei de você a menor entre as nações, você será a mais desprezada.”

Mas, sem dúvida, a descoberta mais importante deste estudo é que o registro magnético dos minerais em rochas incendiadas determinam a data do incêndio, o que vai ajudar a datar a evolução geológica do mundo.

A ciência avança numa velocidade jamais experimentada na história humana e, neste caso, ela precisou que o Tanach lhe desse uma mãozinha.

O anfiteatro em Beit She’an

James Emery, CC BY 2.0 , via Wikimedia Commons

QUEM SÃO BEN-GVIR E SMOTRICH

Portão de Jafa, Jerusalem

Quem são Ben-Gvir e Smotrich, que formam juntos o terceiro partido mais votado em Israel na última eleição, o “Sionista Religioso”?

Thomas Friedman:

Netanyahu foi impulsionado ao poder por aliados que consideram cidadãos árabe-israelenses uma quinta-coluna em que não se pode confiar, que prometeram tomar o controle político mediante nomeações na justiça, que acreditam que estabelecimentos judaicos [em terras palestinas] têm de ser expandidos para que não reste uma só polegada para um Estado Palestino, que querem fazer mudanças jurídicas que congelem o julgamento de Netanyahu por corrupção, e que expressam insatisfação com a longa e forte postura de Israel em favor de direitos LGBTQ+ .

Estamos falando de pessoas como Itamar Ben-Gvir, que foi condenado por um tribunal israelense em 2007 por incitação ao racismo e apoio à uma organização terrorista judaica. Netanyahu, pessoalmente, forjou uma aliança entre a “Força Judaica” de Ben-Gvir e o partido do Sionismo Religioso de Bezalel Smotrich, conhecido, entre outras coisas, como quem sugeriu que mães israelenses devam ser separadas de mães árabes nas enfermarias de maternidade nos hospitais israelenses.

A coalizão de Netanyahu atacou também as vitais instituições independentes que sustentam a democracia israelense e são responsáveis, entre outras coisas, por proteger os direitos das minorias. Netanyahu e seus aliados querem por sob o controle da direita a Suprema Corte, “precisamente para que não protejam os direitos das minorias” com o vigor e o alcance de que hoje dispõem, segundo Moshe Halbertal [filósofo da Universidade Hebraica].

Daniela Kresch:

Quando o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin foi assassinado, em 4 de novembro de 1995, o jovem Itamar Ben-Gvir, com seus 19 anos, comemorou. Ele fazia parte – assim como o assassino, Yigal Ami – de um grupo de radicais de extrema-direita que odiava a ideia de acordos de paz com os palestinos, a exemplo dos de Oslo, que Rabin havia assinado três anos antes.1

Exatos 27 anos depois, BenGvir comemora novamente. Ele foi o fenômeno do pleito parlamentar de Israel desta semana junto com seu parceiro de coligação, Bezalel Smotrich.

A surpresa maior se deu porque, até bem pouco tempo atrás, ambos eram considerados radicais demais, marginalizados pelo mainstream político. Suas ideias e discursos xenófobos e racistas chocavam, mas não eram levados muito a sério. Agora, porém, essa retórica parece ser deglutida por cada vez mais eleitores israelenses, principalmente mais jovens, religiosos e abertos a estratégias violentas – e a comparação a líderes de ultradireita em outros países não é mera coincidência. Foi Netanyahu quem apadrinhou a união dos dois, pois sabia que só conseguiria formar um governo incluindo partidos religiosos e ultranacionalistas.

1 Ele roubou uma peça do carro de Rabin e disse que

“se ele pôde chegar ao carro de Rabin, pode-se chegar até ele”. Num pôster, a imagem de Rabin estava sob a mira de um fuzil. Semanas depois Rabin foi assassinado.

Detalhe da Parochet (cortina que cobre o Aron Hakodesh) em uma das sinagogas de Marrakech

Detalhe da porta do Aron Hakodesh da sinagoga de Fez

Sinagoga em Marrakech, outra das grandes cidades do Marrocos

UM PAÍS SURPREENDENTE

Ao começo da última estrofe do Lechá Dodi, os aproximadamente 120 judeus dentro da pequena sinagoga se levantam em massa. 110 deles voltamse para a parede dos fundos da sinagoga e 10 para a porta da sinagoga, numa de suas paredes laterais.

Os 10 em minoria se entreolham com cara de ponto de interrogação. Mas rapidamente seus instintos os impelem a seguir a maioria e se voltam, eles também, para a parede dos fundos e é, com esta postura, que os 120 se curvam para simbolizar o recebimento da noiva – o Shabat.

