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Em Poucas Palavras
UM VELHO-NOVO MUSEU EM ISRAEL
Em maio de 1978 foi inagurado dentro da Universidade de Tel Aviv o espetacular museu chamado Beit Hatefutsot – a Casa das Dispersões – e dedicado a exibir as características, cores e sabores da vida judaica nos milênios em que ela evoluiu fora de Israel.
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O Museu era um verdadeiro curso intensivo de judaísmo. As fontes, as riquíssimas variedades culturais, os fortes laços de união e solidariedade, tudo estava exibido lá, num museu que não exibia objetos e sim história.
Em março de 2021 o Museu foi reinaugurado no mesmo local, com a mesma proposta, mas com uma renovação espetacular e um novo nome – Anu (nós em hebraico) – Museum of the Jewish People.
Os recursos audio visuais foram explorados em toda a sua intensidade. Por exemplo, o maravilhoso mosaico na entrada do Museu, que mostrava a diversidade de rostos judaicos, foi substituído por um conjunto de uma dezena de grandes telas onde judeus de todo o mundo se revezam contando como enxergam a sua identidade judaica. São muitas dezenas de depoimentos, todos eles interessantes.
E isto é apenas o começo. Centenas de videos espalhados pelos três andares do grande prédio abordam todos os traços culturais e históricos da imponente jornada judaica pelos quatro cantos do mundo: desde a religião com todas as suas correntes às mais variadas expressões culturais e desenvolvimento filosófico e científico.
A partir de agora, nenhuma visita a Israel estará completa sem uma visita ao Anu (https://www. anumuseum.org.il). ü


Fotografias do Museu Anu (nós, em hebraico), reinaugurado em 2021 no local onde existia o Beit Hatefutsot, dentro da Universidade de Tel Aviv.
ISRAEL NO ICC
Em 2021 o Tribunal Penal Internacional (ICC em inglês) anunciou sua decisão de exercer jurisdição sobre Israel e Palestina com o propósito de processar Israel por supostos crimes de guerra durante a guerra de 2014 em Gaza e a conduta de Israel contra a violência palestina que emana de Gaza.
Tal jurisdição estabelecerá um precedente perigoso para cidadãos de todas as nações que podem se tornar as próximas vítimas de um crescente populismo internacional. Eis que dois problemas centrais confrontam a decisão do ICC: Israel não é signatário do Estatuto de Roma, que formou o ICC e a Palestina não é um Estado e não estabeleceu quais as suas fronteiras.
A decisão de estender a jurisdição não foi unânime (foi por 2x1). O juiz Péter Kovács escreveu uma forte opinião divergente. Porém, agora que a decisão foi tomada, é importante considerar: quais serão as consequências da decisão?
O Direito Internacional não é uma compilação de legislação no sentido clássico, mas uma coleção de tratados que Estados soberanos concordaram em obedecer. Nesse caso, o tratado relevante é o Estatuto de Roma. Como Israel não assinou este tratado, na prática, o ICC se auto outorgou o poder de exercer autoridade sobre qualquer nação soberana, uma noção que viola a própria natureza do direito internacional.
Quando as nações concordam com um tratado, esse acordo pode e deve ser aplicado por órgãos que as várias nações designaram para esse fim. No entanto, neste caso, o ICC determinou que é aceitável impor um acordo a partes que não o assinaram.
E isto é muito importante, pois o ICC tem poderes para emitir mandados internacionais de prisão e impor punições a lideres nacionais, soldados e até civis. Assim, Israel poderia potencialmente encontrar seus líderes incapazes de viajar para o exterior e até mesmo jovens soldados israelenses que guardaram um posto de controle serem definidos como “criminosos de guerra“ e presos por décadas. Não é certo que esse desfecho extremo aconteça, mas de acordo com a formulação específica do Estatuto de Roma, isso é possível.
Resistimos à tentação de qualificar críticas a Israel como sendo oriundas de antissemitismo. Mas, neste caso, a resistência é quebrada. O duplo padrão contra Israel fica evidente, pois o ICC nunca julgou os líderes da Síria pelos ataques químicos e convencionais contra seus civis; nunca julgou os líderes da China pelo encarceramento de milhões de muçulmanos em campos de “reeducação“, e tantos outros casos.
Milhões de vidas poderiam ter sido salvas pela aplicação adequada da missão do ICC. Em vez disso, o ICC, um corpo político não eleito e não democrático, está tentando aplicar um poder não controlado com base em agenda política.
Isso prejudica a confiança global nas instituições internacionais e na própria natureza do Direito Internacional, apresentando assim danos sérios e de longo prazo ao crescimento do nosso mundo como uma comunidade global cooperativa. ü

