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Uma sólida maioria judaica – Entrevista com Yoram Ettinger
UMA SÓLIDA MAIORIA JUDAICA
Entrevista com Yoram Ettinger
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Seguindo a indicação de uma amiga da ARI, a Devarim entrou em contato com o diplomata israelense Yoram Ettinger, nascido em 1945, em busca de uma entrevista sobre suas percepções a respeito das relações entre os governos dos EUA e de Israel. Tendo servido na delegação diplomática israelense nos EUA entre 1985 e 1992 e mantendo, com cargo de embaixador, a posição de consultor do governo israelense em seu contato com o Congresso norte-americano, Ettinger está numa posição privilegiada para compartilhar sua visão com os leitores de Devarim.
Ele foi gentilíssimo, se prontificando imediatamente a receber a Devarim em seu apartamento em Jerusalém. A entrevista de aproximadamente três horas centrou em dois eixos: As relações entre Israel e EUA, sobre a qual Ettinger relatou principalmente os resultados benéficos da postura intransigente, mas bem-fundamentada, do ex-primeiro-ministro Itschak Shamir1 e também sobre as diversas pressões que os governos norte-americanos exerceram sobre Israel desde 1948, ressaltando que o governo Trump foi o único até hoje a não exercer esta pressão.
Ainda no tema das relações com os EUA, Ettinger defendeu a posição que a ajuda que Israel recebe reverte em benefícios tecnológicos muito expressivos para os Estados Unidos, de forma que ela é mais um investimento que uma despesa. E, diz ele, muitos membros do Congresso norte-americano enxergam a questão sob essa ótica. Um exemplo impressionante fundamenta esta afirmação: o caça F-16 incorpora hoje mais de 700 aprimoramentos oriundos da ex-
1 Itschak Shamir (1915-2012) serviu como primeiro-ministro de Israel entre 1983-84 e 1986-92.
periência de uso israelense. Além disso, há Existe um potencial de a questão da inteligência. Segundo Ettin- pelo menos 500.000 olim ger o falecido senador Daniel Inouye, que serviu como chairman do Comitê de Se(imigrantes judeus) gurança do Senado norte-americano, afir- nos próximos 5 anos, mou que o volume de informações de in- quando se considera as teligência recebidas de Israel excede o re- comunidades judaicas cebido de todos os países da OTAN em conjunto. O segundo eixo da entrevista foi a na Ucrânia, em outras repúblicas da ex-URSS, questão da demografia judaica e árabe em França, Grã-Bretanha, Israel e nos territórios ocupados pós-guer- Argentina, assim como ra de 1967, aos quais ele refere pela de- nos EUA, no Canadá nominação bíblica “Yehudá e Shomron”, normalmente expressos em português e na Austrália. como “Judéia e Samaria”. Há anos Ettinger se interessa muito por este assunto e o acompanha coletando e organizando todas as informações possíveis.
Seu interesse foi despertado pela insistência com que o argumento da “bomba demográfica” que ameaçaria Israel pelo crescimento da população palestina e árabe israelense é usado para pressionar Israel a se retirar para as linhas de armistício de 1949.
Sem nem concordar nem discordar dos números apresentados pelos formuladores da ameaça demográfica, Ettinger resolveu estudar a fundo o assunto. E suas conclusões são muito interessantes!
Em 24 de março de 2022, antes que Devarim pudesse compor um texto com a entrevista, Ettinger publicou em seu blog “The Ettinger Report” (theettingerreport.com) todas as informações demográficas que ele transmitiu na entrevista (a propósito, recomendamos a todos os interessados nas relações EUA-Israel a assinarem o blog, que é semanal e gratuito).
Resolvemos então publicar uma tradução do texto do blog de Ettinger em vez de um relato da entrevista, mantendo assim estrita fidelidade com as informações que ele transmitiu. Segue o texto do blog: Momentum Demográfico Judaico
ATUALIZAÇÃO DEMOGRÁFICA EM 2022 ‒UMA SÓLIDA MAIORIA JUDAICA
Em 2022, ao contrário da percepção convencional, Israel não enfrenta uma potencial bomba demográfica árabe nas áreas combinadas da Judéia, Samaria e Israel pré1967. De fato, o Estado judeu se beneficia de um “vento em popa” demográfico judaico. Em 2022, o establishment político e demográfico em Israel e no Ocidente insiste em reverberar os números oficiais palestinos sem uma due-dilligence (auditoria), ignorando uma inflação artificial de 50% nos números da população. Em 2022, Israel é a única democracia ocidental provida de uma taxa de fertilidade relativamente alta, que facilita um crescimento econômico adicional, sem dependência do trabalho de imigrantes. Além disso, a pujante demografia propicia segurança nacional (turmas maiores de recrutas) e uma política externa mais confiante.
