Desdobra 04

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Editorial

Na quarta Desdobra, apresentamos a transcrição do quarto episódio da segunda temporada do AFTA, em que conversamos com Libra, DJ, pesquisadora audiovisual, performer e produtora cultural que conosco produziu o evento de lançamento de nossa quarta edição. Encerrando, também trazemos anexadas fotos de Marlon Diego e JEAN do evento da Propágulo N° 4, em 2020, em galpão na Rua do Brum, no Bairro do Recife. Os textos são revisados por Guilherme Moraes, Nathália Sonatti e Rod Souza Leão. O projeto gráfico é de Heitor Moreira com revisão de Rod Souza Leão. Os editores 01


Entrevista com Libra 2020 Entrevista realizada no segundo semestre 2020 Rod Souza Leão - Foi na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a partir de 2015, estudando Comunicação Social Publicidade e Propaganda, que começamos a conversar e nos conhecemos para além das redes sociais. Desde esse momento, trocavámos sobre algumas inquietações em relação ao mercado de publicidade. Lembro que já no início da Universidade você começava a manifestar interesse na sua pesquisa artística, principalmente, enquanto performer e DJ. Queria ouvir de você como foi esse seu processo inicial. Libra - A comunicação surgiu para mim como um lugar possível para tentar desenvolver o que eu já estava pensando durante o colégio. Foi na faculdade que eu entendi realmente o que era estar nesse ambiente acadêmico, pensando comunicação social, publicidade mesmo. Eu já tinha uma parada com música, den02


tro de uma perspectiva religiosa, e que me deixou bem frustrada depois que eu abandonei esse espaço. A música eletrônica veio nesse processo — a possibilidade de pesquisar e tocar para as pessoas de maneira geral. E a performance surge um pouco também nesse lugar, era muito mais um estudo estético. O corpo sempre foi a base de tudo que eu pensei e questionei, e não seria diferente no processo artístico, onde tinha que entender também uma plataforma possível para mim. O corpo foi essa possibilidade e ainda é a base disso tudo. Mas óbvio que durante todo esse processo tenho me encontrado e também desencontrado com várias plataformas. RSL - Atualmente, quais relações que você tem percebido entre essas atuações? E como tem sido se relacionar com essas demandas do mercado cultural? L - Eu acho que depois desse processo de experimentação e também de visualizar esses “ramos” ou “cenas” como algo realmente possível para mim, tem sido mais um trabalho de entender a minha identidade nesses espaços. Em relação à música, comecei a perceber que eu precisava ter mais consciência sobre qual era a minha linha de pesquisa. Estava há um tempo em uma cena de música eletrônica com base no House Music e no Techno e que tocava outras coisas, mas dentro de uma perspectiva um pouco rara. Comecei também a pensar possibilidades de puxar essa música para uma diáspora minha, não necessariamente pesquisar aleatoriamente, só porque eu tinha essa sede de fazer algo fora da curva. Passei a localizar essa pesquisa objetivamente: quem eu estou tocando, de onde são essas pessoas, de que maneira o corpo vibra a partir desse som e que experiência eu estou dando para as pessoas a partir dessa pesquisa. 03


Foi quando tive um foco maior em pesquisar músicas feitas por pessoas pretas e corpos dissidentes, entender a linguagem como algo que podia ser muito potencializador do meu trabalho, de conseguir pensar em dançar nesse sentido. E não estar só na música eletrônica 4x4 que é só cabeça e coração, e descer um pouco mais para a pelve, para os glúteos, para as pernas e fazer esse corpo ir para outros lugares também. Comecei a estudar muito mais o Afrobeat, vertentes do Acid, que mexem com House Music, mas também com o Vogue, pensar o Funk a partir de uma perspectiva como música eletrônica — que é uma parada que sempre existem muitos lados, porque ao mesmo tempo que é muito importante que o Funk seja entendido como música eletrônica, não sei se, para todas as vertentes do Funk, estarem inseridas nesse espaço, que é extremamente elitista, é realmente importante. E tem a linguagem falada mesmo, tanto das MCs do Brega Funk, como de artistas como Linn da Quebrada, Ventura Profana, Jup do Bairro, outras gatas que eu também piro no Brasil e fora, que se utilizam da linguagem [falada] para se protagonizar no babado. Enquanto corpo, performer, foi bem frustrante, na real. Eu iniciei esse processo dentro também do ambiente das festas de música eletrônica, onde o corpo tem uma liberdade de criação e de se utilizar daquele lugar para pensar uma ativação que tenha a ver também com essa experiência, mas que também é muito limitador, por conta da relação que o público tem com você, que às vezes é uma troca energética não muito saudável, e também devido às condições de trabalho e remuneração. Esse retorno financeiro não fazia jus ao que estava sendo colocado ali. Eu me coloco em uma posição de não me permitir mais ser migalha, não estar fazendo o meu trabalho só porque eu quero muito que ele aconteça. E por conta disso deixá-lo ser colocado de qualquer 04


