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Rabino Dario E. Bialer

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Paulo Geiger

Paulo Geiger

Hagadá, HalacHá e a insensatez da fragmentação

rabino dario e. bialer

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Quando no final do século XIX e início do século XX a miséria e os pogroms na Europa forçaram populações judaicas inteiras a se deslocar para regiões inóspitas do mundo, financiados em muitos casos pelo legendário Barão de Hirsch, começou a gestar-se uma fusão interessante entre o judaísmo que estas populações traziam e as tradições locais.

Os primeiros a chegar à Argentina se instalaram no campo, longe das grandes cidades e, pela primeira vez na história, receberam uma parcela de terra para trabalhar e recomeçar suas vidas. Assim ganharam o apelido de “gaúchos judeus”.

Trabalharam com entusiasmo e começaram a prosperar economicamente. Aprenderam a preparar um bom churrasco e a tomar chimarrão, mas não se esqueceram das hagadot, das lendas ensinadas por seus pais e, para muitos, a halachá continuava sendo a única lei válida para guiar suas vidas.

Foi assim que a congregação de uma das colônias judaicas dos Pampas se reuniu para fazer uma pergunta ao grande rabino Itzchok Spector, o gênio da yeshivá de Kovne, na Lituânia.

A consulta era se estava permitido ou não dar de beber ao gado no shabat. Como não existiam moinhos de vento, a água tinha que ser extraída de um poço, usando para isso um cavalo que puxava o balde de água.

Mas no shabat é proibido cavalgar! E também conduzir o cavalo com a correia. Como fazê-lo trabalhar e tirar a água, se existe a obrigação de dar descanso aos animais no sábado?

Então os gaúchos judeus, não tiveram nenhuma ideia melhor do que ordenar ao seu gado que parasse de beber! Que esperasse até depois do shabat... Para ser significativo, o estudo precisa ser um diálogo, uma discussão intensa e aberta, sem preconceitos e com absoluto respeito pela pessoa com quem estamos dialogando/discutindo.

Mas acontece que o gado argentino é tão ignorante que não conhece a halachá! E começou a protestar, a mugir tão forte que atrapalhava as rezas, e até a atacar as pessoas.

Contam também que as vacas mais velhas ficaram tão irritadas que, em sinal de protesto, não quiseram tomar água nem no domingo... As coisas ficaram muito feias...

O que fizeram? Alguns jovens decidiram tirar o pesado balde do poço, eles mesmos, sem a ajuda do cavalo, para saciar os animais. Até que um deles, estudioso da Torá, disse que não era possível fazer isso, pois seria uma transgressão ainda maior...

Conseguiram finalmente que Avraham Rozenfeld redigisse em hebraico a pergunta ao Rebe Itzchok, pedindo, indiretamente – é claro –, que encontrasse um jeitinho de dar uma autorização rabínica para quebrar o sábado e dar de beber aos animais, para que tudo voltasse à normalidade.

Enviaram a carta e meses depois chegou a esperada resposta.

Novamente toda a congregação se reuniu, abriram o envelope com cuidado e, com entusiasmo, viram o selo da yeshivá da Lituânia e reconheceram o nome do grande rabino que assinava, mas não tinha mais nada! O papel estava em branco!

Desesperado, quem tinha a carta em mãos mudou de óculos e aí, com alívio, descobriu seis palavras! Apenas seis palavras que responderiam todas as suas dúvidas e que foram declaradas em voz alta diante de toda a congregação:

“Por favor, não façam perguntas estúpidas...”

Eu escuto essa história (que, acreditem, é verídica! Aconteceu na Colonia Mauricio em Entre Ríos, Argentina, fundada em agosto de 1889, e foi escrita pelo escritor idischista Marcos Alpersohn1) e sinto uma mistura de sensações. De um lado, o relato engraçado, absurdo, e, de outro lado, a preocupação por preservar as leis, coisa que eu respeito enormemente, mas, junto com isso, a estupidez de que a observância da lei se sobreponha ao espírito da própria lei.

Se para preservar o descanso do animal no sábado vamos lhe proibir que beba ou que se alimente até provocarlhe a morte, mas, aí sim, uma morte perfeitamente haláchica, pois o shabat não foi transgredido, então ou efetivamente somos muito estúpidos ou não entendemos bem do que se trata o judaísmo! O que não se pode Esse relato acontece num período permitir é que se disponha do Muro das histórico no qual diversas ideologias estão se formando. De um lado a reforma clássica que não necessariamente coinciLamentações como se de com a reforma atual e que priorizou o fosse uma sinagoga monoteísmo ético como essência do judaparticular, e se prendam ísmo, descartando a Torá enquanto lei. as mulheres por querer Por do outro lado o nacionalismo secular fez povo de Israel sua principal preocuestudar e ler Torá. Isso pação, descartando Deus, o monoteísmo em Israel hoje pode ser e também a Torá. Já a ultraortodoxia, na punido com a prisão sua ânsia em defender a observância da numa delegacia. lei, enfatiza a supremacia da Torá, identificando-a com o Shulchan Aruch, e colocando-a acima do próprio Deus e do povo de Israel, o que leva ao condutismo religioso.2

