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Em Poucas Palavras
em homenagem ao momento olímpico de 2012, cada tema abordado nesta seção está relacionado com o evento do maior espetáculo esportivo do planeta.
O Protocolo Olímpico
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Quarenta anos e dez Olimpíadas atrás, em Munique-1972, teve lugar o ato inaugural do terrorismo moderno, com o assassinato de atletas da delegação israelense por terroristas palestinos.
As Olimpíadas seguiram seu curso normal, pois o COI (Comitê Olímpico Internacional) não considerou que o fato fora grave o suficiente para perturbar o espírito olímpico que supostamente impera nos Jogos e uma parcela significativa dos formadores de opinião encontrou fortes atenuantes para o crime, atribuindo-o a um justificado “desespero” dos palestinos oprimidos.
A partir daí abriu-se a caixa de Pandora e os assassinatos de civis por conta de disputas políticas passou a ser visto como ação legítima. Um “desesperado” tudo pode, não há limite para a sua ação. E os “desesperados” do mundo começaram a agir. O mundo piorou muito a partir das Olimpíadas de 1972 e o COI tem uma pequena parcela de responsabilidade por isto.
A partir daí começou também a luta dos familiares dos atletas assassinados para que o COI adote um minuto de silêncio na cerimônia de abertura dos jogos – um dos eventos de maior audiência do planeta – em memória dos atletas mortos enquanto disputavam os Jogos. Não há dúvida que este ato simbólico teria um efeito benéfico – mesmo que pequeno – para todos os habitantes do planeta, ao deixar claro quem são as vítimas e quem são os perpetradores nos atentados em que civis pagam com suas vidas reivindicações políticas de terceiros.
Mas até hoje o minuto de silêncio não houve. As Olimpíadas se sucedem e as desculpas para não recordar os atletas israelenses mortos em sua abertura também. Estas desculpas variam desde as mais honestas, que reconhecem ser o COI um organismo que olha primeiro para os seus interesses paroquiais e não para o mundo, até as mais hipócritas, que atribuem a ausência da homenagem didática a barreiras burocráticas.
Exemplificando: as desculpas variam desde a brutal, porém verdadeira, afirmação que “existem 21 países árabes e apenas um Israel” até a hipocrisia de que “o minuto de silêncio não faz parte do protocolo dos Jogos”.
Como se repatriar atletas dentro de caixões fizesse parte do protocolo...
Vladimir Stamenkovic / iStockphoto.com
Salto em distância
Em sua segunda prova nos jogos das Olimpíadas de 1936, Jesse Owens ganhou a medalha de ouro no salto em distância. Com ela, o americano negro fez descer pelo ralo a afirmação da supremacia racial ariana pregada pelos nazistas, uma situação que só não provocou constrangimento ainda maior porque os dois corredores judeus da equipe americana do revezamento 4 x 100 (a 4ª medalha de ouro de Owens) foram retirados da prova por seu técnico, claramente cedendo à pressão política nazista.
Impossível não lembrar desses fatos quando a mais alta corte brasileira definiu, no dia 26 de abril deste ano, por unanimidade, que o uso de cotas para privilegiar o acesso às universidades públicas pode usar raça como critério eletivo. Conforme afirmou o ministro relator, “se a raça foi utilizada para construir hierarquias, deverá também ser usada para desconstruí-las”.
A mistura dos termos utilizados nos votos dos diversos ministros, ora mencionando conceitos étnicos, ora abordando a cor da pele, não impediu que ali se consolidasse a terminologia popular “cotas raciais” como um conceito legalmente aceito.
Esta decisão constituiu um salto para bem longe do momento em que o mesmo STF, no qual alguns dos atuais ministros já atuavam, condenou por racismo um
editor neonazista, em setembro de 2003. Naquela ocasião, afirmava o relator que “Com a definição e o mapeamento do genoma humano, cientificamente não existem distinções entre os homens,... visto que todos se qualificam como espécie humana... Na essência são todos iguais”. A premissa dos votos que apoiaram a condenação era clara: não se pode associar homens ao conceito de raça, sob o risco de estimular entendimento divergente do legalmente aceitável perante a constituição brasileira.
