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O sonho de voar

Luana Lima de Freitas

Bato os pés e balanço as pernas toda vez que me sento em qualquer lugar. Não estou ensaiando para tocar bateria, tampouco é ansiedade. A verdade é que também pulo, dou saltos. Faço isso quando penso que não há ninguém para me ver. O grande problema é: sempre existe alguém para testemunhar. Já tentei parar diversas vezes, e por isso outro dia pensei não pode ser vício, porque se fosse vício eu já teria largado. Sim, teria parado, como nos relatos das pessoas que conseguem largar drogas e hábitos prejudiciais. Um ser na minha imaginação toma parte no meu monólogo, esse interlocutor sou eu mesma. Mas vou tratá-lo aqui na terceira pessoa, me facilita ver as ideias. Então esse alguém diz: “Pessoas viciadas fazem tratamentos, têm ajuda, acompanhamento e frequentemente possuem uma forte motivação para parar. Você tem?” E aí eu suspiro e respondo: “Tenho ajuda sim e a minha motivação é que meus joelhos doem, meus ligamentos estão sendo rompidos dia a dia”, uma pausa e eu continuo, “o pior é que não me dá nenhum tipo de prazer”. O alguém diz: “Você já parou para pensar que talvez o seu problema não seja o que você está pensando? Sabe, esse vício de pular, é provável que você esteja tratando do sintoma e não da causa em si”. Sei o que foi dito, é um período composto, mas eu vejo um jato de luz dourada direto na minha consciência.

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Dar saltos pelos ares seria sintoma do quê? Alguém que deseja virar um pássaro, acho, ou um canguru, mas esse último que me desculpe, não tenho afi nidade com ele. Os pássaros voam, é como se manifestam neste mundo, isso parece muito simbólico. Uma revoada com muitos pássaros é o tipo de acontecimento que me inquieta. Não é a inquietação de ansiedade, é de anseio. Esse é o sonho desconhecido, agora posso reescrever a passagem bíblica assim: conhecereis o teu sonho e ele te libertará! Entre o conhecer e o libertar está aí uma jornada. A natureza não nos deu asas, mas ela não nos impediu de conquistá-las. O que nos fará alcançar o sonho? Escolher o caminho que leva até ele, claro. É um caminho que pode ser árduo, e será vão se seguirmos por ele com a intenção de sermos servidos por nosso sonho. O sonho é uma ideia tão pura, tão livre, como um voo. Uma pessoa pode ter um sonho, entretanto ele jamais será seu escravo ou seu servo. Isso seria colocar uma ideia fi xa no lugar do sonho e, cá entre nós, eles têm o mau hábito de se transformar em pesadelo. O meu pesadelo é a minha dor, por isso a minha meta hoje é ser fi el ao meu sonho e obter progresso nos meus voos.

Luana Freitas nasceu em Ananindeua, reside e trabalha na cidade de Marituba. Começou escrevendo casos curiosos ocorridos em sua família. Com onze anos, entrou pela primeira vez em uma biblioteca e desde então teve vontade de ser escritora. Mesmo recebendo muito apoio das professoras, a ideia de ser escritora foi adiada e acabou se formando em engenharia ambiental pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Atualmente faz mestrado em biodiversidade neotropical, na Universidade Federal da Integração Latino Americana. Em 2019, participou da ofi cina de autopublicação de Monique Malcher, que deu origem ao Clube de Escritoras Paraenses e a partir de então dedica-se à produção de seus escritos. Quer continuar escrevendo, dando aulas, estudando, publicando e editando livros pelo resto da vida. facebook.com/Luana-Freitas-102560484979868 instagram.com/lua_f93/?hl=pt-br

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