A dialética da hagadá e a halachá

Consultar os rabinos e dedicar uma boa parte do dia e da vida ao estudo tem sido uma prática vital no judaísmo, ou, parafraseando o sociólogo Pierre Bourdieu, seu capital social mais importante. No Talmud, tratado de kedushin, nossos sábios discutem o que é mais importante: a ação ou o estudo? Rabi Tarfon responde: a ação; Rabi Akiva: o estudo. E por qual opção se inclinam nossos sábios? O estudo é mais importante, porque através dele se chega à ação. Mas esse estudo, para ser significativo, precisa ser um diálogo, uma discussão intensa e aberta, sem preconceitos e com absoluto respeito pela outra pessoa com quem estamos dialogando/discutindo. Caso contrário, a experiência transformadora do estudo se converte numa transferência unidirecional de informações e explicações. Essa situação é definida por Bachia Ibn Pakuda em seu livro Os Deveres do Coração, do século XI, como uma atividade que forma “burros que carregam livros”. A imagem do burro que carrega livros aparece pela primeira vez no Corão, Sura 63, versículo 5. No Talmud (Meguilá 28b), ao contrário, se definem estes sábios como “baús cheios de livros”, e mesmo parecendo positiva a conotação textual, Rashi, em sua interpretação sobre esta passagem, afirma que esta caracterização se aplica aos que se “encheram” de livros sem tê-los jamais entendido. Os ensinamentos mishnaicos e talmúdicos e, fundamentalmente, todos os livros que posteriormente interpre-

Eldad Carin / iStockphoto.com Porta da Sinagoga Eliahu Hanavi, na parte antiga de Jerusalém; segundo nossos sábios, o estudo é mais importante do que a ação, porque através deste se chega à ação.

tam o Talmud (em sua imensa maioria, o Talmud da Babilônia) transmitem hagadot e halachot. A hagadá é uma lenda que procura transmitir um significado e nos inspirar a pensar e a sentir de determinada forma. A halachá não se preocupa com esse tipo de mensagens; ocupa-se em determinar a práxis a ser aplicada para a vida do indivíduo e da comunidade. Hagadá e halachá são categorias que convivem no judaísmo há dois mil anos. Gostaria de dizer que de forma complementar, mas infelizmente muitas vezes não foi isso o que aconteceu.

Graças a fatores históricos e sociológicos, as autoridades rabínicas quase sempre se apegaram mais à halachá, não só porque quase não escreveram hagadot, mas porque reiteradamente alimentaram o desprezo popular por elas.

A hagadá que aparece no Talmud, tratado Sotá (p. 40a), descreve clara e sinteticamente como as pessoas mais simples (a grande maioria do povo) simpatizavam muito mais com as hagadot, enquanto que os sábios permanentemente se ocupavam em destacar a necessidade de que a halachá prevalecesse.

Rabi Abahu e Rabi Chyia bar Aba chegaram à mesma cidade ao mesmo tempo. Cada um dos sábios se apressou a dar uma palestra.

Rabi Chyia fez uma exposição baseada em halachá enquanto Rabi Abahu baseou-se na hagadá.

As pessoas se amontoaram em torno de Rabi Abahu e não prestaram muita atenção a Rabi Chyia, que ficou com o coração partido.

Mas Rabi Abahu o consolou com a seguinte parábola:

“Dois homens chegaram um dia a uma cidade. Um vendia pedras preciosas e pérolas, e o outro, adornos de lantejoulas. O que fez a multidão? Foi atrás do que vendia as bugigangas, que era o que eles tinham oportunidade de comprar!”

Essa forma de pensar foi semeando a ideia de que um sábio que dedicava seu tempo a hagadá o desperdiçava, enquanto que quem interpretava a halachá estava trazendo um aporte decisivo ao judaísmo, mesmo quando claramente a grande maioria do povo não concordava com esse critério, e talvez seja por isso que as duas, hagadá e halachá, continuam vigentes.

Nas palavras do iluminado filósofo e rabino Abraham Joshua Heschell, a halachá representa o esforço em moldar nossa vida conforme um modelo fixo, entanto que a hagadá é a expressão da luta incessante do homem, que com frequência desafia os moldes e as limitações. A halachá é a racionalização da vida. Define e especifica, põe li-

Ilustração medieval retratando Noé carregando sua Arca; a Halachá decreta enquanto a Hagadá inspira.

mites e impõe medidas. A hagadá reflete as relações humanas, com Deus e consigo mesmo. A halachá se ocupa com cada lei e cada mandamento. A hagadá da totalidade da vida. Uma é a lei e a outra o significado da lei. A halachá é a expressão literal, e a hagadá nos introduz num âmbito que está além dos limites da expressão. A halachá nos dá normas para a ação. A hagadá, uma visão do propósito da vida. A halachá decreta enquanto a hagadá inspira.