jeito e/ou em qualquer perspectiva. É muito sobre autoestima. Você pode ter consciência de que seu trabalho merece tal e tal coisas, mas pensar estrategicamente a partir disso é bem babado. E o que me ajuda em todos esses processos é estar nos projetos que estou hoje em dia, como a Scapa, o CHAMA... O meu trabalho com mídias sociais é o que tem me sustentado nesse sentido e, hoje em dia, entendo o mercado da arte muito mais como um lugar em que eu posso estar, mas não necessariamente um objetivo que eu tenho que me enquadrar para conseguir me inserir. E acho que tem sido a partir desses projetos que eu tenho criado essas relações com o corpo e com o meu trabalho artístico. Heitor Moreira - Você vem traçando uma trajetória bem consistente na música eletrônica aqui em Recife. Queria saber como você enxerga esse cenário local nos últimos tempos. Pode-se dizer que existe uma articulação dentro de Recife nesse sentido? L - Sim, existe uma articulação em Recife nesse sentido, com certeza. Mas também existe muita gente que tem muita vontade e pouca estrutura de entender como fazer isso acontecer de maneira rentável. Há muitos coletivos como a Maddam, a própria Scapa, Hypnos, Extasia, Bafro, Batekoo Recife, mas quando a gente visualiza todos esses coletivos, que são feitos por pessoas LGBTQIA+, são coletivos que penam muito aqui para conseguir se manter. Eu estou sentindo um movimento, agora, das pessoas realmente entenderem o quão potentes esses trabalhos são em Recife (e por serem feitos em Recife) e começarem a escrever projetos, entrar em editais, tentar colabs e tentar adentrar em outros espaços para poder falar sobre isso. Porque, dentro dessa perspectiva independente da cena da música eletrônica, ela ainda tem subido as escadas devagarinho, mas ela acontece e reverbera muito! 05


Na pandemia, eu toquei muito fora de Recife (no caso, na internet): eu toquei em muitas lives e não era algo que eu esperava. Quando chegou a pandemia, pensei “Me ferrei, não sei o que vou fazer agora em relação à música”. Decidi passar muito tempo pesquisando, foi muito especial para mim, porque comecei a estudar produção musical e hoje estou fazendo um curso, já mais decidida do que antes. Mas no começo fiquei meio perdida e, para minha surpresa, eu movimentei meu trabalho de um jeito que fiquei passadona. Obviamente, financeiramente, nada comparado ao que estava antes, mas o que eu estava fazendo em Recife reverberou para que esses outros coletivos me enxergassem, sabe? Então não tem como negar que essa articulação existe, não tem como negar que isso de alguma maneira está sendo localizado dentro do cenário da música brasileira. O que eu acho que falta para a gente é ter essa força maior de todo mundo junto, esse punho maior de se reivindicar como cena e com articulação. Só que é todo mundo tentando de um lado, e se ferrando e dando certo em outros, e essas coisas nem sempre acabam realmente se unindo. Mas a gente tem andado para frente. Desde 2017, quando eu entrei de cabeça de alguma maneira nesse cenário, muita coisa mudou. Muitas pessoas surgiram, tanto na perspectiva de atuar como produção, DJ e performer, como também de público, que cresceu e mudou muito. A gente está correndo para chegar no lugar de localizar essa cena eletrônica recifense de maneira ampla. Eu não tenho como dizer que eu faço parte do cenário de música eletrônica recifense, porque eu estou dentro de uma bolha. A música emergente de Recife hoje é o Brega Funk, que é uma música eletrônica, e nesses bailes eu não toco, não porque eu não quero, mas porque a gente tem outras perspectivas do que realmente acontece 06


ali, tanto do que se toca, como de quem vai. Então, esse cenário que eu faço parte, enquanto bolha, tem também seus elitismos, sabe? Retomando tudo que eu falei, posso dizer que existe, sim, uma cena de música eletrônica recifense, só que existem também suas bolhas. Então é pensar nesse lugar, de que cena a gente está realmente falando. RSL - Nisso também entra muito a questão da formação de público. Eu acho que isso se dá também pelo fato da própria música eletrônica ser uma linguagem muito nova, em termos de história mundial, comparando com outros estilos musicais. E quando chega aqui vai se adaptando, criando suas linguagens. Acho que a gente está nesse momento de entender o que está fazendo, o que é realmente pagar o ingresso. Eu sinto que, às vezes, aqui em Recife, não só no cenário de música eletrônica, mas na área de cultura, existe uma dificuldade da percepção do público sobre qual a relevância de se pagar o ingresso, de se consumir no bar. A gente está nesse processo de construção ainda. Mas acho que é uma questão que atravessa Recife, é complexo discutir isso, envolve questões de classe, de recurso da própria cidade, precarização da cultura... Mas é algo que está crescendo. L - Eu acho que não tem como não falar que a música eletrônica está em ascensão no sentido de cultura, mundialmente falando até, né? A música eletrônica está em todos os lugares de maneiras diferentes. Mas também é muito doido quando eu converso com uma pessoa que estava na noite recifense nos anos 90 e eu pergunto o que ela ouvia, ela diz “Techno”, porque era isso que ela ouvia. Então é novo enquanto mercado, enquanto moeda, mas enquanto cultura percebo que isso existe há muito tempo e sempre foi muito sobre isso, dessa penação — e também sobre 07