Ao definir cotas para permitir o acesso às universidades de forma preferencial a pessoas cuja cor da pele seja mais escura que a de outras, estimula-se o uso do mesmo princípio para finalidades nem sempre bem intencionadas. A classificação de vínculo étnico, a ser feita pelo próprio candidato, pode provocar dúvidas, levando a um julgamento que, na busca pela objetividade, poderá resultar em padrões aceitáveis ou não de cor da pele, largura do nariz, tipo de cabelo, entre outros critérios que permeavam livros de antropologia racistas no início do século 20.
Pode ser que o modelo de cotas traga algum benefício para a sociedade brasileira. Mas o estrago feito pela incorporação da legalidade das “cotas raciais” ao nosso dia a dia não será menor. Como ponto de partida para reflexão, sugerimos pensar sobre a pertinência de um Ministério da Igualdade Racial num país onde, em tese, não se aceita o uso do termo “raça” para diferenciar grupos humanos.
Mergulho – plataforma de 10 metros (ou muito mais)
O jornal israelense Ultraortodoxo Há’edá lamentou a presença da cantora Madonna em Israel, país que ela escolheu para lançar sua mais recente turnê mundial. A razão do desconforto com a cantora foi o fato de ela fazer questão de visitar os túmulos dos sábios nas proximidades de Tveria e de Tzfat. Segundo o jornal, a cantora – uma fiel aderente à Cabala e ao misticismo judaico – “profana locais sagrados”.
O jornal tem o cuidado de não chamar Madonna por seu nome – talvez pela forte referência cristã que ele carrega – referindo-se a ela por “famosa cantora gentia” (obviamente seus leitores sabem exatamente de quem o jornal está falando e desta forma a simbologia do nome chega às mentes dos leitores da mesma forma que se tivesse sido escrito) e lamenta a popularidade dos túmulos dos sábios, que estariam se convertendo em “pontos turísticos da moda”.
Em todas as partes monumentos religiosos têm regulamentos estritos quanto a horários e a vestuário, impostos justamente para não ofender a sacralidade do local. O mesmo acontece nos monumentos religiosos em Israel, inclusive nos túmulos dos sábios do passado. Assim sendo, a ideia que o jornal passa é que a “pureza” dos locais religiosos só é mantida afastando dele todas as pessoas que não aderem ao código que lhe parece adequada. O nome desta “pureza” é racismo e fica no ar a dúvida do que diria o Profeta Bíblico Isaías – autor da frase “A minha casa será casa de oração para todos os povos” (56:7) – se lesse o Há´edá.
Suspeito que ele diria que parte do nosso povo não entendeu nada da frase que formulou – mesmo tendo milênios
para refletir sobre ela – e que está mergulhando cada vez mais fundo na piscina da intolerância.
Tiro ao alvo
O senador norte-americano Mark Kirk, republicano pelo Estado de Illinois, está promovendo uma ação para obrigar o Departamento de Estado (no Brasil corresponde ao Ministério das Relações Exteriores) a definir os refugiados palestinos da mesma forma que a comunidade internacional define os refugiados.
A definição geral de “refugiado” inclui a todos os que fugiram de seu país por conta de guerras e perseguições políticas, excluindo os que foram repatriados e os que encontraram abrigo permanente em outras nacionalidades.
A definição para “refugiado palestino” tem duas grandes diferenças: os descendentes dos refugiados continuam a ser considerados como tal, mesmo que tenham nascido em outro país, e os que fugiram de um local do território do antigo mandato da Palestina para outro (por exemplo, de Jaffa para Gaza) são considerados refugiados, mesmo não tendo jamais deixado a sua terra.
Pela contagem da regra que é usada em todos os casos do mundo existem hoje cerca de 30 mil refugiados palestinos. Pela contagem da definição específica dos palestinos o número é de cinco milhões, com uma curva de crescimento ininterrupta, à medida que a população se expande.
Argumenta, com muito bom senso, o senador Mark Kirk que a adoção da definição internacional se constituiria num passo importante para a solução do conflito, pois reparar os direitos de 30 mil pessoas é muito mais simples do que reparar uma situação que, pela natureza da definição, ninguém tem interesse em resolver.
Além disso, ele aponta para o fato de que não há sentido aplicar uma regra para os palestinos e outra regra para o restante do mundo. E que o maior contribuinte para o fundo de apoio aos refugiados palestinos é o governo dos Estados Unidos (240 milhões de dólares por ano), assim que a definição igualitária de quem é refugiado permitiria aos EUA distribuir com maior justiça seus recursos.