A halachá, na hagadá israelense

Entrelaçar hagadá e halachá é um desafio antiquíssimo. Em nossos dias essa temática é especialmente relevante, fundamentalmente em Israel aonde parecem se desvanecer as palavras proféticas de Theodor Hertzl, “Im tirtzu ein zo hagadá – Se quiseres não será uma lenda”, diante do atropelo da halachá por uma minoria ultraortodoxa que exerce o monopólio da vida religiosa oficial, o que em Israel tem um enorme impacto político, civil e social, sem falar do econômico. Quem é judeu e quem não é, o reconhecimento das conversões de pessoas que vivem seu dia a dia como qualquer outro judeu, como vai ser o enterro de seus entes queridos, como contrair casamento, tudo depende de um único, unilateral e irrecorrível tribunal rabínico ortodoxo.

Enquanto eu escrevo essas linhas, avança o projeto de lei de David Rotem, que procura aprofundar essa desigualdade no nível de que seja uma lei nacional. “Existe um único judaísmo, não três (...) e a única forma de viver é conforme a halachá ortodoxa, e não conforme a uma halachá conservadora ou reformista se é que existe tal coisa”.

Rotem não quer a unidade nacional, quer extinguir as diferenças e impor a sua verdade. Minha reflexão é que “durante dois mil anos fomos um povo sem terra e hoje não podemos nos permitir ter uma terra sem povo”. Em qualquer povo – é evidente – nem todo mundo pensa igual. Sempre existem diferenças e o Estado é responsável por garantir que todas as vozes sejam ouvidas, e as diferentes ideias devidamente representadas.

Não precisamos pensar todos de forma igual. Não se-

Hagadá e halachá ria nada bom que isso acontecesse. Eu, são categorias que convivem no que assumo em minha vida e em meu rabinato, um critério pluralista, aceito e celebro com quem pensa diferente; portanjudaísmo há dois to, concordo que as facções ortodoxas semil anos. Graças a jam ouvidas em Israel e expressem sua pofatores históricos sição, mas sem imposição! e sociológicos, as do Deve-se recuperar no moderno Estaos valores ancestrais de Israel, de resautoridades rabínicas peito, de inspiração, de férrea discussão e quase sempre se bastante humildade para reconhecer no apegaram mais à outro o mesmo fervor e a mesma legitihalachá, não só porque midade para interpretar os valores da traquase não escreveram dição e expor as próprias ideias, gração do texto com o contexto e na intea vivênhagadot, mas porque cia na lei no espírito que só cada espírito reiteradamente e alma comprometida pode lhe outorgar. alimentaram o desprezo Israel precisa hoje de um rabinato plurapopular por elas. lista jam para garantir que ouvidas e ratificar todas as vozes seas palavras do Talmud: “Elu vê elu divrei elhoim chaim – Ambas as palavras – as de Hillel e de Shamai – são as palavras do Deus vivo (ou do Deus da vida)”. Esta frase é uma referência aos ensinamentos de Rabi Aba3 , que descreveu as discussões incessantes dessas duas escolas de pensamento, até que certo dia Deus aparece como mediador, legitima a ambos, mas indica que a halachá deve ser conforme a escola de Hillel, porque os discípulos desta escola se comportavam de modo sempre amável, eram gentis, educados e humildes; ensinavam os pareceres de ambas as escolas e não apenas isso, mas sempre apresentavam antes o parecer do adversário. Que bom seria recuperar esse espírito criativo! Sem a pretensão de nos sentirmos os donos da verdade ou os guardiões da lei, e, de coração e mente abertas, encarar uma discussão construtiva para um Israel mais democrático e um judaísmo mais significativo. Hoje essa possibilidade se parece muito com uma hagadá, uma fábula tão bonita quanto afastada da realidade social. Devemos insistir em integrar e manter as diferenças nos sentando ao redor da mesma mesa como nossos sábios (eles sim eram sábios!) nos ensinaram. Esse seria o ideal. Mas a realidade é que em Israel e na diáspora um grande setor da ortodoxia não aceita sentar-se à mesma mesa que reformistas e conservadores.

Nesse caso vamos manter um rabinato ortodoxo e criar outro liberal e por que não um “rabinato” laico e deixar que os cidadãos escolham qual deles os representa melhor de acordo com suas crenças.