AS MUITAS FANTASIAS DOS LOBOS
Em fevereiro de 2021, no auge da crise do COVID, um dos apresentadores de um popular programa humorístico norteamericano conta uma piada: “Israel anunciou que já vacinou metade de sua população. Eu suponho que seja a metade judia da população.“
Muitas pessoas se indignaram. Espernearam nas redes sociais: “Que absurdo!“; “Todos sabem que Israel está vacinando todos os seus cidadãos, judeus, muçulmanos, cristãos, drusos.“; “Israel falha tremendamente na transmissão de sua imagem para o mundo!“; “Como podemos esclarecer melhor a imprensa?“. Outros abrem os olhos: quão oportuna foi esta “piada“! Ela revela os lobos debaixo das fantasias dos cordeiros.
Fica a sensação que não adianta esclarecer os autores dos ataques infundados contra Israel e os judeus,

Em fevereiro deste ano a ONG “Anistia Internacional“ (Amnesty International) publicou mais um relatório qualificando o tratamento dos palestinos por Israel como “apartheid“ , apontando que um dos motivos para sejam eles irônicos ou em qualquer outro formato. Os que atacam Israel ancorados em falácias realmente nos odeiam e, escondidos por trás de suas fantasias, vêm nos dizendo isso há algum tempo. ü
O PECADO IRREDIMÍVEL

esta qualificação deriva da forma como Israel foi criado: “No processo do estabelecimento de Israel como um estado judeu em 1948, Israel expulsou centenas de milhares de palestinos e destruiu centenas de aldeias palestinas, no que equivaleu a uma limpeza étnica“ .
Esta qualificação é falsa e injuriosa. Falsa porque 20% da população do Estado de Israel pertence à minoria árabe que teria sido exterminada. E injuriosa porque foram os países árabes que atacaram o nascente Israel, e não o contrário.
Porém, a declaração é ainda mais nefasta, pois caso o presumido apartheid israelense provém de sua criação a única solução possível para afastar esta qualificação seria desfazer o Estado.
Pois é fato que o tempo não volta para trás o que resulta na impossibilidade de Israel se livrar do “grande pecado“ de não ter permitido que sua população judia fosse massacrada pelos invasores árabes. ü
Wildpixel/iStockphoto
CONSTRUINDO A PALESTINA

Qualquer que seja o seu lado do conflito árabe-israelense, você não pode negar a coragem e perseverança do povo palestino. Por gerações, eles vivem como cidadãos apátridas, por um lado enfrentando Israel, que controla suas vidas cotidianas, e por outro lado, suportando sua própria liderança, que os traiu em todas as oportunidades.
É triste ver sua busca centenária por um Estado prejudicada pelo mal do Hamas, que transformou a legítima luta nacional palestina em uma Jihad Islâmica contra os judeus.
Gaza poderia ter se tornado uma vitrine do esclarecimento e iniciativa árabe depois que Israel se retirou do território em 2005. Ela poderia ter se tornado um paraíso turístico e um cadinho para o aprendizado e as artes, ciência e tecnologia. Não faltaram incentivos para isto. Em vez disso, Gaza se tornou uma ditadura islâmica de um partido sob o Hamas, dedicada à destruição do Estado de Israel.
E não apenas israelenses foram alvos de morte. Palestinos que se opõem ao Hamas também foram massacrados em sua luta por poder. Por exemplo, em 12 de novembro de 2007 homens armados do Hamas atiraram em um comício organizado pela facção palestina Fatah em comemoração do falecido Yasser Arafat. Muitos foram mortos. Milícias do Hamas massacraram os combatentes do Fatah, jogando homens feridos do telhado de um prédio de 15 andares para a morte.
Os palestinos devem refletir sobre por que, após lutar por 100 anos, seu sonho de um Estado continua não realizado. Eles precisam se perguntar por que países minúsculos