Não há a menor dúvida que o senador Mark Kirk mira para o alvo correto e coloca o dedo no meio da ferida. Resta saber se a complexa trama de interesses internacionais – que tantas vezes joga para o lixo a justiça e promove simplesmente a lei do mais forte – vai permitir que seu tiro acerte o alvo e contribua para mitigar o conflito.
Maratona

O “Guttman Center for Surveys” abriga o mais abrangente banco de dados de pesquisas de opinião pública em Israel. Desde 1947 o Centro aplica métodos de pesquisas inovadores e meticulosos para medir as atitudes do público israelense em milhares de facetas. Mais de 1.200 estudos já foram realizados, cobrindo quase tudo: assuntos do cotidiano, política, cultura, ideologia, religião, educação e segurança nacional. Sua “pesquisa continuada” permite perscrutar a evolução de uma imensa variedade de facetas e conduz ao entendimento dos caminhos trilhados pela sociedade israelense.
Em 2012 o Centro publicou os resultados de uma pesquisa realizada em 2009, cujo título traduzido para o portu-
guês é “Um Retrato dos Judeus de Israel – Crenças, Observância e Valores dos Judeus de Israel em 2009”. Enterrada no meio de uma enorme quantidade de informações encontramos uma inesperada surpresa: mais pessoas se declaram Judeus Reformistas e Conservadores do que Ultraortodoxos em Israel.
O placar é de 8% para os liberais (Reformistas e Conservadores) contra 7% dos Charedim (que é como os Ultraortodoxos se definem em Israel). Este número representa uma ultrapassagem significativa na verdadeira maratona que está acontecendo há muitos anos. Para apreciar a relevância destes números basta considerar que há 40 anos o percentual de judeus que se consideravam religiosos liberais era nulo, enquanto que os Charedim chegavam próximo dos 10%.
Importante notar que os Charedim são apenas a parte mais extrema do universo ortodoxo, que continua majoritário, por larga margem, dentro do universo religioso e que a grande maioria dos israelenses se define como não tendo nenhum viés religioso, mesmo tendo crescido a ligação dos judeus com a religião e com a tradição na última década.
Mediu-se também que a maioria dos israelenses (61%) concorda que os movimentos Reformista e Conservador devem ter o mesmo status atribuído ao movimento Ortodoxo em Israel, o que é aderente com a recente decisão do Estado de conceder à rabina reformista Miri Gold os mesmos benefícios financeiros garantidos aos rabinos ortodoxos.
Na maratona pela conquista dos corações e mentes dos israelenses, o judaísmo religioso liberal – como o vivenciado na ARI – vem ganhando cada vez mais terreno. Este fato tem o potencial de mudar dramaticamente o panorama judaico no mundo, trazendo maior inclusão e respeito entre todas as vertentes religiosas, além de legitimar definitivamente a diversidade de pensamento e de práticas, que sempre foi característico de um povo que nasceu fruto da inquietação intelectual e que ainda a cultiva.

Salto em altura
O jornal Forward publicou no começo de junho uma pesquisa realizada pela empresa “Phillips and Herman Demographic Research” que identificou que o Estado de Israel é particularmente bem sucedido na retenção de seus cidadãos judeus no país.
O estudo identificou que apenas 230.000 israelenses judeus vivem permanentemente no exterior, o que representa um percentual de 4%, que é a metade da taxa média de emigração da maioria dos demais países do mundo.
Muitos de nós temos a percepção que existe um êxodo considerável de judeus do Estado de Israel. Esta percepção é plenamente justificada pelo fato de existirem aproximadamente um milhão de israelenses vivendo fora do Estado de Israel. No entanto, o estudo chegou à conclusão que três quartos destes pretendem voltar ao seu país após períodos de estudo e de aprimoramento profissional fora das fronteiras. E o estudo da empresa de demografia vai mais além: historicamente, os que declararam pretender retornar efetivamente retornaram.
A aquisição de vivência em outros centros de excelência enriquece tremendamente a sociedade israelense e é um dos motores que impulsiona a formidável economia baseada na inovação de Israel. O milhão que vive fora de Israel leva o país cada vez mais para o alto.