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Entrevista com Achinoam Nini (Noa) e Mira Awad por Ricardo Gorodovitz

deve Haver algum outro caminHo

entrevista com Achinoam nini (noa) e Mira Awad

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Noa, Ricardo Gorodovits e Mira Awad antes do show em São Paulo.

Fotografias cedidas por Jaime Barzellai, agente de Noa e de Mira Awad na América do Sul.

ricardo gorodovitz

Conhecida mundialmente como Noa, a cantora israelense Achinoam Nini esteve no Brasil em agosto deste ano para um show promovido pela Congregação Israelita Paulista – CIP –, em que se apresentou em conjunto com a cantora Mira Awad, também israelense, de origem árabe. Graças ao apoio do agente da turnê na América do Sul, Jaime Barzellai, Devarim realizou naquela oportunidade uma entrevista com as duas.

Na chegada ao teatro, vimos uma Noa apressada, certamente preocupada com os aspectos técnicos da apresentação, acompanhada dos músicos Guil Dor, professor e parceiro musical de Noa desde que iniciou a carreira, e de Gadi Seri, um original e conhecido percussionista israelense. Ainda amamentando sua terceira filha e, por isso mesmo, acompanhada pela mãe, Noa é uma estrela em Israel com sólida carreira internacional.

Mira, ao contrário, chegou distribuindo sorrisos, aguardando o momento de “passar o som” talvez com a confiança de quem tem em Noa uma parceira, amiga e motivadora há quase dez anos.

Conversamos com Noa num lugar um pouco mais tranquilo do teatro onde os ensaios e testes prosseguiam. Levamos a Devarim número 12, para mostrar de que revista somos e qual mensagem transmitimos, e identificávamos esta entrevista como importante para nosso público. Ao ver o nome do rabino Michael Melchior na capa, abriu um sorriso e disse que o conhecia e gostava de suas colocações. Junto com o CD de música brasileira com que a presenteamos, es-

Noa procurou Mila para gravar “We can work it out”, dos Beatles.

tava estabelecida a empatia necessária para um bom batepapo. A partir daí sua sedutora simpatia fez-se presente e a força de suas convicções foi a tônica de nossa conversa.

Somente pouco antes do show, já no camarim, conseguimos conversar com Mira, enquanto se maquiava. Ainda assim, houve tempo suficiente para entender por que as duas artistas identificaram, uma na outra, uma parceira que reunia as qualidades artísticas e os interesses políticos que permitiram a longa convivência de palco que mantêm até hoje. Não tão conhecida quanto Noa, Mira impressiona pela firmeza, por não fugir de assuntos polêmicos e pela enorme admiração por Noa, que transparece sempre que a menciona.

Para conhecer um pouco mais sobre Noa e Mira, sugerimos a visita à página de cada uma na Wikipédia, respectivamente http://en.wikipedia.org/wiki/Achinoam_Nini e http://en.wikipedia.org/wiki/Mira_Awad e ainda os sites de ambas, http://www.noasmusic.com/ e http://www. myspace.com/miraawad.

Entrevista com Noa

Devarim: Sobre seu trabalho com Mira, algo que entendemos ser importante para os leitores de Devarim, a aproximação se deu mais por uma questão musical, artística, ou por afinidades políticas?

Noa: Essa ligação se deu... bem, antes de mais nada, todo este tema surgiu por uma vontade de ter uma ação de integração com um cantor palestino. De fato, não era a primeira vez, já havia feito diversos shows deste tipo. Por exemplo, entre os mais famosos, cantei com Cheb Khaled, muito conhecido no mundo árabe.1 Também cantei com outros menos conhecidos, de diversos países, inclusive de Israel, como Rim Banna e Amal Murkus, ambos palestino-israelenses.2 Aliás, tentei também ter uma colaboração com palestinos dos territórios, mas não tive sucesso. Devo dizer de forma bem clara: eles não quiseram, para minha tristeza. Mas, de fato não os culpo, entendo que a situação para eles é bastante complicada, seja pela ótica dos sentimentos, seja pela política.

Devarim: Mas a música deles chega a você em Israel?

Noa: Muito pouco, preciso procurar bastante, certamente não nas comunidades judaicas, eventualmente nas árabes.

Devarim: E eles não têm interesse nessa divulgação?

