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Weinstock
um olhar soBre a “dhimmitude”
entrevista de nathan Weinstock a devarim por e-mail
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Devarim: O que é um “dhimmi”?
Weinstock: Quando os muçulmanos conquistaram o Oriente Médio no sétimo século enfrentaram um problema grave: como governar uma população muito numerosa (principalmente cristãos e judeus) enquanto eram – naquele momento – uma pequena minoria? Eles resolveram este problema criando a doutrina do dhimma, isto é, oferecendo sua proteção à população monoteísta, que foi autorizada a praticar sua fé e organizar suas comunidades sem interferência exterior, desde que aceitasse a completa hegemonia do Islã e se submetesse sem reservas à autoridade de seus membros. Dhimma significa “proteção” e os dhimmis (pessoas sujeitas ao estatuto dhimma) foram efetivamente protegidos pelo poder islâmico ao mesmo tempo em que eram obrigados a pagar uma taxa especial per capita, além de outras obrigações vexatórias, que muito frequentemente assumiram um papel muito humilhante (por exemplo, no Marrocos, até o século 20 os judeus eram obrigados a andar, quando fora do bairro judaico, descalços sobre o chão escaldante). De um lado a dhimma ofereceu uma proteção real e efetiva às populações não muçulmanas (pelo menos enquanto o sistema de poder era estável: conflitos dinásticos e o consequente enfraquecimento do poder central normalmente acarretava uma erupção de sublevações antijudaicas). Por outro lado, ele as aprisionou num status discriminatório. Contudo, penso que seja correto afirmar que até à emergência do Iluminismo o regime dhimma era mais favorável aos judeus do que sua situação na Europa Cristã. Antes de 1947 as minorias judaicas no mundo árabe representavam 900 mil almas. Hoje, estas outrora florescentes comunidades minguaram até menos de 4.500 pessoas, o que significa que 99,5% dos judeus foram expulsos ou forçados a deixar sua terra natal. A própria existência da comunidade judaica virou passado.
Devarim: A dhimma é um fenômeno do passado, ou ainda está viva hoje?
Weinstock: Antes de 1947 as minorias judaicas no mundo árabe representavam 900 mil almas. Hoje, estas outrora florescentes comunidades minguaram até menos de 4.500 pessoas, o que significa que 99,5% dos judeus foram expulsos ou forçados a deixar sua terra natal. Neste sentido, nos países árabes, não é apenas a dhimma, mas também a própria existência da comunidade judaica que virou passado. A Turquia, que tinha orgulho de seu perfil secular, está derivando fortemente em direção ao Islamismo e no Irã a comunidade judaica é forçada a assumir uma atitude muito discreta. Esta evolução não é – como frequentemente imaginado – uma mera consequência do conflito israelense-palestino. O êxodo em massa das minorias cristãs do Iraque, do Egito, da Turquia e do Líbano (além daquele dos Hindus do Paquistão em 1947) – sem mencionar a repressão anticristã atualmente em curso no Sudão e na Nigéria – aponta para o fato de que estamos diante de uma tendência: quer gostemos ou não, a assertividade nacional no mundo muçulmano é seguida pela expulsão ou submissão maciça das minorias não muçulmanas. O extermínio dos armênios e a expulsão dos gregos na Turquia “secular” são indicativos desta regra genérica, que está longe de se enfraquecer. Devarim: Quais as características principais da dhimmitude?