saúde mental dessas pessoas que peitam viver da noite. Óbvio, música eletrônica não é só noite, e essa palavra “noite” também diz muitas coisas, mas eu digo também de tentar viver de uma produção cultural independente ou, quando não independente, que tem também suas limitações por trabalhar com marcas ou sei lá o quê. Eu percebo que é muito sobre a saúde mental e financeira dessas pessoas também, porque vejo que essa galera, que estava lá nos anos 2000 fazendo, foi fazer outras coisas, porque também não aguentava mais tentar. Acho que também estamos em um momento que, pelo fato de a música eletrônica estar nessa perspectiva de mercado, acho que vai engatar de outro jeito. O chute que eu daria seria esse. RSL - Puxando esse ponto da cena noturna, você e Anti Ribeiro1 fundaram no ano de 2019 a coletiva Scapa, que, atualmente, também conta com a participação de biarritzzz2. O selo tem como foco criar espaços para produções artísticas festivas e informativas, protagonizadas por mentes racializadas. Quais foram as inquietações que partiram de vocês para construir a 1 - Anti Ribeiro (SE/PE - 1995) é pesquisadora de ficções, curadora em audiovisual, educadora e produtora sonora. Ministra a Oficina de Afroficção, dedicada a discutir e incentivar a participação de pessoas racializadas na proposição de narrativas; e o curso Ficção Como Arma de Guerra, um exercício poético-científico que investiga as (im)possibilidades de abrir portais fugazes de rompimento das regras desta realidade colonial. Trabalha como curadora no Recifest - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero do Recife (PE), da Mostra Macambira (RN) e da Semana do Audiovisual Negro (PE). Como produtora sonora, contribuiu para o álbum EU NÃO SOU AFROFUTURISTA da biahits, incentivado pela Pivô Satélite e compôs trilha sonora para o filme 2021: LETTER FOR THE PRETA READER OF THE END OF THE TIMES, de Michelle Mattiuzzi e Jota Mombaça. 2 - biarritzzz, avatarônimo de Beatriz Rodrigues (CE/PE - 1994), é artista de novas mídias e que, através de uma sofisticada ironia e do uso inteligente e cômico da tensão que provoca ou se apropria, aborda questões como corpo, instituição, Estado, raça, gênero, consumo e identidade. Atrelado a isso, em um trabalho metalinguístico ao veículo sob o qual se estabelece, biarritzzz faz uso da linguagem da própria internet e do meio digital para realizar seus GIFs, VJings e vídeos, construindo, assim, um terreno absurdo e remixado em que habita.

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coletiva? E como vocês têm lidado com essa questão da produção por trás dos palcos também? L - Desde que conheci Anti, eu sabia que eu queria fazer alguma coisa com ela, não só porque me vi nela, mas também porque vi nela coisas que eu queria ter comigo, profissionalmente e, logo depois, pessoalmente, como minha amiga mesmo. Inicialmente, a gente fez uma festa chamada “Só para não passar batida”, que foi uma festa a princípio idealizada por mim, porque eu sempre tinha feito festas com peso conceitual e visual bem marcantes e queria tentar fazer uma coisa mais corriqueira mesmo, realmente só para não passar batido. Então, a gente fez essa edição, se conheceu na produção, em março de 2019. Passou alguns meses, a gente fez “Beleza, vamos fazer outra”. Só que quando a gente sentou e começou a conversar sobre esse processo, a gente já começou a pensar conceitualmente o babado, em como seria, quem iria tocar, onde ia ser, o que a gente ia fazer em relação à cenografia, à linguagem. Aí a gente entendeu que isso não era a “Só para não passar batida”, porque ela tinha a intenção de não ter todo esse babado, só que a gente percebeu que somos duas cabeçudas doidas e que íamos ter que fazer uma coisa em que realmente a gente pudesse pensar sobre todas essas questões! Sentamos um dia para pensar esse nome para que, de alguma maneira, a gente pudesse iniciar esse processo. E a Scapa surgiu bem aleatoriamente e não coincidentemente foi angariando símbolos. A gente trabalha com cinema, tanto eu como Anti, e começamos a perceber como no cinema negro tinham vários filmes que falavam sobre pessoas pretas dentro dessa perspectiva da fuga, como uma única saída. Então a gente começou a entender o escape, o escapar como uma opção muito melhor do que hackear. A gente já vinha dentro de um processo de corpo, nós como duas pessoas trans vivendo em um espaço de mercado de 09