Noa: Eles não têm essa motivação de fazer qualquer coisa em conjunto com judeus ou israelenses porque isso poderia prejudicá-los junto ao seu público. Eu, da minha parte, não tenho a mesma preocupação, nunca quis fazer esse tipo de ponderação, talvez para frustração do meu produtor (risos)... esse tipo de concessão, se vou ou não agradar ao meu público. Eu realmente procuro fazer aquilo em que acredito. Eu acho que se eu acredito em algo, não devo estar sozinha no mundo, e aqueles que têm as mesmas crenças serão o meu público; eventualmente os que discordarem não serão, vou abrir mão deles. Então, como ia dizendo, tive shows conjuntos com artistas árabes, como Khaleb, também vale mencionar Nabil Salameh, do Líbano, ele é espetacular – ele faz parte do grupo que foi refugiado no Líbano, depois emigrou para a Itália, e foi lá que o conheci. Com ele, em especial, talvez seja com quem mais fiz shows, fora a Mira...

Devarim: E voltando à Mira... Noa: Ah! Sim, claro, mas era importante dar essa visão dos antecedentes, porque assim fica claro por que a procurei. Eu buscava alguém para gravar comigo a música “We can work it out”, dos Beatles, eu queria cantar junto com uma cantora palestina. Encontramos Mira por acaso. Ela, naquela época (2002) estrelava o musical “My Fair Lady” em Israel, e se falava muito dela, uma árabe estrelando uma produção israelense. Houve um talk show e Guil a viu na televisão. Se impressionou muitíssimo com ela, com sua personalidade.

Devarim: Guil Dor...

Noa: Isso, Guil Dor, que é meu parceiro há vinte anos. Ele é realmente extraordinário. Em resumo, ele me ligou e disse: achamos! Eu perguntei: ok, mas você a ouviu cantar? Ele respondeu: não (risos). E como você sabe que é ela? Ele disse: pode confiar nisso, ela sabe pensar, é profunda. Vamos nos encontrar com ela. Portanto, nossa pri-

Noa: Nós nos ligamos não pela música iemenita ou árabe, senão justamente pela música norte-americana e inglesa: Joni Mitchell, Paul Simon, Beatles, esse tipo de canção.

Para Noa, a música e outras manifestações artísticas podem abrir caminhos para a aproximação política.

meira ligação foi no nível intelectual, gostamos da personalidade dela. E ela é realmente uma mulher maravilhosa, muito inteligente. Então nos encontramos e vimos que tínhamos muito em comum na parte musical. Temos muitas músicas em comum que gostamos. Gostamos muito das músicas dela que ouvimos...

Devarim: A origem da sua família, sua musicalidade iemenita, contribuiu de alguma forma?

Noa: Não, de fato não. Nós nos ligamos não pela música iemenita ou árabe, senão justamente pela música norteamericana e inglesa: Joni Mitchell, Paul Simon, Beatles, esse tipo de canção. Nós somos cantoras e compositoras e acho que estes artistas que citei influenciaram pessoas como nós, que fazem as duas coisas, traduzindo uma percepção do mundo.

Devarim: E trazem também o sentido humanitário de seu trabalho...

Noa: E também a poesia, tenho muito interesse pelas letras, escrever canções que sejam profundas e significativas e ao mesmo tempo bonitas e originais. Meu trabalho não se baseia em replicar os hits mais recentes ou adotar a moda do momento. Mas, sim, reflete minha alma, com toda sua complexidade, fala da condição humana, o que quer que isso represente. Isso era o que nós duas estávamos fazendo e percebemos que tínhamos muito em comum a partir deste ponto de vista. E também temos visões políticas próximas. Eu não diria idênticas, mas próximas. Certamente temos discrepâncias no jeito que vemos as coisas, mas concordamos nos aspectos mais importantes.

Devarim: Ou seja, próximas o bastante para poderem falar a respeito.