Weinstock: Conforme ordena um verso do Corão, um dhimmi tem que sentir que está sendo humilhado. E este é provavelmente o fundamento do estatuto da dhimma, que apresenta inúmeras variações, conforme o local, período histórico e a classe em questão. Geralmente as elites sociais das minorias eram dispensadas dos aspectos mais humilhantes, mas mesmo assim era proibido a qualquer dhimmi montar um animal “nobre”, como um cavalo ou um camelo, ou portar armas. Os arquivos da Genizá do Cairo revelam que havia um razoável nível de respeito nas relações entre judeus e muçulmanos no Cairo duran-
Uma das características te a Idade Média. Mas esta situação favodo relacionamento dhimmi é que os rável não durou: tanto no Egito como no Norte da África e na Andaluzia, elementos fanáticos logo ganharam o controle. muçulmanos tendem Pogroms e assassinatos em massa irroma desconsiderar a peram em Fez, Granada e em outros luhumilhação que ele gares. Maimônides teve que fugir para salprovoca nos membros var sua vida e em um de seus poemas em hebraico, Yehuda Halevi (século 12) lanão muçulmanos da menta o “heregadati”, o massacre da mipopulação enquanto nha comunidade... Durante o século 19, que os dhimmis em si como as potências ocidentais frequenteexperimentam alguma mente protegeram as minorias judaicas dificuldade em admitir locais, os judeus acabaram sendo percebidos como peões do imperialismo ocique este relacionamento dental (este também foi o destino dos arseja uma forma de mênios e dos gregos no império Otomaopressão mascarada no). Isto – junto com a importação da sob o disfarce da tolerância. cultura Ocidental, incluindo infelizmente o antissemitismo – levou a um agravamento na relação da maioria muçulmana e da minoria judaica. Uma das características do relacionamento dhimmi é que os muçulmanos tendem a desconsiderar a humilhação que ele provoca nos membros não muçulmanos da população enquanto que os dhimmis em si experimentam alguma dificuldade em admitir que este relacionamento seja uma forma de opressão mascarada sob o disfarce da tolerância. Falando de forma geral, a relação entre a maioria muçulmana e a minoria judaica sempre foi permeada pelo medo. A melhor ilustração disto talvez seja uma lenda popular judaica do Marrocos que eu devo a um amigo de Marrakesh: Certa vez, o sultão do Marrocos decidiu presentear seus súditos judeus com uma raridade preciosa: um elefante branco. No começo os judeus ficaram encantados com a distinção. Mas eles descobriram rapidamente que não tinham como sustentar a alimentação necessária para manter o suntuoso animal – o elefante branco arruinaria a comunidade em pouco tempo. Então uma delegação de judeus pediu uma audiência com Sua Majestade. “O que vocês têm a dizer?”, o sultão rugiu para eles. “Sua Majestade, é sobre o elefante branco...”, disse cuidadosamente o chefe da delegação. “E o que vocês têm a dizer sobre aquele maravilhoso animal?”, tonitruou o sultão, com um olhar maligno faiscando na face. O chefe da delegação perdeu completamente
a coragem e balbuciou: “Sua Majestade, o elefante branco está tão solitário que ele precisa de uma fêmea para lhe fazer companhia...”.
Devarim: Muitos se referem à “Idade de Ouro da Cultura Judaica” na Espanha medieval para demonstrar que não havia antissemitismo nas terras árabes do século 19 e 20. Algum ouro daquela era ainda reluz hoje?
Weinstock: A Andaluzia abrigou, sem dúvida, uma Era de Ouro da Cultura Judaica na Idade Média. No entanto, a realidade foi dourada de forma um tanto artificial pelos historiadores judaicos do século 19, que pretendiam mostrar à Europa que ela não tinha razão de se orgulhar de seu passado. O aspecto mais marcante deste período foi a simbiose intelectual alcançada entre as civilizações islâmica e judaica, tanto em hebraico como em árabe. Importantes obras religiosas foram escritas por luminares judeus – tal como Maimônides – em árabe. Sufismo e racionalismo árabe influenciaram profundamente o pensamento judaico do período e alguns tratados religiosos judaicos podem ser confundidos por tratados muçulmanos. Mas apesar desta interpenetração cultural, a cultura muçulmana nunca foi livre de correntes antijudaicas e estas finalmente ganharam supremacia depois que os fanáticos da dinastia Almóada chegaram ao poder e lançaram uma campanha de conversões forçadas. No entanto, uma medida de tolerância subsistiu no Norte da África, sempre sujeita a variações conforme o período e o local. Judeus do Marrocos abrigam carinhosas lembranças de seus vizinhos trazendo o primeiro pão fresco ao final do Pessach e os judeus de Túnis falam que os muçulmanos visitavam a sinagoga em Shavuot para ouvir o chazan entoar o comentário sobre os dez mandamentos escrito por Saadia Gaon (século 10) num primoroso árabe clássico. Mas estes autênticos símbolos de convívio e respeito mútuo foram tristemente ultrapassados pela evolução política. O nacionalismo árabe e o renascimento muçulmano vieram impregnados por ódio aos judeus, uma tendência claramente perceptível muito antes do nascimento da questão sionista.
