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Aqueles que não sabem quem são

Deyse Abreu

A cada mudança de tempo é preciso procurar quem és.

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Ventos, chuva, folhagens barulhando. É tempo de migrar, o vento forte impulsiona o voo, liberdade para uns, perigo para outros, os que não aguentam ficam pelo céu.

Um pequeno vermelhinho, filhote de outros vermelhos fortes, devia enfrentar a sua primeira longa viagem. Mas, uma insegurança tocava o peito penoso e uma imensidão azul foi passada pelos olhos do pequenino. — Não tenha medo! Fique próximo da revoada que ficará tudo bem. Lembre-se de quem és.

Esse era o problema, não sabia quem era ou a necessidade de sair do lar. Não sabia da força que tinha ou se havia algo ali além de dúvidas e incertezas.

Um antigo, que já estava cansado das jornadas, chamoulhe aos cantos. Cantou e cantou. O vozear fora ouvido de longe. O pequeno, impressionado com a força do canto, tentou acompanhar e logo mais todos os outros ali vozearam juntos.

Em meio aos sons das cantigas, do barulho do vento nas folhagens, o antigo abriu asas e mostrou ao pequenino as marcas do tempo como mapas riscados nas penas. Ali se encontravam o passado e o futuro. E esbravejou: — Pequeno, eu não tenho certeza se suporto a jornada novamente. Sou tão antigo que não conto mais os nossos fins do mundo, pois a memória não deixa. A cada tempo novo

de mudança, tudo morre e precisamos voar para sobreviver. Mas se você desistir antes de começar a mudança já estaremos perdidos, morremos todos no nosso último fi m.

Aquele pequeno fi cou assustado com a força do antigo e da profecia. Abriu asas e vozeou o mais alto que pôde, soube que no peito existia todas as respostas e que bastava olhar para o antigo para ver o refl exo de quem era. Ele, o antigo e todos os outros são o Renascimento e a Esperança de mudança.

Deyse Abreu é nascida em Capanema-Pa, mulher interiorana e formada em Licenciatura plena em Letras – Língua portuguesa, pela Universidade Federal do Pará – Campus Capanema. Atualmente é pós-graduanda em Linguagens e Saberes da Amazônia (PPLSA-UFPA) e Análise das Teorias de Gênero e Feminismos na América Latina (IFCH-UFPA). Atua como professora de Literatura, artes e produção textual para o Ensino Médio, assim como é voluntária em cursinhos populares de preparação para o Enem. Escritora com publicações em redes sociais e blogger, em 2020 participou do curso “Autopublicação para escritoras” em Belém e publicou a zine independente “Março”, assim como participou da publicação da zine “Segredo”, em conjunto com as demais escritoras do curso. Também teve textos selecionados e publicados no Jornal Literário Jamburana nas edições V e VI em 2020, em 2021 foi selecionada para a publicação no projeto “Mana escreve” do coletivo Banzeiro (Manaus). É mediadora ofi cial do clube de leitura “Leia Mulheres – Capanema” desde 2018 e participa dos clubes de leitura “Ecofeminismo” e “Leitoras Cabanas” (2020), além de ser social mídia das redes sociais do Leia Mulheres – Capanema e Bragança, e da Nova Revista Amazônica (PPLSA-UFPA). É idealizadora e coordenadora do Coletivo Caboca, coletivo de mulheres que desenvolve projetos nas áreas dos feminismos e bem-viver desde 2018. É uma das coordenadoras do projeto Clube das Escritoras Paraenses. https://www.instagram.com/abreudeyse/?hl=pt-br https://www.facebook.com/deyse.abreu.9 https://margaridaapoemar.blogspot.com/

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