arte, cinema, etc, que marca muito essa identidade, esse corpo identitário, até dentro de um mercado que “tem que ter” esses corpos ali: vai pelo corpo, pega a gata e já incluiu, sabe? Da perspectiva conceitual é muito isso, entender maneiras de escapar trocando com outras pessoas para entender como elas escapam também, para que a gente construa esse plano e fujamos juntas, porque talvez seja a melhor opção. E aí a Scapa estreou em dezembro de 2019, a gente trouxe DJs e coletivos de Aracaju e João Pessoa e teve como headline a Badsista. E acho que foi uma noite que eu entendi o que era realmente a Scapa — tanto sobre o que eu vi e também sobre o que eu não vi — e, logo depois: pandemia. A gente ficou muito com as mãos atadas, Bia tinha acabado de entrar, ela que fez as artes da primeira edição, só que a gente entendeu que Bia tinha muito mais a nos potencializar estando junto com a gente dentro desse processo de conceitualização de tudo que a gente faria. Hoje em dia, ela assina a identidade visual de toda Scapa. Quando surgiu a pandemia, a gente pensou “como é que a gente poderia dar continuidade a esse trabalho de alguma maneira?” e surgiu o Contracor, um programa que a gente faz na rádio Bueiro de Sergipe (Anti é de Sergipe). Trouxemos esse programa muito como uma possibilidade de continuar pensando estratégias e trocando com essas pessoas, mesmo estando distantes. Acabou sendo muito potente, porque entendemos juntas que as três apresentariam o programa, que não seria uma só pessoa. Já fizemos duas temporadas, onde a primeira trouxe gatas que trabalham na rádio3 para falar sobre seus processos de como enxergam a rádio e essa retomada brusca dessa plataforma por conta da pandemia. E agora, recentemente, a gente encerrou a segunda temporada, 3 - Foram entrevistadas para esta temporada: Paulete Lindacelva, Mãe Beth de Oxum e Ana Lira.

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que falava sobre armadilhas do visível, que vem de um lugar de pensar quais são as armadilhas e tecnologias que o mercado, o capital, cria a partir da visibilidade como se fosse realmente uma moeda de troca, quando na verdade é algo paliativo dentro do nosso trabalho, uma coisa que às vezes não serve de nada. Então, a gente resolveu pensar nisso tanto na perspectiva de subestimar a visibilidade, mas também de entender como ela realmente era usada como uma tecnologia de troca dentro desse mercado. Chamamos três produtoras musicais brasileiras: Saskia, Eletrofagg e PODESERDESLIGADO, para falar sobre os processos de produção musical, mas também de entender como elas, artistas musicais, têm lidado com a visibilidade mesmo. A Scapa para mim tem sido esse processo, eu já tinha trabalhado em outros coletivos antes, foram experiências interessantes, mas não foram coisas que engataram, porque construir coletivo é bem babado, ainda mais quando a gente tem um processo horizontal, a gente não quer hierarquizar, transformar em uma empresa loloki. Então, pensar essa horizontalidade tendo várias personalidades é também um processo. Na Scapa, a gente vem muito querendo dar certo, querendo realmente abrir mão de ego para, juntas, construirmos essa experiência, que seria a Scapa entre nós três — e quem mais for entrar na coletiva. Guilherme Moraes - Você falou da primeira festa da Scapa, eu estava lá e rolaram umas performances, e esse lugar da noite é meio turvo mesmo, se é uma lombra visual, se tem uma preocupação com as pessoas que estão performando, como isso tudo é entendido naquele ambiente... Queria que você falasse um pouco sobre como é esse processo, que se intercala com a música que toca, e que também envolve uma curadoria que está por trás, de artistas que estão, lá, performando. 11