Em 2022, pela primeira vez – desafiando as projeções feitas pelo establishment demográfico de Israel desde o começo da década de 1940 – a taxa de fertilidade judaico-israelense excede a taxa de fertilidade muçulmano-israelense. E, sobretudo, a taxa de fertilidade judaica de Israel é mais alta que a de todos os países árabes, exceto Iêmen, Iraque e Egito.
Em 2022, Israel enfrenta uma potencial onda de aliá (imigração judaica) de algo em torno de 500.000 olim [imigrantes] da Ucrânia, Rússia, de outros países da ex-URSS, França, Grã-Bretanha, Alemanha, etc.
Em 2022, a ocidentalização da demografia árabe persiste como uma consequência da modernidade, urbanização, aumento do status social das mulheres, adesão das mulheres ao ensino superior e maior uso de contraceptivos.
Em 2022, o momentum judaico demográfico (desde 1995) persiste com o setor judaico-secular fazendo a diferença, enquanto o ultraortodoxo atravessa um ligeiro declínio na taxa de fertilidade.
O número de nascimentos judaico-israelenses em 2021 (141.250) foi 76% maior que em 1995 (80.400), enquanto o número de nascimentos árabe-israelenses em 2020 (43.806) foi 20% maior que em 1995 (36.500), conforme reportado pelo Boletim Mensal de março de 2022 do Escritório Central de Estatística de Israel (ICBS).
Em 2021, nascimentos judaicos foram 76% do total de nascimentos, comparados a 69% em 1995.
A taxa de fertilidade (número de nascimentos por mulher) de mulheres israelenses seculares subiu durante os últimos 25 anos, enquanto que mulheres ultraortodoxas experimentaram leve declínio.
Mulheres judias israelenses – superadas apenas pela Islândia em entrada no mercado de trabalho – são únicas em experimentar um incremento na taxa de fertilidade, em paralelo ao aumento da urbanização, educação, padrão de vida, integração ao mercado de trabalho e aumento da idade de casamento, enquanto que esses fenômenos reduziram a taxa de fertilidade em todos os outros países.
Em 1969, a taxa de fertilidade árabe-israelense era 6 nascimentos mais alta que a taxa de fertilidade judaica. Em 2015, ambas as taxas de fertilidade eram 3,13 nascimentos por mulher, refletindo a dramática ocidentalização da demografia árabe, desencadeada pelo status social superior da mulher, idade de casamento mais avançada, expansão da participação da mulher no mercado de trabalho e ciclo mais curto de tempo reprodutivo. Em 2020, a taxa de fertilidade judaica era de 3 (e 3,27 com um pai judeu nascido em Israel), enquanto que a taxa de fertilidade árabe geral era de 2,82 e a taxa de fertilidade muçulmana era de 2,99. A média da taxa de fertilidade da OCDE é de 1,61 nascimento por mulher.
O crescimento único da taxa de fertilidade judaico-israelense é atribuída ao otimismo, patriotismo, à ligação às raízes judaicas, solidariedade comunitária, valorização judaica por criar filhos, mentalidade moderna e número declinante de abortos.
Em 2021, houve 43.879 mortes de judeus israelenses comparada a 31.575 em 1996, um aumento de 39%, o que reflete uma sociedade cada vez mais jovem. Em 2021, houve 6.751 mortes árabes, comparado a 3.089 em 1996, um aumento de 119% que reflete uma sociedade cada vez mais idosa.
A expectativa de vida de árabes israelenses (78 para homens e 82 para mulheres) é similar à expectativa de vida dos EUA e mais alta que em qualquer país árabe-muçulmano.
Em 2021, o número de mortes de judeus israelenses foi 31% dos nascimentos judaicos, comparados com 40% em 1995 – um sintoma de uma sociedade cada vez mais jovem. Em 2021, o número de mortes de árabes israelenses foi 15% dos nascimentos árabes, comparado com 8% em 1995 – um sintoma de uma sociedade cada vez mais idosa.
Desde 1995, a tendência demográfica expandiu o seg-
mento mais jovem da população judaica de Israel, o que propicia uma fundação sólida para uma expansão da maioria judaica na próxima geração.
A tendência positiva da demografia judaica é adicionalmente amparada pela imigração líquida de Israel, que consiste de uma aliá (imigração judaica) anual, reforçada pelo encolhimento da emigração israelense: de 14.200 emigração líquida em 1990 para 6.000-7.000 emigração líquida em anos recentes.