Noa: Sim, claro, especialmente quando fomos para o Eurovision3 , que foi nosso grande momento. Antes disso gravamos uma canção juntas e convidei Mira para participar de inúmeros shows comigo, ao redor do mundo, eventos onde estive, shows na televisão. Quando surgiu o Eurovision, bem, eu nunca tive muito interesse nisso, nunca gostei muito deste tipo de coisa. Mira, ao contrário, gostava muito, especialmente quando era criança. Eu cresci nos Estados Unidos, onde o Eurovision não existe, não é conhecido por lá. Quando cheguei em Israel, ouvi falar um pouco, mas não tive interesse, realmente. Mas quando me ofereceram a oportunidade de representar Israel, dois anos atrás, para o festival de 2009, eu pensei: “Bem, talvez agora seja o momento certo de aceitar”. Primeiro porque eu já estava bem encaminhada em minha carreira, e eu digo isso porque o Eurovision não estaria me definindo, me dando um formato; ao contrário, de certa forma eu o estaria definindo com esta participação. E em segundo lugar porque percebi que poderia atingir muitos milhões de pessoas com uma mensagem na qual acredito e pela qual vinha trabalhando há anos. Achei que a parceira ideal para isso seria a Mira. Nós já nos conhecíamos há oito anos. Eu perguntei a ela o que achava da ideia. Ela riu e disse: “Oh! Uau! Será uma loucura”. “Vai ser uma verdadeira montanha russa!” E ela me perguntou de volta: “Você está pronta para isso?” E eu disse sim, vamos fazer!

Devarim: Isso porque vocês estariam representando juntas o Estado de Israel...

Noa: Por causa de todas as coisas que aconteceram, nós não podíamos imaginar que haveria uma guerra.4 Isso foi uma catástrofe. As pessoas censuravam a ela, a mim, a nós duas, Israel, sempre violentamente. Foi realmente um problema, um problema enorme. Mas nós conseguimos superar isso tudo. E fomos com a música “There must be another way”5 , que também vamos apresentar hoje. Acho que a letra da música é realmente linda, ela transmite a mensagem sem ser piegas, sem ser óbvia. Ela não é inocente ou delicada, amortecida. Ela diz “quando choro, choro por nós duas”, o que representa...

Devarim: ... que há uma dor a ser compartilhada...

Noa: ...que precisa ser compartilhada! O problema é que ela não está sendo suficientemente compartilhada... Acho que nós fazemos mais isso; eu, quando choro, cho-

Noa: As pessoas tendem a focar em suas próprias dores somente. Acham que têm o monopólio da dor, o monopólio da justiça, da verdade, o que eles não têm. Por isso dizemos que deve haver outro caminho. E não estamos dispostas a nos render ao destino de uma guerra sem fim para as gerações futuras: tem que haver outro caminho.

ro por nós e por eles; não sei quanto isso ocorre com as outras pessoas, mas é isso que eles deveriam pensar em fazer, porque, se somente a sua dor é percebida...

Devarim: O que você diz é que a nossa dor não é percebida por eles...

Noa: As pessoas tendem a focar em suas próprias dores somente. Acham que têm o monopólio da dor, o monopólio da justiça, o que eles não têm. Ou o monopólio da verdade, que ninguém possui. Por isso dizemos que deve haver outro caminho. Não estamos definindo que caminho será este, ou afirmando que temos todas as respostas, mas temos muitas ideias sobre estas respostas. E, de qualquer forma, não estamos dispostas a nos render ao destino de uma guerra sem fim para as gerações futuras: tem que haver outro caminho.

Devarim: Quanto você imagina que a música pode contribuir para isso, oferecendo alternativas?

Noa: Acredito que a música e outras manifestações artísticas podem abrir caminhos para o relacionamento, para a aproximação, sem abrir mão da sua qualidade. Acredito muito no que faço e como faço e creio ter conseguido alcançar muitas pessoas com uma mensagem com a qual tenho um compromisso.

Devarim: Há algo que nunca perguntaram, algo que você gostaria de mencionar e que não teve oportunidade antes?

Noa: Tenho no meu blog uma espécie de “plano de paz” que escrevi, algo muito simples, que a meu ver vale a pena repetir sempre. Pensei muito nisso, até que consegui organizá-lo. É bem curto. E acho que é o único caminho. Ele tem três passos: Reconhecer, Desculpar, Partilhar. É nisso que acredito, integralmente. Acho que é a coisa certa. Desculpar para os israelenses é algo muito importante, conecta-se com a ideia de que “quando choro, choro por nós dois” (pelos dois povos). Se há algo que eu gostaria de ver impresso seria isso. Exatamente como escrevi. É algo com o que me comprometo, que resume tudo em que acredito (ver p. 36).6