L - Eu já participei de um coletivo chamado Hypnos, onde as produtoras dessa parte visual éramos eu e Iara Izidoro4. A gente tinha um processo bem intenso de saber quem a gente ia chamar, porque queríamos angariar artistas de performance, que tinham esses percursos já localizadas no espaço da arte, para entender esse espaço da noite como um lugar de criação. A gente performava em toda edição, sempre fazia uma performance solo e uma performance conjunta. Era bem intenso e me trouxe à tona o quanto a gente coloca de si, do nosso processo criativo, nesse lugar. Muito tempo depois que entro na Scapa e penso a proposição de festa, dessa vez realmente idealizada por mim, e chamo esses corpos para estarem juntos, eu começo a visualizar isso de uma maneira um pouco diferente. Passo a ter uma preocupação para que esses artistas entendam o espaço da festa como um espaço possível para seus trabalhos, porque a performance também é espacialidade, não é só corpo. Para ser sincera, tenho tido todo um cuidado com isso. Na verdade, incluído cada vez menos em número, porque não quero apenas cobrir um espaço, eu realmente quero pensar artistas que possam ter seus trabalhos ali vinculados de uma maneira potente para elas e para a gente, por entender que é um espaço que tem, sim, suas potencialidades, mas também tem seus babados uó, nessa relação com o público, com rentabilidade, e tudo mais. Então, eu tenho tido muito cuidado de pensar não só essa curadoria, mas como esses trabalhos realmente se estabelecem ali. 4 - Iara Izidoro é performer, diretora e artista visual recifense, integrante do CARNI (Coletivo de arte negra e indígena) no qual faz parte do corpo de curadora da plataforma Palco Preto. Em suas criações, preza pela relação horizontalizada entre corpo e espaço, entre os corpos e seus próprios dispositivos improvisacionais. À procura de maneiras de acelerar o fim do mundo como o conhecemos, segue investigando a possibilidade de existência de um corpo desobediente num presente distópico e num futuro possível. Formada em Licenciatura em dança pela UFPE, investe na integração de linguagens artísticas, tendo o corpo como disparador.

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RSL - Falando também nesse assunto de produção, no início de 2020, a gente produziu juntas o evento de lançamento da Propágulo 4, que tinha um formato híbrido entre várias linguagens das artes visuais e da música, buscando misturar e ressignificar o espaço expositivo e festivo. E esse evento aconteceu dentro de um galpão que foi reestruturado para receber essa programação e teve um processo bem longo de construção de conceito e execução. Como foi para você participar desse desenvolvimento, com tantas demandas subjetivas envolvidas por todas as equipes que intercruzaram esse projeto? L - Foi um processo, acima de tudo, de aprendizado. Eu estava na Propágulo, construindo o lançamento da revista, onde eu já tinha estado em outro lançamento tocando. Não sabia de muita coisa que acontecia, mas já via a dimensão do que vocês estavam fazendo. Quando entrei nesse processo, não era tão claro o tamanho do que a gente ia construir. Ao longo dele, a gente ia se encontrando, trocando e entendendo os riscos, assumindo alguns e descartando outros. Fui vendo também como a produção tem esse teor de responsabilidade, mas também tem um teor extremamente sensível de entender o que a gente quer promover, por quê e para quem. E acima de tudo esse processo para mim foi de realmente me elucidar sobre essas coisas. Acho que foi a experiência mais foda que eu tive em relação à produção até hoje, não só individualmente, mas também coletivamente, em poder trabalhar com todas vocês, porque, mesmo que eu tenha estado muito mais com Rod, eu me senti um corpo existente entre vocês, o que é muito importante para que eu consiga fazer as coisas acontecerem. Acima de tudo, foi sobre me relacionar com o erro, porque dentro desses processo do conceber e do criar uma experiência para as pessoas, a gente também está lidando com uma série de demandas de personalidades e corpos diferentes. 13


Me deparar com essas demandas, e entender quais eu consigo resolver melhor e quais não, me fez entender o que eu podia melhorar e também quais eram as minhas limitações em relação a isso. E óbvio que era um processo horizontal entre equipes e que a gente sabia que isso também assumia riscos e também descartava outros. Mas, para mim, foi realmente de me visualizar fazendo aquilo acontecer. Eu fiquei extremamente feliz, porque não é algo que eu conseguiria fazer em uma festa minha, tudo que eu falei antes sobre performance era dentro de uma perspectiva de uma festa de música eletrônica e a Propágulo está longe de ser isso. Para mim, foi muito foda ter a possibilidade de curar e conceber esse espaço tendo em mãos a experiência que nós queríamos colocar para as pessoas. Foi realmente uma realização nesse sentido e, quando acabou, sei lá o que eu senti, nem sei dizer... acabar e pensar sobre um ano de processo, porque foi praticamente isso desde a primeira vez que me encontrei com Rod até sair de 6h da manhã do galpão, muita coisa aconteceu em um processo que eu acho que nós mesmos criamos para isso existir, enfim, aprendizado mesmo, em todos os sentidos possíveis que essa palavra possa ter. RSL - Quando te convidei, foi muito nesse enfoque de perpassar uma questão de produção, mas o formato em si era experimental e indicava que a gente estava querendo aprender com isso. Não sabíamos o que aquilo iria trazer. No processo vão surgindo demandas muito específicas que funcionam como uma cascata: se você se esqueceu de uma, aquilo ali vai acarretar outras resoluções gigantes que vão tocar em questões subjetivas, porque tinha muita gente envolvida: curadoria, produção, artistas, design, redação... e conseguir dar conta de tudo é uma utopia. 14


