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Ser Ave

Andreyza Teixeira

Eu sempre tive essa vontade de voar bem alto Mas me tornei cativa de um desejo que nem era meu Fui permitindo pequenas fissuras que diariamente foram me quebrando as asas Fraturando ossos de todos os sonhos Todas as vezes que busquei paz e tentei me encontrar Me sentia sozinha, mesmo na multidão de pessoas A noite foi tomando conta de todas as possibilidades E no meio dela chorei, várias vezes É como se estivesse caminhando para o desastre Porque isso que você chamava de amor Estava me matando aos poucos Só ouvia a tua voz me dizendo que eu não era capaz de voar, porque fui convencida de que não era uma ave Eu deveria saber que carinho não tem gume Um soco na parede não é metáfora E um pedido de desculpas não cura nenhuma ferida se você nunca deixa o dia amanhecer Tive breves momentos de lucidez, onde eu dizia: “por que ainda estou nesta gaiola?” Mas eram logo consumidos pelas urgências da vida E fui esquecendo do tamanho do céu Até me convencer que aquele pequeno espaço da gaiola era o que me cabia Foram se criando tantos poços profundos, onde eu enfiava todos os gritos, ofensas, os choros, as humilhações, as chantagens...

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Toda a dor E eu esperava um alento, um desprendimento, uma despedida... Provavelmente, de mim mesma Foi quando encontrei outras aves que não eram cativas e que voavam E que me fizeram perceber que ossos fraturados podem ser curados, se você os tratar E o primeiro passo foi dado, com a quebra daquela gaiola Com a tentativa tresloucada de alçar voo mesmo na dor Desaprendida daquilo que era próprio do meu ser: o de voar De querer voar, de precisar voar A gente tem necessidade de um ninho Mas pode encontrá-lo no caminho percorrido dentro de nós mesmos.

Andreyza Jesus Dias Teixeira Chaves mora em Ananindeua, tem 43 anos e dois filhos (um de 20 e outra de 10 anos). É formada em História e Direito pela Universidade Federal do Pará e delegada de Polícia Civil. Atualmente trabalha na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Ananindeua. Escreve contos e poemas e já publicou alguns deles em livros de coletâneas de editoras pelo Brasil. Gosta de escrever e ler. Mais do que isso, tem necessidade disso, pois é uma das coisas que a definem.

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