Devarim: Bem, acho que concluímos. Agradeço muito, em nome da Devarim. Mira: Claro que houve Entrevista com Mira um encontro na música, descobrimos que Devarim: Em que língua seria melhor falarmos, hebraico ou inglês? Acho melhor nossas vozes combinam em inglês, não? muito bem, é bem raro Mira: Por que não, ambas são segunencontrar vozes tão da língua para mim. compatíveis. E claro Devarim: Sinto por não falar nada de áraque para mim era uma be, é algo que todos em Israel deveriam oportunidade incrível, aprender, com certeza. cantar com alguém Mira: Obrigado por pensar assim, eu “grande” como Noa. também acho. Devarim: Bem, vamos começar. Você tem feito shows com Noa já há algum tempo... Mira: Sim, já há quase dez anos. Devarim: E você já a conhecia? Mira: Claro, ela é famosíssima em Israel. Eu tinha discos dela, gostava da sua música. Eu estava no supermercado e recebi a ligação de uma mulher que pergunta: “É a Mira?” e eu respondi: “Sim, sou” e ela seguiu: “Não sei se você me conhece, sou a Achinoam Nini”. Isso soa mais ou menos como: “Não sei se você me conhece, sou o Leonard Cohen”7 (risos), ri um bocado e disse: “Claro que conheço você”. Marcamos um encontro para o dia seguinte e parece simples ao dizer, mas realmente foi assim, rapidamente houve uma química entre nós, descobrimos que gostamos das mesmas coisas. Devarim: Você acha que houve uma conexão quanto à música ou... Mira: Claro que houve um encontro na música, descobrimos que nossas vozes combinam muito bem, é bem raro encontrar vozes tão compatíveis. E claro que para mim era uma oportunidade incrível, cantar com alguém “grande” como Noa. E pensei: ok, vamos fazer isso, não sabemos no que vai dar, quanto tempo vai durar. Já tínhamos tido colaborações diversas antes, nada foi construído para ser de um jeito ou outro. E eu também atribui muito valor a este trabalho com Noa no nível mais humano, com alguém tão fantástico, acabamos ficando amigas, e aqui estamos, dez anos depois, seguindo juntas e buscando coisas novas, essa é a parte que torna nossa história única.

Devarim: Perguntei a Noa, vou perguntar a você também: você acha que a origem iemenita dela ajudou de alguma forma neste encontro entre vocês?

Mira: Não é a origem iemenita, mas a mistura, ela ser resultado de uma mistura cultural, tal como eu sou também uma mistura, então isso nos aproxima, nós duas sabemos como é ser parte de um ambiente multicultural.

Devarim: Mostrei suas fotos ao pessoal do meu escritório e todos achavam que você era judia e Noa era árabe!

Mira: Pois é... nós duas fomos criadas em ambientes multiculturais, sabemos como é crescer num lugar e ir para outro, temos muita coisa em comum neste aspecto. E também fazemos esta fusão na nossa música. Ela pega sua origem iemenita e mistura com pop e rock e jazz, ela coloca tudo numa mesma panela, mistura e cria algo dela. Acho que faço o mesmo. Eu aproveito minhas raízes e misturo com as influências que tive ao longo da vida. Esse é também um ponto de encontro para nós duas.

Devarim: Você teve vontade ou a oportunidade de viver fora de Israel durante algum tempo?

Mira: Na verdade não, eu fiz alguns trabalhos fora, como atriz. Eu também sou uma atriz...

Devarim: E você ainda trabalha como atriz?

Mira: Sim, claro. Fiz alguns trabalhos em Roma, em Londres e Nova Iorque, mas não vivi realmente nesses lugares, não por um período mais longo, então não considero que vivi em qualquer outro lugar.

Devarim: Houve um evento em Londres, no dia da independência de Israel, no ano passado, do qual você faria parte junto com Noa... Li que houve ameaças à sua participação, mas também que você não se sentia tão confortável em participar; o que houve de fato? Mira: Eu não me apresento no dia da independência, não por conta de algo específico, mas porque é uma data muito complicada, um dia cujo cenário é duplo, e até o momento em que perceba a situação da minoria palestina em Israel efetivamente resolvida, não me sinto confortável para celebrar este dia. Eu espero que um dia isto se torne passado e este milhão e meio de árabes que vivem em Israel sejam parte efetiva do país, o que sig-

Mira: Nós duas fomos criadas em ambientes multiculturais, sabemos como é crescer num lugar e ir para outro, temos muita coisa em comum neste aspecto. E também fazemos esta fusão na nossa música. Ela pega sua origem iemenita e mistura com pop e rock e jazz, ela coloca tudo numa mesma panela, mistura e cria algo dela. Acho que faço o mesmo.

