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Torá: Luz e Cor – Rabino Sérgio R. Margulies

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Em Poucas Palavras

Em Poucas Palavras

TORÁ: LUZ E COR

Deus criou o Jardim do Éden. De lá o ser humano saiu e, fora de lá, cria vários jardins. As rosas destes jardins têm espinhos, pois são jardins que se defrontam com a realidade. Os espinhos nas hastes não impedem as variedades das pétalas, ao contrário, esta diversidade ajuda a enfrentar os espinhos da vida.

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Rabino Sérgio R. Margulies

“A Torá é a luz” são palavras atribuídas ao Rei Salomão no livro bíblico Mishlê [Provérbios]. O Talmud [Tratado das Bênçãos] ensina: “Há várias luzes numa luz”.

A mensagem espiritual do Talmud encontra paralelo na Física.

A luz, quando refratada, demonstra ser constituída por várias cores.

A Torá é a luz. Uma luz com múltiplas luzes. Uma luz com várias cores.

A Torá é a vida judaica: iluminada e colorida, ampla e aberta.

Amplitude para distintas visões. Todas conectadas com a mesma Torá e todas, a partir da mesma Torá, se abrem para diversas possibilidades.

Possibilidades que florescem na valorização das infindáveis singularidades, que amadurecem para responder às esperadas e inesperadas situações da vida.

Deus é Iotser, o Criador. Nós, humanos, somos a essência da imagem divina. Somos, portanto, também criadores.

Como criadores, dispomos das cores da Torá numa espiritualidade que convida a mesclar as cores para dar à vida sempre uma nova e inaudita cor.

Quantas cores podem ser criadas? Inimagináveis!

Inimagináveis desde que o potencial humano de transformar, criar, pensar, refletir, seja preservado. Desde que nos autorizemos a aprender não somente das cores favoritas – as que referendam as opiniões já estabelecidas –, como também de tantas outras cores, inclusive das que não gostamos, pois trazem uma nova perspectiva.

A Torá é a luz atrás dos olhos que aponta para vários caminhos. A Torá não é a luz na frente dos olhos que ofusca a visão. Não é o convite para se enxergar em autorreferência. Por isso, Torá é convivência com as diversas vivências. As múltiplas vivências de cada um somam-se às tantas vivências que outros têm.

Uma vez que a Torá é a flor rosa e dado que esta flor pode ser de várias cores, a Torá tem várias cores. Da luz e da flor.

“E u a [flor] rosa” são também palavras atribuídas ao Rei Salomão no livro bíblico Shir haShirim [Cântico dos Cânticos].

Quem é esta rosa?

A interpretação rabínica conclui: a Torá.

No livro de Ester – lido em Purim – está escrito: “A lei foi dada em Shushan”.

A palavra lei é entendida, numa interpretação metafórica, como Torá. Shushan, ainda que literalmente refira-se à capital da antiga Pérsia, é alegoricamente lido como shoshan, dado que as vogais são secundárias na língua hebraica. Shoshan que forma a palavra shoshan[a] é a flor rosa. Assim, conclui a exegese rabínica: “A Torá foi dada em rosas”.

Qual é a cor da flor rosa? Não é uma pergunta capciosa, pois há flores chamadas rosa que são, por exemplo, brancas, amarelas, azuis.

Uma vez que a Torá é a flor rosa e dado que esta flor pode ser de várias cores, a Torá tem várias cores. Da luz e da flor. Várias cores no jardim do aprendizado. Diversas cores para que os ensinamentos floresçam com mais encantamento e beleza. Deus criou o Jardim do Éden. De lá o ser humano saiu e, fora de lá, cria vários jardins. As rosas destes jardins têm espinhos, pois são jardins que se defrontam com a realidade. Os espinhos nas hastes não impedem as variedades das pétalas, ao contrário, esta diversidade ajuda a enfrentar os espinhos da vida preservando a capacidade de sorver a beleza de cada flor.

As rosas também exalam sua fragrância. Tal como a visão se encanta com as cores, o olfato se deixa levar pela fragrância. Inspiramos o aroma de seus ensinamentos para expirar novas ideias que enriquecem a capacidade de agir.

Há uma fragrância para cada ocasião, atestam os perfumistas. A Torá, em sua fragrância, se abre para cada tempo de nossas vidas e são muitos os tempos, como o livro bíblico Kohelet [Eclesiastes], cuja autoria também é atribuída a Salomão, ensina: “Para tudo existe uma época determinada e para cada acontecimento há um tempo apropriado sob os céus”.

O tempo segue seu curso inexoravelmente. No intuito de lidarmos com o tempo, que as rosas, com suas fragrâncias e cores, brotem e floresçam no jardim de nossos corações, espíritos e mentes.

O Rabino Sérgio R. Margulies serve na ARI – Rio de Janeiro.

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