Além disso, existe um potencial de pelo menos 500.000 olim (imigrantes judeus) nos próximos 5 anos – aguardando o governo israelense alavancar este potencial – quando se considera as comunidades judaicas na Ucrânia, em outras repúblicas da ex-URSS, França, Grã-Bretanha, Argentina, assim como nos EUA, no Canadá e na Austrália.
Ocidentalização da demografia árabe
500.000 residentes no exterior, que estão fora há mais de um ano, estão incluídos no censo de população palestina, em violação às regras aceitas internacionalmente que estipulam somente uma contagem de-facto. Eram 325.000 no primeiro censo palestino de 1997, como documentado pelo chefe do Bureau Central Palestino de Estatísticas; e aumentado para 400.000 em 2005, como documentado pela Comissão de Eleição Palestina. O número cresce diariamente em função dos nascimentos no exterior. 350.000 árabes do leste de Jerusalém, que possuem cédulas de identidade israelenses são contados em duplicidade. Eles estão incluídos no censo israelense, enquanto também incluídos no censo Palestino. O número cresce diariamente em função dos nascimentos.
Mais de 150.000 árabes de Gaza e (a maioria) da Judéia e Samaria, que se casaram com árabes israelenses e receberam cédulas de identidade israelense são contados em duplicidade: por Israel, assim como pela Autoridade Palestina. O número cresce diariamente em função dos nascimentos. 378.000 árabes emigrantes da Judéia e Samaria não são excluídos do censo de população da Autoridade Palestina que ignora a emigração líquida anual de árabes majoritariamente jovens da Judéia e Samaria (20.000 anualmente em anos recentes). Emigração líquida tem sido uma característica sistêmica dessa área, pelo menos desde a ocupação jordaniana em 1950. Por exemplo, 28.000 em 2021, 26.357 em 2019, 15.173 em 2017 e 16.393 em 2015, como documentado pela Autoridade Israelense de Imigração e População, que registra todas as saídas e entradas de judeus e árabes por via terrestre, aérea e marítima de território israelense.

Uma inflação artificial de 32% nos nascimentos palestinos foi documentada pelo Banco Mundial (página 8, item 6) em uma auditoria de 2006. Enquanto a Autoridade Palestina reivindicava um aumento de 8% no número de nascimentos, o Banco Mundial detectou uma redução de 24%.
Um declínio dramático na taxa de fertilidade de 9 nascimentos por mulher nos anos 1960 para 3,02 nascimentos em 2021 está documentado pelo CIA World Factbook, que geralmente ecoa os números oficiais palestinos. Isto reflete a ocidentalização da demografia árabe na Judéia e Samaria, que foi acelerada pela rápida urbanização (de 70% de população rural em 1967 para 77% de população urbana em 2021), assim como uma elevação da idade de casamento das mulheres (de 15 anos para 22), o uso substancial de contraceptivos (70% das mulheres) e o encolhimento do período reprodutivo (de 16-55 para 23-45).
A idade média entre os árabes da Judéia e Samaria é de 22 anos, comparado com 18 anos de idade em 2005.
A ocidentalização das taxas de fertilidade caracterizou todos os países muçulmanos, exceto a região sub-Saariana: Jordânia (muito similar aos árabes da Judéia e Samaria) – 3 nascimentos por mulher, Irã – 1,93, Arábia Saudita – 1,95, Marrocos – 2,29, Iraque – 3,32, Egito – 3,23, Iêmen – 3,1, Emirados Árabes Unidos – 1,65, etc.
O número de mortes de árabes na Judéia e Samaria tem sido sistematicamente sub-relatado (por poder político e razões financeiras), como documentado por vários estudos desde o Mandato Britânico. Por exemplo, um censo de população palestina recente incluiu árabes nascidos em 1845...
Os dados mencionados acima indicam 1,5 milhão de árabes em Judéia e Samaria, quando deduzidos dos dados documentados do número oficial palestino (3 milhões).
Conclusão
Em 1897, havia uma minoria judaica de 9% nas áreas combinadas de Israel pré-1967 mais Judéia e Samaria. Em 1947 isto foi expandido para uma minoria de 39%. Em 2021 há uma maioria judaica de 68% (7,5 milhões de judeus, 2 milhões de árabes israelenses e 1,5 milhão de árabes em Judéia e Samaria) se beneficiando de um crescimento demográfico robusto de nascimentos e migração.
Em contraste com a percepção convencional, não há bomba-relógio demográfica árabe. Há, entretanto, um crescimento demográfico judaico sem precedentes.
O texto do blog foi gentilmente traduzido do inglês por Michel e Sheila Ventura.
Eldadcarin/iStockphoto Revista da Associação Cultural–ATID / Associação Religiosa Israelita–ARI | devarim | 39


Retrato de Abba Eban quando era embaixador de Israel na ONU, 1951.