L - Eu acho também que, para a construção de uma identidade do que é um lançamento de uma Propágulo, acho tão mais potente entender esse processo fazendo [de forma experimental a cada edição] do que, de alguma maneira, só replicar algo que já foi visto, mesmo que a gente arque com tanta coisa por assumir esse processo. É muito mais potente nesse sentido. Óbvio que a gente está aqui falando depois de meses, de manhã, lá, a gente só queria que tudo fosse mais fácil, que tudo acabasse e a gente pudesse dormir e ter tempo para tudo, porque era muita gente envolvida, mas não era tanta gente envolvida assim para fazer acontecer e isso que fez com que a gente aprendesse, porque estávamos em vários papéis diferentes em uma única realização. Nathália Sonatti - Fiquei pensando muito nisso de ter que lidar com muitas demandas, sejam do público, das pessoas que estavam envolvidas... Quem está na produção sempre acaba lidando com muitas camadas. Pensei na questão do aprendizado mas também no cansaço, e como esse espaço de experimentação é bom no sentido de colocar inquietações, mas ao mesmo tempo o ato de produzir é um lugar de muito esforço e desgaste. Como é conciliar esses dois âmbitos que, querendo ou não, se atravessam, mas que são distintos? O cansaço e essa troca, que é tão importante para continuar seguindo produzindo? L - Depois de algum tempo você começa a visualizar melhor as coisas antes delas acontecerem: “Isso vai dar merda”, “Isso vai dar muito trabalho” ou “Isso demora x tempo”. Eu acho que isso também salva muita coisa dentro desse processo quando a gente assume o fato de estar fazendo um trabalho desviante. O que acarreta o momento em que a gente assume que faz um trabalho desviante? — Desviante no sentido de não ser mais do mesmo e 15


dissidente no fato de trazer corpos que estão em processos subjetivos ou dissidentes mesmo, das margens. A gente não está lidando com corpos quaisquer, que conseguem ter uma série de estruturas de aqué, celular, internet e tanta coisa, mas ao mesmo tempo depois que a gente visualiza todos esses carregos, percebe que essa é a única maneira de fazer algo que a gente acredite. Mas ficamos nessa “Beleza, eu vou fazer algo que eu realmente acredito, mas eu estou exausta e não tenho dinheiro para pagar o meu aluguel no final do mês”. Essa linha tênue é exatamente o processo que a gente entra no pós, quando descobre o que realmente vai topar e o que terá que reivindicar dentro desse processo. Mas, para reivindicar, a gente precisa de autoestima: para um lugar confortável, uma equipe com um número suficiente de pessoas para fazer as coisas acontecerem, um aqué que vale a pena — ou uma iniciativa que será positiva para você, mesmo não tendo dinheiro, porque às vezes dinheiro não é tudo nessa perspectiva (e falo isso de um lugar confortável, porque eu sei que muitas vezes é tudo). Eu tenho percebido o quanto a gente pode construir por nós mesmas e, tendo esses trabalhos no mundo, a gente consegue angariar outras coisas, ter um projeto com mais estabilidade, mais aqué, ter uma equipe melhor, chamar essas pessoas de novo quando tiver mais conforto... Isso é uma coisa que a gente tem falado muito na Scapa, porque o Contracor é um trabalho que não tinha nem um Real para dar para essas pessoas. E a gente começou a pensar “Agora que tem um dinheiro na mão, o que a gente faz?”, e percebeu que, na verdade, tem que trabalhar com essas pessoas de novo, porque essas pessoas deram tudo de si sem aqué. RSL - Principalmente quando essa questão da visibilidade vem de quem realmente deveria arcar com os custos. Às vezes a pessoa que está no topo da cadeia arca apenas com a visibilidade. Se ela, que carrega o dinheiro, trabalha “remunerando” através da visibilidade, quem é que deveria remunerar financeiramente? 16


