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Entrevista com Natan Sharansky
um Kotel para todos: entrevista com natan sharansKy
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AAgência Judaica para Israel foi fundamental na fundação do Estado de Israel por haver provido as funções básicas de um estado numa era anterior ao Estado. Hoje seus objetivos principais são a aliá e a educação judaica em todo o mundo. Sendo estes os principais laços pragmáticos entre os judeus da diáspora e os de Israel. Portanto, como está conectado o tema das rezas no Kotel com a Agência Judaica?
A singularidade da Agência Judaica não está refletida apenas nas tarefas relacionadas com o objetivo de reforçar os vínculos entre Israel e os judeus do resto do mundo. A natureza e a formação da entidade são únicas. Nela estão os representantes do governo israelense, da oposição, do judaísmo da diáspora, bem como os líderes dos movimentos religiosos ortodoxo, conservador e reformista. Todos se sentam juntos e decidem juntos.
É a única entidade de sua classe onde todos estes grupos cooperam de forma tão unida. O comitê da Agência Judaica para a unidade do povo judeu é muitas vezes o espaço onde os temas relacionados com o mundo judaico são abordados em primeiro lugar e, portanto, auxilia o governo em relação a essas questões. No passado o comitê ajudou a resolver certos casos em temas sensíveis entre o mundo judaico e o governo de Israel através da Agência Judaica.
Devarim: O senhor poderia, por favor, compartilhar sua visão sobre os judeus no século 21? O ponto de vista habitual é que os judeus são um grupo
de pessoas que compartilham uma religião e uma cultura. Porém, considerando as diferentes correntes da nossa religião, os vários aspectos culturais, idiomas, nacionalidades, posturas políticas, interesses e hábitos, somos realmente um povo?
Natan Sharansky: O povo judeu está unido por uma história e uma missão muito especiais. É verdade que as pessoas que sentem que fazem parte dessa história compartilhada crescem em diversas culturas; mas o encontro dessas pessoas em Israel, seja através de aglutinação dos judeus de outros países em Israel ou através da cooperação entre Israel e as diferentes comunidades judaicas em muitos temas importantes, demonstra que, apesar de todas as diferenças, sempre que há a abordagem adequada, o judaísmo nos enriquece e fortalece, nunca nos debilita.
Devarim: Qual é o significado do Kotel para os judeus, principalmente para aqueles que se declaram não religiosos? É correto considerar o Kotel uma sinagoga?
Natan Sharansky: O Kotel é um único lugar que não encontra paralelo em nenhuma civilização. É o símbolo nacional mais importante, o símbolo histórico mais importante e o local religioso mais importante. Tudo isso ao mesmo tempo. Não pode ser comparado, como fazem alguns, com o monumento de Lincoln nos EUA, pois ninguém coloca mensagens com rezas dirigidas a Deus ali. Tampouco pode ser comparado com a Catedral de Brasília, pois esta não tem simbolismo histórico na formação do Brasil. Somente o Kotel é parte inseparável de três mil anos de história judaica.
Devarim: Você poderia descrever a natureza do pedido que o primeiro-ministro lhe fez em relação à organização das rezas no Kotel?
Natan Sharansky: Como mencionei anteriormente, a Agência Judaica é única no sentido de reunir numa única mesa representantes do governo, do mundo judaico e das diversas correntes religiosas. É por isso que o primeiroministro me pediu para manter discussões com todos os setores envolvidos e chegar a recomendações sobre como garantir que o Kotel seja um lugar que une o povo judeu, no lugar de dividilo.
Devarim: Você poderia descrever qual a solução que você visualizou para resolver o tema e sobre que princípios baseou sua proposta?
Natan Sharansky: Durante as discussões ficou claro para mim que é importante para os judeus ortodoxos manter a parte do Kotel utilizada como sinagoga ortodoxa, tal qual é atualmente. É igualmente importante para os líderes e membros dos movimentos Reformista e Conservador sentiremse parte legítima de Israel e do mundo judaico e ter uma forma digna de rezar no Kotel. E, além disso, é muito importante para o Estado de Israel, que é e pretende ser um Estado que pertence a todos os judeus do mundo, assegurar que todos os judeus tenham a oportunidade de expressar a sua solidariedade com nosso país, com nosso povo e nossa herança e, sobretudo, de rezar do modo em que estão acostumados. É por isso que minha proposta é considerar todo o espaço do Kotel como um lugar para rezar, usando o setor sul do Kotel, que em 1968 foi separado para fins arqueológicos – atividade já finalizada. A ideia é elevar esse setor ao mesmo nível que a praça onde atualmente se faz as rezas, de forma que seja igualmente acessível e igualmente importante. A ideia é dividir o Kotel em uma área para a tefilá ortodoxa e uma área para a tefilá pluralista, não ortodoxa. É também muito importante que a praça frontal ao Kotel continue sendo utilizada pelo Estado de Israel para as cerimônias nacionais.
A Agência Judaica é única no sentido de reunir numa única mesa representantes do governo, do mundo judaico e das diversas correntes religiosas. É por isso que o primeiro-ministro me pediu para manter discussões e chegar a recomendações sobre como garantir que o Kotel seja um lugar que une o povo judeu, no lugar de dividi-lo.
Devarim: Existe um pequeno, porém crescente, grupo de mulheres ortodoxas
Natan Sharansky junto a Benjamin Netanyau, primeiro-ministro de Israel.


que constituem minianim femininos que leem Torá e rezam em voz alta. Vocês acreditam que elas serão bem-vindas para rezar no setor feminino do Kotel?
Natan Sharansky: O desafio das Mulheres do Muro é que há membros que são mulheres ortodoxas, que desejam rezar de acordo com a tradição ortodoxa, e também mulheres não ortodoxas, e todas desejam rezar juntas. Não há dúvida que nesta nova solução deve haver um tempo e um lugar para que rezem como desejam. O local exato no qual isso irá ocorrer exatamente é um tema para a presente negociação.
Devarim: Finalmente, duas perguntas pessoais: Você é um dos heróis do Movimento Refusenik, que conseguiu abrir as portas de Israel para a imigração judaica russa. Seus sonhos sobre a vida em Israel enquanto estava numa prisão russa coincidem com a realidade?
Natan Sharansky: Quando uma pessoa de fé chega ao “próximo mundo” descobre que o paraíso não é exatamente o paraíso de seus sonhos. Porém, mesmo assim, conti
O desafio das Mulheres nua sendo o paraíso. Eu me sinto exatado Muro é que há membros que são mente assim. O mundo em que vivo é mais colorido, com muito mais nuances que o mundo com que eu sonhei, mas é mulheres ortodoxas, também mais desafiador. Em geral, quanque desejam rezar de do alguém é enviado diretamente do inacordo com a tradição ferno ao paraíso – como foi comigo, que ortodoxa, e também comecei um dia numa prisão russa e terminei o mesmo no Kotel – existe somenmulheres não ortodoxas, te um caminho, e ele é para baixo. Porém e todas desejam rezar até hoje, depois de 27 anos de descida do juntas. Não há dúvida céu, me sinto ainda no paraíso. que nesta nova solução deve haver um tempo Devarim: Como você analisa o impacto da imigração russa na vida de Israel? e um lugar para que Natan Sharansky: A imigração rusrezem como desejam. sa acrescentou muito profissionalismo, novas ambições e contribuiu para que a nossa sociedade seja mais aberta, com um alto nível de vibrante debate interno e tudo isto a torna ainda mais judaica. Entrevista concedida por e-mail com a gentil colaboração da representante da Agência Judaica no Brasil, Revital Poleg. Traduzida do inglês pela Agência Judaica.