Devarim: O fato de os judeus serem considerados dhimmi no mundo muçulmano tem um papel relevante no conflito árabe-israelense? Caso positivo, qual é este papel? Weinstock: Apesar de este assunto ser largamente ignorado ou subestimado, eu penso que a dhimmitude contribuiu de forma decisiva para a configuração atual
do conflito. Lidaremos com as raízes do movimento nacional palestino e israelense mais adiante. No entanto, é da maior relevância o fato de que, aos olhos de seus vizinhos muçulmanos, a minoria judaica na Palestina – assim como em todo o mundo árabe – sempre foi considerada como merecedora de desprezo. Todos os relatórios consultares do século 19 retratam a inacreditável opressão que os judeus sofriam na Terra Santa. Quando um muçulmano encontrava um dhimmi (judeu ou cristão) em seu caminho, ele gritava: “Cachorro, ande pelo meu lado esquerdo!” (o lado direito é o lado nobre na cultura árabe). Até mesmo Karl Marx, que como sabemos não via os judeus de forma muito favorável, declarou em “O Estourar da Guerra da Criméia – Muçulmanos, Cristãos e Judeus no Império Otomano”, New York Daily Tribune, 15 de abril de 1854, que “nada se compara à miséria e ao sofrimento dos judeus de Jerusalém que moram no bairro mais imundo da cidade e são objeto de constante opressão e intolerância por parte dos muçulmanos, de insultos por parte dos gregos, perseguições pelos latinos, e que vivem exclusivamente das esmolas dos seus irmãos europeus”. Muito além da questão Sionista, o tradicional desprezo e os maus tratos infligidos à comunidade judaica explicam porque todas as tentativas da comunidade judaica local (o “Yishuv antigo”) para obter algum grau de autogoverno ao final do século 19 foram recebidas com hostilidade. A população muçulmana da Palestina não estava pronta para garantir nenhuma medida de autonomia aos dhimmis. Ao lado disso, o movimento nacional palestino sempre esteve mergulhado numa certa medida de sentimento antijudaico, como é claramente distinguível na imprensa árabe. A mais significativa demonstração da rejeição palestina ao Yishuv é o fato de que as primeiras rebeliões árabes-palestinas foram dirigidas contra os ortodoxos antissionistas de Jerusalém em 1920 (e mais tarde em 1921 contra os judeus de Jaffa e mais uma vez em 1929 em Hebron). Aliás, é bom notar que os 1.500 judeus que fugiram angustiados de suas casas em Jaffa para encontrar abrigo nas tendas de Tel Aviv são de fato os primeiros refugiados palestinos... Durante essas revoltas, especialmente em 1920, o grito de guer-
A Andaluzia abrigou, ra dos perpetradores do pogrom não foi sem dúvida, uma Era de Ouro da Cultura – como seria de se esperar – “Abaixo o Sionismo” ou “Fora colonos britânicos”, mas “Al yahudnakalabna!”, isto é, “Os juJudaica na Idade Média. deus são nossos cães”. O movimento que No entanto, a realidade impulsionou esta revolta não foi a hostifoi dourada de forma lidade ao Sionismo, mas a recusa cabal um tanto artificial de aceitar que os vizinhos judeus tinham agora um status mais elevado que seu stapelos historiadores tus anterior de “cachorros” (aliás, o grito judaicos do século de batalha “Al yahudnakalabna!” conti19, que pretendiam nuou muito popular anos depois...). mostrar à Europa que ela não tinha razão Devarim: Quais as raízes do nacionalismo israelense e palestino?de se orgulhar de seu Weinstock: É importante ter em passado. mente que o nacionalismo palestino é um desenvolvimento relativamente recente (e, por favor, note que ao fazer esta afirmação não estou de forma alguma tentando deslegitimizar este fenômeno histórico: praticamente todos os movimentos nacionais africanos, por exemplo, nasceram muito recentemente). Mas o fato é – conforme notado pelo eminente erudito islamicista e grande amigo da causa palestina, Maxime Rodinson – que até o século 20 os habitantes da Palestina se viam como parte de Balad al-Shams (isto é, Síria) e não tinham nenhuma demanda de identidade específica. De fato, o território que foi nomeado “Palestina” pelos britânicos e pela Liga das Nações não tinha nenhum status especial: não havia nenhuma província, região ou instituição “Palestina”. É verdade que os cidadãos começaram a sentir que faziam parte de uma cultura árabe singular, mas não havia o mínimo sinal de uma tendência nacional especificamente palestina antes dos últimos anos do século 19. É particularmente significativo a este respeito que o feito de Ahmed al-Jazzar, que conseguiu fazer Bonaparte abandonar o cerco à Acre em 1799, infligindo uma grande derrota ao futuro Napoleão, nunca foi registrado ou percebido pelos palestinos como uma vitória nacional. De fato, o palestino surgiu como o resultado do nascimento do judaico na Terra Santa. Ao final da primeira década do século 20 o surgimento do palestino já estava óbvio para todos. Pessoalmente, eu caracterizaria 1911 como o ano fundamental: foi neste ano que Issaal-Issa de Haifa fundou o jornal Filastin (um título muito significativo, pois signifi-

ca “Palestina”). Mas é importante ter em mente que o nacionalismo palestino nasceu como uma reação e uma resposta aos esforços dos judeus locais de obter certo grau de autodeterminação e de autogoverno. Quanto ao nacionalismo judaico na Palestina, eu me pergunto se não tendemos a dar um peso exagerado ao Sionismo. Ou, colocando a questão de outra forma, se o não disfarçado desprezo que muitos historiadores sionistas expressaram a respeito do “Antigo Yishuv” não nos levou a subestimar e reduzir suas notáveis realizações (espero publicar em alguns meses um livro dedicado a este assunto). Claro que seria ridículo negar o tremendo impulso dado pelos pioneiros sionistas ao autogoverno da comunidade judaica na Palestina. No entanto, uma cuidadosa pesquisa das circunstâncias que levaram ao renascimento da comunidade judaica na Terra Santa compele o observador a reconhecer que a fundação das primeiras colônias agrícolas, a fundação das primeiras escolas técnicas judaicas, a tentativa inicial de formar uma indústria judaica, o estabelecimento dos primeiros bairros judaicos fora da Cidade Velha de Jerusalém, os esforços pioneiros de estabelecer uma imprensa judaica, os sindicatos de trabalhadores judeus e até mesmo o renascimento do hebraico como um idioma vivo antecedem a chegada da primeira aliá (onda de imigração judaica) em 1882. O que nos leva à conclusão que, ao contrário do que diz a sabedoria popular, a autodeterminação judaica na Palestina e a emergência de uma nação hebraica na Terra Santa foram em larga escala o resultado de um movimento espontâneo de renascimento.
Devarim: Muitos dizem que o Sionismo é uma expressão tardia do colonialismo. O senhor pode comentar sobre isto?
Weinstock: O Sionismo pode ser mais bem comparado com as tentativas dos antigos escravos negros dos EUA e dos impérios britânico e francês no século 19 de retornar à sua terra de origem para criar novas instâncias nacionais na terra de seus pais. Libéria – com seu lema “O amor à liberdade nos trouxe aqui” –, Freetown (em Serra Leoa) e Libreville (no Gabão) são exemplos destas tentativas. Note em cada caso a ênfase ao conceito de liberdade (Libéria, Freetown, Libreville...), assim como no Hatikva, o hino nacional de Israel: lihiot am chofshi beartzeinu (“sermos um povo livre em nossa terra”). A similaridade é impressionante. De fato, em sua novela futurista Altneuland, Theodor Herzl, o pai do Sionismo, expressa que chegará o tempo para resolver o problema dos negros de forma similar ao judaico. No entanto, em cada um dos casos que eu citei, apesar da generosidade dos ideais que permeavam a visão dos colonos, as tentativas de recriar uma nova sociedade livre levaram a conflitos inevitáveis com a população nativa. Então a questão
não é o colonialismo, pois o objetivo dos colonos sionistas nunca foi de subjugar a população ou de explorar as (não existentes) riquezas naturais do país. Claro que não se pode negar o fato de que os esforços sionistas foram conduzidos (da mesma forma que o do movimento negro “de volta à África”) numa atmosfera política carregada de uma mentalidade colonial. Porém, os pioneiros da segunda aliá (1904-1914), imbuídos por seus ideais socialistas, insistiram que a terra fosse trabalhada pessoalmente por trabalhadores judeus.