Eu aceito que eles não gostem do que eu ensino como rabino, e que não aceitem o que nossas congregações praticam. O que não se pode aceitar é a deslegitimação do judaísmo não ortodoxo, que soma mais de 80% do povo judeu. O que não se pode tolerar é que o Estado de Israel entregue seus cidadãos em mãos de uma minoria com comportamentos e reações fundamentalistas. O que não se pode permitir é que se disponha do Muro das Lamentações como se fosse uma sinagoga particular, e se prendam as mulheres por querer estudar e lerTorá. Isso em Israel hoje pode ser punido com a prisão numa delegacia.

O establishment ultraortodoxo, eternizado no poder, se parece bastante com os senhores feudais encerrados num castelo medieval, com seus dirigentes ocupados em construir cercas e muros em vez de lares. Muros trancados com chaves, mas sem janelas. E assim parece que o espírito do judaísmo é uma prisão, e não um regozijo.

Eu acredito que não há alegria senão no entendimento. Na compreensão de que de forma alguma a função primária da halachá é de restringir, negar, privar e limitar. As normas são observadas para alcançar uma existência mais nobre e mais profunda, com mais cuidado e mais sensibilidade. Para viver uma vida mais plena e mais feliz.

Existe também a ideia de que no universo da lei a observância só pode ser ou tudo ou nada. Que retirando-se um tijolo o prédio todo é derrubado. Essa afirmação não está justificada nem histórica nem teologicamente. Existem inúmeros exemplos de normas que não contavam com a aceitação popular e foram rejeitadas, enquanto que outras leis foram respeitadas.

Qualquer um sabe que no judaísmo a vida é o mais importante e que, para salvar uma alma, qualquer norma da Torá pode ser transgredida. Isso acontece porque a alma é mais importante do que a lei. Não se deve depreciar a halachá, mas também não se deve depreciar as pessoas e suas necessidades. Nas palavras de E se não gostamos que alguém venha Abraham Joshua Heschell, a halachá e nos fale quem é judeu e quem não é, ou que nos acusem de que não estamos sendo “suficientemente judaicos”; se acredirepresenta o esforço tamos que em nossos dias devam existir em moldar nossa vida diversas propostas, pois existem múltiplas conforme um modelo formas – todas válidas – de ser judeu, desfixo, enquanto que a de os mais dogmáticos aos livres pensadores, deve-se instalar a consciência de quehagadá é a expressão o judaísmo sempre foi assim, multifacetada luta incessante do, mas essa vitalidade não é uma herando homem, que com ça que se obtém e, sim, um compromisso frequência desafia os que se assume. Não existem grandes segremoldes e as limitações. dos. Se a pré-ocupa, continuidade do judaísmo nos vamos nos ocupar, instalando A halachá nos dá a consciência de que se pode estudar junormas para a ação. A daísmo sem o clichê de responder sempre: hagadá, uma visão do “Assim está escrito”, e começar a escrever propósito da vida. novos livros com novas ideias, para interpretação da lei continue sendo que a a inspiração de um mesmo povo com ideias diversas, e evitar continuar nos desgastando e fragmentando com as perguntas (realmente estúpidas) de quem tem a verdade e quem tem o direito de impor a sua vontade.

Notas

1. Nasceu em Lantzroin (Rússia) em 1860 e faleceu em Buenos Aires em 24 de junho de 1947. Chegou a Entre Ríos com o primeiro grupo de imigrantes, financiados pelo legendário Barão de Hirsch. Sua obra mais importante foi Colonia Mauricio, escrita em 1922 em iídiche e traduzida ao hebraico em 1930. Vários especialistas consideram-na a melhor obra da literatura iídiche argentina. 2. O campo condutista é uma corrente psicológica nascida do impulso de figuras destacadas no estudo e na pesquisa da psicologia, entre os quais se destacam Pavlov, Betcherev, Sechenov e Watson. Este último propõe o conductismo como sendo o condicionamento dos comportamentos humanos na formação de hábitos. Os seres humanos representam constantemente e esta representação é a nossa conduta. Em muitas ocasiões, alguma entidade exterior solicita que atuemos de uma determinada forma, ou somente espera que o façamos (e nós aceitamos). Estas condutas solicitadas são as que o condutismo moderno distingue das condutas naturalmente existentes em todo indivíduo. A conduta reflexiva, por sua vez, não está incluída na conduta operante. Não se nega que hajam consciência, sensações, sentimentos, imagens e pensamentos, mas o importante é que para os condutistas estes eventos não são a causa da conduta. Neste sentido a halachá funciona como estímulo para a ação do indivíduo, independentemente de seus pensamentos e suas emoções. 3. Talmud Babli, Eruvin 13b. O rabino Dario Ezequiel Bialer atualmente serve na Associação Religiosa Israelita - ARI. Cursou os estudos rabínicos no Seminário Rabínico Latinoamericano Marshal T. Meyer, em Buenos Aires, e no Schechter Institute for Jewish Studies, em Jerusalém.

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