Revista Propágulo 4

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JoĂŁo registro - sua famĂ­lia guarda um acervo

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de 2017,

para


Convite à Alforria, 20


2018







Recife - PE - 2019


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Foto: Laura Díaz Galán


Foto: Laura Díaz Galán




Engolidora - 2019 Galeria MauMau


@titabarbosannn


Às vezes sigo num choro que não parece ser meu. Parece um movimento de vários corpos que vou condensando até se transformarem em lágrimas. É uma sensação que tenho desde criança e que me remete muito à minha avó. Não sei exatamente o porquê, e talvez isto continue em segredo. Percebo a consequência dos engasgos através do cansaço, então apenas não controlo e, assim, o rito começa a acontecer. Ultimamente tenho pensado sobre essa possessão que me faz parar, que me obriga a parar, pois, ao que me parece, esta ação de compartilhamento com esses vários me modifica na prática. Comecei a perceber a sabedoria que aos poucos nutria, ao invés do antigo bloqueio que sentia quando ocorria essa refração. Estes momentos de pausa me foram recordados ao presenciar a performance “Onde Está Bruno Avendaño?” de Lukas Avendaño, performer muxe afroindígena do estado de Oaxaca - México. Em sua ação, vestindo indumentárias tehuanas e segurando a foto de seu irmão, Bruno, impressa com a frase “¿Dónde está Bruno Avendaño?”, Lukas convida, com a mão aberta, o público, que também veste-se de trajes tehuanas, e, após isto, senta-se ao seu lado durante um período de duas horas. O anúncio do corpo ausente, de Bruno, um dos milhares de desaparecidos no México nos últimos 9 anos, é feito através da presença política de Lukas e da dança que os corpos do público fazem ao sentar, levantar e dar lugar a outros que compartilham a mesma ação. A gestualidade no espaço é semelhante entre os que sentam ao lado de Lukas, entretanto o que é evocado cria diversas camadas. Lágrimas são muitas vezes o que podemos ver no plano visível, contudo o acesso a este encontro se desdobra em temporalidades mútuas através deste exercício de partilha. Após a finalização das ações, Lukas agradece e afirma que sua ação não é sobre o lamento e a perda, e, sim, sobre a possibilidade de plantar presença em rede, um momento estratégico a fim de contornar a dor.


O constante exercício de re-imaginação de espaços psicológicos e físicos são dispositivos curatoriais como nos atenta Khanyisile Mbongwa (curadora/ artista residente na Cidade do Cabo/RSA), que vem pesquisando junto à artista Lhola Amira processos espaciais, simbólicos e energéticos que atravessam corpos diaspóricos. Assim, nesta prática conjunta, me pergunto: como mediar o espaço das relações e como trabalhar as dimensões territoriais internas e externas permitindo a escuta, em vez de criar um lugar para distrações e deslumbres que fragilizem nossas estratégias? Por:Ariana Nuala

entre vários






















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