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Mulher Alada

Iolete Maia

Voar não é mais uma possibilidade, é minha realidade.

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Existir é abrir os braços e voar, não sem destino, mas com propósito, porque eu insisto em acreditar que “eu posso” não é apenas uma frase de efeito que algum coach otimizou e que, por isso, ganhou repercussão.

Ainda vejo beleza na vida, o medo é uma realidade, mas já não pode impedir meus voos e revoos, porque insistir não é fraqueza.

Da janela da minha casa olho a rua, observo, escuto os sons, vejo cores, brilho e detalhes. Sim, detalhes que passam despercebidos para a maioria das pessoas, que só veem com olhos comuns.

É dessas realidades bem específicas que se criam estórias e histórias, é observando a vida que o escritor contempla e organiza sua arte, é a existência que dá asas à imaginação do artista. Assim, observando, crio estórias que se tornam histórias reais quando escrevo, porque também há realidade naquilo que se inventa.

Parada, olhando a rua, vi flores e vi borboletas a voar, fazia tempo que não via borboletas e tenho uma paixão por elas, tamanha que tatuei no braço esquerdo, do lado do coração, porque sempre digo que uma mulher que voa merece ter asas. As borboletas me remetem ao meu próprio casulo e processo de metamorfose, me trazem a memória do primeiro voo, quando timidamente peguei lápis e papel

e escrevi, não como escrevia quando criança ou adolescente, mas a primeira vez que escrevi com a consciência de que escrevendo posso criar, posso transformar, posso emocionar e fazer as borboletas voarem. Enquanto escrevo, eu mesma voo, pois a escrita me dá asas, me fez mulher alada.

Sentada olhando as borboletas voei com elas enquanto escrevia, as letras, as palavras soltas e voando no papel, performáticas, ganhando forma, sentido e coerência, palavras que pousaram com o toque das minhas mãos e que podem voar a qualquer momento pra qualquer lugar e pousar em outras mãos.

Sobre voar aprendi que se não tenho asas eu crio e invento enquanto escrevo, porque fi ngir também é viver a realidade. Escrever é como o processo de metamorfose, irreversível, depois que você começa, passa a ser como respirar, imprescindível para a vida!

Iolete Maia é historiadora e professora de História, feminista, mulher negra e mãe de quatro fi lhos adultos, três mulheres e um rapaz. Desenvolveu ansiedade depois de sair de um relacionamento extremamente abusivo e começou a escrever pra fugir da realidade e foi aí que descobriu que sua realidade é escrever. É escritora, sim, e escreve porque escrever a mantém viva.

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