Após o Kabalat Shabat, esses 10 turistas trocam ideias. Que costume é esse? Nenhum deles havia testemunhado algo igual.

Essa cena aconteceu no último Shabat do mês de outubro, em Marrakech, no Marrocos. Naquele país islâmico, há uma comunidade judaica de 3.000 pessoas, que são os remanescentese dos quase 400.000 que a compunham no momento de sua expansão máxima.

Os judeus de Marrakech rezam com uma kavaná de arrepiar os cabelos, com um canto alto e forte, que só termina quando a última pessoa sai da sinagoga. E seguem o ritual do Kabalat Shabat dos primeiros cabalistas de Tsfat que tinham o costume de celebrá-lo na porta da sinagoga, voltados para o pôr do sol no Ocidente, entoando o Lechá Dodi enquanto abriam os braços para receber o Shabat.

Portanto, no Lechá Dodi do Marrocos não se dirige o corpo nem para a porta, por onde entraria a noiva, nem para o Aron Hakodesh, na parede oriental, e sim para a parede ocidental da sinagoga – sua parede dos fundos.

O turista que faz questão de conhecer a vida judaica nas cidades que visita não se surpreende com minhaguim (costumes litúrgicos) diferentes, por mais inesperados que sejam. Mas as surpresas judaicas do Marrocos não se limitam à liturgia. Elas são muitas e tremendamente significativas.

Em primeiro lugar há o cuidado com que o governo árabe daquele país dedica aos sinais de sua multissecular presença judaica. Cemitérios preservados em vilarejos afastados, onde há muitíssimos anos não há judeus; sinagogas como monumentos nacionais e a recuperação dos nomes judaicos das ruas das Meláchs, os antigos bairros judaicos de suas cidades.

Página de um livro de rezas que contém uma representação interessante do nome de Deus

Porta de um cemitério

Sinagoga em Fez, uma das maiores cidades do Marrocos

Além disso, estes bairros não se assemelham em nada aos guetos judaicos das cidades europeias. Suas ruas têm a mesma largura que a dos bairros muçulmanos construídos na mesma época e sua densidade populacional é idêntica à dos bairros não judeus. As casas não se empilham em amontoados de aposentos minúsculos, tal qual acontece, por exemplo, no gueto de Roma.

Não menos importante que isso, a influente presença judaica na administração do país é demonstrada pelo fato que dois dos quatro componentes do conselho real são judeus. A isso se soma o fato de o Marrocos ter sido o primeiro (e por enquanto o único) país islâmico, em toda a história, a inaugurar uma sinagoga dentro de uma de suas universidades.

E, finalmente, a maciça presença de turistas israelenses que, depois da normalização das relações entre Israel e o Marrocos em 2020, são responsáveis por um acentuado aclive nos números globais do turismo do país. Muitos destes visitantes têm ascendência marroquina e sua viagem é uma volta às raízes familiares. Outros são atraídos pela beleza exótica do país, pela gentileza e receptividade do povo e, por quê não?, por seus preços baixos. Não há uma loja de artigos marroquinos que não tenha uma seção de Judaica. Há objetos e obras de arte para todos os gostos e bolsos.

Os judeus já tiveram altos e baixos naquele país. Que esse momento de alta sinalize o ponto de partida para um melhor entendimento entre judeus e muçulmanos em todas as partes do mundo.

Visite o Marrocos e inclua o circuito judaico no roteiro. Você vai se encantar!

Arco na Melá de Marrakech, onde a placa, em árabe e francês indica “Arco do Rabino Mordechai ben Attar”

Antiga (e grande) Menorá de madeira num antiquário de Ourzazate, uma cidade que fica num grande oásis do deserto do Saara, um cenário muito usado por Hollywood para seus filmes

Porta de casa típica do Marrocos antigo, chamadas Riad (literalmente, pátio), onde os aposentos cercavam um pátio central, o que as tornavam arejadas e cheias de luz

Uma placa de bronze numa loja de especiarias que informa que seus preços são fixos (ou seja, é uma loja onde não se barganha). A ordem dos idiomas na placa é significativa. Primeiro o francês e o árabe: os idiomas oficiais do país. Depois o hebraico e o inglês: os idiomas falados pelos turistas que visitam a loja.

Porta de um cemitério reconstruído e mantido pelo governo em um vilarejo perdido nas montanhas do Médio Atlas, às portas do deserto do Saara

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