Devarim: Por que o Estado Palestino não foi fundado em 1948, seguindo a resolução 181 da ONU de novembro de 1947?
Weinstock: A tragédia da nação palestina de 1948 é a sua liderança. Enquanto que a minoria judaica da Palestina dedicou quase 30 anos preparando-se metodicamente para o autogoverno e para a autonomia nacional (organizando um arcabouço social, cultural, econômico e político – inclusive com unidades de autodefesa), de forma tal que já havia construído a essência de um Estado antes da questão da independência ser levantada, o único objetivo da liderança árabe palestina foi de embarcar numa luta militar contra os povoados judaicos e desenraizar seus habitantes. Ela nem ao menos considerou instituir alguma forma de autogoverno, preparando-se para a independência. Seu líder, o Mufti, era profundamente corrupto e um traidor da causa palestina (ele traía seus oponentes políticos, denunciando-os às autoridades britânicas), que mandou assassinar todos os seus rivais em potencial. Os líderes palestinos eram desprovidos de qualquer habilidade política e fugiram para o exterior assim que suas milícias foram derrotadas, abandonando a população à sua própria sorte, disparando assim um êxodo em massa. O simples fato de os árabes palestinos terem aceitado a liderança do Mufti – que havia sido completamente desacreditado após a Segunda Guerra Mundial, por sua aliança com Hitler – foi por si só uma indicação de sua incompetência política. Ao que se deve acrescentar que a delegação palestina recusou-se a tomar parte nas deliberações da ONU e rejeitou não apenas a
De fato, o movimento nacional Palestino surgiu como o resultado do nascimento do movimento nacional judaico na Terra Santa. Ao final da primeira década do século 20 o surgimento do movimento nacional palestino já estava óbvio para todos.
partição da Palestina, mas a própria ideia de um Estado binacional, uma solução que tinha apoio de partes do Yishuv. Tão extremistas eram o Mufti e seus acólitos que eles se recusaram subscrever até mesmo a solução favorecida pela Liga Árabe, na qual a minoria judaica (um terço da população) teria garantido o direito de praticar sua religião e falar hebraico, mas nada além disso! Devarim: Quarenta anos atrás você era causticamente antissionista. O que fez o senhor mudar de ideia? Weinstock: Bem, como membro veterano da ala esquerda do movimento juvenil Hashomer Hatzair (que apoiou a ideia de uma Palestina binacional até 1947 e continua a lutar por uma solução pacífica), eu fiquei muito preocupado com o desastre que se abateu sobre os árabes em 1948. E fiquei realmente chocado pela consequente falta de interesse de muitos israelenses, sionistas e judeus a respeito disto. Isto me levou, obviamente, a posições e declarações extremadas, ainda mais no candor revolucionário da minha juventude. Sonhei com uma revolução árabe global que inauguraria uma nova era de justiça social e autodeterminação para as comunidades nacionais e religiosas no Oriente Médio e na África do Norte. Evidentemente, quando eu menciono isto agora, as pessoas caem, com toda a razão, numa risada incontrolável. Mas naqueles dias a minha persuasão trotskista realmente me levou a acreditar nesta possibilidade. Foi necessária a segunda Intifada para eu perceber quão inocente tinha sido... Nathan Weinstock é membro do conselho científico do Instituto de Estudos Judaicos da Universidade de Bruxelas, Bélgica, e notadamente autor de livros sobre a vida dos judeus no mundo árabe: Histoire de chiens: la dhimmitude dans le conflit israélo-palestinien (Mille et Une Nuits, 2004), Une si longue presence: comment lemond árabe a perduses Juifs (Plon, 2008). Também escreveu livros sobre os judeus na Europa: Le pain de lamisère: histoire du mouvement ouvrier Juif em Europe (La Decouverte, 2002), Le Yiddish telqu’onl’oublie: regards sur une culture engloutie (Metropolis, 2004) e outros. Entrevista realizada e traduzida do inglês por Raul Cesar Gottlieb.