“Aqui estamos, dez anos depois, seguindo juntas e buscando coisas novas, esta é a parte que torna essa história única”, diz Mira.

Plano de Paz por Achinoam nini

1. R Econh EcER

Cada lado deve reconhecer os direitos do outro à vida, liberdade, independência, identidade, o direito de florescer, o direito a uma existência pacífica. Este é o primeiro e mais crítico estágio do plano. Sem reconhecimento formal, por escrito, assinado pelos líderes reconhecidos de cada nação, nenhum avanço poderá ser feito. 2. DEScu LpaR

Ambos os lados infligiram coisas terríveis ao outro, em nome deste ou daquele ideal. Uma vez que a perda de uma vida equivale à morte de toda a humanidade, deverá haver um verdadeiro e profundo remorso quanto a estas ações, uma apresentação de desculpas verdadeiras de cada um dos lados pela dor e angústia que causaram. 3. coM paRti LhaR

Cada lado deve abrir mão de seus sonhos por um “algo” completo. Somente pelo compromisso com o outro a paz pode efetivamente ser alcançada. Desta forma, num pequeno pedaço de terra podemos criar dois países, Israel e Palestina, vivendo pacificamente e respeitando-se mutuamente. http://noa-the-singer.blogspot.com/

nifica ter as mesmas obrigações e ter os mesmos direitos, o que ainda não temos.

Devarim: Como você é recebida pelo público nos shows ou peças, como se relacionam com você?

Mira: Acho que você vai precisar perguntar isso para o público... (risos). Alguns lugares me recebem melhor, outros menos.

Devarim: E você se sentiria à vontade de chamar uma cantora israelense judia para cantar num show seu?

Mira: Claro, certamente.

Devarim: E você acha que há pessoas que a percebem com sentimentos negativos, por conta deste seu trabalho?

Mira: Com certeza há árabes e judeus que não gostam do que faço. E daí? Sou uma cantora, uma artista, isso é o que eu faço, aquilo em que acredito, tenho a liberdade das minhas crenças; se não quiserem vir ao meu show, não venham. Acho que, mesmo assim, terei audiência o bastante para sustentar minha carreira artística.

Devarim: Pelo que ouvi até aqui, você terá mesmo!

Mira: Obrigado.

Devarim: Há algo que você não disse, que em geral não é ou não foi perguntado, algo que esteja faltando e você queira acrescentar?

Mira: Você me pegou, não vou ter chance de pensar muito agora, já estou com a cabeça voltada para o show... talvez possamos voltar a falar depois do show...

Devarim: Em nome da Devarim agradeço muito por sua entrevista.

Notas

1. Cheb Khaled é provavelmente o mais famoso cantor da Argélia. Num show em

Nova Iorque, em 2001, onde se apresentaram também, por exemplo, Bono e Peter Gabriel, Noa cantou com Khaleb a música “Imagine”, de John Lennon, em inglês, árabe e hebraico. 2. Ambos são árabe-israelenses, mas Noa se referiu a eles como palestino-israelenses, forma que optamos por manter. 3. Eurovision é um dos mais conhecidos festivais de música da Europa, disputado desde 1956 por representantes de diversos países, a maioria europeus, cada edição sendo realizada na capital do país vencedor da edição anterior. Todos os países cobertos pela Rede Europeia de Radiodifusão estão habilitados à participação, entre eles Israel e diversos países árabes. Israel iniciou sua participação em 1973, tendo sido o vencedor em 78, 79 e 98. Nenhum país árabe aceitou participar do festival junto com Israel, até o momento. O Marrocos participou em 1980, quando Israel esteve ausente. 4. A guerra mencionada é o conflito em Gaza, em janeiro de 2009. O anúncio oficial de que Noa seria a representante de Israel no Eurovision de 2009 se deu em 11 de janeiro, com o país em ebulição em torno deste tema. Mira foi anunciada como co-participante algum tempo depois. Pode-se, portanto, entender bem o quanto foi corajosa a decisão de ambas nestas circunstâncias. 5. “Deve haver algum outro caminho”. A música foi cantada em hebraico, inglês e árabe. 6. Atendendo ao pedido, reproduzimos num box à parte um resumo escrito por ela em seu blog. 7. Leonard Cohen é poeta e compositor canadense.

Ricardo Gorodovits é engenheiro, ativista comunitário e boguer da Chazit Hanoar.

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