Foto área da Cidade de Gaza e de seu litoral.
sob ocupação por inimigos maiores se tornaram nações independentes, enquanto a criação de um Estado palestino permanece fora de alcance.
Durante 400 anos Timor Leste foi colonizado por Portugal e em 1975 foi ocupado pela Indonésia. Um milhão de timorenses, na sua maioria católicos, travaram uma amarga guerra contra a enorme Indonésia islâmica e sua população de 300 milhões de pessoas. Em 2002, Timor Leste conquistou a independência.
Em 1962, a Eritreia foi anexada pela Etiópia, seu vizinho maior. Isso desencadeou uma guerra de 30 anos que envolveu sequestros e assassinatos, deixando cicatrizes em uma geração inteira. No entanto, em 1991, após um referendo supervisionado pela ONU, a Eritreia ganhou a sua independência.
O Kosovo, de maioria islâmica, declarou unilateralmente independência da Sérvia, de maioria cristã, em 2008. De lá para cá ele ganhou reconhecimento internacional e, segundo a Wikipedia, em setembro de 2020, 113 Estados já o reconheciam como país independente.
Em todos os casos acima, esses movimentos de libertação nacional queriam sua própria liberdade, não a destruição dos países que ocupavam suas terras. Timor Leste não queria destruir a Indonésia. Kosovo não tinha interesse em varrer a Sérvia do mapa.
Quando os palestinos pararem de gritar pela morte dos judeus e pela destruição de Israel e começarem a trabalhar para garantir seu próprio estado, eles o conseguirão.
Os palestinos demonstraram coragem e perseverança. O que eles precisam agora é sabedoria. ü
A CRISE INEXISTENTE
No Parlamentarismo israelense, caso o governo não consiga manter uma coalizão apoiada por no mínimo a metade mais um dos parlamentares são convocadas novas eleições. Por conta disso Israel experimentou quatro eleições em três anos (abril e setembro de 2019, março de 2020 e 2021), o que alguns descreveram como sendo uma “crise da democracia israelense“ .
Contudo, ao longo destes três politicamente conturbados anos nenhum grupo com alguma ressonância nacional expressou dúvidas quanto à legitimidade do sistema político de Israel ou postulou a inadequação da democracia.
A isto se soma o fato de que o governo que resultou após as eleições de março de 2021 é o mais inclusivo de todos os governos jamais formados em Israel. Ele inclui desde o partido mais à esquerda no espectro israelense até um partido que se situa mais à direita do que o partido direitista do ex-primeiro ministro.
Naftali Benet, o atual primeiroministro, é cumpridor das mitsvot segundo a visão ortodoxa e, portanto, anda de kipá, o que é algo inédito. E o ineditismo de seu governo não para por aí.
Pela primeira vez um partido árabe faz parte da coalizão governante e Mansour Abbas (não tem relação com Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina), o líder do partido árabeisraelense, fez uma importantíssima declaração numa entrevista ao final de 2022: “O Estado de Israel nasceu como um país judaico e continuará a ser um país judaico, a questão [que nos mobiliza] é a de como integrar a sociedade árabe nele.“
A integração dos árabes israelenses no Estado de Israel é efetivamente o maior desafio interno do país. Mansour Abbas faz parte do primeiro governo disposto a enfrentar este desafio dentro da estrutura democrática de exercício do poder e sua declaração demonstra que grande parte da atual sociedade árabe israelense não tem posição antissionista.
Israel, da mesma forma que todos os países do mundo, enfrenta crises, mas, com certeza, a crise democrática não faz parte desta lista. ü

O plenário do Parlamento de Israel, Knesset.