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Editorial Contraponto - Ediçã 139

Quando falamos sobre 60 anos atrás, lembranças não muito distantes ocupam as nossas mentes. Pessoas nas ruas pedindo intervenção militar, a luta e a destruição dos patrimônios públicos, a convocação das forças armadas e a tentativa de um golpe violento do Estado Democrático de Direito enrustido no discurso de uma falsa liberdade de expressão.

Neste ano, no dia próximo ao marco da instalação do golpe militar, o presidente Lula vetou eventos, do próprio governo, críticos à ditadura. Na mesma semana, entrou em discussão, no Supremo Tribunal Federal, a questão da atribuição de um Poder Moderador no artigo 21 da Constituição que permite a intervenção militar sobre os três Poderes. A discussão é clara: a influência militar ainda não ficou no passado.

Os filhos que nasceram após a redemocratização já estudam o que ontem as músicas de protesto não poderiam falar: vivemos um golpe militar. Uma pesquisa realizada pelo Open Society Foundations (OSF), concluiu que 74% dos adultos entre 18 e 35 anos desejam “viver em um Estado democrático”, no entanto, 31% considera ditaduras militares uma possibilidade de governo e outros 21% ainda apoiam ser comandados por um líder “que não respeita, nem o Poder Legislativo, nem eleições livres”. Os números podem não ser expressivos, mas a porcentagem de pessoas que se consideram conservadoras dobrou no último governo, de acordo com o levantamento da pesquisa “A Cara da Democracia”. Ainda em 2022, o Ministério da Defesa fez uma declaração em homenagem ao marco da instituição da ditadura, “o movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira”; além de ter enaltecido Carlos Brilhante Ustra, um coronel ex-chefe dos centros de tortura e assassinatos às pessoas que se opunham ao regime.

Se hoje vivemos uma democracia, que ainda luta pela sua resistência, lembrar e remoer esse passado pelas gerações posteriores é impedir que ideologias radicais destruam a consciência e a criticidade das pessoas. Para que a liberdade e o direito de um povo não seja colocado em forca novamente, ou que a tentativa de deterioração do espaço político de uma sociedade não perca o sentido da tolerância de conviver com o diferente.

Essa edição temática do Contraponto reforça sobre como vinte e um anos de pura brutalidade militar ainda estão envergadas nos rastros e nas lacunas da história brasileira.

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