L - Nossa, estou bem cansada de ser independente, quero ser dependente! Estou em um processo bem loloki em relação a isso. A independência para mim não veio como uma opção, como um lugar de potencialidade, era a única opção possível. Depois de tanto tempo, de ter essa autonomia que a independência traz para a gente, que eu entendo o quão potente é, eu comecei a perceber que ter um mínimo de estrutura, um mínimo de financiamento, era algo que estava sendo retirado de produções como as minhas, para não dizer corpos. E aí eu estou muito mais em uma nóia de pensar a precariedade como potência, mas não como o único lugar para mim, não é o único lugar que eu posso estar. Hoje, eu estou muito mais na pira de pensar como eu posso circular com esses trabalhos que já desenvolvi tendo o mínimo de estrutura para mim e para as pessoas que estou chamando para trabalhar comigo. Não dá mais pra trabalhar e, no final, estar só cansada e não ter outras coisas para me fazerem seguir em frente além da questão artística, sabe? O que tenho percebido muito em pessoas recifenses que têm saído de Recife para São Paulo, ou até para o exterior, é que a estabilidade às vezes é a melhor coisa que a gente precisa para conseguir continuar criando e acreditando no que a gente faz, a independência até então não tem suprido muito isso para mim. RSL - Atualmente, você também tem desenvolvido algumas pesquisas sonoras junto com o programa Chama, criado por Ana Lira5 e dedicado a diferentes manifestações poéticas da diáspora negrodescendente, afroameríndia e ameafricana. 5 - Ana Lira (PE - 1977) nasceu no município de Caruaru. Graduou-se em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), é especialista em Jornalismo Cultural com ênfase em Teoria e Crítica da Cultura, Crítica Fotográfica e Artes pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Vive atualmente em Recife onde trabalha como fotógrafa, artista visual, curadora e articuladora independente.

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Queria que você compartilhasse um pouco aqui sobre o que é o CHAMA e o que vocês têm desenvolvido nesse processo. L - O CHAMA é um projeto idealizado e concebido por Ana Lira, e que tem muita sensibilidade envolvida. Na Bienal do Mercosul desse ano, Ana realizou a primeira edição do programa. Depois eu entrei, formando o time que é, hoje em dia: Ana Lira, eu, Marta Supernova6, do Rio de Janeiro, e Suelen Mesmo7, de Porto Alegre. A gente se encontra, troca e estabelece pesquisas relacionadas ao protagonismo de pessoas negras, indígenas, afroameríndias e ameafricanas dentro da perspectiva da diáspora. Pensamos a ideia de diáspora não só a partir da ancestralidade que a gente fala de África, por exemplo, mas de pensar as diásporas de Recife, de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, da América do Sul, de Guiana Francesa, pensar esses lugares de uma maneira um pouco mais sensível e de como a gente pode tornar essa experiência realmente de retorno a partir dessa pesquisa. E a gente tem desenvolvido alguns trabalhos primeiramente para a EhCho8 6 - Marta Supernova (RJ) é artista visual e sonora, DJ, produtora musical e percussionista do Rio de Janeiro e desenvolve sua linguagem através da música e arte contemporânea. Buscando reafirmar o meio da cultura eletrônica como um espaço de pertencimento e criação, pensa a produção de uma arte anormal (não-normativa) que estimula a presença e a confluência de grupos cujas existências desencaixam espaços e linguagens. 7 - Suelen Mesmo (RS) é natural de Porto Alegre, atua enquanto DJ e produtora desde 2014. É Co-Fundadora do Coletivo Turmalina. Intercala produção cultural e pesquisa musical enquanto circula entre projetos de potencial transformador, com foco na emancipação de grupos invisibilizados. Na pista, te convida a um passeio por suas múltiplas referências: R&B, groove, rap, funk e afrobeat. Nesse processo, destaca criadores de quebrada, LGBTQIA+ e mulheres. Atualmente, foca seus sets em footwork, ghettohouse, jungle, d’n’b grime e eletro. 8 - É um fórum de múltiplas camadas e multidisciplinar para conhecer, discutir, trocar e criar ferramentas e promover iniciativas que multiplicam o pensamento e a ação colaborativos. Apoia a criação artística, incentivando e facilitando a solidariedade transnacional por meio da redistribuição material (no espírito de reparação, não de caridade), bem como o compartilhamento de conhecimentos, práticas, materiais e ferramentas. Responde às urgências desencadeadas pela pandemia global do coronavírus e, em particular, os seus efeitos em pessoas, comunidades e terras já econômica e politicamente despossuídas e visadas, principalmente, mas não exclusivamente, no/do Sul.

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e mais recentemente para o CCBA (Centro Cultural Brasil Alemanha), que tem uma sede aqui em Recife e financiou a nossa residência, que aconteceu há uma semana atrás. Foi a primeira vez que nós estivemos juntas, morando uma semana, foi quando a gente gravou um programa que vai ser realizado pela Rinse France9, uma rádio francesa que tem um projeto de curadoria na América Latina com trabalhos sonoros e o CHAMA é um deles. E, para mim, esse processo tem sido muito potente, primeiramente, porque estou trabalhando só com mulheres negras, que era uma parada que sempre foi um sonho, de poder estar dentro de um projeto de articulação onde tivesse esse recorte — mas que esse recorte também não me limitasse a partir das minhas demandas e em relação a como eu me identifico. Eu me sinto realmente abraçada nesse sentido. Eu sou uma pesquisadora e acho que eu me entendi nesse lugar a partir do CHAMA. Quando a gente troca nossas referências, a gente percebe o quanto a nossa própria diáspora está nos posicionando em algum lugar na nossa pesquisa. Não só de protagonizar esses corpos, mas também de entender qual experiência a gente quer colocar. Eu lembro que ao entrar no CHAMA a gente tem uma entrevista inicial com a Ana e ela manda uma série de perguntas. Uma delas era sobre como me relacionei com minha diáspora até então. Foi o momento que eu entendi que muito da minha diáspora estava dentro de um lugar de violência. Porque quando eu saio na rua e tem um bar tocando Brega Funk e tem um monte de macho, não é um lugar para mim, aquele som ele não necessariamente está em um lugar de uma memória afetiva. Como que eu posso construir ou restituir musicalidades que são seguras para mim? 9 - Baseada em Paris, Londres e por todo o mundo com suas plataformas online, Rinse é uma rádio, mas não somente: selo, gestão, curadoria, eventos culturais, etc.

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No CHAMA eu entendi que isso é um resultado da minha diáspora, mesmo que, de alguma maneira, o resultado dela também seja renegar certas coisas que o meu território me oferece. Entro no processo de fazer as pazes com essa violência, a qual Recife, esse território, me localiza. Começo a me potencializar a partir dessas culturas, me entender dentro dessa perspectiva. Como eu posso reconstruir isso, ainda mais quando às vezes a gente está em uma intenção de inovar e quebrar tabus e fica muito em uma onda reproduzindo eurocentrismo, branquitude pura — nesse sentido do mercado e do que se toca e como toca. E tudo isso até então tem desembocado no CHAMA como um programa de rádio, sendo conduzido por Ana Lira, não só conduzido no sentido de entrevistar a gente, mas ela também coloca suas pesquisas nos programas, onde ela toca essas músicas muito mais como seleta do que exatamente uma DJ e fala sobre os processo das músicas, de onde essas músicas vêm, o que elas representam e por que elas estão ali no programa. E isso me coloca em outro lugar de também ter essa responsabilidade sobre o que estou tocando, porque nem sempre quem eu estou tocando foi uma coisa importante para mim. Nesse processo instintivo, como o som me convence até então já era ok para mim, já era uma partícula para trabalhar no meu set. No CHAMA existe uma outra relação de pensar música dentro de uma perspectiva que localiza lugares, diásporas, corpos e culturas. Nós quatro nos colocamos sempre nesse lugar de pensar sobre isso, mesmo que eu e Ana sejamos de Pernambuco, eu sou de Olinda e ela, de Recife, e aí temos quatro pessoas, uma de Porto Alegre, uma do Rio de Janeiro, uma de Olinda e outra de Recife com quatro diásporas distintas. RSL - E para finalizar nossa conversa, quais artistas, realizadoras e iniciativas você tem acompanhado e diria para as pessoas ficarem atentas? 20


L - Olha, eu tenho ouvido muito Jup do Bairro e Bixarte, tenho pesquisado sobre alguns coletivos pelo Brasil como a Turmalina e a Geranu Geranu de João Pessoa. Eu tenho pensando muito também como a gente pode localizar essas pessoas que têm construído arte pelo Brasil, que têm construído na verdade experiências a partir das suas dinâmicas e tornar esses trabalhos reais também. Eu tenho tido muito essa pira de achar essas pessoas e de trocar com elas. Tem a JEAN Oliveira que pediu para falar dela, tem aquela também Auroaura, não sei se vocês conhecem (risos). Tem aquela revista, Propágulo... Eu acho que é isso!

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Evento Propágulo N°4 Janeiro

2020

Show de BIONE e DJ Boneka - Foto: JEAN

Fotografias do dia 18 de janeiro de 2020, lançamento da quarta edição da Propágulo, por Marlon Diego e JEAN.

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F1 e F5 - Cona - Foto: JEAN

Clitóris Incendiária - Letícia Barbosa - Foto: JEAN


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Oxidação #3 - Abiniel João Nascimento - Foto: Marlon Diego

Acúmulos - Liz Santos - Foto: Marlon Diego


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Ricos, devolvam nosso dinheiro - Caetano Costa - Foto: Marlon Diego

Pré salto - Kildery Iara - Foto: Marlon Diego


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Scapa (Libra B2B Anti) - Foto: JEAN

Sofia Freire - Foto: Marlon Diego


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Realização

Design

Propágulo

Heitor Moreira Rod Souza Leão

Revisão

Colaboradores

Guilherme Moraes

JEAN

Nathália Sonatti

Libra

Rod Souza Leão

Marlon Diego

propagulo

propagulo.com.br

propagulo@gmail.com

Rua João Barbalho, 198 - Casa Amarela - Recife - PE



Incentivo: Este projeto foi incentivado pelo edital de premiação da lei Aldir Blanc


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